ECONOMIA -- NOTÍCIAS & INFORMAÇÃO
'Contágio' da economia brasileira pode ocorrer via crédito e expectativas.
No curto prazo, analistas avaliam que o dólar pode subir um pouco.
[%-$+$-%] A nova fase da crise financeira internacional, que foi inaugurada nas últimas semanas com a percepção de que a economia dos Estados Unidos vai demorar mais alguns anos para se recuperar, e de que os problemas de endividamento em alguns países da Europa ainda persistem sem uma solução no curto prazo, deve gerar reflexos no Brasil, segundo economistas consultados pelo G1.
A exemplo do ocorrido em 2008, na primeira "onda" da crise financeira, que teve início com o anúncio de concordata do banco norte-americano Lehman Brothers, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) pode desacelerar - embora com menor intensidade.
Em 2009, por conta dos efeitos da crise financeria, o PIB do Brasil registrou retração de 0,6%. Atualmente, o mercado financeiro prevê uma expansão de cerca de 4% para 2011 e 2012. Os economistas ainda não arriscam números, mas dizem que esse ritmo de expansão tende a diminuir.
Produto Interno Bruto
"Sem considerar os efeitos prováveis da crise externa, são notórios os sinais de retração no consumo de eletroeletrônicos, eletrodomésticos, automóveis, e, os estoques de bens não duráveis revelam-se em alta. Por isso, é bastante provável que tenhamos algum reflexo no crescimento do PIB, pois embora tenhamos condições de superar os reflexos externos da crise, podemos encontrar um mercado interno mais cauteloso e menos vigoroso", avaliou Sidnei Nehme, economista da NGO Corretora de Câmbio, por meio de comunicado.
Para Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, a nova rodada da crise financeira pode seguir o mesmo percurso ocorrido na primeira fase das turbulências, há três anos atrás.
"A gente pode seguir a avaliação do que houve em 2008 e 2009, que foi um contágio via mercado de crédito [retração da oferta de financiamentos para o consumo] e queda das 'commodities'. Pode haver diminuição na entrada de recursos e uma disponibilidade de crédito mais baixa. Se agravar um pouco mais a situação e a aversão ao risco se acentuar, seria natural ter algum efeito no crescimento [do Brasil]", disse ele.
Impacto na bolsa, nas contas externas e no dólar
Para Sidnei Nehme, outro efeito da crise financeira internacional sobre a economia brasileira deve ser a piora das contas externas do país.
"Muito provavelmente o Brasil terá que rever as projeções de ingressos de investimentos estrangeiros diretos [voltados para a produção] e investidores em renda variável e fixa, e o déficit em transações correntes [das contas externas] poderá elevar-se com o incremento das saídas de dividendos, impactando nos fluxos cambiais estimados", avaliou ele.
Atualmente, o mercado financeiro prevê um déficit das contas externas (transações correntes) de US$ 59 bilhões para este ano e de US$ 69 bilhões para 2012.
Sobre a Bovespa, o economista da NGO Corretora prevê "poucas perspectivas de recuperação sustentável neste ano". "Dependência de investimentos estrangeiros, que deverão sofrer retração, e, influência dos papeis ligados a "commodities" [Petrobras e Vale do Rio Doce, por exemplo], que tendem a queda nos preços, deverão afetar e inibir o comportamento", explicou ele.
Já Silvio Campos Neto, da Tendências, prevê subida do dólar no curto prazo, ficando em um patamar acima de R$ 1,60 por conta das turbulências internacionais - que tendem a gerar saída de recursos do país.
"O dólar, no curto prazo, tende a ficar acima de R$ 1,60. É natural que se tenha muitas oscilações no câmbio. Ele acaba reagindo mais a um cenário de preocupações e temores. Quando a crise se amenizar, a tendência é do dólar de cair e seguir valorizado, mesmo porque o Federal Reserve [BC dos EUA] já sinalizou juros baixos até 2013", informou ele.
Juros e inflação
Se a crise pode gerar desaceleração do ritmo de crescimento da economia brasileira e piora das contas externas do país, as turbulências externas também podem facilitar a vida do Banco Central no controle da inflação. Isso porque os preços das "commodities" (produtos com cotação no mercado internacional, como alimentos, petróleo e minério de ferro, por exemplo) tendem a mostrar algum recuo.
"Pode vir a ter contribuição [para conter a inflação], mas não deve ser substancial. Porque a inflação está dependendo de eventos domésticos, como preços dos serviços. Mas alguma ajuda tende a dar. Isso é fato", declarou Campos Neto. Essa visão também já foi expressa pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.
