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Joe Kittinger, de 84 anos, detém recorde de altitude em skydive desde
1960.
Foto impressionante registrou salto; entrevista abre especial sobre
fotografia.
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O G1 publica a partir desta terça-feira (14) o especial 'Do olhar à fotografia', uma série de reportagens que têm a fotografia como tema, para celebrar a semana que antecede o Dia Mundial da Fotografia, no domingo (19). A data é referente a 19 de agosto de 1839, quando a França apresentou ao mundo os estudos de Louis Daguerre que resultaram no daguerreótipo - marco considerado por muitos como o 'nascimento' da fotografia. As reportagens abordarão desde os primórdios da fotografia no Brasil (e no mundo), passando por estilos de fotografia específicos, como de guerra e natureza, até novos rumos vistos como opção na aplicação da fotografia. O especial também abre espaço para a participação do internauta, convidado a contar a história do seu 'melhor clique' pelo VC no G1.
A imagem que registrou há 52 anos o salto histórico de Joe Kittinger, militar da Força Aérea dos EUA, é um exemplo claro do que a fotografia passou a significar depois de sua invenção. Uma vista que, a princípio, uma só pessoa chegou de fato a ter com os próprios olhos pôde ser compartilhada com o resto do mundo e ajudou a registrar a História.
Joe Kittinger salta de mais de 37 quilômetros de
altitude em 16 de agosto de 1960. Imagem completa 52 anos esta semana (Foto:
AP/Força Aérea dos EUA)
O G1 conversou por telefone com o recordista, um dos
pioneiros nos avanços rumo à conquista espacial. Hoje aos 84 anos, ele ainda
lembra bem do dia do grande salto, dos problemas que colocaram sua vida em risco
na subida e da maneira como a fotografia foi feita, sem a ajuda de um fotógrafo,
e recuperada posteriormente.G1 - Li que, a menos de um ano para o salto do recorde, o senhor teve um salto de paraquedas que quase terminou em tragédia. Como foi essa experiência? Ela não lhe fez pensar duas vezes sobre se realmente queria executar o grande salto?
Joe Kittinger acompanha um treinamento do
projeto
Red Bull Stratos (Foto: Jörg Mitter/Red Bull)
Joseph Kittinger - Foi bem intenso. Eu estava em queda livre
de forma instável e entrei em parafuso. Comecei a girar a cerca de 120 rotações
por minuto (duas voltas inteiras por segundo) e perdi a consciência por conta
disso. Só voltei a mim com o tranco, quando meu paraquedas de emergência abriu
automaticamente. Foi algo muito arriscado, mas tínhamos um paraquedas de
emergência e ele funcionou.Red Bull Stratos (Foto: Jörg Mitter/Red Bull)
A razão de eu não pensar duas vezes é que eu tinha confiança no equipamento e sabia o que havia causado o problema. Eu quis voltar para mostrar que nós tínhamos um bom equipamento. Então, logo um mês depois eu fiz um novo pulo da mesma altitude para provar que o sistema que tínhamos era bom. Eu não tive qualquer hesitação, acreditava no equipamento. Sabia que funcionaria e lhe dei uma chance.
G1 - Como foi a preparação para o salto?
Kittinger - Eu tive muitos testes feitos em uma câmara que simulava altitudes de até 3 mil metros, com temperatura de 73 graus negativos (em Celsius). Pratiquei muito nessa câmara antes de ir para os saltos, porque ninguém nunca havia estado tão alto antes - não do lado de fora de uma aeronave. Então tínhamos muitas lições a aprender, e foi o que fizemos. Trabalhamos por um ano e meio no projeto. Eu tinha 13 membros na minha equipe, trabalhando com o mesmo objetivo, mas o treinamento era focado na minha preparação.
G1 – E o recorde foi apenas uma consequência de outros objetivos da missão, certo?
Kittinger - O projeto tinha dois propósitos: um era que nunca havíamos colocado um homem no espaço, e estes eram os primeiros testes para isso. O outro propósito era desenvolver um sistema de escape em grandes altitudes com segurança.
O capitão Joe Kittinger é visto à direita sentado
na gôndola do projeto Excelsior após um salto de teste bem sucedido em 16 de
novembro de 1959. À esquerda, o engenheiro David Willard, que desenhou o
equipamento (Foto: AP/Arquivo)
G1 – O senhor se lembra de como foi o dia do salto? O que se passou
pela sua cabeça durante a subida?Kittinger - Tínhamos um procedimento que era sempre seguido. Eles me acordaram por volta de 2h da manhã, eu me barbeei e tomei banho, depois fomos para o local do lançamento. Depois de entrar na cápsula, demorou uma hora e meia para chegar à altitude correta. Eu estava muito ocupado! Tinha que registrar dados, falar por rádio com a base no solo, relatar o que estava acontecendo, pilotar o balão... Eu fiquei extremamente ocupado durante toda a subida.
G1 – Houve problema com uma de suas luvas, certo?
