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terça-feira, 20 de setembro de 2022

Nova espécie divulgada: primeiro 'titanossauro anão' das Américas é descoberto no interior de SP

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Nomeada de Ibirania parva em homenagem a cidade de Ibirá (SP), a espécie foi divulgada na última semana pelo Paleontólogo Bruno Navarro.
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Por Muryel Boian, g1 Rio Preto e Araçatuba

Postado em 20 de setembro de 2022 às 08h45m

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Reprodução do Ibirania parva feita por um ilustrador — Foto: Matheus Fernandes Gadelha/Divulgação
Reprodução do Ibirania parva feita por um ilustrador — Foto: Matheus Fernandes Gadelha/Divulgação

Depois de anos de pesquisas, foi divulgada a nova espécie de dinossauro encontrada em Ibirá, cidade do interior de São Paulo conhecida por abrigar outras descobertas.

Trata-se do Ibirania parva, um titanossauro de cinco a seis metros de comprimento, espécie herbívora conhecida pelo pescoço grande. Ele é considerado o primeiro anão das Américas.

Bruno Navarro foi o responsável pela divulgação das pesquisas — Foto: Arquivo Pessoal
Bruno Navarro foi o responsável pela divulgação das pesquisas — Foto: Arquivo Pessoal

O nome vem da junção das palavras Ibirá, cidade onde foi encontrado, "ania", que em grego significa peregrino, e "parva", palavra em latim para pequeno.

A descoberta foi proveniente de um trabalho realizado desde os anos 90 e publicada em uma revista cientifica internacional na última quinta-feira (15).

Espécie de dinossauro viveu no interior de SP há 80 milhões de anosEspécie de dinossauro viveu no interior de SP há 80 milhões de anos

Em entrevista ao g1, Bruno Navarro, Paleontólogo do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) e principal percursor da descoberta, deu detalhes sobre o trabalho realizado pelos pesquisadores.

Desde 1999 começaram as coletas, ano em que acharam alguns fósseis da nova espécie. Mas o material do holótipo –indivíduo que carrega o nome da espécie– foi descoberto pelo professor Dr. Marcelo Adorna Fernandes, em 2005, contou Bruno.

Viriato Antônio Lobo de Araújo é secretário de Turismo de Ibirá e foi um dos voluntários das escavações. Ele foi responsável por achar o material na Vila Ventura, local onde os trabalhos foram realizados.

Secretário de Turismo participou das escavações em 2005 — Foto: Arquivo Pessoal
Secretário de Turismo participou das escavações em 2005 — Foto: Arquivo Pessoal

O Marcelo nos explicava como fazia. Na hora que estava escavando, vi apenas um filete. Conforme comecei a cavar, consegui achar o fóssil, explicou o secretário.

O material encontrado por Marcelo e Viriato serviu como análise para Bruno em 2015. Foi neste ano que ele começou a perceber algumas características do fóssil e perceber que poderia ser de uma nova espécie.

Quando coletamos algum tipo de fóssil, vamos comparando com os seus similares. Se notamos algo diferente, vamos olhando mais a fundo, se aquilo pode remeter a um parentesco. Mas isso é tudo por análise, contou Bruno.

Descobertas e surpresas

Fíbola da nova espécie encontrada em 2005 — Foto: Fabiano Vidoi Iori/Divulgação
Fíbola da nova espécie encontrada em 2005 — Foto: Fabiano Vidoi Iori/Divulgação

A partir dos trabalhos, Bruno e os pesquisadores perceberam que a nova espécie tinha algumas características anatômicas que se diferenciavam das outras.

Uma delas é que as estruturas do Ibirania parva apresentavam uma hiper pneumatização de seu esqueleto axial, ou seja, espaços ocos nas vértebras, preservando inclusive resquícios de sacos-aéreos, usados para controle da temperatura. Esse tipo de estrutura é semelhante às aves e diferentes de outros dinossauros.

Estrutura das vértebras chamou a atenção dos pesquisadores — Foto: Arquivo Pessoal
Estrutura das vértebras chamou a atenção dos pesquisadores — Foto: Arquivo Pessoal

Além de já ser comprovado que a espécie era menor comparada com outros titanossauros, o que surpreendeu a equipe é que a forma "anã" foi a primeira registrada nas Américas.

Já tinha titanossauros anões reportados, desde 1915, em alguns locais da Europa. Mas o continente era um arquipélago, então o confinamento entre eles forçava esses animais a serem pequenos, pela questão da área e dos recursos. Então, a nossa surpresa foi: o que um animal anão está fazendo no Brasil", afirmou Bruno.

Como a região de Ibirá não tinha uma relação com o mar, os pesquisadores ficaram motivados a entender como o ambiente da época influenciou no tamanho da espécie.

Comparativo mostra o tamanho da espécie com os seres humanos — Foto: Sérgio Lages/Divulgação
Comparativo mostra o tamanho da espécie com os seres humanos — Foto: Sérgio Lages/Divulgação

Segundo Bruno, um dos primeiros motivos é que essa espécie tinha preferência por uma alimentação rasteira, como arbustos.

Além disso, no período Cretáceo, que foi quando o Ibirania parva viveu, a região noroeste paulista era marcada por estações secas e prolongadas, além de um clima bastante árido. Foi esse ambiente hostil que selecionou os pequenos dinossauros herbívoros.

Os animais pequenos teriam uma maior tolerância, porque eles necessitavam de menos recursos, e conseguiam se manter em refúgios de vegetação específicos. Ou seja, com menor tamanho, eram maiores as chances de sobreviver a estes ambientes, explica.

Outras descobertas e importância histórica

Fêmur de um titanossauro encontrado na região noroeste paulista — Foto: Marcos Lavezo/G1
Fêmur de um titanossauro encontrado na região noroeste paulista — Foto: Marcos Lavezo/G1

Ibirá já foi cenário de descobertas de outras espécies de dinossauros. Uma delas foi o Thanos Simonattoi, uma espécie carnívora, cujo fóssil foi encontrado no município em 2018.

Por conta disso, Viriato contou que o município já tem projetos para montar um museu próprio na cidade, especialmente na Vila Ventura, onde são achados a maioria dos fósseis.

Entramos com um pedido no estado de São Paulo para transformar o prédio de uma escola desativada em um museu da cidade, até como forma de aumentar o turismo na região", diz.

Confira os dinossauros descobertos na região

Titanossauro: era herbívoro com mais de 20 metros de comprimento. Fósseis foram encontrados em toda a região noroeste paulista, sendo o maior acervo do museu. Tinha o pescoço e a cauda alongados, andava por toda região em busca de alimento.

Megaraptora: animal carnívoro e tinha cerca de 10 metros de altura. Fóssil de uma vértebra e possíveis dentes foram encontrados na região de Ibirá. Era o topo da cadeia alimentar na região e tinha garras potentes.

Thanos Simonattoi: parente distante do T-Rex, tinha cerca de 5 metros de altura e era carnívoro. Fóssil de vértebra encontrado em Ibirá. Tinha as patas dianteiras bem curtas.

Maniraptora: outro animal carnívoro e tinha cerca de dois metros de comprimento. Diferente dos outros dinossauros, esse era coberto por penas. Foram encontrados dentes e vértebras na região toda.

Outros animais: além de dinossauros, na região também viviam outros tipos de animais, como peixes e crocodilos pré-históricos, como o baurussuquídeo, peirossaurídeo e o esfagessaurídeo.

Titanossauro (pescoço longo), megaraptora, maniraptores (pequeno à frente), crocodilos e o Thanos: animais que viviam no interior de SP há 80 milhões de anos — Foto: Marcos Lavezo/G1
Titanossauro (pescoço longo), megaraptora, maniraptores (pequeno à frente), crocodilos e o Thanos: animais que viviam no interior de SP há 80 milhões de anos — Foto: Marcos Lavezo/G1 

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