Ciência e Tecnologia
Em todos os reviews, é quase que indispensável a comparação com produtos que chegaram antes ao mercado, analisando funcionalidades e apontando vantagens e desvantagens. Neste caso, chega a ser covardia. Não dá para comparar o V9 com o iPad, da Apple, com o Xoom, da Motorola, ou com o Galaxy Tab, da Samsung, seus primos ricos, exatamente pela diferença gritante de preços. O V9 é bem mais barato, sim, e isso traz consequências. Algumas desastrosas, outras nem tanto.
A experiência com o V9
A união de sistema operacional, tela e processador torna a experiência com o V9 um tanto decepcionante. Em todos os sentidos, o aparelho da ZTE mais parece um "telefonão" do que um tablet. Ele roda a versão 2.1 do Android, o sistema operacional do Google. A opção pelo Android traz algumas vantagens. Além da já notória possibilidade de personalização do sistema, a escolha faz sentido para um tablet que nasceu como forma de inclusão do usuário no mundo dos gadgtes: bonito, funcional e altamente intuitivo, o Android permite uma experiência rica até para quem nunca mexeu em um aparelho desses antes. O problema está na versão. O Android 2.1, ou Eclair, foi produzido para ser usado em smartphones, e não em tablets.
Fica claro que o sistema operacional - que não é nem o mais recente para smartphones, já na versão 2.3 - sequer foi minimamente adaptado para tablets. Qualquer configuração feita no aparelho - até a simples tarefa de desligar - mostra ao usuário quais são as "Opções do telefone". O V9 não é um telefone, é um tablet. E daí fica a sensação de que a possibilidade de fazer ligações não é uma decisão do fabricante, mas do sistema operacional, que não é o mais aconselhável para o dispositivo.
Telefonar para alguém pelo V9 funciona? Sim, o som é claro, tanto pelo viva-voz quanto pelo fone de ouvido, as pessoas se entendem e a comunicação acontece. Mas a experiência de fazer ligações por um aparelho desse tamanho não é confortável. Unir a um tablet a função de um telefone não parece uma escolha razoável, nem pela possibilidade de juntar em um aparelho as funcionalidades de dois.
A única vantagem disso seria se livrar de um dispositivo que, convenhamos, cabe no bolso.
Além disso, o Android 2.1 é ótimo em smartphones - com telas que têm, em média, de 3 a 4 polegadas -, mas colocado em uma de 7 polegadas, como é o caso do V9, fica esquisito. Os apps para o Android 3.0 - o sistema do Google para tablets - ainda são poucos, é verdade, mas nem esses poucos estão disponíveis no Android Market para o V9, que tem que se contentar com os aplicativos feitos para smartphones e adaptá-los. Os apps ficam espalhados pelo display, com muito espaço - que poderia ser aproveitado com conteúdo - sem uso nenhum. Além disso, sem nenhuma explicação razoável, nenhuma versão do Angry Birds rodou no aparelho. Pelo menos, foi o único aplicativo que não funcionou.
Mas, de longe, o que mais incomoda é a navegação na internet. Ao digitar uma URL no browser do aparelho - que sempre pensa que é um celular, lembra? - ele direciona a página automaticamente para a versão mobile. Os sites mobile são muito úteis, mais simples e mais fáceis de navegar em telas pequenas, mas não fazem o menor sentido na tela grande. Com 7 polegadas à disposição, o que o usuário pretende é aproveitar todas as funcionalidades de um portal de notícias ou do blog favorito. Claro que tem solução: basta procurar onde clicar para voltar à versão clássica do site, mas este é um passo que poderia ser pulado na navegação.
Com um pouco de paciência, contudo, dá para se acostumar com tudo isso. Difícil é se acostumar com as configurações modestas da tela e do processador do V9, responsáveis pela perda de rendimento do aparelho. O processador Qualcomm com 600 MHz e a memória RAM de apenas 512 MB causaram lentidão e travamentos com bastante frequência. Até o uso do acelerômetro - que vira a tela de acordo com a posição do aparelho, horizontal ou vertical - acontece com algum atraso de vez em quando. Nem mesmo as animações das proteções de tela do Android conseguem rodar naturalmente. Multitarefas, então, esqueça.
