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Censo Demográfico 2010 mostra que cidades pequenas e médias são hoje os principais motores dessa tendência...
Rodrigo Brancatelli e Rodrigo Burgarelli, de
O Estado de S. Paulo
$<$=$>$ "Reserve já o seu apartamento no Real Park Residence, condomínio clube próximo do Unique Shopping, com três quartos, duas vagas e academia", diz o anúncio de um prédio neoclássico, com andares a perder de vista. Seria mais um entre tantos folhetos distribuídos nos semáforos de São Paulo ou do Rio, não fosse a propaganda de um edifício em Parauapebas, no Pará, um município a 700 km de Belém e que há duas décadas não passava de uma grande mata.
Quem considera que "boom imobiliário" é uma expressão recorrente apenas nas grandes metrópoles brasileiras nunca esteve em Parauapebas ou em municípios como Ariquemes, em Roraima, ou Marabá, no Pará. Um recorte inédito do Censo Demográfico 2010 feito pelo Estado mostra que a verticalização se espalhou pelo País e cidades pequenas e médias são hoje os principais motores dessa tendência.
Nos últimos dez anos, o número de apartamentos da Região Norte cresceu em um ritmo 3,5 vezes maior que no restante do Brasil - que tem hoje 6,2 milhões de apartamentos, um número 43,2% maior do que em 2000.
Hoje, 1 em cada 10 brasileiros mora em prédios. A proporção ainda é duas vezes menor no Norte, mas o crescimento em locais como Rondônia, Amapá e Tocantins foi sem precedentes. Nesses Estados, os apartamentos se multiplicaram por sete e cresceram proporcionalmente 15 vezes mais que em São Paulo.
Entre as explicações, estão o aumento da renda, do emprego e do crédito. Morar em prédios também se transformou em status, símbolo de prosperidade. Além disso, a falta de terrenos nas grandes metrópoles levou o mercado imobiliário a novos endereços, seja para construir prédios para famílias de baixa renda ou para erguer torres neoclássicas nos moldes paulistanos.
Infraestrutura. O problema oculto nesses números dignos de crescimento chinês é que, com todos esses prédios, vieram as pessoas. E, com as pessoas, apareceram o trânsito, os assaltos, a falta de esgoto e muitos outros problemas estruturais, que nessas cidades se mostram ainda mais acentuados por falta de planejamento.
Para se ter ideia, 90% dos governos municipais não têm sequer um arquiteto ou engenheiro. Enquanto o adensamento urbano pode tornar as cidades mais compactas e funcionais, a verticalização sem regras piora consideravelmente a qualidade de vida dos moradores.
A preocupação, segundo especialistas, é que esses municípios estão repetindo os mesmos erros das grandes capitais que se verticalizaram nas décadas anteriores. "Temos legislações tão atrasadas que podem ser comparadas às americanas ou europeias do século 19. Não há discussão urbanística alguma nessas cidades", diz o urbanista Kazuo Nakano, do Instituto Pólis.
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