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terça-feira, 19 de junho de 2012

Brics cria fundo para se blindar contra crise

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Líderes dos cinco países também decidiram pelo aporte de recursos no colchão anticrise do FMI no valor de US$ 75 bilhões.


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Líderes do Brics se reuniram em Los Cabos, México, durante cúpula do G-20
Foto: ROBERTO STUCKERT FILHO / AFP
Líderes do Brics se reuniram em Los Cabos, México, durante cúpula do G-20ROBERTO STUCKERT FILHO / AFP

LOS CABOS, México — Em meio às perspectivas nebulosas de solução para a crise europeia, o Brics - que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - anunciou na segunda-feira que irá criar um fundo comum com parte de suas reservas internacionais de US$ 4,5 trilhões para evitar o contágio das cinco grandes nações emergentes em caso de novas turbulências financeiras globais. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o objetivo é criar "uma solidariedade financeira" entre os emergentes e aumentar a confiança não só nos cinco mercados, mas internacionalmente. A rapidez com que o mecanismo será criado — até abril de 2013 — sugere que o Brics antecipa um prolongamento da atual situação global.

O Brics anunciou também aos países que compõem o G20 (grupo das maiores economias do mundo) que fará um aporte de recursos adicionais ao Fundo Monetário Internacional (FMI) no valor de US$ 75 bilhões.
O montante comporá o colchão anticrise do Fundo, que, com o anúncio do Brics e de outras nações, chegou a US$ 456 bilhões. Ao todo, 12 países anunciaram ao FMI durante a primeira parte da reunião do G20 que farão contribuições adicionais.


Brasil, Índia e Rússia se comprometeram a destinar ao FMI US$ 10 bilhões cada. Coube à China o maior aporte, US$ 43 bilhões, e à África do Sul, US$ 2 bilhões.
O comunicado do Brics foi feito na primeira sessão de trabalho dos chefes de Estado e governo do G20, na tarde de segunda-feira, no balneário de Los Cabos, no México, onde é realizada a cúpula. Os valores foram divulgados no fim da noite, pelo FMI.


O valor final do colchão anticrise do FMI, tecnicamente chamado de firewall, ficou US$ 26 bilhões acima do que a direção da instituição esperava alcançar, conforme divulgado no encontro de primavera do Fundo e do Banco Mundial, em abril.


O Brics havia se comprometido a contribuir para o muro de proteção do FMI em abril, mas declinara de estabelecer valores, como forma de pressionar o Fundo a completar a reforma de cotas e poder de voto da instituição. Ainda que estes avanços não tenham sido alcançados, os cinco grandes emergentes decidiram fazer o aporte devido à escalada da tensão global com o recrudescimento da crise global.



Dilma Rousseff (Brasil), Vladimir Putin (Rússia), Manmohan Singh (Índia), Hu Jintao (China) e Jacob Zuma (África do Sul) se reuniram na manhã de segunda-feira, antes da primeira sessão de trabalho da cúpula de líderes do G20 (maiores economias do mundo). Eles divulgaram ainda nota na qual cobram que a declaração final do encontro apoie de forma incisiva uma ação coordenada de recuperação do ritmo de crescimento global — em recado direto à União Europeia.


Os ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais dos cinco países terão até abril do próximo ano para apresentar uma proposta estruturada para o fundo comum de reservas, incluindo valores, cotas, taxas e regras de saque. Mas Mantega destacou que os efeitos deste muro de proteção serão sentidos já a partir de agora, pois os líderes acordaram que poderão ser feitas, a qualquer momento, operações bilaterais de apoio mútuo com uso de reservas (swaps) dentro do Brics.
— Isso aumenta a confiança porque significa que você tem mais bala na agulha se tiver um problema — afirmou o ministro da Fazenda.


Mantega negou que o Brics esteja antevendo a continuidade da crise europeia no médio prazo. Segundo ele, o mecanismo que será criado, batizado de Fundo Virtual de Reservas, é uma contribuição do grupo, que está em melhor posição hoje em relação aos fundamentos macroeconômicos e ao ritmo de crescimento, à comunidade internacional.


— Esse é um passo que vai no sentido de aumentar a confiança. É importante que uma região que tem mais dinamismo possa ajudar uma região que está em mais dificuldades. Como o Brics pode ajudar? Dinamizando suas economias para ajudar os emergentes que estão em dificuldades, estimulando os países mais avançados a fazerem mais investimentos e tomando medidas prudenciais para fortalecer a nossa siatuação. Achamos que este mecanismo fortalece uma parte das finanças internacionais — explicou o ministro.


Novo mecanismo teve inspiração em fundo asiático
Mantega não quis informar de qual país foi a ideia do novo mecanismo. Mas explicou que ele se inspirou no Chiang Mai, fundo comum de China, Japão, Coreia e outros asiáticos estabelecido em 2007, após sete anos de discussões, cujo objetivo é amortecer efeitos de uma crise de liquidez.
O ministro deu ainda como exemplo inspirador as linhas de swap que o Federal Reserve (banco central dos EUA) firmou em 2008 com diversos países — incluindo uma de US$ 30 bilhões com o Brasil, nunca usada. A ideia era permitir o acesso rápido a moeda em caso de contração total dos mercados após a quebra do Lehman Brothers.


A China é o país do Brics com a maior reserva em moeda estrangeira, de US$ 3,18 trilhões. O Brasil tinha um colchão de US$ 373,586 bilhões no fechamento de 15 de junho. Mantega afirmou ainda que o Brics tem uma proposta clara para que a Europa saia da crise e que espera vê-la abraçada pelos europeus na cúpula do G20:


— Essa cúpula tem que fazer uma mudança na estratégia econômica e não manter a mesma estratégia que foi até Cannes. Isso depende principalmente dos países europeus, não depende dos países emergentes. Os países do Brics estão propondo mudanças, estímulo ao crescimento, expansão dos mercados, investimento. Nós esperamos que os países avançados adotem essas práticas a partir de agora.


Esta recomendação foi feita por Dilma ao primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, com o qual ela teve uma reunião bilateral após o encontro do Brics. A presidente brasileira tinha agendados ainda encontros com Putin e a chanceler alemã, Angela Merkel, à noite. Mas o encontro com Merkel ficou para o início da manhã de terça-feira. Dilma também se encontrou com a colega argentina, Cristina Kirchner.
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