Com tecnologia de alta resolução, pesquisadores britânicos mostram como seriam os animais por baixo das mumificações, feitas há cerca de 2 mil anos. Imagens foram divulgadas em revista do grupo 'Nature', um dos mais importantes do mundo.
Por Lara Pinheiro, G1
20/08/2020 12h01 Atualizado há 43 minutos
Postado em 20 de agosto de 2020 às 13h00m
Cientistas 'desenrolam' digitalmente múmia de gato egípcia
Cientistas no Reino Unido "abriram" e conseguiram mostrar, em imagens 3D, como seria o interior de três múmias de animais feitas no Egito Antigo, há mais de 2 mil anos. As animações (veja uma delas acima) foram feitas com uma tecnologia avançada de raio-X, que gera imagens com 100 vezes mais resolução que uma tomografia médica.
O resultado
do esforço foi publicado nesta quinta-feira (20) na revista "Scientific
Reports", do grupo "Nature", um dos mais importantes do mundo. Os
pesquisadores são da Universidade de Swansea, no País de Gales.
Para "enxergar" dentro das múmias, os cientistas usaram uma tecnologia
chamada microtomografia computadorizada"(microCT, em inglês).
Outras pesquisas já haviam conseguido apontar quais eram os animais
dentro das mumificações, mas pouco mais se sabia sobre eles. Os
artefatos são da coleção do Centro do Egito da universidade – os
pesquisadores reconheceram, no estudo, os habitantes do Egito Antigo que
fizeram as mumificações.
"Historicamente, a tomografia computadorizada médica foi usada, mas ela
tem uma resolução muito inferior. É adequada para espécimes maiores,
incluindo humanos mumificados, mas não revela detalhes suficientes para
análises avançadas da maioria das múmias animais", explicou Richard
Johnson, líder do estudo, em entrevista ao G1.
"Usando o equipamento que temos, conseguimos ver dentro das múmias de animais pela primeira vez em três dimensões. Isso ajuda muito a separar os aspectos como a espécie, a idade, e como [o animal] morreu", disse o cientista.
"Às vezes, você não tem certeza se as múmias animais contêm ossos, até fazer um raio-X ou desenrolar", completou Johnson.
"Por meio de imagens de alta resolução, somos capazes de descobrir muito mais do que é possível com métodos de imagem mais tradicionais, como tomografia computadorizada médica ou até mesmo o desenrolar físico e destrutivo, que pode danificar e mover as estruturas internas", explicou o cientista.
Os pesquisadores analisaram três múmias: a de um gato, de uma cobra e de um pássaro. As principais descobertas foram:
- O gato era um filhote com menos de 5 meses, segundo evidências de dentes que não chegaram a nascer escondidos dentro da mandíbula. A separação das vértebras indica que ele, possivelmente, foi estrangulado.
- O pássaro se parece mais com um francelho euroasiático.
- A cobra foi identificada como uma cobra egípcia jovem (Naja haje). As evidências de danos renais mostram que, provavelmente, ela foi privada de água durante a vida, desenvolvendo uma forma de gota.
- A análise de fraturas ósseas mostra que a cobra foi morta por uma chicotada, antes de, possivelmente, passar por um procedimento de "abertura da boca" durante a mumificação; se for verdade, demonstra a primeira evidência de comportamento ritualístico complexo aplicado a uma cobra.
"Em termos de significado ritualístico, há evidências de uma colocação
muito precisa do natrão [mineral usado na mumificação] na abertura da
glote/garganta na múmia da cobra, e a mandíbula sendo mantida em uma
posição totalmente aberta. Isso tem um paralelo com o procedimento de
abertura da boca visto em múmias humanas e no Touro Ápis [touro
considerado sagrado pelos egípcios antigos, no qual o deus Osíris
encarnava]",explicou Johnson em entrevista ao G1.
"A estimativa é que existam cerca de 17 milhões de múmias animais produzidas no Egito Antigo", afirmou o pesquisador.
"Este trabalho poderia mostrar um fluxo para investigações futuras,
potencialmente revelando muitos novos insights sobre a vida animal na
época, mas também sobre a vida humana – como se vivia e trabalhava e,
também, as práticas religiosas", acrescentou o pesquisador.
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