Por Amelia Gonzalez
Soldados do exército patrulham uma rua com decoração para a Copa do Mundo durante uma operação antidroga na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
A cidade, que andava tristonha, já está de cara nova. Vuvuzelas habitam sem cerimônia as portas das estações de Metrô mais movimentadas e, mesmo com o frio que pegou o carioca de surpresa (cariocas nunca se acostumam ao frio), há uma energia mais positiva nas feições, nas conversas. Caminhando hoje ali pelo Centro, pela Rua Sete de Setembro, nem mesmo o estreito caminho deixado pelas novas obras para “consertar a calçada” do VLT pareciam incomodar os transeuntes. É preciso estar atento para não ser atropelado pelo trem, que agora deixa aos pedestres pouco espaço. Mas, importante mesmo, hoje, é combinar de se encontrar para assistir ao jogo de domingo. Os cariocas precisavam desse alento.
Nos sites e jornais, ao lado de notícias tão grosseiras e desalentadoras sobre política, economia e afins, o leitor agora tem uma chance de ter esperança. O verde do gramado, as camisas coloridas, os rostos sorridentes depois de um gol, tudo isso alegra um pouco a vida. Os brasileiros andavam mesmo merecendo um pouco de paz, mesmo que seja fugaz, mesmo que não seja inteiramente verdadeiro porque daqui a pouco vai ser preciso encarar a dura realidade dos nossos desgastes diários. Mas já dá para arrancar um sorriso, e os encontros sempre serão saudáveis.
Neste sentido, caro leitor, não me sinto muito apropriada porque, ao desviar seu olhar para a página da Natureza, quem sabe em busca de imagens bonitas e relaxantes, cá estarei a lhes dar notícias pouco alvissareiras que vão tirá-lo da zona de conforto. É que, como já noticiamos aqui no G1, novos dados mostram novamente que a Antártida está degelando mais depressa do que o previsto.
Uma onda de dèja vu pode assaltar a mente. Quantas vezes você já leu algo parecido? Além disso, não será o único a pensar, seriamente, que já temos problemas demais agora para ficar preocupado com o resultado de um dos estudos publicados nesta semana na Nature afirmando que, caso o ritmo atual de emissões de gases de efeito estufa persita, a Antártida terá contribuído com 27 centímetros para a elevação do nível do mar em 2070. 2070! Dependendo da sua idade, caro leitor, este não será mais seu problema, certo?
Não, errado. Porque estes 27 centímetros não vão acontecer de uma hora para a outra. O mar está subindo (assim mesmo, no gerúndio), e o fenômeno já está perturbando a paz das cidades costeiras. E, aqui, preciso cutucá-lo ainda mais, tirá-lo do modo “offline” para lembrá-lo de um certo acidente que aconteceu no Rio de Janeiro pouco antes das Olimpíadas de 2016, o desabamento da ciclovia Tim Maia, construída por R$ 44 milhões à beira-mar ligando Leblon a São Conrado. Se o então prefeito Eduardo Paes, que à época era presidente do C-40 (grupo de 40 cidades do mundo que respeitam o meio ambiente a ponto de se enquadrarem no nicho “cidades sustentáveis”) tivesse ouvido seus pares com mais seriedade, não teria construído a ciclovia. Cidades costeiras não devem construir nada à beira-mar porque o aumento do nível do mar trará, com certeza, ondas que podem derrubar tudo.
Ciclovia Tim Maia tem trecho afundado em São Conrado após temporal (Foto: Bárbara Carvalho/GloboNews)
Os detalhes sobre o estudo da “Nature” estão na reportagem publicada aqui no site. Noves fora, o lado bom dessa informação é que as eleições estão perto, logo ali, depois da Copa. E já é hora de os brasileiros cobrarem, para valer, que as plataformas dos candidatos levem em consideração o meio ambiente. Com equipe séria a conduzir estudos para políticas públicas diferentes.
Sim, o tempo é hoje, não dá mais para postergar o assunto. É exatamente esta a mensagem de uma parte do novo relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) que acaba de ser vazado para a agência Reuters de notícias. Para os cientistas que elaboram o estudo, é necessário que os líderes das nações tomem “medidas rápidas e de longo alcance” para combater as mudanças climáticas, já que o mundo está a ponto de exceder os 1,5 grau de aquecimento. O relatório final será divulgado em outubro na Coreia do Sul, após revisões e aprovação dos governos.
“O aquecimento induzido pelo homem ultrapassará os 1,5 grau aproximdamente em 2040 se as emissões de carbono continuarem no ritmo atual”, diz o relatório vazado.
Tartaruga nada sobre corais descoloridos na ilha Heron, englobada pela Grande Barreira de Coral na Austrália. A Grande Barreira passa pelo mais grave processo de branqueamento já registrado, com 93% dos recifes afetados (Foto: AFP/XL Catlin Seaview Survey)
É mais ou menos assim: se a Terra ficar dois graus mais quente, os recifes tropicais não vão ter a menor chance de sobrevivência. Já com 1,5 grau, suas chances são modestas. Para evitar isso é preciso mudanças radicais nos níveis de produção e consumo, sobretudo na agricultura. Tem que mudar a fonte energética também, o que quer dizer que as energias renováveis teriam que ser usadas para que, em 2050 , passassem a ser fonte principal por mais da metade do mundo.
Segundo a reportagem assinada por Alister Doyle, o relatório diz que os governos vão ter que encontrar maneiras de extrair grandes quantidades de carbono do ar, por exemplo, plantando vastas florestas. E dá como “incertas” algumas medidas até então consideradas eficazes por quem aposta na geoengenharia, como pulverizar produtos químicos na atmosfera para reduzir a luz solar, por exemplo.
Essas soluções quase mágicas serviram, durante algum tempo, para justificar o descaso com o sério problema que a humanidade já está enfrentando por causa das mudanças climáticas. No fim das contas, com tecnologia (e dinheiro, claro), as coisas poderiam se resolver.
Já não é mais assim, pelo que se vê nesse pequeno flash do relatório do IPCC. A tarefa exige mais empenho, participação de todos, enfrentamento do problema com seriedade. Se, mesmo nesse tempo de euforia construída pela Copa, você, leitor, chegou até aqui, é sinal de que se envolve com a questão e não vai se espantar se eu lhe informar que, mesmo diante de todo esse quadro, a petroleira BP, uma das maiores do mundo, lançou seu relatório anual dando conta de que a demanda global por petróleo aumentou 2,2%. Segundo o economista chefe da gigante, Spencer Dale, nos últimos vinte anos não fizemos nenhum progresso em diminuir o uso de combustíveis fósseis, apesar do crescimento de 17% das energias renováveis.
O Acordo Climático conseguido em Paris em 2015 durante a COP-21, por 200 países, poderia ser um bom caminho para a mudança necessária se não estivesse ameaçado por Donald Trump, que retirou os Estados Unidos do trato de diminuir as emissões. A divulgação de estudos e artigos como os publicados pela “Nature” podem servir como meio de pressão. Nosso papel, como mídia, é dar espaço a eles. Mesmo correndo o risco de empanar o brilho da festa, portanto, aqui estou a cumprir minha missão. E que no domingo a gente consiga vibrar com uma bela vitória. Estamos merecendo, sim.
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