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quarta-feira, 30 de outubro de 2024

O 'serviço de emergência' no fundo do oceano que mantém a internet funcionando

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99% das comunicações digitais do mundo dependem de cabos submarinos. Quando eles se rompem, isso pode significar um desastre para a internet de um país inteiro. Mas como consertar uma falha no fundo do oceano?
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TOPO
Por BBC

Postado em 30 de outubro de 2024 às 05h00m

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Toda a extensão dos cabos submarinos pelo mundo seria suficiente para dar uma volta ao redor do Sol — Foto: Getty Images
Toda a extensão dos cabos submarinos pelo mundo seria suficiente para dar uma volta ao redor do Sol — Foto: Getty Images

Pouco depois das 17h do dia 18 de novembro de 1929, o chão começou a tremer.

Ao longo da costa da Península de Burin, ao sul da ilha de Terra Nova, no Canadá, um terremoto de magnitude 7,2 perturbou a paz daquela noite. Inicialmente, os moradores notaram apenas alguns danos — algumas chaminés derrubadas.

No mar, no entanto, uma força invisível estava se movendo. Por volta de 19h30, um tsunami de 13 metros de altura atingiu a costa da Península de Burin. No total, 28 pessoas morreram em decorrência de afogamentos ou ferimentos causados ​​pelas ondas.

O terremoto foi devastador para as comunidades locais, mas também teve um efeito duradouro no mar. O abalo sísmico desencadeou um deslizamento de terra submarino.

As pessoas não perceberam isso na época, sugerem os registros históricos, porque ninguém sabia que tais deslizamentos de terra subaquáticos existiam.

Quando os sedimentos são agitados por terremotos e outras atividades geológicas, a água fica mais densa, gerando um fluxo descendente, como uma avalanche de neve montanha abaixo. O deslizamento de terra submarino — chamado corrente de turbidez — fluiu a mais de 1.000 km de distância do epicentro do terremoto, a uma velocidade entre 11 e 128 km/h.

Embora o deslizamento de terra não tenha sido notado na época, deixou uma pista reveladora. Na sua rota, estava o que havia de mais moderno em tecnologia de comunicação da época: cabos submarinos transatlânticosE esses cabos se romperam. Doze deles foram partidos em 28 lugares no total.

Algumas das 28 rupturas aconteceram quase simultaneamente com o terremoto. Mas outras 16 ocorreram ao longo de um período muito mais longo, à medida que os cabos se rompiam um após o outro, em uma espécie de padrão misterioso de ondas, de 59 minutos após o terremoto até 13 horas e 17 minutos depois, e a mais de 500 quilômetros de distância do epicentro.

Se todos tivessem sido rompidos pelo terremoto em si, os cabos teriam se rompido ao mesmo tempo — então os cientistas começaram a se perguntar: por que não se romperam? Por que se romperam um após o outro?

Só em 1952 que os pesquisadores descobriram por que os cabos se romperam em sequência, ao longo de uma área tão grande e em intervalos que pareciam diminuir com a distância do epicentro. Eles descobriram que um deslizamento de terra os atingiu, e que os cabos que se rompiam traçaram seu movimento pelo fundo do mar.

Até então, ninguém sabia da existência das chamadas correntes de turbidez.

Como esses cabos se romperam e havia um registro do momento em que se partiram, eles ajudaram a entender os movimentos oceânicos acima e abaixo da superfície. Eles motivaram um trabalho de reparo complexo, mas também se tornaram instrumentos científicos acidentais, registrando um fenômeno natural fascinante que estava fora do alcance da vista humana.

Nas décadas seguintes, à medida que a rede global de cabos de águas profundas se expandiu, seu reparo e manutenção resultaram em outras descobertas científicas surpreendentes, abrindo mundos totalmente novos, e nos permitindo espiar o fundo do mar como nunca antes, além de nos permitir comunicar em velocidade recorde.

Ao mesmo tempo, nossa vida cotidiana, rendimentos, saúde e segurança também se tornaram cada vez mais dependentes da internet — e, em última análise, desta complexa rede de cabos submarinos. Mas, afinal, o que acontece quando eles se rompem?

Como nossos dados trafegam

 1,4 milhão de quilômetros de cabos de telecomunicações no fundo do mar, abrangendo todos os oceanos do planeta.

