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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Riscos à saúde dos astronautas em futuras missões a Marte incluem mal de Alzheimer


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08/01/2013 - 04h37 -- Atualizado às 10h25
SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Imagine a calorosa recepção aos primeiros astronautas a fazer a viagem de retorno de Marte, um grupo de desmemoriados senis.
Esse cenário bem poderia acontecer se uma agência espacial qualquer decidisse enviar agora, com a tecnologia atual, uma missão tripulada ao planeta vermelho.
A conclusão, em um estudo financiado (mas pouco divulgado) pela Nasa, vem de um grupo da Universidade de Rochester, nos EUA.

Eles demonstraram que a radiação cósmica à qual os astronautas seriam submetidos durante meses e meses na longa travessia até Marte pode causar danos severos ao sistema nervoso central.

Em particular, os cientistas observaram que cérebros irradiados começam a mostrar sintomas de alzheimer.
Essa doença neurodegenerativa, marcada no cérebro pela presença crescente de placas de uma substância chamada beta amiloide, costuma afetar só idosos.

Entretanto, com a exposição a um certo tipo de radiação, o processo de degeneração avança mais depressa.
Para sair da Terra e chegar a Marte usando a rota mais econômica leva-se de oito a dez meses. Isso só na ida.

Durante esse período, os intrépidos viajantes estarão longe da atmosfera e do campo magnético terrestres --o que os deixa expostos à radiação vinda do Sol e das outras estrelas.
Essa radiação é composta pelas mais variadas partículas. As mais leves podem ser defletidas por magnetismo ou bloqueadas pelo casco da espaçonave. As mais pesadas passam direto. Foi com essas que os pesquisadores fizeram os experimentos, irradiando átomos de ferro (acelerados no Laboratório Nacional de Brookhaven) sobre o cérebro de camundongos.

Segundo Kerry O'Banion e seu colegas escrevem no periódico científico "PLoS One", a radiação de partículas de ferro resultou em danos cognitivos e aumento de placas de beta amiloide em doses cumulativas similares às que astronautas seriam expostos em missões exploratórias ao espaço profundo e a Marte.

RESSALVAS
Os camundongos do teste foram modificados geneticamente para apresentar os sintomas iniciais de alzheimer. E os pesquisadores admitem que não usaram um grupo-controle para verificar se os mesmos efeitos são observados em roedores comuns.

Além disso, embora a dose de radiação seja equivalente à de uma viagem até Marte, ela foi aplicada de uma só vez, e somente com um tipo de partícula, nos animais.
No espaço, a composição da radiação seria mais complexa, e a exposição seria leve e constante, em vez de intensa e pontual. Por fim, cérebros de camundongo e de gente são diferentes em tamanho, composição e nível de redundância funcional.

"Não acho que o modelo seja suficientemente bom para tirar conclusões claras sobre o que aconteceria num humano", disse à Folha Kerry O'Banion.
Como é mais complexo e tem mais massa branca, o cérebro humano pode ser até mais suscetível aos danos por radiação, segundo o pesquisador. Mas os humanos podem estar mais protegidos que os roedores por terem mais cérebro "disponível".

De toda forma, será preciso desenvolver novas formas de proteger uma espaçonave contra a radiação. Ir até Marte não é como um passeio na Lua, que, entre ida e volta, consome uma semana.

SONO BAGUNÇADO
Um estudo publicado ontem na "PNAS", revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA, avaliou o padrão de sono de um grupo isolado por 520 dias em módulos espaciais.
Os seis "tripulantes" passaram quase dois anos num simulador nos arredores de Moscou para recriar uma missão até Marte.

A pesquisa mostrou que o sistema que regula o sono e o despertar ficou "doido" durante a falsa viagem.
O ciclo de dia e noite da Terra nos condiciona a saber a que hora dormir e quando ficar acordado. Em isolamento, com luz artificial, esse negócio todo vai para o beleléu.

O sedentarismo toma conta ao longo da missão. Entediados, os astronautas dormem mais, mas a qualidade do sono cai.
Apesar das dificuldades, os voluntários consideraram o resultado positivo. "Humanos são capazes de resistir a uma viagem dessas, dada a seleção e mentalidade apropriadas", disse à Folha Diego Urbina, italiano que participou do confinamento.

Para os cientistas, as conclusões são outras. Qualquer missão dessa magnitude deverá simular as condições da Terra ou corre o risco de fracassar.
Rodrigo Damati/Folhapress/Editoria de arte/Folhapress

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