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sexta-feira, 22 de março de 2024

Brasil é 1º país das Américas com status de 'Estado Membro' do CERN, que abriga maior colisor de partículas do mundo; entenda

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A partir de agora, governo tem de contribuir com custos do centro europeu, palco da confirmação da "partícula de Deus", uma das maiores descobertas da física. Brasil poderá nomear representantes, ter acesso a 'superestágios' e participação de empresas brasileiras em licitações do CERN.
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Por Fernando Evans, g1 Campinas e região
22/03/2024 18h22 
Postado em 22 de março de 2024 às 19h25m

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Foto mostra Grande Colisor de Hádrons do CERN, próximo a Genebra, na Suíça, em 23 de julho de 2014. — Foto: Pierre Albouy/Reuters
Foto mostra Grande Colisor de Hádrons do CERN, próximo a Genebra, na Suíça, em 23 de julho de 2014. — Foto: Pierre Albouy/Reuters

O Brasil é o primeiro país das Américas a se tornar "Estado Membro Associadodo CERN, Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear responsável pela operação do maior colisor de partículas do mundo, palco de uma das grandes descobertas da história da física: o bóson de Higgs, apelidado de "partícula de Deus".

A confirmação da associação foi feita pelo CERN nesta sexta (22), dois anos após a assinatura do acordo com o Ministério de Ciência e Tecnologia. Em comunicado à imprensa, a organização destaca que "o país concluiu seus procedimentos internos de aprovação", e a data da mudança de status é 13 de março de 2024.

O CERN possui 23 Estados Membros, todos países europeus, como Suíça, França e Alemanha, que contribuem com os custos de estrutura e operações.

Como "Estado Membro Associado", o terceiro não europeu e o único nas Américas, o Brasil se compromete a contribuir com algo em torno de 10% do que é investido pelos membros principais, um valor estimado em 10 milhões de francos suíços, equivalente a R$ 58 milhões por ano, segundo o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTI).

"A adesão brasileira à CERN representa marco significativo no fortalecimento da cooperação científica internacional e no desenvolvimento da ciência e de tecnologias de ponta no país. Com a medida, pesquisadores e cientistas brasileiros passam a ter acesso prioritário às instalações da CERN, bem como a posições de trabalho, cursos e estágios científicos oferecidos", destaca a pasta, em nota.

Brasil passa a figurar como "Estado Membro Associado" do CERN, considerado um dos maiores laboratórios do mundo, na Europa — Foto: CERN
Brasil passa a figurar como "Estado Membro Associado" do CERN, considerado um dos maiores laboratórios do mundo, na Europa — Foto: CERN

O que muda?

O Brasil já tinha acordo de cooperação com o centro europeu desde a década de 1990, e ensaiava avançar na participação por anos, gerando expectativa na comunidade científica

A mudança de status dá agora ao país o direito de nomear representantes, ou seja, assento em reuniões do Conselho e do Comitê Financeiro do CERN, com voz na tomada de decisões estratégicas e de pesquisa, além de permitir que brasileiros se candidatem a posições dentro da instituição.

Por ser um Estado Membro Associado, há um fortalecimento na formação de recursos humanos, e a indústria brasileira passa a ter direito a concorrer a licitações para contratos de P&D e fornecimento de serviços e materiais para o CERN - entenda mais abaixo.

Vale destacar que o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que abriga o superlaboratório Sirius, em Campinas (SP), possui acordo de cooperação científica e tecnológica com o CERN, e que a adesão como "Estado Membro" garante a continuidade dessa parceria.

"Além da física de partículas, o CERN e o CNPEM têm cooperado formalmente desde dezembro de 2020 em P&D de tecnologia de aceleradores e suas aplicações", destaca o centro europeu, em nota.

Abertura para empresas brasileiras

É na abertura para que empresas brasileiras participem de concorrências para compras do CERN que abriga um dos grandes pontos dessa mudança de status, avalia Antônio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM.

"É uma mudança importante, extremamente relevante, e o próprio CNPEM tem grande possibilidade de atuar. O CERN enxerga o CNPEM como um grande centro de tecnologia em aceleradores, e para que as empresas tenham uma possibilidade de participação bem sucedida, precisam de alguém que traduza essas necessidades. São empresas com capacidade técnica muito grande, mas que não tem a expertise nessa área", explica.