Estendidos de uma extremidade à outra, estes cabos — responsáveis ​​pela transferência de 99% de todos os dados digitais — poderiam dar uma volta ao redor do Sol. Mas para algo tão importante, são surpreendentemente finos — muitas vezes, com pouco mais de 2 cm de diâmetro, ou aproximadamente a largura de uma mangueira.

Uma repetição do rompimento de cabos em massa de 1929 teria impactos significativos na comunicação entre a América do Norte e a Europa.

No entanto, "em grande parte, a rede global é notavelmente resistente", diz Mike Clare, consultor ambiental marinho do Comitê Internacional de Proteção de Cabos, que pesquisa os impactos de eventos extremos em sistemas submarinos.

"Há de 150 a 200 casos de danos à rede global a cada ano. Portanto, se compararmos com 1,4 milhão de quilômetros, não é muito e, na maioria das vezes, quando esses danos ocorrem, eles podem ser consertados com relativa rapidez."

Mas como a internet funciona com cabos tão finos e evita panes desastrosas?

Os cabos submarinos têm a espessura de uma mangueira, para fácil instalação e reparo — Foto: Getty Images
Os cabos submarinos têm a espessura de uma mangueira, para fácil instalação e reparo — Foto: Getty Images

Desde que os primeiros cabos transatlânticos foram instalados no século 19, eles têm sido expostos a eventos ambientais extremos, desde erupções vulcânicas submarinas até tufões e inundações. Mas a principal causa dos danos que sofrem não é natural.

A maioria das falhas — de 70 a 80%, dependendo do lugar no mundo — está relacionada a atividades humanas acidentais, como lançar âncoras ou redes de pesca de arrasto, que acabam ficando presas nos cabos, diz Stephen Holden, chefe de manutenção da Europa, Oriente Médio e África na Global Marine, uma empresa de engenharia submarina que atua na reparação de cabos submarinos.

Em geral, estes acidentes acontecem em profundidades de 200 a 300 metros (mas a pesca comercial está avançando para águas cada vez mais profundas, em alguns lugares, chegando a 1.500 metros no nordeste do Atlântico).

Somente de 10% a 20% das falhas nos cabos a nível mundial estão relacionadas a ameaças naturais e, na maioria das vezes, estão relacionadas ao desgaste dos cabos em locais onde as correntes fazem com que eles resvalem contra as rochas, causando o que é chamado de "falhas de derivação", diz Holden.

A ideia de que os cabos se rompem porque são mordidos por tubarões é hoje uma espécie de lenda urbana, acrescenta Clare.

"Houve casos de danos causados por mordidas de tubarões, mas isso já acabou, porque a indústria dos cabos utiliza uma camada de Kevlar (tipo de fibra sintética) para reforçá-los."

No entanto, os cabos devem ser mantidos finos e leves em águas mais profundas para ajudar na recuperação e no reparo. Transportar um cabo grande e pesado ao longo de milhares de metros abaixo do nível do mar colocaria uma enorme pressão sobre ele. Os cabos mais próximos da costa tendem a ser mais blindados, porque têm mais chance de serem danificados por redes de pesca e âncoras.

Um exército de navios de reparo a postos

Os cabos subaquáticos podem ser consertados em períodos curtos de tempo, que podem levar até duas semanas — Foto: Getty Images
Os cabos subaquáticos podem ser consertados em períodos curtos de tempo, que podem levar até duas semanas — Foto: Getty Images

Se uma falha for encontrada, um navio de reparo é enviado.

"Todas essas embarcações estão estrategicamente posicionadas ao redor do mundo para que o trajeto entre a base e o porto seja de 10 a 12 dias", explica Mick McGovern, vice-presidente adjunto de operações marítimas da Alcatel Submarine Networks.

"Você tem esse tempo para descobrir onde está a falha, carregar os cabos [e os] amplificadores de sinal" — que aumentam a força de um sinal à medida que ele trafega pelos cabos.

"Em essência, quando você pensa no tamanho do sistema, não é preciso esperar muito", ele acrescenta.

Embora tenha demorado nove meses para consertar o último cabo submarino danificado pelo terremoto de 1929, McGovern diz que um reparo moderno em águas profundas deve levar uma ou duas semanas, dependendo da localização e do clima.

"Quando você pensa na profundidade da água e onde está, não é uma solução ruim."

Isso não significa que um país inteiro vai ficar sem internet por uma semana. Muitas nações possuem mais cabos e mais largura de banda dentro desses cabos do que a quantidade mínima exigida, de modo que, se alguns forem danificados, os outros possam compensar. Isso é chamado de redundância no sistema.