Com menores pressões inflacionárias, a postura do Banco Central, na determinação da taxa básica de juros da economia brasileira, tende a ser menos agressiva. O próprio mercado financeiro, que há pouco tempo acreditava em um aumento dos juros para 12,75% ao ano no fim de agosto, já não prevê mais aumento da taxa até o fim de 2012. Atualmente, os juros estão em 12,50% ao ano. Alguns economistas já falam em redução dos juros até o fim deste ano.
'Armas' contra a crise
Com o agravamento da crise financeira internacional nas últimas semanas, autoridades da equipe econômica se apressaram em dizer, e repetir à exaustão, que a economia brasileira está "melhor preparada" do que em 2008 para superar essa nova fase das turbulências. Para combater os efeitos da crise no Brasil, o governo dispõe de uma série de armas - que podem ser usadas caso a crise piore, ou demore muito a ser superada.
Um dos instrumentos são as reservas internacionais, atualmente acima de US$ 350 bilhões, valor 70% acima do registrado em setembro de 2008 (US$ 205 bilhões), antes da eclosão da primeira etapa da crise externa. Esses recursos podem ser utilizados, novamente, para oferecer crédito ao setor privado, caso um novo episódio de "empoçamento" de empréstimos aconteça.
Outra arma para estimular a economia e tentar evitar a perda de empregos são os depósitos compulsórios (recursos que ficam retidos na autoridade monetária). Atualmente, os compulsórios estão acima de R$ 415 bilhões. Em 2008, para estimular a concessão de crédito pelas instituições financeiras, o BC liberou mais de R$ 70 bilhões em compulsórios e usou os bancos públicos para sustentar os empréstimos.
Além disso, o governo também poderá lançar mão, caso julgue que precisa novamente aquecer a economia, da taxa básica de juros. Atualmente em 12,50% ao ano, os juros são os mais altos do mundo em termos reais (6,8% ao ano - após o abatimento da expectativa de inflação para os próximos 12 meses), o que também tem contribuído para a entrada de dólares no país.
A manutenção de recursos na economia, via redução de tributos, também é uma arma do governo contra uma eventual desaceleração mais forte da economia. Com os dois planos lançados recentemtente (pacote industrial e correção dos limites do Simples), deixará de arrecadar cerca de R$ 23 bilhões em 2012.
Além disso, também está previsto um forte aumento de quase 15% no salário mínimo no ano que vem. "O reajuste real [acima da inflação] de 8% no mínimo, ausente este ano, acrescentará mais de R$ 15 bilhões em gastos", observou o economista Fernando Montero, da Convenção Corretora.
Na primeira fase da crise, em 2008, o governo baixou o IPI de materiais de construção, dos automóveis e da linha branca (fogões, geladeiras e máquinas de lavar). Entretanto, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem dito que ainda não é o momento de aplicar novas "politicas anticíclicas" e tem pedido ajuda ao Congresso para evitar o crescimento dos gastos, enquanto Alexandre Tombini, presidente do BC, também prega controle das contas públicas.
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Em 2009, por conta dos efeitos da crise financeria, o PIB do Brasil registrou retração de 0,6%. Atualmente, o mercado financeiro prevê uma expansão de cerca de 4% para 2011 e 2012. Os economistas ainda não arriscam números, mas dizem que esse ritmo de expansão tende a diminuir.
Produto Interno Bruto
"Sem considerar os efeitos prováveis da crise externa, são notórios os sinais de retração no consumo de eletroeletrônicos, eletrodomésticos, automóveis, e, os estoques de bens não duráveis revelam-se em alta. Por isso, é bastante provável que tenhamos algum reflexo no crescimento do PIB, pois embora tenhamos condições de superar os reflexos externos da crise, podemos encontrar um mercado interno mais cauteloso e menos vigoroso", avaliou Sidnei Nehme, economista da NGO Corretora de Câmbio, por meio de comunicado.
Para Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, a nova rodada da crise financeira pode seguir o mesmo percurso ocorrido na primeira fase das turbulências, há três anos atrás.
"A gente pode seguir a avaliação do que houve em 2008 e 2009, que foi um contágio via mercado de crédito [retração da oferta de financiamentos para o consumo] e queda das 'commodities'. Pode haver diminuição na entrada de recursos e uma disponibilidade de crédito mais baixa. Se agravar um pouco mais a situação e a aversão ao risco se acentuar, seria natural ter algum efeito no crescimento [do Brasil]", disse ele.
Impacto na bolsa, nas contas externas e no dólar
Para Sidnei Nehme, outro efeito da crise financeira internacional sobre a economia brasileira deve ser a piora das contas externas do país.
"Muito provavelmente o Brasil terá que rever as projeções de ingressos de investimentos estrangeiros diretos [voltados para a produção] e investidores em renda variável e fixa, e o déficit em transações correntes [das contas externas] poderá elevar-se com o incremento das saídas de dividendos, impactando nos fluxos cambiais estimados", avaliou ele.
