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segunda-feira, 26 de maio de 2014

Economistas comentam críticas de investidor dinamarquês ao Brasil


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25/05 às 11h25 - Atualizada em 25/05 às 11h31
Postado em 26 de maio de 2014 às 07h55m

O economista-chefe de investimentos do Saxo Bank da Dinamarca, Steen Jakobsen, fez uma série de críticas à economia brasileira durante evento realizado em São Paulo no início deste mês. 

Para ele, presidente e Banco Central estão perdidos e país é "campeão em fracassos". Economistas brasileiros consultados pelo JB reforçam que as “análises pessimistas” podem ser resultado de uma visão superficial, ou ainda o ponto de vista do investidor que apenas visa o lucro

Apontam, no entanto, que algumas medidas do governo geraram grande resistência e um certo recuo, e ainda a real necessidade do país de realizar um planejamento estratégico de longo prazo, que dê continuidade ao movimento de distribuição de renda iniciado na década passada.

Jakobsen declarou que a situação macro do Brasil é a pior dos países que ele visitou, criticou Dilma Rousseff por não saber o que quer e ainda estar "completamente perdida", assim como o Banco Central. Reclamou ainda da ausência de reformas e decisões políticas "fora do bom tom" e disse que o Brasil precisa de uma crise de verdade, "com uma magnitude enorme", para "tomar jeito" - apesar de ter ressaltado que o país é "campeão mundial de fracassos" e que nunca aprende. 

Comentou também que receber a Copa e as Olimpíadas foi um erro gigante, que acabou desviando recursos importantes para "coisas inúteis".
O economista Pedro Rossi, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), acredita que existe no discurso do setor financeiro e de parte da mídia uma "realidade inventada". “Acho que esse tipo de pessimismo beira a irracionalidade e a esquizofrenia. 

Por mais que haja problemas na economia brasileira, em especial o baixo crescimento, o país vive o seu índice de desemprego mais baixo das últimas décadas (5%) e vem distribuindo renda, o que melhora as condições de vida da população mais pobre, ou seja, não estamos à beira do colapso”, completa Rossi. 

Heron do Carmo, professor do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP), esclarece que as críticas parecem ser baseadas mais em impressões sobre o Brasil do que em análise fundamentada. “Por exemplo, com relação à Copa ele deve ter esquecido que o Brasil recebeu o evento em 1950 e o realizou a contento, incluindo a construção do Maracanã. Naquela época nosso PIB era cerca de 5% do atual.”

Francisco Lopreato, também professor de Economia na Unicamp, reforça a necessidade de avaliação dos interesses e perspectivas de Jakobsen, um investidor, focado, provavelmente, na maior rentabilidade para suas aplicações financeiras. “Talvez, para esse tipo de gente, realmente as condições estavam melhores anos atrás do que no momento mais recente. 

Durante o governo do Fernando Henrique e até mesmo em alguns momentos do Lula, mas na gestão de FH muito mais, depois que passou turbulência de 1999, a rentabilidade que eles estavam conseguindo no Brasil era extremamente elevada. A taxa de juros era bastante alta, para eles era o melhor dos mundos.”

O ponto de vista do investidor dinamarquês pode não ser o mesmo da população brasileira, que, reforça Lopreato, assistiu a uma melhor distribuição de renda e melhor nível de emprego, que está entre os mais baixos do mundo, além do maior número de bolsas de financiamento estudantil e de programas como o Ciência sem Fronteiras.

Em relação às críticas diretas à presidente Dilma Rousseff, de que ela estaria completamente perdida, o professor destaca que o governo realmente perdeu um pouco o rumo, devido à resistência que enfrentou com algumas medidas como as adotadas para favorecer a indústria, que exigiu mudanças nos juros, na questão tributária e no câmbio.

“Ela defendeu e ampliou a política de apoio ao setor industrial que veio do Lula, contrária a do FHC, e, principalmente quando reduziu a taxa de juros, causou frenesi. A gente não pode esquecer que, desde o final do período de alta inflação, nós temos como característica da economia brasileira um nível de rentabilidade das aplicações financeiras muito alto. 

Quando você mexe na taxa de juros, isso causa uma resistência muito grande. Ela comprou uma série de brigas e pagou caro para isso, perdeu algumas batalhas”, esclarece.
Isso fez com que o governo recuasse em alguns momentos, como na taxa de juros, na inflação e na questão tributária. Havia um rumo claro, destaca Lopreato, mas o governo teve que “dar um passo atrás”. 

“Quando ela mudou a trajetória da taxa de juros, ela perdeu um pouco o rumo, teve que ceder um pouco para atender demandas e, talvez, o foco que ela tinha muito claro, nesse último ano, está meio difuso.”
Sobre as críticas à realização da Copa e da Olimpíadas no Brasil - o dinamarquês falou em um desvio de recursos importantes para "coisas inúteis" -, Lopreato destaca que seria ingenuidade imaginar que se não tivéssemos a Copa os recursos iriam para educação e saúde. 

Ele explica ainda que um investimento maciço nos setores sociais, no entanto, seria o passo seguinte ao movimento de distribuição de renda iniciada no governo Lula.
“O problema não é a Copa. O que está em falta no Brasil é uma discussão mais consubstancial de um projeto de longo prazo, mas para fazer isso depende de consolidação de interesses mínimos, o que, no Brasil, é difícil, porque cada um puxa para um lado. 

O último movimento de planejamento estratégico em regime democrático foi com Juscelino. Depois disso, tivemos alguns momentos como o milagre econômico, mas foi da Ditadura, né? Tivemos um proposta na época de Fernando Henrique, que era de reforma, não tinha grandes planejamentos de longo prazo”, comentou.

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