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domingo, 20 de julho de 2025

PIX é melhor que métodos de pagamento americanos e por isso virou alvo, diz ex-presidente do Banco Central

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Para Henrique Meirelles, governo brasileiro deve negociar revisão da taxa de 50% anunciada por Donald Trump — e, se for preciso, abrir mão de algumas das tarifas que tem em vigor contra os EUA.
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TOPO
Por Julia Braun

Postado em 20 de Julho de 2.025 às 11h00m

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Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, concede entrevista ao g1 — Foto: Fábio Tito/g1
Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, concede entrevista ao g1 — Foto: Fábio Tito/g1

Ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles vê a inclusão do PIX na lista de pontos que serão investigados pelo governo dos Estados Unidos como uma resposta à eficiência do mecanismo de pagamento brasileiro.

Em entrevista à BBC News Brasil, ele classifica o sistema como "rápido e eficiente" e "melhor do que todo o sistema de pagamento" americano.

Na terça-feira (15/07), o Executivo do presidente Donald Trump anunciou a abertura de uma investigação comercial contra o Brasil, após o anúncio da imposição de uma tarifa de 50% sobre qualquer produto brasileiro exportado aos EUA.

Entre as acusações feitas, que deverão ser apuradas ao longo do processo, estão eventuais irregularidades na adoção do PIX, desenvolvido pelo Banco Central durante o governo de Michel Temer (MDB) e lançado em novembro de 2020.

Mas segundo Meirelles, que serviu como presidente do Banco Central de 2003 a 2011 (primeiro e segundo governos Lula), a competição oferecida pela ferramenta brasileira para empresas como Google, Apple e Meta está no centro da motivação de Donald Trump para incluí-la em sua lista de alvos.

"O PIX é mais eficiente, não há dúvidas", diz o ex-ministro e ex-secretário da Fazenda de São Paulo. "Trump fala que isso está prejudicando o sistema de pagamento das empresas americanas, que são basicamente oferecidos pelas Big Techs."

Ainda segundo Henrique Meirelles, as alegações feitas pelos Estados Unidos de que o Brasil age de maneira desleal ao beneficiar alguns países, como México e Índia, com tarifas mais baixas, enquanto prejudica os Estados Unidos, não fazem sentido.

"O Brasil faz taxações generalizadas para proteger determinados mercados, mas eu não vejo benefício específico para alguns países."

Durante a conversa com a BBC News Brasil, o ex-ministro da Fazenda do governo Temer também defendeu que o governo brasileiro negocie a revisão da tarifa de 50% anunciada por Donald Trump - e, se for preciso, abra mão de algumas das taxas que tem em vigor atualmente contra os EUA.

"[Donald Trump] é um negociador que toma riscos fortes, mesmo na vida pessoal. (...) Eu acho que ele inclusive gosta de negociar - e aí tem que negociar sim. Mas o governo tem que estar disposto a ceder algumas tarifas que o Brasil aplica hoje", afirma.

Por outro lado, Meirelles diz que os pontos levantados pelo governo americano sobre o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à responsabilização das empresas de mídia social por publicações ilegais de seus usuários são "inegociáveis".

"Decisões judiciais não são negociáveis. O governo brasileiro não vai negociar em nome do Supremo, não faz sentido isso."

Mas o ex-ministro também não descarta totalmente o caminho da retaliação com a elevação de algumas tarifas brasileiras, caso as negociações não cheguem a uma conclusão.

"Mas isso precisa ser analisado com cuidado", recomenda. "Pode ser em um ou outro caso, mas não uma coisa generalizada."

Meirelles ainda defende a proteção da economia brasileira por meio da busca por novos mercados, em especial a ampliação dos laços econômicos com a China.

"O Brasil não tem nenhum confronto com a China, né? Certamente, a questão com o governo do Trump é evidente e ele próprio deixa muito claro, né? Mas de resto não há grandes problemas de relacionamento", diz.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

BBC News Brasil - Como o senhor avalia o anúncio dessas tarifas? Quais acredita que são as motivações do governo Donald Trump nesse momento?

Henrique Meirelles - Não há dúvida de que é um assunto muito polêmico e que vai ter algum efeito na economia brasileira, na medida em que as exportações para os Estados Unidos tendem a diminuir. Por outro lado, o efeito é menos importante do que para alguns outros países. Existe uma companhia que será direta e fortemente afetada que é a fábrica de aviões exportados para os Estados Unidos. Mas o restante das exportações são muito concentradas em commodities em geral, que é algo que pode se vender para qualquer outro país, particularmente para os países asiáticos que estão crescendo muito.

Em termos de motivação do governo Trump, elas ficam claras na carta dele. Ele acredita que decisões do Supremo Tribunal Federal sobre a divulgação de determinadas postagens na mídia social prejudicam as empresas americanas, e que o Brasil está, entre aspas, perseguindo as empresas americanas de comunicação.

Evidentemente que isso não faz sentido, na medida em que o tribunal toma decisões, baseado nas suas interpretações da lei brasileira e é um órgão independente, que não faz parte do Executivo.

BBC News Brasil - O senhor diria, então, que as motivações são muito mais políticas ou de interesses pessoais do que econômicas?

Meirelles - Divide um pouco. Ele tem a motivação política, não há dúvida, que ele deixa clara na carta. Por outro lado, ele acha que as empresas de mídia social americanas no Brasil estão sendo prejudicadas. Isso é uma motivação econômica.

BBC News Brasil - Para além das justificativas apresentadas pelo presidente Donald Trump e seu governo, o senhor vê alguma relação entre o protagonismo do Brasil nos Brics e as tarifas?

Meirelles - Não vejo como o grande motivador, mas existe sim alguma influência. O [presidente] Donald Trump está certamente irritado com a posição dos Brics, que ele vê como uma posição contrária aos Estados Unidos e a ele. Mas somente isso não justificaria uma tarifa de 50%, porque ele não aplicou [essa mesma taxaa outros membros do Brics.

BBC News Brasil - O senhor tem interlocutores fora dos EUA e do Brasil com quem conversou nos últimos dias sobre essas tarifas? Como eles estão vendo a taxação?

Meirelles - Em geral, a política de tarifas é vista negativamente pelos analistas do mundo todo, porque evidentemente tende a prejudicar a economia global. Não está prejudicando necessariamente ainda. O FMI fez uma projeção de que a economia global, que estava projetada para crescer 3,3%, vai expandir apenas 2,8%, mas isso não está totalmente transparente e solidificado ainda. Quer dizer, é uma previsão, mas a economia continua resiliente e surpreendendo muitos analistas.

BBC News Brasil - O Brasil deveria retaliar as tarifas?

Meirelles - O Brasil já aplica tarifas relativamente elevadas, em geral. Mas o país tem que, de fato, tomar medidas de defesa das suas empresas. Mas isso precisa ser analisado com cuidado, porque o problema da tarifa é que o país que aplica tem de um lado um ganho bloqueando um pouco os importados daquele setor específico, mas, por outro lado, sofre o efeito inflacionário.

É inclusive um pouco irônico, porque na medida em que as exportações brasileiras para os Estados Unidos diminuem um pouco, pode haver uma queda de demanda global para aqueles produtos e isso pode gerar um componente deflacionário. Ou seja, isso pode até ajudar o Banco Central a combater a inflação.

BBC News Brasil - Então retaliar com um aumento das tarifas não é o melhor caminho nesse momento?

Meirelles - Pode ser em um ou outro caso, mas não uma coisa generalizada.

BBC News Brasil - E no caso de uma tentativa de negociação, qual deve ser o argumento do governo brasileiro?

Meirelles - Eu acho muito difícil essa negociação, porque ele [Donald Trump] está basicamente alegando como motivação decisões do Supremo Tribunal Federal. E decisões judiciais não são negociáveis.

O governo brasileiro não vai negociar em nome do Supremo, não faz sentido isso.

BBC News Brasil - Mas há quem teorize que Donald Trump usa a estratégia da imprevisibilidade para conseguir seus objetivos políticos e econômicos com uma negociação posterior. Se for essa a estratégia usada nesse caso, como deve ser a negociação?

Meirelles - Ele é um negociador que toma riscos fortes, mesmo na vida pessoal. Muitas vezes perde, muitas vezes ganha – agora mesmo as empresas da família dele estão tendo lucros muito grandes, pelas tomadas de posições do mercado. Eu acho que ele inclusive gosta de negociar - e aí tem que negociar sim. Mas aí o governo tem que estar disposto a ceder algumas tarifas que o Brasil aplica hoje.

Por outro lado, tem algo aí que é inegociável, que é justamente negociar em nome do Supremo.

BBC News Brasil - Como o senhor avalia a estratégia do governo brasileiro até agora?

Meirelles - [O governo] está bem, né? No sentido de que a maior preocupação do governo, e do presidente, no momento, é a eleição de 2026. E as pesquisas têm mostrado que essa crise beneficia a candidatura do Lula e prejudica os candidatos da oposição, da direita. Dentro desse ponto de vista está ok, né? Não está [ok] para a oposição, certamente, que se prejudica, principalmente o governador de São Paulo, mas também o Eduardo Bolsonaro.

BBC News Brasil - Para qual mercados o Brasil deveria se voltar para substituir o peso dos EUA?

Meirelles - Pode-se trabalhar um pouco mais os mercados asiáticos e a própria China, que apesar de ser um grande exportador, é também um grande importador, principalmente de grãos.

E também os mercados europeus. Existem algumas dificuldades para o tratado de livre comércio com a Europa, principalmente em função da resistência de representantes da agricultura francesa, mas esses são os principais mercados a serem trabalhados.

BBC News Brasil - Nesse momento a China é um parceiro mais confiável e previsível que os EUA?

Meirelles - O Brasil não tem nenhum confronto com a China, né? Certamente, a questão com o governo do Trump é evidente e ele próprio deixa muito claro, né? Mas de resto não há grandes problemas de relacionamento. Acho que o Brasil tem que trabalhar, sim, esses outros mercados.

BBC News Brasil - Na investigação comercial anunciada pelos EUA contra o Brasil, o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos cita o que eles definem como 'práticas desleais' na adoção do PIX no Brasil. Na sua visão, por que o PIX virou alvo?

Meirelles - Porque o PIX favorece muito as transações financeiras e é muito eficiente. A justificativa do Trump é que isso prejudica companhias americanas que têm sistemas de pagamento. Ele vê o PIX como uma competição oficial do governo brasileiro com o sistema de pagamento das empresas americanas.

É tão simples quanto isso: é uma motivação pequena que se torna muito relevante porque são medidas do governo americano.

BBC News Brasil - Analistas dizem que as Big Techs estão por trás desse ataque de Trump ao PIX. Isso porque o PIX tiraria mercado do Apple Pay, Google Pay e WhatsApp Payments…

Meirelles - Não há dúvida de que o Trump fala que isso está prejudicando o sistema de pagamento das empresas americanas, que são basicamente oferecidos pelas Big Techs.

BBC News Brasil - As alegações sobre práticas desleais em relação ao PIX, em comparação com outros serviços de pagamento, fazem sentido na sua visão?

Meirelles - É uma questão da definição do que seria desleal. O PIX é mais eficiente, não há dúvidas, e isso beneficia a economia brasileira. Por exemplo, no ano passado, mais de 100 milhões de brasileiros usaram PIX. É um sistema eficiente e rápido, melhor do que todo o sistema de pagamento nos Estados Unidos.

Agora, se o fato de ser mais eficiente do que o sistema de pagamento de algumas empresas americanas torna [o uso do PIX] desleal, é uma questão conceitual, puramente subjetiva.

BBC News Brasil - Os EUA também alegaram que o Brasil beneficia alguns países, como México e Índia, com tarifas mais baixas, enquanto prejudica os Estados Unidos. Isso faz sentido?

Meirelles - O Brasil faz taxações generalizadas para proteger determinados mercados, mas eu não vejo o Brasil beneficiando especificamente alguns países. Existem alguns tratados [de redução de tarifas], mas que evidentemente são normais.

BBC News Brasil - O ministro Alexandre de Moraes restaurou a alta do IOF instituída pelo governo. Como o senhor avalia os impactos dessa medida para a economia brasileira?

Meirelles - A questão do IOF é muito controversa, porque o governo certamente está precisando aumentar a arrecadação e está usando o IOF para isso. Agora, por definição, o IOF é uma medida regulatória, que não é normalmente usada no Brasil e em outros países como um imposto arrecadatório – que é o que está acontecendo. Esse é o ponto principal.

Aquela questão de tirar o IOF de algumas transações importantes, eu acho que melhora um pouco a questão e viabiliza um pouco mais.

BBC News Brasil - O Moraes ter decidido sobre esse tema, quando já tinha sido derrubado, desmoraliza o Congresso, como dizem membros da oposição?

Meirelles - Não acho que desmoraliza o Congresso necessariamente. Existe uma controvérsia entre o Congresso e o Executivo, e o Judiciário se pronunciou exatamente sobre o assunto na medida em que ele foi acionado por uma das partes.

BBC News Brasil - Como o senhor avalia o projeto de reforma do Imposto de Renda (IR) e a proposta de taxação para os "super-ricos"?

Meirelles - Isso é uma coisa que tem que ser olhada com um pouco de cuidado. A isenção àqueles de menor renda, [está] tudo bem. O problema são esses aumentos generalizados para pessoas de renda mais alta ou para empresas. Isso aí pode, digamos, prejudicar um pouco da competitividade com o país sendo visto pelos investidores e etc como de taxação ainda mais elevada.

O Brasil é dos países que mais tributam no mundo, principalmente entre os emergentes. A nossa carga tributária é muito elevada. Então, aumentar ainda mais, tem algumas desvantagens importantes nesse aspecto de competitividade.

BBC News Brasil - Mas existem outros países, inclusive países europeus, que aplicam impostos para super ricos, com alíquota mais elevada, e que são competitivos, não?

Meirelles - São países já ricos, de renda muito alta, que taxam muito e oferecem muitas vantagens para os seus habitantes. Mas não são grandes competidores no comércio internacional. Os maiores competidores no comércio internacional hoje, além dos Estados Unidos, são a China, o Vietnã, etc.

Se pegarmos aqueles países, principalmente do norte da Europa, por exemplo, eles não são grandes competidores no mercado internacional de exportação ou de outras áreas, porque são países que taxam bastante. Mas, por outro lado, oferecem um padrão de atendimento à população muito elevado.

BBC News Brasil - O senhor poderia ser afetado pessoalmente por essa proposta?

Meirelles - Não sei, acho que pode ser. Eu não cheguei a examinar sob esse ponto de vista no momento. Mas não é algo que está me preocupando.

BBC News Brasil - A sua opinião não tem a ver com esse fato, então?

Meirelles - Não.

Ex-ministro Henrique Meirelles concede entrevista ao g1 sobre novo livro; veja íntegra
Ex-ministro Henrique Meirelles concede entrevista ao g1 sobre novo livro; veja íntegra

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Novo estudo alerta que faltam apenas 3 anos para os piores impactos das mudanças climáticas no mundo

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A cerca de quatro meses da COP 30, cientistas alertam para a falta de planos dos países para a redução das emissões de carbono e cumprimento do Acordo de Paris
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Por The Conversation**

Postado em 20 de Julho de 2.025 às 10h55m

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Presidente da COP30 pede mutirão internacional contra a mudança climática
Presidente da COP30 pede mutirão internacional contra a mudança climática

Notícias ruins sobre o clima estão por toda parte. A África está sendo particularmente atingida pelas mudanças climáticas e eventos climáticos extremos, impactando vidas e meios de subsistência.

Vivemos em um mundo que está aquecendo em uma taxa mais rápida desde o início dos registros. No entanto, os governos têm agido lentamente.

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) está a poucos meses de distância. Todos os 197 países membros das Nações Unidas deveriam ter apresentado planos climáticos nacionais atualizados à ONU até fevereiro deste ano. Esses planos descrevem como cada país reduzirá suas emissões de gases de efeito estufa em conformidade com o Acordo de Paris, um tratado internacional legalmente vinculativo. Este acordo compromete todos os signatários a limitar o aquecimento global causado pelo homem a não mais de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

Os governos também devem levar seus planos de ação climática nacionais recém-atualizados para a COP30 e mostrar como pretendem se adaptar aos impactos que as mudanças climáticas trarão.

Mas, até agora, apenas 25 países, que respondem por cerca de 20% das emissões globais, apresentaram seus planos, conhecidos como Contribuições Nacionalmente Determinadas. Na África, são eles a Somália, a Zâmbia e o Zimbábue. Isso deixa 172 ainda por vir.

As contribuições nacionalmente determinadas são muito importantes para estabelecer os compromissos de curto a médio prazo dos países em relação às mudanças climáticas. Elas também fornecem uma direção que pode informar decisões políticas e investimentos mais amplos. Alinhar os planos climáticos com os objetivos de desenvolvimento poderia tirar 175 milhões de pessoas da pobreza.

Mas, sem dúvida, apenas um dos planos apresentados – o do Reino Unido – é compatível com o Acordo de Paris.

Somos cientistas climáticos, e um de nós (Piers Forster) lidera a equipe de ciência global que publica o relatório anual Indicadores de Mudança Climática Global. Este relatório oferece uma visão geral do estado do sistema climático. Ele é baseado em cálculos das emissões líquidas de gases de efeito estufa globalmente, como estes estão se concentrando na atmosfera, como as temperaturas estão subindo no solo e o quanto desse aquecimento foi causado por humanos.

O relatório também analisa como as temperaturas extremas e as chuvas estão se intensificando, o quanto os níveis do mar estão subindo e quanto dióxido de carbono ainda pode ser emitido antes que a temperatura do planeta exceda 1,5°C acima do que era nos tempos pré-industriais. Isso é importante porque manter-se dentro de 1,5°C é necessário para evitar os piores impactos das mudanças climáticas.

Nosso relatório mostra que o aquecimento global causado pelo homem atingiu 1,36°C em 2024. Isso elevou as temperaturas médias globais (uma combinação de aquecimento induzido pelo homem e variabilidade natural no sistema climático) para 1,52°C. Em outras palavras, o mundo já atingiu o nível em que aqueceu tanto que não pode evitar impactos significativos das mudanças climáticas. Não há dúvida de que estamos em águas perigosas.

Imagem com temperaturas de até 54 °C na superfície mostra avanço da onda de calor no sul da Europa e Norte da África. Temperaturas extremas são consequências do aquecimento global. — Foto: Dados do Copernicus Sentinel (2025), processados ​​pela ESA
Imagem com temperaturas de até 54 °C na superfície mostra avanço da onda de calor no sul da Europa e Norte da África. Temperaturas extremas são consequências do aquecimento global. — Foto: Dados do Copernicus Sentinel (2025), processados ​​pela ESA

Nosso planeta está perigosamente quente

Embora as temperaturas globais do ano passado tenham sido muito altas, elas também foram alarmantemente comuns. Os dados falam por si. Os níveis recordes contínuos de emissões de gases de efeito estufa levaram ao aumento das concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso.

O resultado é o aumento das temperaturas, que estão consumindo rapidamente a cota de carbono restante (a quantidade de gases de efeito estufa que pode ser emitida dentro de um prazo acordado). Esta cota será esgotada em menos de três anos, aos níveis atuais de emissões.

Precisamos encarar esta situação de frente: a janela para nos mantermos dentro dos 1,5 °C está praticamente fechada. Mesmo que consigamos baixar as temperaturas no futuro, será um caminho longo e difícil.

Ao mesmo tempo, os extremos climáticos estão se intensificando, trazendo riscos e custos a longo prazo para a economia global, mas também, e mais importante, para as pessoas. O continente africano enfrenta agora a sua crise climática mais mortal em mais de uma década.

Seria impossível imaginar economias funcionando sem acesso rápido a dados fiáveis. Quando os preços das ações despencam ou o crescimento estagna, os políticos e os líderes empresariais agem de forma decisiva. Ninguém toleraria informações desatualizadas sobre vendas ou o mercado de ações.

Mas quando se trata do clima, a velocidade das alterações climáticas muitas vezes ultrapassa os dados disponíveis. Isto significa que não é possível tomar decisões rápidas. Se tratássemos os dados climáticos como tratamos os relatórios financeiros, o pânico se instalaria após cada atualização alarmante. Mas, embora os governos mudem rotineiramente de rumo quando enfrentam uma recessão econômica, eles têm sido muito mais lentos em responder ao que os principais indicadores climáticos — os sinais vitais da Terra — estão nos dizendo.

O aquecimento global está levando a Terra a um ponto crítico, principalmente no Ártico, onde os impactos das mudanças climáticas são ainda mais intensos. — Foto: Kathryn Hansen/NASA
O aquecimento global está levando a Terra a um ponto crítico, principalmente no Ártico, onde os impactos das mudanças climáticas são ainda mais intensos. — Foto: Kathryn Hansen/NASA

O que precisa acontecer a seguir

À medida que mais países desenvolvem seus planos climáticos, é hora de os líderes em todo o mundo enfrentarem as duras verdades da ciência climática.

Os governos precisam ter acesso rápido a dados climáticos confiáveis para que possam desenvolver planos climáticos nacionais atualizados. Os planos climáticos nacionais também precisam ter uma perspectiva global. Isso é muito importante para a justiça e a equidade. Por exemplo, os países desenvolvidos devem reconhecer que emitiram mais gases de efeito estufa e assumir a liderança na apresentação de esforços ambiciosos de mitigação e no fornecimento de financiamento para que outros países possam descarbonizar e se adaptar.

Na África, a ONU está organizando a Semana Climática da UNFCCC em Adis Abeba, em setembro. Além de fazer planos para a COP30, haverá sessões sobre o acesso ao financiamento climático e a garantia de que a transição para zero emissões de carbono causadas pelo homem até 2050 (zero líquido) seja justa e equitativa. A cúpula também tem como objetivo apoiar os países que ainda estão trabalhando em seus planos climáticos nacionais.

Se as contribuições determinadas nacionalmente forem implementadas, o ritmo das mudanças climáticas diminuirá. Isso é vital não apenas para os países — e economias — que atualmente estão na linha de frente contra as mudanças climáticas, mas também para o funcionamento da sociedade global.

Apenas cinco dos países do G20 apresentaram seus planos para 2035: Canadá, Brasil, Japão, Estados Unidos e Reino Unido. Mas o G20 é responsável por cerca de 80% das emissões globais. Isso significa que a atual presidência da África do Sul no G20 pode ajudar a garantir que o mundo priorize os esforços para ajudar os países em desenvolvimento a financiar sua transição para uma economia de baixo carbono.

Outro fator preocupante é que apenas 10 das contribuições nacionalmente determinadas atualizadas reafirmaram ou reforçaram os compromissos de abandonar os combustíveis fósseis. Isso significa que os planos climáticos nacionais da União Europeia, China e Índia serão fundamentais para testar sua liderança climática e manter vivas as metas de temperatura de 1,5 °C do Acordo de Paris. Muitos outros países examinarão o que esses países se comprometem a fazer antes de apresentar seus próprios planos climáticos nacionais.

Os dados em nosso relatório ajudam o mundo a entender não apenas o que aconteceu nos últimos anos, mas também o que esperar no futuro.

Nossa esperança é que esses e outros países apresentem planos ambiciosos e confiáveis bem antes da COP30. Se o fizerem, isso finalmente fechará a lacuna entre reconhecer a crise climática e fazer esforços decisivos para enfrentá-la. Cada tonelada de emissões de gases de efeito estufa é importante.

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O bloco de gelo de 1,5 milhão de anos que guarda segredos sobre o futuro do planeta

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A reportagem da BBC News entrou em freezers a -23ºC para ver o gelo que pode 'revolucionar' nosso conhecimento sobre as mudanças climáticas.
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Por BBC

Postado em 20 de Julho de 2025 às 07h00m

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A extremidade do núcleo de gelo pode ser uma cápsula do tempo de 1,5 milhão de anos ou até mais — Foto: PNRA/IPEV
A extremidade do núcleo de gelo pode ser uma cápsula do tempo de 1,5 milhão de anos ou até mais — Foto: PNRA/IPEV

Um núcleo de gelo que pode ter mais de 1,5 milhão de anos chegou ao Reino Unido, onde os cientistas vão derretê-lo para desvendar informações vitais sobre o clima da Terra.

O cilindro vítreo é o gelo mais antigo do planeta — ele foi extraído das profundezas da camada de gelo da Antártida.

Em seu interior, estão congelados milhares de anos de novas informações que, segundo os cientistas, podem "revolucionar" o que sabemos sobre as mudanças climáticas.

A equipe de reportagem da BBC News entrou na câmara frigorífica a -23°C do British Antarctic Survey, em Cambridge, para ver as preciosas caixas de gelo.

Os núcleos foram armazenados em uma caverna de gelo na Antártida antes de serem transportados de barco para a Europa — Foto: PNRA/IPEV
Os núcleos foram armazenados em uma caverna de gelo na Antártida antes de serem transportados de barco para a Europa — Foto: PNRA/IPEV

"Esse é um período completamente desconhecido da história da Terra", diz Liz Thomas, chefe de pesquisa de núcleos de gelo do British Antarctic Survey.

Luzes vermelhas de advertência piscam acima da porta e, lá dentro, há uma escotilha de emergência para um túnel, caso algo dê errado.

As regras dizem que só podemos entrar por 15 minutos de cada vez, usando macacões acolchoados, botas, gorros e luvas.

O obturador eletrônico da nossa câmera travou, e nosso cabelo começou a estalar à medida que congelava.

Em uma bancada ao lado de caixas de gelo empilhadas, Thomas aponta para os núcleos mais antigos, que podem ter 1,5 milhão de anos. Eles brilham, e são tão transparentes que podemos ver nossas mãos através deles.

Liz Thomas lidera uma equipe que vai analisar os núcleos de gelo no British Antarctic Survey — Foto: BBC News
Liz Thomas lidera uma equipe que vai analisar os núcleos de gelo no British Antarctic Survey — Foto: BBC News

Durante sete semanas, a equipe vai derreter lentamente o gelo arduamente conquistado, liberando poeira antiga, cinzas vulcânicas e até mesmo minúsculas algas marinhas chamadas diatomáceas que ficaram presas quando a água se transformou em gelo.

Esses materiais podem informar aos cientistas sobre padrões de vento, temperatura e níveis do mar há mais de um milhão de anos.

Tubos vão levar o líquido para máquinas em um laboratório ao lado, que é um dos únicos lugares no mundo capaz de fazer essa ciência.

As amostras de gelo em Cambridge vão ser derretidas lentamente ao longo de sete semanas — Foto: BBC News
As amostras de gelo em Cambridge vão ser derretidas lentamente ao longo de sete semanas — Foto: BBC News

Foi um grande esforço multinacional para extrair os núcleos de gelo na Antártida, a um custo de milhões. O gelo foi cortado em blocos de 1 metro e transportado de barco e, na sequência, em uma van refrigerada até Cambridge.

O engenheiro James Veal ajudou a extrair o gelo próximo à base Concordia, no leste da Antártida.

