Foi o maior tombo da indústria desde dezembro de 2008; desabastecimento de matérias-primas e bloqueio no escoamento afetaram o setor durante a paralisação que durou 11 dias.
Por Daniel Silveira e Taís Laporta, G1
Afetada pela greve dos caminhoneiros, a indústria brasileira recuou 10,9% no mês de maio frente a abril, na série com ajuste sazonal, divulgou nesta quarta-feira (4) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A paralisação que durou 11 dias afetou o processo de produção de várias unidades produtivas no país.
Esta foi a maior queda desde dezembro de 2008, quando a crise internacional prejudicou a indústria e derrubou a produção em 11,2%. O mês de maio mostrou também o segundo pior resultado da série histórica iniciada em 2002 (veja o gráfico abaixo).
"A greve desarticulou o processo de produção em si, seja pelo abastecimento de matérias-primas, seja pela questão da logística na distribuição”, disse o gerente da pesquisa do IBGE, André Macedo.
Vários fatores relacionados à paralisação impactaram de alguma forma a produção da indústria. Além da falta de insumos que não chegavam às fábricas, Macedo citou a dificuldade de escoamento da produção e, também, a limitação dos trabalhadores para se deslocarem até o trabalho.
Na comparação com o mês de maio de 2017, o setor industrial recuou 6,6%.
Com o resultado de maio, o patamar da produção industrial do país retornou a um nível próximo ao registrado em dezembro de 2013, ficando assim 23,8% abaixo do pico mais alto da série, alcançado em maio de 2011, segundo o pesquisador do IBGE.
Automóveis e alimentos pressionaram a queda
“As quedas [na produção] dos bens duráveis de 27,4% e de semi e não duráveis são as mais intensas desde o início da série histórica para a comparação mensal”, destacou o pesquisador.
Segundo Macedo, o declínio nos bens duráveis e não duráveis está relacionado, respectivamente, a automóveis e alimentos, que exerceram as maiores pressões negativas na paralisação dos caminhoneiros.
A categoria de veículos automotores, reboques e carrocerias retrocedeu 29,8% em maio, enquanto produtos alimentícios encolheu 17,1% em maio frente a abril, segundo os dados do IBGE.
O segmento de bebidas caiu 18,1% e também exerceu pressão negativa. Celulose, papel e produtos de papel tiveram queda de 13,0%. A confecção de artigos do vestuário e acessórios, por sua vez, retrocedeu 15,4%. Já a produção de produtos químicos ficou 5,6% menor, e a de produtos de metal caiu 10,5%.
Dos 26 ramos industriais pesquisados, apenas dois não tiveram redução na produção: o de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis subiram 6,3%, e o de indústrias extrativas avançou 2,3%.
Evolução da produção industrial
Variação mês a mês, em %
Fonte: IBGE
“Os dois são, relativamente, menos dependentes dessa paralisação. No caso dos derivados do petróleo, por exemplo, a matéria-prima muitas vezes chega por dutos, não por caminhões. Isso pode ser uma explicação para algum tipo de comportamento positivo que esses segmentos tiveram mesmo em meio a greve”, explicou Macedo.
Questionado, Macedo acenou para a possibilidade de que a greve dos caminhoneiros tenha reflexos na produção industrial de junho “na medida em que pode ter desarticulado determinadas cadeias produtivas”. Ele ressaltou, ainda, que o resultado de junho pode ter impacto negativo também da Copa do Mundo, em função do menor número de horas trabalhadas.
Alta da indústria desacelera no ano
Nos cinco primeiros meses do ano, o setor industrial acumulou expansão de 2%, ritmo abaixo do resultado registrado até abril, que ficou em 4,5%.
Nos últimos 12 meses, ao passar de 3,9% em abril para 3% em maio, a alta também desacelerou e interrompeu a trajetória ascendente iniciada em junho de 2016, quando o indicador caía 9,7%.
Dados revisados
O IBGE revisou os dados da produção industrial na comparação mensal de dezembro de 2,9% para 3,1%, de janeiro de queda de 2,1 para recuo de 2,2, e de março de uma queda de 0,1% para uma estabilidade de 0%.
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