Objetivo:
“Projetando o futuro e o desenvolvimento autossustentável da sua empresa, preparando-a para uma competitividade e lucratividade dinâmica em logística e visão de mercado, visando sempre e em primeiro lugar, a satisfação e o bem estar do consumidor-cliente."
Documento condena ataques contra o Irã, mas não cita diretamente os EUA. <<<===+===.=.=.= =---____-------- ----------____---------____::____ ____= =..= = =..= =..= = =____ ____::____-----------_ ___---------- ----------____---.=.=.=.= +====>>> Por g1 Rio Postado em 06 de Julho de 2.025 às 14h35m #.* -- Post. - Nº.\ 11.713 -- *.#
Declaração do Brics cita 'preocupação' com 'medidas tarifárias'
A declaração final da Cúpula do Brics, que é realizada no Rio de Janeiroaté segunda-feira (7), defende a reforma ampla da Organização das Nações Unidas(ONU), a adoção de dois estados para Palestina e Israel erepudia ataques contra o Irã, entre outros pontos (leia a íntegra e veja os principais destaques).
O Ministério das Relações Exteriores publicou no início da tarde deste domingo (6) a “Declaração do Rio de Janeiro”,
a carta final com tudo o que foi discutido ao longo do ano pelos
diplomatas dos 11 países-membros do Brics, reunidos no Museu de Are
Moderna (MAM). À tarde, outros membros convidados chegam ao MAM para a
sequência da Cúpula (acompanhe aqui).
Os líderes do grupo emitiram uma declaração com posicionamentos de
destaque para temas de ordem internacional — a começar por mudanças na
ONU.
O documento expressa apoio a uma“reforma abrangente”da ONU, com ênfase na modernização do Conselho de Segurança.
O objetivo é torná-lo mais democrático, representativo e eficiente,
ampliando a presença de países em desenvolvimento, com especial atenção a
África, América Latina e Caribe.
Os líderes reforçaram o compromisso com uma solução de 2 Estados
na crise entre Palestina e Israel, baseada em negociações pacíficas que
respeitem as fronteiras internacionalmente reconhecidas. O texto afirma
que esse modelo é “o único meio” para assegurar a paz e a estabilidade
na região.
A proposta de 2 estados contrasta com a postura oficial do Irã, que não reconhece a legitimidade do Estado de Israel.
Ainda assim, a delegação iraniana apoiou a declaração conjunta, o que
indica um alinhamento pontual em nome da estabilidade regional, apesar
das divergências históricas.
A declaração também expressa repúdio a “ataques contra o Irã”, ainda que sem apontar diretamente os responsáveis – e sem citar os Estados Unidos ou qualquer potência específica.
Foto de família da 17ª Cúpula do Brics, no Rio de Janeiro — Foto: Isabela Castilho | BRICS Brasil
Destaques da declaração:
🌐 Defesa do multilateralismo
Fortalecimento de instituições multilaterais, como a ONU, e o respeito ao direito internacional.
"Expressamos sérias preocupações com o aumento de medidas tarifárias e
não tarifárias unilaterais que distorcem o comércio e são inconsistentes
com as regras da Organização Mundial do Comércio", diz item do
documento.
🏦 Reforma da governança internacional
Apoio à reformano Conselho de Segurança da ONU, no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial.
Maior representação de países do Sul Global nessas instituições. ➡️O
termo "Sul Global" se refere aos países em desenvolvimento, localizados
principalmente na América Latina, África, Ásia e Oriente Médio. Eles
compartilham desafios como pobreza, desigualdade e menor acesso a
tecnologia, e defendem maior representação nas decisões internacionais.
Na política global, o Sul Global costuma se opor aos países ricos do
chamado "Norte Global", como EUA, Canadá e Europa.
No caso
do Conselho de Segurança, o grupo diz querer "torná-lo mais
democrático, representativo, eficaz e eficiente" e manifesta apoio a
"aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da
África, Ásia e América Latina (...) a desempenhar um papel maior nos
assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu
Conselho de Segurança".
"Recordando as Declarações dos Líderes de Pequim, de 2022, e Joanesburgo II, de 2023, China
e Rússia, como membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações
Unidas, reiteram seu apoio às aspirações do Brasil e da Índia de desempenhar um papel mais relevante nas Nações Unidas, incluindo o seu Conselho de Segurança".
💱 Cooperação econômica e financeira
Incentivo à utilização de moedas locais nas transações entre países do Brics.
Fortalecimento
do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e do Arranjo Contingente de
Reservas (ACR), ampliando a cooperação financeira entre os membros.
🌱 Ação climática e ambientais
Compromisso com o fundo “Tropical Forests Forever”, voltado à preservação de florestas tropicais e da biodiversidade.
Apoio a uma transição ecológica justa, com financiamento climático compartilhado e foco em desenvolvimento sustentável.
🩺 Saúde pública e equidade
Lançamento da Parceria para Eliminar Doenças Socialmente Determinadas, com foco em vacinação, combate à pobreza e redução de desigualdadesem saúde.
Reforço aos sistemas de saúde para garantir acesso universal e equitativo a tratamentos.
🌍 Enfoque no Sul Global
O
bloco se posiciona como porta-voz das demandas do Sul Global e busca
ampliar sua influência nos debates econômicos, ambientais e políticos
globais.
Defende um novo equilíbrio de poder, com foco nas necessidades dos países em desenvolvimento.
⚠️ Conflitos e segurança global
Condenação a ataques recentes contra o Irã, embora sem citar diretamente os Estados Unidos ou Israel.
Posição conjunta em relação às crises no Oriente Médio, incluindo os conflitos em Gaza e a tensão entre Irã e Israel.
Os líderes reafirmaram apoio à solução de dois Estados como caminho para resolver o conflito entre Israel e Palestina.
Defendem a criação de um Estado palestino dentro das fronteiras de
1967, com capital em Jerusalém Oriental. O texto pede que a comunidade
internacional atue para garantir o fim da violência em Gaza e assegurar a
proteção dos civis palestinos.
Defesa de soluções pacíficas, diplomáticas e negociadas, com base no direito internacional.
⚙️Inovação, tecnologia e infraestrutura
Compromisso com avanços em inteligência artificial (IA), ciência, tecnologia e educação (outra declaração vai ser divulgada com foco em inteligência artificial).
Cooperação
em temas como segurança cibernética, desenvolvimento de infraestrutura
digital e integração logística entre os países do bloco.
🛠️ Cooperação setorial ampla
Promoção de parcerias em agricultura, turismo, transporte, educação e juventude.
Criação de fóruns e centros conjuntos para áreas como Zonas Econômicas Especiais, saúde, arbitragem, auditoria e startups.
Veja quem é quem no Brics no Rio — Foto: Infografia: Luisa Rivas/g1
“Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável
Rio de Janeiro, Brasil, 6 de julho de 2025
1.
Nós, os Líderes dos países do BRICS, nos reunimos no Rio de Janeiro,
Brasil, de 6 a 7 de julho de 2025, para a XVII Cúpula do BRICS,
realizada sob o tema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma
Governança mais Inclusiva e Sustentável”.
2. Reafirmamos nosso compromisso com o espírito do BRICS de
65 crianças estavam na lista de 290 mortos. Americanos aceitaram indenizar famílias, mas nunca pediram desculpas formais. <<<===+===.=.=.= =---____-------- ----------____---------____::____ ____= =..= = =..= =..= = =____ ____::____-----------_ ___---------- ----------____---.=.=.=.= +====>>> Por Daniel Médici, g1 06/07/2025 04h00 Atualizado há 02 horas Postado em 06 de Julho de 2.025 às 06h00m #.* -- Post. - Nº.\ 11.712 -- *.#
Iran Air 655: Por que um navio americano derrubou avião civil iraniano com 290 passageiros
No total, 290 pessoas morreram, sendo 254 iranianos. Entre os mortos, havia 65 crianças. A data é lembrada com luto no Irã desde então. Todos os anos, familiares das vítimas vão ao mar jogar flores.
O Irã abriu um processo no Tribunal de Haia, e o caso foi resolvido num
acordo em 1996. Washington aceitou pagar US$ 61,8 milhões às famílias,
mas nunca pediu desculpas públicas pelas mortes.
Recentemente, as tensões voltaram ao nível máximo depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mandou bombardear instalações nucleares do Irã em apoio a seu aliado Benjamin Netanyahu, premiê de Israel.
Em julho de 1988, o contexto era a guerra entre Irã e Iraque, que era
governado pelo ditador Saddam Hussein (derrubado pelas forças americanas
décadas depois).
Na
manhã do dia 3 de julho de 1988, um domingo, imagens de corpos sem vida
flutuando no mar chocaram os iranianos ao serem transmitidas na TV.
Eram passageiros e tripulantes do voo Iran Air 655. O Airbus
A300 havia decolado do sul do país e foi abatido à luz do dia por
mísseis teleguiados disparados por um moderno navio de guerra americano.
Os destroços caíram no Golfo Pérsico.
Iranianos com os caixões das vítimas do voo da Iran Air, abatido por navio dos EUA — Foto: Wikimedia Commons
A sequência de erros do navio que era 'menina dos olhos'
A sequência de eventos começa dentro do navio USS Vincennes, um
cruzador de mísseis guiados lançado ao mar em 1984 e pertencente à frota
do Pacífico da Marinha americana.
O Vincennes fazia parte de um enorme contingente de navios que patrulhavam o Golfo Pérsico e o Estreito de Ormuz em 1988.
USS Vincennes, em imagem de 1994 — Foto: Wikimedia Commons
Naquele momento, Irã e Iraqueatacavam
navios na tentativa de sufocar as exportações de petróleo um do outro –
em particular, os iranianos tentavam interromper a passagem de
petroleiros e navios mercantes que escoavam o petróleo iraquiano via
Kuwait, que atravessavam o Golfo Pérsico.
No comando do Vincennes estava o capitão William Rogers 3º, um veterano com mais de 20 anos de serviço.
O navio não havia participado de nenhum combate até então, mas era a
menina dos olhos da Marinha americana, equipado com metralhadoras,
mísseis teleguiados e helicópteros – além do sistema de combate Aegis de
última geração, que usava radares e computadores para direcionar
mísseis em direção a seus alvos. Apenas cinco navios tinham o sistema na
época, resultado de um investimento bilionário.
Os EUA eram aliados de Saddam e se comprometeram a escoltar navios que
saíssem do Kuwait, na maior operação de comboio naval já vista desde a
Segunda Guerra Mundial.
Destroços do Iran Air 655 — Foto: Wikimedia Commons
Proa apontada para Ormuz
Naquela manhã, a proa do Vincennes estava apontada para a direção
oposta a Ormuz, indo para o Bahrein, onde a Marinha dos EUA havia
estabelecido seu centro de comando no Golfo. A tripulação do cruzador
tinha uma folga programada para o dia seguinte, feriado da Independência
americana.
Não significaria que o estreito ficaria desguarnecido: estavam
patrulhando diferentes pontos da região o USS John Hancock, o USS
Halsey, o USS O’Brien, o USS Fahrion e o USS Coronado, entre outros. A
sigla USS significa "United States Ship", ou navio dos Estados Unidos.
Por volta das 7h da manhã daquele domingo, no horário local, a fragata
USS Elmer Montgomery registrou uma movimentação suspeita de lanchas da
Guarda Revolucionária iraniana ao redor de um navio mercante
paquistanês. O Montgomery também notou que os tripulantes iranianos
estavam armados com metralhadoras e lança-foguetes, segundo o relatório
americano do incidente.
Do Bahrein, o almirante Anthony Less controlava a operação americana na
região. Segundo a versão oficial dos acontecimentos, ele e seu chefe de
combates de superfície, Richard McKenna, decidiram despachar um dos
helicópteros do Vincennes para ver o que estava acontecendo.
McKenna ordenou a Rogers que o Vincennes mantivesse sua posição mais ao
sul do local, em águas dos Emirados Árabes Unidos, enquanto o
helicóptero realizava a verificação.
Centro de comando militar do USS Vincennes, em imagem de arquivo — Foto: Marinha dos EUA/Wikimedia commons
Nesse momento, é dado o primeiro passo em direção à tragédia
A bordo do helicóptero, o tenente Mark Collier nota uma movimentação de
barcos iranianos ao redor de outro navio mercante, mas seu capitão não
solicita apoio dos militares. Collier nota a frota da Guarda
revolucionária recuando, mas, em vez de retornar ao Vincennes, ele
decide escoltar as embarcações hostis.
Pouco depois, ele ouve tiros e explosões. Assustado, reporta ao Vincennes ter sofrido um ataque.
O capitão Rogers, do centro de comando de combate do Vincennes, recebe a
mensagem de Colliers. Ele entende que uma agressão foi cometida contra o
Vincennes, e, portanto, as regras de engajamento permitem um
contra-ataque.
Regras de engajamento, no jargão militar, são diretrizes que ditam em qual momento e circunstâncias o uso da força é legítimo.
Essas diretrizes haviam sido flexibilizadas na operação Earnest Will a
partir de maio de 1987, pouco mais de um ano antes, quando a embarcação
USS Stark foi alvejada por fogo amigo iraquiano, num incidente que
deixou 37 militares mortos. Desde então, os capitães estavam autorizados
a atirar mesmo antes de terem suas embarcações atacadas diretamente.
De observador, o Vincennes agora se coloca em posição de ataque. Rogers
ordena um deslocamento em velocidade máxima para o norte, em direção à
costa iraniana, e pede ao almirante Less permissão para disparar contra
as embarcações da Guarda Revolucionária.
À
distância, o Vincennes e o Montgomery direcionam suas metralhadoras
para dois grupos de pequenas embarcações. Alguns poucos combatentes
iranianos não seriam páreos para um navio equipado com sistema Aegis,
mas os radares do Vincennes detectam uma possível ameaça real à
integridade do navio: um caça militar iraniano F-14.
Airbus A300 da Iran Air abatido por míssil dos EUA em 3 de julho de
1988; imagem mostra aeronave em 1987 — Foto: Reiner Geerdts/Wikimedia
Commons
Voo atrasado
Enquanto a tensão escalava no mar, alguns quilômetros ao norte, na
cidade costeira de Bandar Abbas, o dia era igual a qualquer outro: o
comandante Mohsen Rezaian, de 38 anos, se preparava para decolar o
Airbus A300 da Iran Air, que fazia o voo 655 em direção a Dubai.
O voo 655 havia atrasado na escala em Bandar Abbas, mas o trajeto até o destino final levaria apenas cerca de meia hora.
Rezaian era um dos 290 ocupantes do Airbus A300 que havia partido de
Teerã algumas horas antes. Treinado nos EUA, ele falava inglês
fluentemente e sabia que, se questionado pelos navios americanos no
Golfo, deveria fornecer se identificar por rádio.
Como
parte da identificação, ele havia colocado o código 6760 no transponder
da aeronave, que indicava para os radares da região, entre outras
coisas, que se tratava de uma aeronave civil. Além do mais, o voo
percorreria um corredor aéreo internacional reconhecido.
Por volta das 10h15 no horário local, ele recebeu autorização do controle de tráfego aéreo e decolou de Bandar Abbas. Parecia que tudo estava ok —mas não.
Um avião se aproxima: tensão na sala de comando
Dentro da sala de comando militar do Vincennes, o ambiente era tenso.
O operador de rádio detectou uma decolagem no aeroporto de Bandar
Abbas, usado pelo Irã tanto para voos comerciais quanto para operações
militares.
Desconfiado, o suboficial Andrew Anderson consultou um papel com a
relação de voos comerciais previstos, com o fuso horário do Bahrein (30
minutos à frente do Irã). O sistema IFF, sistema que lê os
sinais do transponder e identifica de determinada aeronave ou navio é
aliada ou inimiga, dizia que se tratava de um avião civil – mas ele não
estava convencido.
Ao longo dos dez minutos seguintes, o Vincennes manda uma dezena de
mensagens de rádio, a maioria delas pela frequência militar e outras
pela frequência civil:
“Aeronave
desconhecida no curso 206, velocidade 316, posição 2702N/05616E. Você
está se aproximando de um navio de guerra da Marinha dos EUA. Solicito
que permaneça afastado.”
Ao fazer novamente uma checagem pelo IFF, Anderson tem uma surpresa:o dispositivo mostra agora se tratar de uma aeronave militar voando em direção ao Vincennes.
O Irã dispunha de diversos caças americanos F-14 adquiridos antes da
Revolução Islâmica de 1979. O temor da tripulação do Vincennes era de
que um deles seja utilizado para atacá-los em meio à troca de fogo com
os barcos da Guarda Revolucionária.
“Possível
Astro!”, grita Anderson (em referência ao código militar para F-14) na
sala de comando, para o capitão Rogers, às 10h21.
Rogers decide acionar o sistema de mísseis do navio, mas hesita em dar a
ordem de fogo. O operador de rádio tentava ainda fazer contato, sem que
a aeronave respondesse.O tempo para decidir atacar estava se
acabando, porém: a cerca de 37 km, o Vincennes estaria vulnerável a um
ataque com mísseis de um F-14.
Um grito e uma ordem de ataque
Um grito soou na sala de comando militar: a aeronave estava "rapidamente descendo e aumentando a velocidade",executando o que parecia ser a manobra clássica de um ataque aéreo.
Apenas
18 km separavam o Vincennes da aeronave quando Rogers deu a ordem de
ataque e girou a chave no painel de comando que acionava o disparo de
dois mísseis terra-ar SM-2 Block II. Eram 10h24 da manhã, e o primeiro
disparo atingiu em cheio o alvo cerca de 30 segundos após o lançamento. A
notícia foi recebida com comemoração e alívio pelo centro de comando
militar do navio.
A
alegria passou a desconfiança quando os primeiros marinheiros notaram
uma asa caída no mar, grande demais para pertencer a um F-14. Logo se soube que o míssil não havia derrubado caça algum, mas o voo Iran Air 655.
Não houve nenhum tempo de reação —e todos morreram quando a aeronave
explodiu. A bordo estavam 290 pessoas, incluindo 16 mulheres e 65
crianças.
A comoção com o incidente tomou conta do Irã, num episódio ainda anualmente relembrado. Do lado americano, a responsabilidade de buscar respostas recaiu sobre o almirante William Fogarty.
Sequência de erros vem à tona
O almirante conduziu entrevistas com os envolvidos e coletou dados para produzir um relatório final sobre a tragédia.
O sistema Aegis do Vincennes registrou todos os parâmetros do momento
do combate, de forma semelhante às caixas-pretas dos aviões.
Entre as descobertas da investigação, duas se destacam:
Em
primeiro lugar, em nenhum momento o comandante do Iran Air inseriu um
código militar (1100) em seu transponder. O relatório conclui que o
sistema do navio ainda estava lendo os sinais enviados da pista do
aeroporto de Bandar Abbas minutos após a decolagem do Airbus, sem que o
operador percebesse. Isso foi considerado, em parte, uma falha de
projeto da interface do sistema Aegis. O relatório aponta que um caça
F-14 estava na pista do aeroporto naquele momento, já que o local tinha
uso civil e militar.
Ainda mais surpreendente, porém, foi constatar que, segundo os dados coletados pelo Aegis,
o Airbus da Iran Air pilotado pelo comandante Rezaian não executou em
momento algum a manobra de descida em alta velocidade que fez o capitão
Rogers decidir pelo lançamento dos mísseis.
O
relatório de William Fogarty atribui o fenômeno a uma condição
psicológica chamada “confirmação de cenário” (ou“scenario fulfillment”,
no original em inglês). Ou seja, em um momento de estresse, a tripulação
foi levada a crer que a aeronave não identificada estava executando um
movimento de ataque porque aquela era a ação para a qual eles estavam em
alerta.
O Airbus não chegou a interromper sua subida desde o momento da decolagem em Bandar Abbas.
Fogarty, em seu relatório, não culpa diretamente nenhum dos militares
americanos pelo ocorrido, que é classificado como um “incidente trágico e
lamentável” provocado pela “névoa da guerra”, que obrigou o capitão
Rogers e sua equipe a tomarem decisões cruciais em poucos segundos.
O
relatório vai além e afirma que o Irã deveria assumir parte da culpa,
por permitir a decolagem de aeronaves civis perto de uma área
conflagrada, em um aeroporto também usado para fins militares.
Condecorações e a reação do Irã
Ao fim de sua missão, o USS Vincennes foi recebido com honras ao
aportar em San Diego, na Califórnia. Vários de seus tripulantes foram
condecorados, incluindo o capitão Rogers, agraciado com a Legião de
Honra.
Tais atitudes não foram bem recebidas por Teerã. O regime do aiatolá
Khomeini entendeu o relatório e as condecorações como provocações, e
acusou os EUA de abaterem de propósito uma aeronave civil iraniana.
Contatos sem resposta
Restava ainda saber por que as tentativas de contato direcionadas ao
Iran Air 655 não haviam sido respondidas. O comandante Rezaian falava
inglês fluentemente e estava ciente de que deveria monitorar frequências
de rádio civis e militares durante o voo.
Uma investigação paralela da Icao (Organização Internacional da Aviação
Civil, vinculada à ONU) concluiu que o Iran Air recebeu quatro
mensagens, três vindas do USS Vincennes e uma, em frequência civil, de
um outro navio próximo, o USS Sides. Outras sete mensagens enviadas por
frequência militar pelo Vincennes não foram recebidas.
Apenas a última comunicação, vinda do Sides 40 segundos antes do
lançamento dos mísseis pelo capitão Rogers, era inequivocamente
direcionada ao Iran Air, concluiu a ICAO.
Em todas as outras, o rádio-operador do Vincennes mandou mensagens ao
Airbus identificando-o pela velocidade em relação ao solo.Rezaian,
porém, estava com seus equipamentos configurados para mostrar a
velocidade em relação ao ar, o que levou ele e sua equipe,
possivelmente, a concluir que o Vincennes estava tentando contato com
outro avião.
De fato, havia uma aeronave militar iraniana próxima que aparecia no
radar do Airbus, que a tripulação do Iran Air acreditava ser
destinatária da mensagem dos americanos.
Além disso, Rezaian e sua equipe estavam voando em um corredor aéreo internacional reconhecido.
‘Mar de mentiras’
Novas luzes foram jogadas sobre o caso em 1992, quando dois jornalistas
da revista “Newsweek” tiveram acesso à íntegra do relatório Fogarty.
Em
um artigo intitulado“Mar de mentiras”, que também contou com
entrevistas com os envolvidos, a revista revelou que, no momento do
ataque, o Vincennes havia entrado cerca de 4 km dentro do espaço
marítimo do Irã, “em clara violação do direito internacional”.
O artigo também descreve o capitão Rogers como “belicoso”, visto pelos
seus pares como ávido por combates, mesmo que desnecessário –muito
provavelmente em busca de uma batalha que o elevasse à patente de
almirante, o que ele nunca atingiu.
De fato, Rogers havia desviado o curso do Vincennes sem o consentimento
dos superiores nas primeiras horas daquele dia 3 de julho. Tão logo o
helicóptero que integrava a embarcação reportou ter sido atacado, alguns
minutos depois, ele se deslocou em velocidade máxima para confrontar as
embarcações iranianas, numa manobra que lhe obrigou a tomar decisões de
forma muito mais rápida.
As relações entre EUA e Irã, já deterioradas desde a Revolução Islâmica de 1979, nunca mais se recuperaram.
Iran Air 655: o avião abatido por um navio dos Estados Unidos — Foto: Arte/g1