Devido a essa redundância, a maioria de nós nunca perceberia se um cabo submarino fosse danificado — talvez este artigo demorasse um ou dois segundos a mais para carregar do que o normal.

Em eventos extremos, pode ser a única coisa que mantém um país online.

O terremoto de magnitude 7 na costa de Taiwan, em 2006, rompeu dezenas de cabos no Mar do Sul da China — mas alguns permaneceram online.

Muitos países possuem cabos adicionais para evitar depender da estabilidade de uma única área geográfica — Foto: Getty Images
Muitos países possuem cabos adicionais para evitar depender da estabilidade de uma única área geográfica — Foto: Getty Images

Para reparar o dano, o navio utiliza um arpéu, ou gancho, para levantar e cortar o cabo, puxando uma extremidade solta até a superfície, e enrolando-a na proa com grandes tambores motorizados.

A parte danificada é então arrastada até uma sala interna e analisada em busca de falhas, reparada, testada (enviando um sinal para terra firme a partir do barco), selada e, em seguida, presa a uma boia enquanto o processo é repetido na outra extremidade do cabo.

Uma vez que as duas extremidades são consertadas, cada fibra óptica é emendada sob microscópio para garantir que haja uma boa conexão — e, na sequência, são vedadas com uma junta universal que é compatível com o cabo de qualquer fabricante, facilitando a vida das equipes de reparo internacionais, explica McGovern.

Os cabos reparados são colocados de volta na água e, em águas mais rasas, onde pode haver mais tráfego de barcos, são enterrados em valas. Veículos subaquáticos operados remotamente (ROV, na sigla em inglês), equipados com jatos de alta potência, podem abrir trilhas no fundo do mar para a instalação dos cabos.

Em águas mais profundas, o trabalho é feito por arados equipados com jatos, arrastados ao longo do leito marinho por grandes embarcações de reparo acima.

Alguns arados pesam mais de 50 toneladas e, em ambientes extremos, são necessários equipamentos ainda maiores.

McGovern se lembra de um trabalho no Oceano Ártico, que exigiu que um navio arrastasse um arado de 110 toneladas, capaz de enterrar cabos de 4 metros e penetrar no permafrost.

Ouvidos no fundo do mar

As rupturas geralmente acontecem em águas de pouca profundidade, quando os barcos ancoram em áreas onde não sabem que há cabos — Foto: Getty Images
As rupturas geralmente acontecem em águas de pouca profundidade, quando os barcos ancoram em áreas onde não sabem que há cabos — Foto: Getty Images

A instalação e o reparo dos cabos levaram a algumas descobertas científicas surpreendentes — a princípio de forma acidental, como no caso dos cabos rompidos e do deslizamento de terra, e mais tarde, intencionalmente, quando os cientistas começaram a usar os cabos de propósito como ferramentas de pesquisa.

Essas lições das profundezas do mar começaram quando os primeiros cabos transatlânticos foram instalados no século 19.

Os operadores de cabos notaram que o Oceano Atlântico ficava mais raso no meio, descobrindo sem querer a cordilheira Dorsal Mesoatlântica.

Hoje, os cabos de telecomunicações podem ser usados ​​como "sensores acústicos" para detectar baleias, barcos, tempestades e terremotos em alto mar.

Os danos causados ​​aos cabos oferecem à indústria "uma nova compreensão fundamental sobre os perigos que existem no fundo do mar", diz Clare.

"Nunca saberíamos que havia deslizamentos de terra no fundo do mar após erupções vulcânicas se não fosse pelos danos causados (nos cabos)".

Em alguns lugares, as mudanças climáticas estão tornando as coisas mais desafiadoras. As inundações na África Ocidental estão causando um aumento no deságue de sedimentos dos cânions no Rio Congo, que ocorre quando grandes volumes de sedimentos fluem para um rio após uma inundação. Estes sedimentos são então despejados da foz do rio no Oceano Atlântico, e podem danificar os cabos.

"Agora sabemos que devemos colocar os cabos mais longe do estuário", diz McGovern.

Os cabos de águas profundas também podem ser usados ​​como instrumentos científicos — Foto: Getty Images
Os cabos de águas profundas também podem ser usados ​​como instrumentos científicos — Foto: Getty Images

Alguns danos serão inevitáveis, preveem os especialistas.