"Segurar aquilo cuidadosamente com as minhas mãos protegidas por luvas, e tomar muito cuidado para não deixar cair, foi uma sensação incrível", diz ele.

No total, 2,8 quilômetros de gelo foram extraídos — mais de oito Torres Eiffel empilhadas de ponta a ponta — Foto: PNRA/IPEV
No total, 2,8 quilômetros de gelo foram extraídos — mais de oito Torres Eiffel empilhadas de ponta a ponta — Foto: PNRA/IPEV

Duas instituições na Alemanha e na Suíça também receberam seções transversais do núcleo de 2,8 quilômetros.

As equipes podem encontrar evidências de um período de tempo há mais de 800 mil anos, quando as concentrações de dióxido de carbono podem ter sido naturalmente tão altas ou até mais altas do que são agora, de acordo com Thomas.

Isso poderia ajudá-las a entender o que vai acontecer no futuro, à medida que o nosso planeta reagir ao aquecimento dos gases retidos na nossa atmosfera.

A perfuração ocorreu a cerca de 40 quilômetros da estação de pesquisa franco-italiana Concordia — Foto: PNRA/IPEV
A perfuração ocorreu a cerca de 40 quilômetros da estação de pesquisa franco-italiana Concordia — Foto: PNRA/IPEV

"Nosso sistema climático passou por tantas mudanças diferentes que realmente precisamos ser capazes de voltar no tempo para entender esses diferentes processos e diferentes pontos de inflexão", diz ela.

A diferença entre a atualidade e as eras anteriores com altos níveis de gases de efeito estufa é que agora os seres humanos causaram o rápido aumento dos gases de aquecimento nos últimos 150 anos.

Isso está nos levando a um território desconhecido, mas os cientistas esperam que o registro da história ambiental do nosso planeta retido no gelo possa nos dar alguma orientação.

Níveis de monóxido de carbono estão mais altos do que em qualquer outro momentos nos últimos 800 mil anos — Foto: BBC
Níveis de monóxido de carbono estão mais altos do que em qualquer outro momentos nos últimos 800 mil anos — Foto: BBC

A equipe vai identificar isótopos químicos no líquido que podem nos indicar os padrões de vento, temperaturas e precipitação de um período de tempo entre 800 mil e 1,5 milhão de anos atrás ou possivelmente mais.

Eles vão usar um instrumento chamado espectrômetro de massas com plasma indutivamente acoplado (ICPMS, na sigla em inglês) para medir mais de 20 elementos e traços de metais.

Isso inclui elementos de terras raras, sais marinhos e elementos marinhos, assim como indicadores de erupções vulcânicas passadas.

O estudo vai ajudar os cientistas a entender uma mudança misteriosa chamada Transição do Pleistoceno Médio, de 800 mil a 1,2 milhão de anos atrás, quando os ciclos glaciais do planeta mudaram repentinamente.

James Veale fez parte da equipe na Antártida que perfurou e extraiu o gelo durante quatro estações — Foto: BBC News
James Veale fez parte da equipe na Antártida que perfurou e extraiu o gelo durante quatro estações — Foto: BBC News

A transição das eras mais quentes para as eras glaciais frias, quando o gelo cobria uma parte muito maior da Terra, ocorria a cada 41 mil anos, mas subitamente mudou para 100 mil anos.

A causa desta mudança é uma das "questões não resolvidas mais empolgantes" da ciência climática, de acordo com Thomas.

Os núcleos podem conter evidências de uma época em que os níveis do mar eram muito mais elevados do que são agora, e em que as vastas camadas de gelo da Antártida eram menores.

A presença de poeira no gelo vai ajudá-los a entender como as camadas de gelo encolheram e contribuíram para o aumento do nível do mar — algo que é uma grande preocupação neste século.

Super telescópio James Webb fotografa, pela primeira vez, um planeta fora do Sistema Solar
Super telescópio James Webb fotografa, pela primeira vez, um planeta fora do Sistema Solar


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