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Na opinião de analistas, efeito das medidas de estímulo do governo brasileiro só devem ser percebidas com maior clareza nos últimos três meses do ano
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07 de agosto de 2012 | 18h 47 -|- Atualizado às 22h 57
Alessandra Taraborelli, da Agência Estado
SÃO PAULO - Como se não bastasse a crise europeia e o fraco crescimento da economia dos Estados Unidos que têm trazido tensão para os principais mercados internacionais, afastando os investidores de ativos de risco, a atual safra de balanços das empresas brasileiras mostrou que tem sido difícil manter resultados positivos neste quadro de estagnação econômica global. Na opinião dos analistas, o efeito das medidas de estímulo do governo brasileiro só devem ser percebidas com maior clareza nos últimos três meses do ano, o que pode significar mais um trimestre de desempenhos fracos.
Levantamento feito pela Agência Estado com 12 empresas de relevância em seu setor de atividade e com peso no Ibovespa concluiu que a maioria delas piorou seu resultado: seis apresentaram lucro abaixo do verificado no mesmo período do ano passado. Petrobrás e Usiminas passaram de lucro para prejuízo e apenas quatro apresentaram resultados superiores ao verificado entre abril e junho de 2011.
Se considerarmos a prévia dos resultados feita pela Agência Estado com base nas estimativas de analistas, apenas três ficaram acima das previsões, enquanto quatro ficaram abaixo do esperado. Outras quatro companhias apresentaram resultados em linha. No caso da Usiminas, as projeções eram muito dispersas. (veja tabela)
Melhora fica para o 4º trimestre
Para o terceiro trimestre as perspectivas ainda não são boas. Segundo a analista de investimento do Indusval & Partners Corretora, Mitsuko Kaduoka, a crise na Europa deve continuar ditando o ritmo dos negócios por aqui e a influenciar negativamente a safra de balanços do terceiro trimestre do ano.
Uma solução mais consistente para a Europa deve demorar. "As medidas que estão sendo sugeridas para aliviar a crise não serão suficientes para acabar com a falta de crescimento da economia destes países", afirmou o gestor de investimento da Corretora H.H. Picchioni, Paulo Amantéa.
Ajudam um pouco as empresas brasileiras, na opinião de Mitsuko, as medidas de estímulo adotadas pelo governo. "Se o governo não tivesse tomado medidas para tentar minimizar os impactos externos, a situação poderia ser pior. Muito pior. O governo ainda está conseguindo segurar um pouco", avaliou, destacando a isenção de IPI para automóveis e linha branca.
O problema é que os efeitos das medidas de estímulo e da queda de juros, segundo os analistas, ainda não serão percebidos nos balanços do terceiro trimestre. O sócio-gestor da Humaitá Investimentos, Rafael Barros, acredita que se tiver alguma impacto agora será pequeno. "Não deve ser nada muito forte agora. Mas, para o quarto trimestre, os resultados podem melhorar", disse. Ele lembrou que o governo deve anunciar, em breve, um pacote de redução de tarifa de energia elétrica para toda a indústria, o que ajudará as empresas a recompor suas margens. "As margens estão bem apertadas. E a expectativa é de que a medida seja anunciada no curto prazo", estimou.
Mitsuko lembrou, ainda, que o setor de produção industrial está passando por um período crítico, mesmo com as medidas do governo, em razão do elevado estoque que carregava, mas ressaltou que "alguns setores chegaram no seu limite e vão começar a produzir".
Um estímulo à retomada da produção pela indústria pode vir da melhora na demanda sazonal de final de ano, ajudada pela queda na taxa básica de juros, atualmente em 8%. "No último trimestre a queda dos juros terá impacto favorável", disse a analista do Indusval, lembrando que tradicionalmente o período costuma ser bom em razão do 13º salário, que acaba injetando mais dinheiro na economia doméstica.
Câmbio
Barros, da Humaitá Investimentos, analisou ainda o impacto do câmbio nesse cenário. Apesar de considerar que a desvalorização do real foi a grande vilã de algumas empresas no segundo trimestre, como a Petrobrás, ressaltou que foi a salvação para setores como o de papel e celulose. "Este setor é forte exportador. O câmbio e o preço da celulose ajudaram. O mesmo não aconteceu com a Vale na qual o câmbio ajudou as exportações, mas a forte queda no preço do minério de ferro acabou anulando o efeito no balanço da mineradora", avaliou.
Para o próximo trimestre, Barros acredita que o dólar deve ficar mais ou menos em R$ 2,05. Ainda assim, estimou que melhora relevante nos resultados em função do câmbio, "só no quarto trimestre".
No caso do setor de consumo, Barros apontou a melhora na situação da inadimplência . "É preciso aguardar para ver se é uma tendência positiva ou apenas um dado pontual", disse, lembrando que esta questão é bastante relevante para o consumo, que é dependente do crédito. "À medida que o quadro fica mais tranquilo, os bancos podem voltar a estender e a flexibilizar as linhas de crédito, estimulando a dinâmica da economia", avaliou.
Para o terceiro trimestre, o sócio-gestor da Humaitá considera um cenário base onde a situação na Europa e nos EUA deve se manter como está. No entanto, para o quarto trimestre, ele acredita num ambiente mais satisfatório, refletindo medidas dos Bancos Centrais da Europa e dos EUA, que devem ser tomadas em setembro, quando acontecem as próximas reuniões de política monetária.
"Agora o grau de incertezas é elevado e o mercado aguarda medidas dos BCs para setembro", disse, lembrando que o terceiro trimestre já estará se encerrando e os resultados dessas possíveis medidas devem se refletir na economia apenas no quarto trimestre.
Já Amantéa afirmou que mesmo que as medidas sejam anunciadas não irão resolver, já que se limitarão a financiar as dívidas do governo. "O mundo precisa de crescimento", ponderou, ressaltando ainda que quando a ajuda vier haverá "4 ou 5 dias de euforia e depois os investidores vão questionar: cadê o emprego, cadê o crescimento?".
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