A erupção vulcânica do Hunga Tonga-Hunga Ha'apai, em 2021 e 2022, destruiu o cabo submarino de internet que conectava a nação insular de Tonga, no Pacífico, ao resto do mundo.

Levou cinco semanas até a conexão com a internet voltar a funcionar totalmente, embora alguns serviços tenham sido restabelecidos após uma semana.

No entanto, muitos países contam com vários cabos submarinos, o que significa que uma falha — ou até mesmo várias falhas — pode não ser percebida pelos usuários da internet, pois a rede pode recorrer a outros cabos em uma crise.

"Isso realmente mostra por que é necessário haver uma diversidade geográfica das rotas de cabo", acrescenta Clare.

"Especialmente no caso das ilhas pequenas, em lugares como o Pacífico Sul, onde há tempestades tropicais, terremotos e vulcões, elas são particularmente vulneráveis e, com as mudanças climáticas, diferentes áreas estão sendo afetadas de maneiras diferentes."

À medida que a pesca e o transporte marítimo se tornam mais sofisticados, pode ficar mais fácil evitar danos aos cabos.

O advento do sistema de identificação automática (AIS, na sigla em inglês) no transporte marítimo levou a uma redução nos danos causados pela ancoragem, diz Holden, porque algumas empresas agora oferecem um serviço em que é possível seguir um padrão definido para reduzir a velocidade e ancorar.

No entanto, em regiões do mundo onde os barcos de pesca tendem a ser menos sofisticados e operados por equipes menores, os danos provocados pelas âncoras ainda acontecem.

Nesses locais, uma opção é informar às pessoas onde estão os cabos, e aumentar a conscientização, afirma Clare.

"É para o benefício de todos que a internet continue funcionando."

g1 Explica: como funciona a internet

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Azeite: como usar para que faça bem para a saúde e quando você pode escolher alternativas mais baratas?

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O azeite extravirgem - suco de azeitona - é a única gordura vegetal extraída de uma fruta por inteiro e é um dos alimentos mais falsificados do mundo. Rico em nutrientes, ele pode ser usado em todas as refeições.
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Por Silvana Reis, g1

Postado em 30 de outubro de 2024 às as 06h05m

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Azeite: por que ele faz tão bem para a saúde e quando você pode usar alternativas mais baratas? — Foto: Adobe Stock
Azeite: por que ele faz tão bem para a saúde e quando você pode usar alternativas mais baratas? — Foto: Adobe Stock

Gordura pode ser saudável? Sim! E o azeite – de verdade - é uma prova disso. 🫒 Livre de aditivos químicos, o produto é o suco de uma fruta (a azeitona) e 100% natural. Para produzir um litro de azeite, são necessários dez quilos de azeitona e, por ter um processo de fabricação complexo e trabalhoso, ele não é barato. Mas uma garrafa pode ser usada em muitas refeições. Isso se for consumido principalmente na finalização de pratos. 🥗

Especialistas defendem que o azeite é versátil, podendo ser consumido até no café da manhã e no lanche da tarde.

O azeite extravirgem é a única gordura vegetal extraída de uma fruta por inteiro – somente a polpa e caroço, num processo exclusivamente mecânico. Extremamente rico em nutrientes, ele é um alimento funcional e a base de gordura da dieta mediterrânea, que é referência como uma das mais saudáveis do mundo.

Mas quando o azeite é usado no preparo de alimentos a mais de 180°C, o tipo extravirgem pode perder algumas propriedades nutricionais. Para frituras e refogados, é comum a recomendação do uso de azeite comum ou outros óleos, como de coco, gergelim e abacate.

O óleo misto ou composto acaba sendo usado por muitas famílias por questões financeiras, por ser mais barato. Mas ele costuma ter apenas 10% de azeite e é extremamente inferior ao azeite em termos nutricionais.

O azeite é um dos dez alimentos mais fraudados do mundo. No dia 22 de outubro, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) publicou uma nova lista com 12 marcas de azeite de oliva que tiveram lotes reprovados para o consumo (veja quais). Seis marcas tiveram todos os seus lotes desclassificados. As análises do Ministério revelaram a presença de outros óleos vegetais misturados aos azeites, comprometendo a qualidade e a segurança dos produtos.

Diferente do vinho, quanto mais recente for a garrafa, mais qualidade terá o produto e mais caro ele tende a ser.

