Degelo faz com que os oceanos subam cerca de um milímetro em média por ano. Em julho, o gelo marinho polar atingiu sua menor extensão em 40 anos.
Por Reuters
15/08/2020 10h41 Atualizado há 2 horas
Postado em 15 de agosto de 2020 às 12h45m
As camadas de gelo da Groenlândia encolheram a um ponto irreversível, segundo dados publicados nesta semana na revista científica Nature Communications Earth & Environment.
Esse derretimento já está fazendo com que os oceanos subam cerca de um milímetro em média por ano, tornando a Groenlândia a maior responsável por essa elevação. Em julho, o gelo marinho polar atingiu sua menor extensão em 40 anos.
Se todo o gelo da Groenlândia for eliminado, a água liberada elevaria o nível do mar em 6 metros, em média – o suficiente para inundar muitas cidades costeiras ao redor do mundo. Esse processo, porém, levaria décadas.
De acordo com o estudo, o derretimento ocorre independentemente da velocidade com que o mundo reduz as emissões que causam o aquecimento global.
Os cientistas estudaram dados de 234 geleiras em todo o território ártico ao longo de 34 anos, até 2018, e descobriram
que a neve anual não era mais suficiente para reabastecer as geleiras
com neve e gelo perdidos no derretimento do verão.
"A Groenlândia vai ser o canário na mina de carvão, e o canário já está
praticamente morto neste momento", afirmou um dos autores do estudo, o
glaciologista Ian Howat, da Ohio State University, fazendo referência ao
uso de pássaros em minas para indicar os níveis de oxigênio.
Jorge Pontual: em 2019, 11 bi de toneladas de gelo derreteram em um único dia na Groenlândia
Jorge Pontual: em 2019, 11 bi de toneladas de gelo derreteram em um único dia na Groenlândia
Nos últimos 30 anos, o aquecimento no Ártico ocorreu pelo menos duas
vezes mais rápido que no resto do mundo, um fenômeno conhecido como
"amplificação do Ártico".
O novo estudo sugere que o manto de gelo do território agora ganhará massa apenas uma vez a cada 100 anos -
um indicador sombrio de como é difícil fazer crescer novamente as
geleiras depois que elas apresentam uma "hemorragia" de gelo.
Ao estudar imagens de satélite das geleiras, os pesquisadores notaram
que as geleiras tinham 50% de chance de recuperar a massa antes de 2000.
Desde então, as chances vêm diminuindo.
"Ainda estamos drenando mais gelo agora do que o que foi ganho com o
acúmulo de neve em 'bons' anos", disse a autora principal Michalea King,
uma glaciologista da Ohio State University.
As descobertas preocupantes devem estimular os governos a se preparar para a elevação do nível do mar, disse King.
“As coisas que acontecem nas regiões polares não ficam nas regiões polares”, disse ela.
Ainda assim, o mundo pode reduzir as emissões para desacelerar a mudança climática, disseram os cientistas.
Mesmo que a Groenlândia não consiga recuperar a massa gelada que cobriu
seus 2 milhões de quilômetros quadrados, conter o aumento da
temperatura global pode diminuir a taxa de perda de gelo.
"Quando pensamos em ação climática, não estamos falando sobre
reconstruir a camada de gelo da Groenlândia", disse Twila Moon, uma
glacióloga do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo, que não esteve
envolvida no estudo. "Estamos falando sobre a rapidez com que o aumento
do nível do mar atinge nossas comunidades, nossa infraestrutura, nossas
casas, nossas bases militares."
Em imagem de 2019, iceberg é visto flutuando em um fiorde próximo à cidade de Tasiilaq, na Groenlândia — Foto: Lucas Jackson/Reuters
Em imagem de 2019, iceberg é visto flutuando em um fiorde próximo à cidade de Tasiilaq, na Groenlândia — Foto: Lucas Jackson/Reuters
Região estratégica
O degelo do Ártico trouxe mais água para a região, abrindo rotas para o
tráfego marítimo, bem como aumentou o interesse na extração de
combustíveis fósseis e outros recursos naturais.
Mas, além disso, a Groenlândia é considerada estrategicamente importante para os militares dos EUA e seu sistema de alerta de mísseis, já que a rota mais curta da Europa para a América do Norte passa pela ilha do Ártico.
No ano passado, o presidente Donald Trump ofereceu a compra da
Groenlândia, um território dinamarquês autônomo. Mas a Dinamarca, aliada
dos EUA, rejeitou a oferta. Então, no mês passado, os EUA reabriram um
consulado na capital do território, Nuuk, e a Dinamarca teria dito na
semana passada que estava nomeando um intermediário entre Nuuk e
Copenhagen a cerca de 3.500 quilômetros de distância.
Os cientistas, no entanto, há muito se preocupam com o destino da Groenlândia, dada a quantidade de água presa no gelo.
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