Kittinger - Depois da decolagem, o traje de pressurização na minha mão direita não funcionou, e eu só descobri isso a mais de 12 mil metros, quando o controle da pressão já era bastante importante e não estava funcionando. Minha mão começou a inchar e ficar vermelha de sangue. Mas eu decidi não alertar os colegas no chão sobre isso, porque sabia que eles me mandariam voltar. Sabia que seria doloroso, mas era muito importante, para mim, completar o salto. E foi perfeito.
Ninguém nunca havia estado no espaço como eu, sem uma luva de pressurização, e não havia como ter certeza de que aquilo ia funcionar perfeitamente, mas eu estava disposto a correr o risco. Eu queria completar o projeto. E fiz a coisa certa.
G1 - Mas o trabalho não ficou mais difícil por conta da dor?
Kittinger - Eu não conseguia movimentar a mão, ela estava muito inchada! Então tudo que fiz foi com a mão esquerda, e eu não sou canhoto. Foi um pouco mais difícil, mas correu tudo bem. Depois da aterrissagem, mais ou menos 2 horas mais tarde, minha mão já havia voltado ao tamanho normal e eu já não sentia dor.
Joe (esq.) abraça o skydiver Felix Baumgartner após
o salto de teste de 25 de julho, em preparação para tentar quebrar o recorde de
1960 (Foto: AP/Predrag Vuckovic/Red Bull)
G1 - Não sei se faz sentido perguntar se houve tempo para apreciar a
vista...Kittinger - Bom, é claro que olhei ao redor e pude ver a uma distância de uns 400 km em volta, e o céu ficando escuro logo acima... Era algo fenomenal o quão longe se pode enxergar e como é escuro o céu logo acima. Mas eu estava lá para coletar informações e fazer um salto de paraquedas, então não passei muito tempo admirando o céu. É muito bonito, mas ao mesmo tempo muito hostil... Eu estava pronto para pular e sair dali assim que dessem o OK para o salto.
G1 - E como foi feita a fotografia do salto, a que te retrata dando o ‘passo para o infinito’?
Kittinger - Eu tinha uma câmera comigo que tirou fotos minhas descendo. Também tinha câmeras na cápsula, que me fotografaram no momento do salto (uma delas fez a imagem no início do texto). Depois de pular, eu mandei um comando via rádio para soltar o balão da cápsula, que cai, mas tem paraquedas automáticos. O balão explode em um milhão de pedaços, ele não é reutilizável. A equipe no chão então acompanha a queda da cápsula no deserto (no Novo México) e recupera os equipamentos e as câmeras. A cápsula foi a mesma usada nos três altos.
G1 – Quais as principais diferenças entre o seu salto e o pretendido por Felix Baumgartner? Vi que seu salto foi feito em posição sentada, correto?
Kittinger - No meu salto, o centro de gravidade estava mais abaixo, já que no kit que eu levava [preso sob as coxas] estavam todos os equipamentos de segurança. Por isso a queda livre foi com os pés para baixo, em uma posição sentada. O Felix vai saltar na posição normal de skydive, com a barriga para baixo. Ele é um skydiver muito habilidoso, com mais de 2.500 saltos. Quando eu quebrei o recorde, era apenas o meu 33º salto de paraquedas. Eu não era um skydiver, estava ali muito mais como um astronauta ou um piloto de grandes altitudes, diferente do Felix.
Vista do skydiver Felix Baumgartner no salto
de
teste feito em março deste ano, a 21 mil metros de
altitude. As diferenças em relação à imagem de Joe
Kittinger em 1960 são gritantes em cada detalhe
por conta dos avanços tecnológicos de 52 anos
(Foto: AP/Jay Nemeth/Red Bull Stratos)
Ele vai chegar a uma velocidade maior que a minha, já que vai saltar de mais
alto. Ele provavelmente vai chegar à velocidade do som a uma altura de cerca de
33.500 metros e ficar acima dela até uns 27.500 metros. Eu não estava tão alto
para quebrar a barreira, mas cheguei a 988 km/h.teste feito em março deste ano, a 21 mil metros de
altitude. As diferenças em relação à imagem de Joe
Kittinger em 1960 são gritantes em cada detalhe
por conta dos avanços tecnológicos de 52 anos
(Foto: AP/Jay Nemeth/Red Bull Stratos)
G1 - Como você lidava com a possibilidade de morrer em um desses saltos?
Kittinger - Eu tinha confiança de que não ia morrer. Se eu pensasse nessa possibilidade, não teria feito. Eu amo a vida. Eu nunca pensei nisso… Era um piloto experiente, tinha feito vários saltos de teste, a equipe era muito boa e o equipamento também, então nunca tive que pensar duas vezes.
De quebra, espera-se que seja a primeira vez em que um homem em queda livre ultrapasse a barreira do som.
Baumgartner executou nos últimos meses dois saltos de preparação para o grande dia, um fazendo um mergulho de 21 mil metros de altitude, em março, e outro de quase 30 mil metros, no final de julho.
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