Azeite não se guarda. Não se faz adega de azeite. Temos que ter no máximo duas garrafas em casa: uma para cozinhar, outra para finalizar. E uma vez aberta, temos que usá-las em 30 dias no máximo, para que não se oxide. Os inimigos do azeite são a luz, o oxigênio, o calor. Ele não vai estragar, mas vai oxidar, perder valor nutricional e mudar suas características sensoriais para características oxidadas e rançosas, explica o azeitólogo Marcelo Scofano.

Abaixo, nesta reportagem você vai saber:

  1. Quais cuidados devem ser tomados ao escolher o azeite
  2. Dicas de como armazenar o azeite
  3. Como o azeite deve ser usado e as alterativas mais baratas
  4. Por que o azeite é bom para a saúde e por que outros óleos podem fazer mal?
  5. Por que o azeite está tão caro?
⚠️ Cuidados ao escolher o azeite

O azeite é um dos dez alimentos mais fraudados do mundo e a fraude se dá por mistura de outros óleos, inclusive impróprios para o uso culinário. Para fugir das fraudes, atente-se para as dicas:

  • Desconfie de produtos com valor muito abaixo do mercado;
  • Desconfie dos que têm origem em diferentes locais;
  • Dê preferência aos que são produzidos e envasados no mesmo lugar (o tempo entre a colheita e o envase deve ser o menor possível, para garantir o frescor)
  • Dê preferência aos que têm data de envase mais próxima a data da compra, para que o produto tenha atributos sensoriais e nutricionais preservados;
  • Aroma: o azeite extravirgem de qualidade tem um aroma semelhante ao de frutas frescas, ervas recém-cortadas ou flores do campo. Não pode conter aroma avinagrado. Se o azeite tiver um cheiro estranho, de mofo ou parecido com óleo de cozinha, pode ser falsificado;
  • Acidez: o azeite extravirgem deve ter no máximo 0,8% de acidez, o que é informado no rótulo
  • Provar: um azeite de oliva de qualidade tem sabor suave, com notas herbáceas ou frutadas, além de amargor e picância;
  • Buscar marcas confiáveis e garantir produtos certificados, com selos de qualidade de órgãos governamentais e de associações*
  • Dar preferência para o tipo extravirgem (de qualidade superior)
  • Dar preferência aos com embalagens escuras e com boas tampas para vedação
  • O azeite de oliva extravirgem verdadeiro solidifica no congelador e fica com a cor de manteiga. Se o azeite não congelar e ficar pastoso e embranquecido, pode ser falsificado. Mas especialistas não recomendam congelar o azeite para não precisar aquecê-lo quando for usar;
  • Atente-se a data de validade

*A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) disponibiliza uma ferramenta de pesquisa onde o consumidor pode consultar se um determinado produto está irregular ou se é falsificado. Ao entrar no site, é preciso inserir no campo "Produto" o nome da marca do azeite.

Ao comprar um azeite, o consumidor não deve considerar o valor da compra e sim que aquele produto não acaba de imediato – como outros produtos que são consumidos em um par de horas. O azeite é um alimento rico não somente em aromas e sabores, mas também em compostos nutricionais que fazem bem a nossa saúde, afirma a azeitóloga Ana Belotto.

A gente vai desconfiar se o azeite tem uma embalagem plástica, que não protege dos raios ultravioletas. Todas as vezes que há investigação, percebe se que há muita fraude e às vezes não é nem um produto falsificado. Às vezes é um produto que se diz extravirgem, mas na verdade é um azeite misto, acrescenta o azeitólogo Marcelo Scofano.

O extravirgem é extremamente caro para ser produzido e mantido com as características originais até o consumidor final. Os cuidados vão desde o pomar, no manejo da árvore, na colheita até a gôndola.

Quanto maior o tempo entre a colheita e a extração do azeite, maior tende a ser a acidez do produto. Assim como o índice de peróxido, fruto da oxidação do azeite. A partir do momento que a fruta sai do pé, ela começa a oxidar e gerar peróxidos.

O índice de peróxidos é tão importante quanto o índice de acidez. No azeite extravirgem, o índice de peróxido tem que ser menor que 20 e a acidez precisa ser menor ou igual a 0,8.