Mas o que prejudica mesmo o aparelho é a tela, uma das mais simples que eu já vi, com touchscreen resistivo e sem multitoque. É difícil pegar o jeito: a tentativa de arrastar vira um clique, a tentativa de clicar vira uma seleção, ainda mais para quem está acostumado com telas capacitivas, presentes na maioria dos aparelhos um pouco mais caros. No lugar daquela superfície de vidro lisa e brilhante, a película plástica entre o dedo e a tela - característico do touch resistivo - dificulta a usabilidade.
Confesso: depois de um tempo mexendo, dá para ir pegando o jeito, aprender a força certa com que se deve tocar a tela e as respostas vão melhorando. Mas essas respostas, pelo que parece, nunca serão perfeitas. É, no fim das contas, uma tela muito mais resistente do que sensível ao toque. A boa notícia é que os controles para ampliar e diminuir o zoom que a ZTE criou para fotos e navegação de páginas na web (já que a tela não permite a ferramenta de pinça com os dedos para fazer isso), é bem satisfatória, resolvendo a falta do multitoque.
Multimídia
O V9 é equipado com uma câmera traseira de 3 MP. Sem flash, faz fotos que dão conta do recado em ambientes com boa iluminação.
Não funciona para quem quer guardar as imagens do aniversário do irmão mais novo para a posteridade, é claro, mas funciona bem para quem quer compartilhar as imagens na web. O vídeo, esse sim, é sofrível. Com qualidade VGA, as imagens têm uma resolução bem ruim e o registro do áudio não é dos melhores. Mas falando em experiência multimídia, tanto pelo fone de ouvido quanto pelo alto-falante, quem quer ouvir as músicas favoritas pelo tablet pode ficar tranquilo. O problema nessa experiência é o espaço. A memória interna é de apenas 130 MB, mas pelo menos o aparelho vem com um cartão micro SD de 2 GB. Ainda é pouco para muitos usuários, mas a boa notícia é que o cartão pode ser substituído por um de até 32 GB.
Os únicos botões físicos do aparelho são os de ligar e desligar e os de controle de volume, na lateral. Ele tem, é claro, os controles tradicionais do Android logo abaixo da tela: home, configurações e voltar (a ZTE optou por excluir o botão de busca do aparelho), mas eles fazem um som estranho, de engrenagens funcionando, toda vez que são pressionados. A entrada para fone de ouvido na parte superior e micro USB na inferior (que serve tanto para carregar o aparelho quanto para sincronizar com o PC) completam o design bem minimalista do tablet. Ele é menor que o iPad, já que a tela também é menor, e mede 19,2 cm x 11 cm x 1,26 cm. Esse design um pouco menor deixa o aparelho leve, com apenas 400 g, o que torna a experiência de assistir a vídeos a mais satisfatória e confortável do aparelho. O único porém é o display, com apenas 262 mil cores. Não tem qualidade de cinema, mas vale a pena para quem gosta de ficar jogado no sofá vendo vídeos no YouTube.
E o resto?
O ZTE V9 tem boa conectividade. Tem Bluetooth, Wi-Fi, 3G e GPS, e a bateria tem bom rendimento. Segundo a fabricante, o V9 aguenta até oito dias em stand-by e até 20 horas em conversação.
Depois de um dia inteiro trabalhando com o aparelho, sempre conectado via Wi-Fi ou 3G, ele chega à noite ainda com um resto de bateria, pronto para ser recarregado no dia seguinte para seguir trabalhando.
Se for para comparar com algum aparelho, justiça seja feita, comparemos com a primeira versão do Galaxy Tab, que chegou ao País no ano passado. O aparelho da Samsung também faz ligações, também tem tela de 7 polegadas e roda uma versão do Android para smartphones (e arca com isso também). A diferença está no preço, cerca de R$ 800 mais caro - aparelho desbloqueado. E esse valor faz diferença na usabilidade: tela capacitiva e rápida, bom processador, vídeos em HD, só para dar alguns exemplos.
O ZTE é um aparelho realmente barato. Se a relação custo x benefício vale a pena, quem decide é o usuário, que é quem sabe o que espera de um tablet e o quanto está disposto a gastar para ver seu desejo atendido.
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