Nesse ponto, o próprio desenvolvimento do Sirius, acelerador de partículas instalado em Campinas (SP), serve como referência. "A associação constitui oportunidade de aprofundamento da cooperação com o Sirius, desenvolvido, quase inteiramente, pela indústria nacional", enfatiza o governo brasileiro.

De acordo com o MCTI, a adesão representa "a possibilidade de participação em mercado de licitações da ordem de US$ 500 milhões anuais", o equivalente a R$ 2,5 bilhões em negócios.

Sirius, laboratório de luz síncrotron de 4ª geração, instalado no CNPEM, em Campinas (SP) — Foto: Nelson Kon
Sirius, laboratório de luz síncrotron de 4ª geração, instalado no CNPEM, em Campinas (SP) — Foto: Nelson Kon

Transferência de tecnologia

Ser um Estado Membro Associado amplia a participação brasileira dentro do CERN, e pode ser fundamental na formação de recursos humanos, ou seja, pesquisadores em diversas áreas tecnológicas que terão acesso a "superestágios" no centro europeu.

🥼 A presença de brasileiros nos projetos do CERN já é ativa. "Ao longo da última década, a comunidade experimental de física de partículas do Brasil dobrou de tamanho. Apenas nos quatro principais experimentos do LHC, cerca de 200 cientistas, engenheiros e estudantes brasileiros colaboram em áreas que vão desde hardware e processamento de dados até análise de física", destaca o CERN.

Segundo José Roque, ter acesso a um dos maiores centros de pesquisa do mundo é "supervantajoso" e acelera processos.

"É um ganho quase intangível. Quanto vale ganhar anos de transferência de tecnologia, de um centro que investiu muitos recursos e tempo, e com a parceria você consegue adquirir e transferir para seus produtos? Estamos desenvolvendo com o CERN dispositivos supercondutores para aceleradores, e o que avançamos em dois anos, levaríamos 15 anos para conseguir", destaca o diretor do CNPEM.

Antonio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM — Foto: Fernando Evans/g1
Antonio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM — Foto: Fernando Evans/g1

Desafios futuros

Atualmente, segundo o CERN, institutos brasileiros participam de todos os principais experimentos no LHC (são quatro, chamados de ALICE, ATLAS, CMS e LHCb), além do ALPHA no desacelerador de antiprótons

Pensando no futuro, uma das possibilidades da parceria entre CNPEM e CERN mira o projeto do Futuro Colisor Circular (FCC)um colisor de 100 km, quatro vezes maior que o Grande Colisor de Hádrons (LHC), em operação na divisa entre Suíça e França.

"São projetos que vão exigir a fabricação de determinados equipamentos que o CERN entende que há capacidade de o CNPEM participar. Abre uma oportunidade gigantesca, e coloca o Brasil se envolvendo, de maneira profunda, no grande desenvolvimento de ciência mundial. É uma parceria que a gente chama de 'ganha-ganha'", completa José Roque. 
Sirius x LHC, quais as diferenças?
lhc — Foto: Andrew Strickland / cortesia Cern 7-8-2010
lhc — Foto: Andrew Strickland / cortesia Cern 7-8-2010

Apesar de serem aceleradores de partículas, o Sirius, em Campinas, e o LHC são muito diferentes no modo de operação e objetivos científicos.

No Grande Colisor de Hádrons (LHC), feixes de prótons são acelerados em direções opostas, em um anel com 27 km de extensão, para que se choquem entre si.

Com isso, pesquisadores detectam e analisam as colisões para estudar a matéria em uma escala subatômica e investigar a estrutura mais fundamental do universo.

Já no Sirius, que é uma fonte de luz síncrotron de 4ª geração, elétrons são acelerados em uma única direção, sem colidir uns com os outros - eles devem circular de maneira estável por longos períodos para gerar a luz capaz de analisar a estrutura de diferentes tipos de materiais em escala de átomos e moléculas.

❓ Como funciona o Sirius? Para observar as estruturas, os cientistas aceleram os elétrons quase na velocidade da luz (99,9%), fazendo com que percorram o túnel de 500 metros de comprimento 600 mil vezes por segundo. Depois, os elétrons são desviados para uma das estações de pesquisa, ou linhas de luz, para os experimentos.

🧲 Esse desvio é realizado com a ajuda de ímãs superpotentes, e eles são responsáveis por gerar a luz síncrotron. Apesar de extremamente brilhante, ela é invisível a olho nu. Segundo os cientistas, o feixe é 30 vezes mais fino que o diâmetro de um fio de cabelo.

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