Atualmente, o mercado financeiro prevê um déficit das contas externas (transações correntes) de US$ 59 bilhões para este ano e de US$ 69 bilhões para 2012.
Sobre a Bovespa, o economista da NGO Corretora prevê "poucas perspectivas de recuperação sustentável neste ano". "Dependência de investimentos estrangeiros, que deverão sofrer retração, e, influência dos papeis ligados a "commodities" [Petrobras e Vale do Rio Doce, por exemplo], que tendem a queda nos preços, deverão afetar e inibir o comportamento", explicou ele.
Já Silvio Campos Neto, da Tendências, prevê subida do dólar no curto prazo, ficando em um patamar acima de R$ 1,60 por conta das turbulências internacionais - que tendem a gerar saída de recursos do país.
"O dólar, no curto prazo, tende a ficar acima de R$ 1,60. É natural que se tenha muitas oscilações no câmbio. Ele acaba reagindo mais a um cenário de preocupações e temores. Quando a crise se amenizar, a tendência é do dólar de cair e seguir valorizado, mesmo porque o Federal Reserve [BC dos EUA] já sinalizou juros baixos até 2013", informou ele.
Juros e inflação
Se a crise pode gerar desaceleração do ritmo de crescimento da economia brasileira e piora das contas externas do país, as turbulências externas também podem facilitar a vida do Banco Central no controle da inflação. Isso porque os preços das "commodities" (produtos com cotação no mercado internacional, como alimentos, petróleo e minério de ferro, por exemplo) tendem a mostrar algum recuo.
"Pode vir a ter contribuição [para conter a inflação], mas não deve ser substancial. Porque a inflação está dependendo de eventos domésticos, como preços dos serviços. Mas alguma ajuda tende a dar. Isso é fato", declarou Campos Neto. Essa visão também já foi expressa pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.
Com menores pressões inflacionárias, a postura do Banco Central, na determinação da taxa básica de juros da economia brasileira, tende a ser menos agressiva. O próprio mercado financeiro, que há pouco tempo acreditava em um aumento dos juros para 12,75% ao ano no fim de agosto, já não prevê mais aumento da taxa até o fim de 2012. Atualmente, os juros estão em 12,50% ao ano. Alguns economistas já falam em redução dos juros até o fim deste ano.
'Armas' contra a crise
Com o agravamento da crise financeira internacional nas últimas semanas, autoridades da equipe econômica se apressaram em dizer, e repetir à exaustão, que a economia brasileira está "melhor preparada" do que em 2008 para superar essa nova fase das turbulências. Para combater os efeitos da crise no Brasil, o governo dispõe de uma série de armas - que podem ser usadas caso a crise piore, ou demore muito a ser superada.
Um dos instrumentos são as reservas internacionais, atualmente acima de US$ 350 bilhões, valor 70% acima do registrado em setembro de 2008 (US$ 205 bilhões), antes da eclosão da primeira etapa da crise externa. Esses recursos podem ser utilizados, novamente, para oferecer crédito ao setor privado, caso um novo episódio de "empoçamento" de empréstimos aconteça.
Outra arma para estimular a economia e tentar evitar a perda de empregos são os depósitos compulsórios (recursos que ficam retidos na autoridade monetária). Atualmente, os compulsórios estão acima de R$ 415 bilhões. Em 2008, para estimular a concessão de crédito pelas instituições financeiras, o BC liberou mais de R$ 70 bilhões em compulsórios e usou os bancos públicos para sustentar os empréstimos.
Além disso, o governo também poderá lançar mão, caso julgue que precisa novamente aquecer a economia, da taxa básica de juros. Atualmente em 12,50% ao ano, os juros são os mais altos do mundo em termos reais (6,8% ao ano - após o abatimento da expectativa de inflação para os próximos 12 meses), o que também tem contribuído para a entrada de dólares no país.
A manutenção de recursos na economia, via redução de tributos, também é uma arma do governo contra uma eventual desaceleração mais forte da economia. Com os dois planos lançados recentemtente (pacote industrial e correção dos limites do Simples), deixará de arrecadar cerca de R$ 23 bilhões em 2012.
Além disso, também está previsto um forte aumento de quase 15% no salário mínimo no ano que vem. "O reajuste real [acima da inflação] de 8% no mínimo, ausente este ano, acrescentará mais de R$ 15 bilhões em gastos", observou o economista Fernando Montero, da Convenção Corretora.
Na primeira fase da crise, em 2008, o governo baixou o IPI de materiais de construção, dos automóveis e da linha branca (fogões, geladeiras e máquinas de lavar). Entretanto, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem dito que ainda não é o momento de aplicar novas "politicas anticíclicas" e tem pedido ajuda ao Congresso para evitar o crescimento dos gastos, enquanto Alexandre Tombini, presidente do BC, também prega controle das contas públicas.
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