A gente tem uma série de cuidados, como também a temperatura ao extrair o azeite, o tempo entre a colheita e a extração, a maneira de envasar o produto e o transporte até o local da venda. Qualquer erro nessa cadeia vai transformar o teu azeite extravirgem num azeite virgem. Além da análise química, precisamos fazer uma análise sensorial para saber realmente se é um azeite extravirgem. Quando ele tem um aspecto de pastoso, indica que tem óleo refinado e houve mistura, passou por um processo industrial, o que indica uma fraude, explica o azeitólogo Ricardo Abdala. 
Dica de como armazenar

O azeite possui três inimigos: luz, oxigênio e calor. Por isso, as embalagens devem ser escuras e com boas tampas para vedação. Recomenda-se: armazenar o produto em local escuro e longe de fontes de calor, como fogão e churrasqueira, e da luz solar.

Como o azeite deve ser usado e as alterativas mais baratas

O azeite extravirgem deve ser usado preferencialmente sem aquecer, para que a pessoa possa se beneficiar das suas propriedades nutricionais, segundo nutricionistas. Mas especialistas também afirmam que se ele for aquecido até 180°C, os nutrientes são preservados.

O azeite comum é mais indicado para refogar e preparar alimentos, pois na sua obtenção de refino já é utilizado o calor. Sendo assim, ele não possui as mesmas características nutricionais do azeite extravirgem, mas confere sabor e aroma às preparações.

Eu aconselho sempre ter dois azeites em casa: um com o perfil mais suave e um com perfil mais intenso de sabores e aromas. Porque azeites mais delicados harmonizam e combinar com receitas e pratos que levem menos condimento, que sejam também mais suaves e delicados. E azeites mais intensos pedem receitas com mais especiarias, com mais sabor. Em uma pizza meia marguerita e meia pepperoni, por exemplo, a pepperoni pede um mais intenso. E a margherita pede azeites mais delicados e suaves, aconselha a azeitóloga Ana Belotto.

Ana acrescenta ainda que, além de saladas, massas e pizza, o azeite pode ser usado também em sorvetes, mousse de chocolate e no café da manhã com a granola, a salada de fruta e substituindo a manteiga em pães e torradas, por exemplo.

Para quem não puder investir sempre na aquisição do azeite, por questões financeiras, há opções saudáveis, como os óleos de gergelim, coco, abacate ou algodão. Estes óleos também são mais resistentes ao calor, sendo opções mais saudáveis para frituras.

Se o foco é reduzir custo, os óleos de coco, gergelim e abacate são menos prejudiciais à saúde em relação a óleos como o de soja e canola. Seriam alternativas mais baratas em relação ao azeite, orienta a nutricionista Ramielle Calmon.

O óleo misto ou composto costuma ter apenas 10% de azeite e é uma mistura de diferentes óleos vegetais, como milho, soja e girassol (normalmente o de soja por ser mais barato). Por isso, ele é extremamente inferior ao azeite de oliva em termos nutricionais. O óleo misto é derivado de um processo industrial, enquanto o azeite é 100% natural. Seu uso não é recomendado na finalização de pratos, mas ele pode ser mais resistente ao aquecimento (com ponto de fumaça mais alto).

Uma dica para usar o azeite no revogado é não deixá-lo esquentar a ponto de sair fumaça. Quando chega neste ponto, indica que a temperatura passou dos 180°C e iniciou o processo de queima. Nesse momento, começa a haver diminuição dos compostos fenólicos , que têm propriedades antioxidantes.

Quando falamos de ponto de fumaça, este termo se relaciona à temperatura e tempo máximo que o óleo ou azeite pode ser aquecido antes de começar a se decompor. Na decomposição térmica, ocorre a liberação de acroleína e outros compostos nocivos à saúde. A acroleína é uma substância que dá ao óleo um sabor defumado e amargo e é irritante da mucosa gástrica, explica Luana Limoeiro, doutora em Ciência e Tecnologia dos Alimentos pela UFRRJ e diretora do Conselho Regional de Nutrição 4ª Região (CRN-4).

A temperatura da fritura fica entre 180 e 220°C. Confira o ponto de fumaça dos principais óleos da alimentação:

  • Azeite de oliva virgem: 200ºC
  • Azeite de oliva extravirgem: 180ºC
  • Óleo de abacate: 271ºC
  • Óleo vegetal refinado: 242ºC
  • Óleo de soja: 232ºC
  • Óleo de cártamo: 232ºC
  • Óleo de girassol: 232ºC
  • Óleo de amendoim: 232ºC
  • Óleo de milho: 226ºC
  • Óleo de canola: 204ºC
  • Óleo de semente de uva: 204ºC
  • Óleo de coco extravirgem: 176ºC
  • Óleo de gergelim: 176ºC
  • Óleo de nozes: 160ºC
  • Óleo de linhaça: 107ºC
👍⚠️ Por que o azeite é bom para a saúde e por que outros óleos podem fazer mal?

