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domingo, 7 de agosto de 2011

Poluição e falta de mata ciliar prejudicam o Paraguaçu



NOTÍCIAS

BAHIA -- ECONOMIA & AGRONEGÓCIOS



 

Cinco milhões de pessoas dependem da bacia hidrográfica.
A região que mais depende da água é também a que mais agride o rio.



Do Globo Rural
 



*^=$-$=^* Quando os índios batizaram o rio, escolheram um nome que desse a ele a noção do seu tamanho. Uma palavra bastou: Paraguaçu, que significa ‘água grande’, em tupi guarani.

Entre os rios nordestinos, o Paraguaçu é um dos mais importantes. Tem 614 quilômetros de extensão e atravessa três regiões da Bahia até alcançar o mar.

O Paraguaçu nasce no município de Barra da Estiva. Na Chapada Diamantina ele distribui suas águas para irrigar um dos pólos agrícolas da Bahia, onde se produz café, batata e até maçã e ameixa.

A reportagem do Globo Rural segue por onde o rio se despede da Chapada Diamantina e entra no semi-árido. O roteiro inclui os municípios de Itaetê, Marcionílio Souza, Iaçu e Boa Vista do Tupim.

Começamos por Itaetê. As águas do Paraguaçu foram represadas pela barragem Bandeira de Melo, que tem a missão de evitar que o leito do rio seque quando a chuva falta. Uma represa de 24 quilômetros de comprimento.

Daqui em diante, o Paraguaçu atravessa a região que mais depende de suas águas. Por uma triste ironia, é também a região que mais agride o rio.

Em Marcionílio Souza, o Paraguaçu serve até para limpar vísceras de boi. O gado é abatido nas fazendas e as tripas são tratadas no rio. Mas as tripas não são a única sujeira que o rio recebe, a mesma água que limpa as vísceras, e que depois se transformam em pratos de buchada, corre de onde mulheres lavam roupas. É com esse trabalho que elas sustentam as famílias.

Rio poluído (Foto: Reprodução)
Lixo e esgoto maltratam o Paraguaçu
(Foto: Reprodução)

O rio sofre também adiante. Nas cidades ribeirinhas a mesma água que mata a sede e a fome, recebe poluição de todo canto.

Do jeito que sai das casas e das ruas, a sujeira cai na água. O caramujo, transmissor da esquistossomose, está presente. Em meio ao perigo de contaminação, os pescadores procuram peixes.

Um motor de 30 cavalos faz a água chegar na parte mais alta da propriedade. De dois reservatórios ela desce por gravidade para irrigar a plantação lá embaixo em um assentamento da reforma agrária. Um dos primeiros, no médio Paraguaçu, a receber água do rio para molhar a terra.

A área do assentamento é de 360 hectares divididos entre 25 famílias. O carro-chefe do assentamento é a produção de banana e a irrigação por gotejamento cumpre bem a função de molhar a terra sem desperdiçar água.

Mercado para a banana não é problema. Boas colheitas, prosperidade em terras da seca. O rio que faz brotar a comida, em troca recebe a ingratidão.

Na região da caatinga, o pasto só não invadiu o curso das águas, como a mata ciliar

erosão (Foto: Reprodução)
Erosão às margens do Paraguaçu
(Foto: Reprodução)
 
desapareceu. Resultado: a erosão tomou conta do leito e a margem do rio começou a desbarrancar.
Por causa da falta de proteção das matas ciliares, vários afluentes já morreram na região da caatinga. Um riacho, de tão assoreado, não vê água nem em época de chuva. O Paraguaçu, logo adiante, não recebe nenhuma contribuição do parceiro há mais de 10 anos.

Carlos Romero dirige uma organização não-governamental, a SOS Paraguaçu, que há mais de uma década vem denunciando essas agressões. De acordo com estudos recentes, a devastação da mata ciliar chega a 70% da extensão do rio. Isso significa cerca de 400 dos 614 quilômetros do Paraguaçu.

Dois deles passam pela fazenda da família do pecuarista Dilson Oliveira. São dois quilômetros de pasto no lugar da área que deveria ser preservada. O rebanho de 80 cabeças de gado costuma passar fome quando a chuva demora. O capim não cresce. O medo de Dilson é que um dia a água do Paraguaçu também falte. E ele conta que ela já está diminuindo.

Os ambientalistas já fizeram os cálculos de quanto precisam reflorestar. De acordo com Carlos Romero, seria preciso replantar 1700 quilômetros de mata ciliar. Na prática é difícil, mas se envolver as comunidades que destruíram as matas, um dia será possível novamente ver o rio respirar.
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