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Demanda por água deve continuar a crescer nos próximos anos e pode afetar produção de alimentos. Mais de dois bilhões de pessoas não têm acesso à água potável.
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Por G1
Postado em 21 de março de 2019 às 14h00m
Postado em 21 de março de 2019 às 14h00m
Demanda por água não para de crescer e pode gerar conflitos — Foto: Pixabay
Em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o acesso à água e ao saneamento básico como um direito universal. Desde então, os países membros precisam trabalhar para que as pessoas tenham acesso a estes direitos até 2030. A meta, no entanto, parece distante.
Em relatório divulgado nesta segunda-feira (18), a ONU aponta que mais de dois bilhões de pessoas não têm acesso à água potável e mais de quatro bilhões não tem acesso à esgoto sanitário. Além disso, a demanda por água seguirá crescendo e pode afetar a produção de alimentos e gerar conflitos.
“Os números falam por si. Como mostra o relatório, se a degradação do ambiente natural e a pressão insustentável sobre os recursos hídricos globais continuarem em ritmo atual, 45% do Produto Interno Bruto global e 40% da produção global de grãos estarão em risco até 2050. Populações pobres e marginalizadas serão afetadas de forma desproporcional, agravando ainda mais as desigualdades”, disse Gilbert F. Houngbo, Presidente da ONU-Água e Presidente do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola.
A agricultura (incluindo irrigação, pecuária e aquicultura) é a maior consumidora de água globalmente, respondendo por 69% da retirada anual de água em todo o mundo. A indústria (incluindo a geração de energia) responde por 19% e as residências particulares por 12%.
Estimativas recentes mostram que 31 países experimentam estresse hídrico entre 25% e 70%. Outros 22 países estão acima do nível de 70% e, por isso, encontram-se em uma situação grave de estresse hídrico. Ou seja, estão fazendo uso substancial de recursos hídricos, com maiores impactos sobre a sustentabilidade desses recursos e um crescente potencial de conflito entre os seus usuários.
Fatores que levam a falta de acesso à água, segundo a ONU
- Crescimento populacional
- Urbanização
- Pobreza
- Desigualdade social
- Falta de acesso a educação e trabalho
Segundo dados do relatório, houve um aumento de conflitos envolvendo água no período entre 2010-2018 se comparado com 2000-2009.
Foram 263 conflitos em que a água teve um papel de destaque (123 tendo a água como a causa do conflito, 29 em que água foi usada como arma e 133 em que o acesso à água foi afetado acidentalmente ou propositalmente pelos conflitos).
Porém, o relatório ressalta que este número tem que ser avaliado com cautela já que o aumento de conflitos de maneira geral pode ter contribuído para o aumento dos registros deste tipo de disputa.
Risco na produção de grãos
A agricultura é a maior consumidora de recursos hídricos e a escassez de água afeta diretamente a produção de grãos. Segundo o relatório, os principais efeitos das alterações climáticas nas áreas rurais serão sentidos através de impactos no abastecimento de água, segurança alimentar e rendimentos agrícolas.
Em algumas regiões, é provável que ocorram mudanças na produção agrícola, não apenas como resultado de mudanças de temperatura e precipitação, mas também através de mudanças na disponibilidade de água para irrigação.
Segundo a ONU, as mudanças climáticas terão um impacto desproporcional no bem-estar dos pobres nas áreas rurais.
Pesquisas de diferentes partes do mundo mostram que a irrigação suplementar em sistemas agrícolas podem não só garantir a sobrevivência das culturas, mas também duplicar ou mesmo triplicar a produção de chuvas por hectare para culturas como trigo, sorgo e milho.
Mais ricos pagam menos
Além da diferença entre os países mais ricos e pobres, discrepâncias significativas no acesso à água existem mesmo dentro dos países, especialmente entre os ricos e os pobres.
Nas áreas urbanas, os desfavorecidos alojados em acomodações improvisadas sem água corrente muitas vezes pagam de 10 a 20 vezes mais do que seus vizinhos em bairros mais ricos por água de qualidade semelhante ou menor comprada de vendedores de água ou caminhões-pipa.
Segundo o relatório, a melhoria dos serviços de saneamento e água, especialmente para grupos vulneráveis, teria um custo-benefício capaz de mudar o status social e a dignidade percebidos por esses grupos.
Estudos existentes indicam que os custos de saúde são mais onerosos para as famílias mais pobres do que os mais ricos, de tal forma que a poupança nas despesas relacionadas com a saúde teria um efeito multiplicador de benefícios (educação, produtividade no trabalho, etc).
Situação pelo mundo
Os países árabes são os que mais sofrem com estresse hídrico, segundo o relatório. A escassez de água continuará a aumentar devido ao crescimento populacional e à mudança climática. Além disso, a região sofre com conflitos e violência em países menos desenvolvidos da região, como Somália, no Sudão e no Iêmen.
Na ásia, 29 de 48 países foram classificados como “hidricamente não seguros”, devido à baixa disponibilidade de água e à retirada insustentável de águas subterrâneas. Altos níveis de poluição hídrica pioram a situação com águas residuais não tratadas despejadas em corpos d’água superficiais – de 80% a 90% na região da Ásia e Pacífico.
Na Europa, 57 milhões de pessoas não têm água encanada em casa e 36 milhões de pessoas não têm acesso ao saneamento básico. A situação é mais grave em países do Leste Europeu.
No Caribe e na América Latina, somente 22% tem acesso a saneamento básico de qualidade.
Nestas regiões, o acesso à água potável e saneamento básico é inferior nas áreas rurais se comparadas aos centros urbanos.
Na África Subsaariana, apenas 24% da população da tem acesso a serviços melhorados de água potável. O acesso médio a serviços de saneamento básico era de apenas 28%.
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