O azeite extravirgem contém:

  • Ácido graxo monoinsaturado (não há nenhuma outra fonte tão rica em ácido graxo monoinsaturado como o azeite na natureza)
  • Ácido oleico ?
  • Vitamina A
  • Vitamina E
  • Vitamina K
  • Polifenóis, que são antioxidantes naturais
  • Gorduras poli-insaturadas, como o ômega 3, 6 e 9

✅ O consumo do azeite extravirgem traz benefícios para a saúde, como:

  • Sua gordura boa é cardioprotetora e ajuda no controle do colesterol: o azeite ajuda a baixar o colesterol "ruim" (LDL) e a aumentar o colesterol "bom" (HDL);
  • Prevenção de doenças crônicas: as propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias do azeite podem reduzir o risco de doenças como o câncer e diminuir os níveis de glicose no sangue;
  • Alívio de sintomas inflamatórios: o azeite pode ajudar a aliviar sintomas de doenças como artrite e osteoartrite;
  • Prevenção de doenças cerebrais: o azeite pode ajudar a prevenir doenças cerebrais e degenerativas como o Alzheimer, mal de Parkinson e demência senil
  • É bom para o sistema gastrointestinal

O tipo extravirgem é obtido através da prensagem à frio apenas uma vez, sem altas temperaturas ou solventes químicos, preservando o teor doa ácidos graxos monoinsaturados. Assim, a recomendação é o seu consumo frio, sem aquecer, por cima das preparações, como salada ou legumes, destaca Limoeiro.

O ômega 6 é um ácido graxo poli-insaturado, que desempenha um papel importante no crescimento e desenvolvimento normais, na função cerebral e cardíaca. No entanto, seu consumo excessivo pode ser prejudicial à saúde, porque tende a estimular a produção de cortisol, hormônio relacionado ao enfraquecimento do sistema imunológico, ao diabetes, elevação do colesterol ruim e redução do bom. E a principal fonte alimentar de ômega 6 é o óleo de cozinha, como o de canola, milho, soja ou girassol.

🚫 O consumo excessivo de ômega 6 pode causar problemas de saúde, como:

  • Aumento de processos inflamatórios, que podem se manifestar como hipertensão, dor nas articulações e doenças inflamatórias intestinais
  • Elevação do LDL (colesterol ruim)
  • Alteração do sistema imunológico
  • Doenças cardíacas

A dieta ocidental é rica em ultraprocessados, o que faz com que a maioria das pessoas ultrapasse a recomendação de ingestão de ômega 6. A OMS recomenda que a proporção de ômega 6 em relação ao ômega 3 não ultrapasse 5:1, mas na dieta ocidental é de 20:1, destaca Limoeiro.

Para evitar problemas de saúde, recomenda-se consumir mais frutas, verduras, legumes e peixes e evitar produtos processados e consumo exagerado desses tipos de óleos nas preparações, como fritura, por exemplo, diz a nutricionista.

Azeite de qualidade pode ser usado em doces, massagens e faz bem ao sistema cardiovascular

Por que o azeite está tão caro?

O Brasil importa a maior parte do azeite que consome e o principal fornecedor é Portugal, que envia 53% de gorduras e óleos vegetas ao Brasil. O segundo maior fornecedor para o Brasil é a Espanha (15%).

O calor e a seca que atingem a Europa afetaram o preço do azeite no Brasil, que encareceu quase 50% no último ano, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Brasil reduziu em cerca de 39% o consumo de azeite de 2022 para 2023, de acordo com o Conselho Oleícola Internacional. Apesar desta redução, o consumo de azeite por pessoa no Brasil aumentou nos últimos 20 anos.

Em 2004 a gente tinha 30 ml como consumo por ano por pessoa. Nem chegavam a duas colheres de sopa aqui no Brasil. Atualmente são 500 ml. É praticamente uma garrafa por habitante no Brasil por ano, explica a azeitóloga Ana Belotto.

Hoje, uma garrafa de azeite de oliva extravirgem custa em média de R$40 a R$ 55 e uma de azeite virgem (tipo único) está na faixa de R$ 35 a R$ 45.

Conheça os diferentes tipos de azeite e como usar de forma saudável

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