Pesquisadores conseguem comprovar que cada indivíduo possui uma 'nuvem' pessoal de micro-organismos e outros compostos químicos. Descoberta pode servir de base para importantes avanços no campo da saúde.
Por BBC
Postado em 05 de novembro de 2018 às 19h15m
Postado em 05 de novembro de 2018 às 19h15m
É fácil associar a ideia de "aura", campo energético que envolve o nosso corpo, ao mundo esotérico.
Em uma pesquisa rápida na internet, surgem dezenas de dicas para "limpar a aura" e "afastar energias negativas". E talvez este seja o único contexto em que você tenha ouvido falar sobre aura, geralmente associada às emoções e em como podem influenciar seu bem-estar físico e mental.
Mas, esoterismo à parte, a Ciência comprovou a existência de uma "aura viva" individual, chamada expossoma humano - e não tem nada a ver com energias espirituais.
O termo descreve uma nuvem pessoal de micro-organismos, elementos químicos e outros compostos que nos acompanham onde quer que a gente esteja.
O expossoma é o tema central de um estudo desenvolvido por um grupo de geneticistas da Universidade de Stanford, na Califórnia, nos Estados Unidos, por cinco anos.
E embora a Ciência já tivesse noção sobre esse conceito, a pesquisa, publicada na revista científica Cell em meados de outubro, demonstrou que é possível medir individualmente os elementos do ambiente a que cada pessoa está exposta.
Michael Snyder - de quem partiu a ideia original do estudo - disse à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, que o mais relevante "é que essas medições podem fazer uma grande diferença na maneira de estudar e prevenir doenças como asma e alergias", o que faz da pesquisa uma importante contribuição para a área de saúde.
O experimento
O experimento
Para realizar o experimento, os pesquisadores criaram um pequeno dispositivo para monitorar o ar e o amarraram no braço de 15 voluntários, que foram expostos a diferentes locações, enquanto o aparelho absorvia amostras tanto de suas órbitas pessoais quanto do ambiente ao seu redor.
Os elementos coletados pelo dispositivo (bactérias, fungos, vírus, etc.) produziram sequências de DNA e RNA que formaram um perfil químico único para cada voluntário.
No fim do estudo - que contemplou centenas de milhares de medições - os pesquisadores conseguiram acumular uma grande quantidade de dados sobre os componentes do seu próprio expossoma.
Snyder, que usou um dos dispositivos durante o experimento, descobriu que o dele continha elementos como pólen de eucalipto, possivelmente a causa de uma alergia que teve no passado.
Nuvem individual
Nuvem individual
Até então, o que se sabia sobre o expossoma humano é que as pessoas certamente estavam expostas a uma série de elementos presentes no ambiente.
No entanto, as medições a esse respeito só tinham sido feitas em larga escala - e não a nível individual.
"É por isso que nos concentramos principalmente nas partículas PM2.5 presentes na atmosfera, que são resultado da poluição e acabam sendo absorvidas pelos pulmões", explica Chao Jiang, outro autor do estudo.
Até agora, o expossoma também só havia sido analisado em lugares fixos da cidade, onde um dispositivo coletava amostras de ar.
"Agora podemos acompanhar os elementos a que a pessoa está exposta, onde quer que ela esteja", diz Snyder.
Os voluntários se deslocaram por diferentes áreas da Baía de São Francisco e foi demonstrado que, mesmo quando estavam no mesmo lugar, seus expossomas eram diferentes.
Isso confirma que cada indivíduo está cercado por sua própria nuvem microbiana, coletada e eliminada continuamente dos elementos a seu redor.
Os autores do estudo concordam que a maior contribuição da descoberta vai ser para a área de saúde, que não é determinada apenas por fatores genéticos, mas também ambientais.
Ao alcance de todos
Ao alcance de todos
"Muitos fatores genéticos foram estudados, mas não se sabe muito sobre como a exposição ambiental afeta a saúde das pessoas", explica Jiang.
O cientista acredita que aprofundar o conhecimento do expossoma humano será fundamental para entender e até prevenir doenças como câncer, asma, alergias, problemas cardíacos e respiratórios.
Na verdade, um dos achados mais relevantes do experimento foi a presença de partículas de repelentes de insetos em todas as amostras coletadas.
"As pessoas podem estar aspirando esse composto - e não se sabe o quão tóxico é para a saúde -, assim como o dietilenoglicol, que é altamente cancerígeno e foi encontrado em toda parte", diz Snyder.
Os geneticistas ainda não terminaram, no entanto, de estudar a "aura viva" que nos cerca. E já planejam os próximos passos:
"Queremos fazer um dispositivo mais barato, para que qualquer pessoa consiga mapear suas exposições individuais ao ambiente", diz Jiang.
"Condições como asma e alergias podem ser controladas muito melhor quando somos capazes de entender a que esses pacientes estão reagindo", explica.
No médio prazo, a equipe também planeja implementar essa tecnologia em lugares onde as pessoas são mais vulneráveis ao contágio ambiental, como hospitais e creches.
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