Caixão do congressista e ícone dos direitos civis foi carregado pela ponte em Selma que atravessou ao lado de Martin Luther King. Ele morreu aos 80 anos na semana passada.
Por G1
26/07/2020 12h54 Atualizado há uma hora
Postado em 26 de julho de 2020 às 14h00m
John Lewis é homenageado no estado do Alabama
John Lewis, pioneiro dos direitos civis, passou uma última vez pela
ponte Edmund Pettus, em Selma neste domingo (26). Seu cortejo relembrou o
momento de luta pelos direitos civis em que Lewis atravessou este marco
ao lado de Martin Luther King.
No início da tarde, o caixão do congressista deixou a Capela Brown onde
foi velado. Ele será enterrado no Capitólio, governo do estado do
Alabama, nos Estados Unidos. Lewis morreu na semana passada, aos 80 anos.
O condado rural no Alabama onde nasceu foi o cenário neste sábado (25)
do primeiro dia de homenagens a John Lewis, congressista pelo estado da
Georgia e ícone na luta por direitos civis, morto aos 80 anos no dia 17 de julho.
Começam as cerimônias de despedida de John Lewis, nos EUA
O culto matutino na cidade de Troy, no condado rural de Pike, foi
realizado na Universidade de Troy, onde, segundo a Associated Press,
Lewis costumava lembrar que lhe fora negada a admissão em 1957 por ser
negro, e onde décadas depois recebeu um doutorado honorário.
O culto foi intitulado "The Boy from Troy", apelido que o Rev. Martin
Luther King Jr. deu a Lewis na sua primeira reunião em 1958 em
Montgomery. King enviou a Lewis, de 18 anos, uma passagem de ônibus de
ida e volta porque Lewis estava interessado em tentar frequentar a
universidade - então apenas com alunos brancos - em Troy, a apenas 16
quilômetros da fazenda de sua família no condado de Pike.
No domingo, seu caixão envolto na bandeira dos EUA será carregado
através da ponte Edmund Pettus, em Selma, onde ele esteve entre os
manifestantes de direitos civis espancados pela polícia em 1965 (leia
mais abaixo). Ele também será velado no Capitólio estadual em
Montgomery. Outro funeral está programado para o Capitólio de
Washington, antes do enterro na Georgia.
'Mudaria o mundo'
Durante a homenagem na Universidade de Troy, seus irmãos e irmãs
recordaram Lewis - chamado Robert em casa - como um garoto que praticava
pregando e cantando músicas gospel para os animais da fazenda. E como
um jovem que partiu com uma visão para mudar o mundo.
"Lembro-me do dia em que John saiu de casa. A mãe disse a ele para não
se meter em problemas, para não atrapalhar... mas todos sabemos que John
se meteu em problemas, atrapalhou, mas foi um bom problema”, disse seu
irmão Samuel Lewis. "E os problemas em que ele se metia mudariam o
mundo", acrescentou.
Os membros de sua família imploraram à multidão para continuar o
trabalho de Lewis. "Ele costumava nos dizer se você vê algo errado, faz
alguma coisa", disse sua irmã, Rosa Tyner.
Um jovem sobrinho-neto de Lewis, Jaxon Lewis Brewster, de apenas 7
anos, falou brevemente e disse: "O congressista Lewis era meu tio e meu
herói, e cabe a nós manter seu legado vivo".
Vidas Negras Importam
A última aparição pública de Lewis foi no início de junho, quando
participou de um ato perto da Casa Branca, em Washington, em meio aos
protestos antirracistas motivados pela morte de George Floyd, um afro-americano sufocado por um policial branco em Minneapolis.
Já debilitado por um câncer de pâncreas e usando uma bengala, ele
caminhou com a prefeita Muriel Bowser, em Washington, DC, em uma rua da
Casa Branca que Bowser havia acabado de renomear Black Lives Matter
Plaza, e que tinha sido decorada com um grande mural amarelo onde foi
escrito "Black Lives Matter" (Vidas negras importam).
Trajetória
Lewis nasceu em Troy, no Alabama, em 1940. Era o quarto de dez irmãos
de uma família de camponeses e cresceu em uma comunidade totalmente
negra, onde rapidamente sentiu a segregação pela cor da pele.
Tinha apenas 21 anos quando se tornou um dos fundadores dos
"Passageiros da Liberdade", que lutaram contra a segregação racial no
sistema de transporte público americano no início dos anos 1960.
Lewis foi o líder mais jovem da manifestação de 1963 em Washington, na
qual Luther King proferiu seu histórico discurso "I have a dream" ("Eu
tenho um sonho").
Dois anos depois, quase morreu em uma manifestação antirracista
pacífica em Selma, Alabama, quando teve um crânio fraturado pela
polícia.
Aquele dia ficou conhecido como "Domingo Sangrento" e, exatamente meio
século depois, caminhou de mãos dadas com Barack Obama, o primeiro
presidente negro dos Estados Unidos, até o local do protesto
emblemático.
Lewis entrou no Congresso em 1986 e logo se tornou uma das vozes mais poderosas da defesa da justiça e da igualdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário