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sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Como cientistas querem fazer 'viagem no tempo' por meio do olfato

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Uma equipe de acadêmicos europeus embarca em um projeto de três anos para identificar e recriar cheiros de séculos atrás, como parte de um esforço para preservar o patrimônio olfativo do continente. 
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TOPO
Por BBC  
19/11/2020 18h08 Atualizado há um dia
Postado em 20 de novembro de 2020 às 16h00m


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Equipe de pesquisadores vai identificar e recriar os cheiros que chegaram ao nariz dos europeus há séculos — Foto: Rijksmuseum via BBC
Equipe de pesquisadores vai identificar e recriar os cheiros que chegaram ao nariz dos europeus há séculos — Foto: Rijksmuseum via BBC

Pinturas como a Mona Lisa atraem milhões de visitantes todos os anos a museus em todo o mundo. Imagine se, junto ao impacto visual da obra-prima de Leonardo da Vinci, eles também pudessem sentir o cheiro da cena pintada na Itália do início do século 16.

Tornar a visita a um museu muito mais divertida é apenas um dos objetivos de uma equipe de acadêmicos europeus que, nos próximos três anos, vão identificar os cheiros mais importantes no continente desde o século 16 até o início do século 20.

Financiado pela União Europeia, o projeto Odeuropa custará cerca de US$ 3,3 milhões (R$ 17,5 milhões) e envolverá cerca de 20 especialistas, incluindo historiadores de odores, perfumistas, químicos e cientistas da computação.

Eles pretendem criar uma Enciclopédia da Herança do Olfato. Ela vai trazer cheiros que atualmente podem existir apenas em descrições literárias, mas que serão recriados com a ajuda da tecnologia.

Especialistas esperam recriar cheiros como do ar das cidades britânicas durante a Revolução Industria — Foto: Getty Images via BBC
Especialistas esperam recriar cheiros como do ar das cidades britânicas durante a Revolução Industria — Foto: Getty Images via BBC

A biblioteca poderia incluir de tudo: desde o perfume de Maria Antonieta até o ar de fábrica de metais da revolução industrial.

Arqueologia do cheiro

"O objetivo do projeto é encontrar informações sobre nosso passado olfativo", disse à BBC o historiador cultural holandês Inger Leemans, que lidera o projeto Odeuropa.

"Os cheiros moldam a nossa experiência de mundo, mas temos muito poucas informações sensoriais sobre o passado", acrescenta.

"Além disso, os cheiros são muito voláteis e tendem a ser esquecidos muito rápido. Portanto, precisamos pensar em como preservá-los."

O trabalho começará em janeiro e especialistas vão explorar referências a cheiros em livros, documentos históricos, obras de arte e coleções de museus com a ajuda de um algoritmo que analisa menções em sete idiomas.

William Tullett, historiador do olfato da Anglia Ruskin University, no Reino Unido, que também está envolvido no projeto, diz que a importância do sentido olfativo ficou clara com a pandemia de covid-19.

"O olfato é essencial para nossas vidas diárias. Vimos isso na pandemia, em que as pessoas perdem o olfato após contrair covid-19", disse ele à BBC.

"O que queremos fazer é reconhecer que o cheiro é uma parte fundamental da experiência humana e captar isso."

Mas como resgatar cheiros do passado?

Aromas de uma cidade

Leemans explica que existem maneiras diferentes de fazer isso: os especialistas em química têm técnicas para descobrir informações sobre o cheiro de objetos históricos, extraindo partículas deles e analisando sua estrutura química.

Existe também uma forma interpretativa pela qual as condições históricas de um lugar são levadas em consideração, para que os especialistas determinem como ele cheirava em um determinado momento.

"Você pode ir de um aroma muito específico, como lavanda, ao cheiro do ar de uma cidade", diz o acadêmico holandês.

Esse conhecimento facilitará a última etapa do projeto Odeuropa, quando especialistas em química e perfumaria recriarão aromas e odores de outros tempos que serão utilizados por uma série de museus europeus em exposições especiais.

Uma das pesquisadoras envolvidas no projeto é a holandesa Caro Verbeek, historiadora da arte. Ela é especialista em história sensorial e foi curadora de experiências olfativas nos últimos 20 anos, sendo a mais recente no renomado Rijksmuseum em Amsterdã em 2015.

Em parceria com os perfumistas Birgit Sijbrands e Bernardo Fleming, Verbeek desenvolveu cheiros para várias obras famosas do museu, incluindo a Batalha de Waterloo de Jan Willem Pieneman (1824).

"No caso de A Batalha de Waterloo, tínhamos cheiros de pólvora misturados com lama, cavalo e couro, que as pessoas podiam sentir usando bastões perfumados", explica Verbeek à BBC.

"Isso mudou totalmente a forma como o público percebia as obras de arte e também foi uma forma mais inclusiva de as pessoas apreciarem-nas — pense nos cegos, por exemplo".

Verbeek acredita que o projeto da Odeuropa vai ampliar essa experiência.

"Cada vez mais pessoas poderão sentir o cheiro da história", acredita ela. "A mudança dos cheiros nos dá uma herança frágil; não podemos imaginá-los. Agora é hora de capturá-los e reproduzi-los."

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Pesquisa da Unicamp descobre pererecas-irmãs separadas pelo Rio São Francisco e nova espécie faz homenagem a Luiz Gonzaga

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Pithecopus gonzagai, como foi batizada, e Pithecopus nordestinus vivem atualmente de lados opostos do Velho Chico, no Nordeste. Neto do compositor gravou clipe em homenagem ao anfíbio; veja o vídeo.  
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Por Patrícia Teixeira, G1 Campinas e Região  
18/11/2020 06h00 Atualizado há 2 dias
Postado em 20 de novembro de 2020 às 13h50m


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Perereca da espécie recém-descoberta por pesquisadores da Unicamp, Pithecopus gonzagai — Foto: Rayany Gonçalves
Perereca da espécie recém-descoberta por pesquisadores da Unicamp, Pithecopus gonzagai — Foto: Rayany Gonçalves

Irmãs separadas por um grande rio há muitos anos que se reencontram com a ajuda da ciência. O que poderia ser enredo de filme traduz o resultado de um estudo da Unicamp, em Campinas (SP), que identificou uma nova espécie de perereca ao norte do Rio São Francisco. Longe das suas "irmãs" no lado sul, o pequeno anfíbio superou a barreira geográfica do "Velho Chico" e ganhou nome de Rei do Baião em homenagem à cultura nordestina.

Pithecopus gonzagai, como foi batizada, tem cores vivas, baixa estatura e diferenças acústicas e genéticas da Pithecopus nordestinus que foram essenciais na descoberta, publicada no último dia 10 na revista internacional, European Journal of Taxonomy, especializada na ciência da classificação de espécies.

E a homenagem a Luiz Gonzaga não ficou só no nome do bicho. A história da perereca localizada em Limoeiro (PE) - pernambucana como Gonzagão - é contada em um clipe exclusivo. Um baião que ganha vida na voz do cantor, compositor e instrumentista Daniel Gonzaga, neto do Rei e filho de Gonzaguinha. 

Assista ao clipe abaixo:

O estudo da Unicamp foi concluído em parceria com as universidades federais do Paraná (UFPR) e de Uberlândia (UFU), após uma extensa expedição por 27 localidades do Nordeste, em média 150 km distantes umas das outras, e análises minuciosas em laboratório.

"Chegamos num nível de estudos muito profundo com a nossa fauna brasileira, principalmente a de anfíbios. Chegamos nas espécies crípticas, que são aquelas indistinguíveis morfologicamente.", explica o doutor em biologia animal pela Unicamp e primeiro autor da pesquisa, Felipe Andrade. 
Geografia e reprodução

Junto com Andrade, assinam o artigo Isabelle Aquemi Haga (UFU), Johnny Sousa Ferreira (UFPR), Shirlei Maria Recco-Pimentel (Unicamp), Luís Felipe Toledo (Unicamp) e Daniel Pacheco Bruschi, professor do departamento de genética da UFPR, que, em seu doutorado, desenhou a estratégia da expedição para buscar as variações genéticas nos animais.

As análises e as percepções começaram anos atrás, em 2012, em meio à desconfiança de que o isolamento geográfico das populações pelo "Velho Chico" pudesse ter originado uma espécie nova ao longo de muitos anos. A reunião dos estudos ocorreu em 2019, e os pesquisadores verificaram que as duas espécies-irmãs são reprodutivamente isoladas.

"Analisamos sequências de DNA mitocondrial e DNA nuclear, e conseguimos constatar essa diferenciação entre as duas espécies", afirma Bruschi.

Pithecopus gonzagai, espécie-irmã de perereca encontrada na região Nordeste do Brasil — Foto: Michel de Aguiar Passos
Pithecopus gonzagai, espécie-irmã de perereca encontrada na região Nordeste do Brasil — Foto: Michel de Aguiar Passos

"Quando populações se reproduzem entre si, essas variações genéticas que surgem acabam se espalhando na espécie como um todo. Quando o fluxo gênico entre elas é interrompido, cada espécie passa a evoluir de maneira independente, acumulando variações genéticas que isolam uma das outras reprodutivamente.", completa o pesquisador.

Com auxílio da população local nas diversas cidades que visitaram, cerca de 200 pererecas foram coletadas; todas posteriormente depositadas em coleções científicas, segundo Bruschi. "Completamos com amostras depositadas em bancos de tecidos e coleções científicas brasileiras, que foram fundamentais nessa estratégia", afirma.

Além de Pernambuco, a gonzagai também ocorre nos estados de Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

Pesquisador Daniel Bruschi durante busca por pererecas para estudo sobre variação genética em lados opostos do Rio São Francisco — Foto: Arquivo pessoal
Pesquisador Daniel Bruschi durante busca por pererecas para estudo sobre variação genética em lados opostos do Rio São Francisco — Foto: Arquivo pessoal

Felipe Andrade ressalta as diferenças no canto da espécie e também em dados estatísticos encontradas ao longo da pesquisa, nas análises morfométricas.

"O canto, a gente encontrou uma diferença ou outra em relação à sua espécie-irmã. Acusticamente, elas são semelhantes. Em relação à morfologia externa, os bichos são muito parecidos, mas encontramos diferenças estatísticas importantes em relação ao tamanho corpóreo da gonzagai. Ela é menor do que a sua espécie-irmã", ressalta o taxonomista. 
Futuro incerto

Com a transposição do Rio São Francisco, que tem o objetivo de direcionar água para regiões mais secas do Nordeste, Andrade alerta que a mudança geográfica poderá impactar, no futuro, na conservação da nova espécie e da espécie-irmã já conhecida. Será preciso observar o comportamento delas ao longo de anos para traçar um diagnóstico.

"No artigo, fizemos duas predições: ou a transposição pode diminuir a eficácia do rio em atuar como uma barreira geográfica, que é o que observamos hoje, ou, ainda, pode criar novas barreiras artificiais em outros lugares. Sugerimos uma pesquisa de vários anos para avaliar, com uma base de dados espaçados no tempo.".

Felipe Andrade, taxonomista e doutor em biologia animal pela Unicamp — Foto: Arquivo pessoal
Felipe Andrade, taxonomista e doutor em biologia animal pela Unicamp — Foto: Arquivo pessoal

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Projeto Corredores Ecológicos restaura paisagens, beneficia animais e possibilita geração de empregos no Pontal do Paranapanema

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Instituto de Pesquisas Ecológicas almeja nos próximos cinco anos mais 5 mil hectares restaurados em novas florestas e 15 milhões de árvores plantadas e em regeneração.  
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Por Stephanie Fonseca, G1 Presidente Prudente

Postado em 20 de novembro de 2020 às 12h35m


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Corredores Ecológicos são formados no Pontal do Paranapanema  — Foto: Laury Cullen Junior
Corredores Ecológicos são formados no Pontal do Paranapanema — Foto: Laury Cullen Junior

Destaque no meio ambiental do Estado de São Paulo, o Pontal do Paranapanema, extremo do Estado de São Paulo, recebe um trabalho “gigante” que envolve componentes climáticos, comunidade e biodiversidade. Entre as metas que o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) almeja nos próximos cinco anos para a região estão 60 mil hectares de florestas protegidos, mais 5 mil hectares restaurados em novas florestas e agroflorestas, 15 milhões de árvores plantadas e em processo de regeneração.

Os projetos para a região são sempre relacionados à restauração de larga escala e também visam a conectar as áreas privadas com as unidades de conservação, entre eles os Corredores Ecológicos, que envolvem, principalmente, os municípios de Teodoro Sampaio, Mirante do Paranapanema, Euclides da Cunha Paulista e Marabá Paulista.

IPÊ tem metas para os próximos cinco anos — Foto: Instituto de Pesquisas Ecológicas
IPÊ tem metas para os próximos cinco anos — Foto: Instituto de Pesquisas Ecológicas

Coordenador de Projetos e Pesquisas do IPÊ, Laury Cullen Junior lembrou ao G1 que o Pontal do Paranapanema é uma das regiões do Estado com um dos últimos remanescentes da Mata Atlântica paulista.

É um importante ecossistema e a gente não quer plantar floresta de forma aleatória, a gente quer colocar todo esse esforço, essa visão e esse investimento no sentido da gente realmente conectar, fazer essa restauração de paisagens, à luz dos corredores ecológicos, além de promover a mudança de prática pelos agricultores, a gente tem um passivo ambiental enorme no Pontal, declarou.

As equipes também trabalham sobre a chancela do Código Florestal, que exige de proprietários de terras públicas e privados a restauração de florestas. A gente tem quase 60 mil hectares a serem restaurados e a gente quer, nos próximos cinco anos, restaurar no mínimo cinco mil hectares, afirmou Cullen Junior.

Coordenador de Projetos e Pesquisas do IPÊ, Laury Cullen Junior, em entrevista por videochamada  — Foto: Reprodução
Coordenador de Projetos e Pesquisas do IPÊ, Laury Cullen Junior, em entrevista por videochamada — Foto: Reprodução

Mapa dos Sonhos

O projeto de restauração da paisagem e florestas no Pontal do Paranapanema começou há aproximadamente 20 anos, por meio do Instituto de Pesquisas Ecológicas. Na metade desse tempo, o projeto, com suas grandes missão e ambição, ganhou um meio visual: o Mapa dos Sonhos.

Conforme Cullen Junior, o gráfico foi construído há cerca de dez anos e nele foi colocada a visão de restauração dentro desse escopo dos corredores de vida.

Esse mapa mostra uma missão muito grande. São quase 60 mil hectares a serem restaurados dentro do que exige o Código Florestal nas reservas legais e nas Áreas de Preservação Permanente, mas a gente colocou essa meta a curto prazo, nos próximos cinco anos, de restaurar cinco mil hectares, que vão ajudar a consolidar esses corredores em ação hoje, explicou ao G1.

Mapa dos Sonhos direciona projeto de restauração da paisagem e florestas no Pontal do Paranapanema — Foto: Instituto de Pesquisas Ecológicas
Mapa dos Sonhos direciona projeto de restauração da paisagem e florestas no Pontal do Paranapanema — Foto: Instituto de Pesquisas Ecológicas

As áreas de cor verde em tom mais escuro são as chamadas áreas remanescentes. A maior é onde está situado o Parque Estadual do Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio; depois há outros fragmentos florestais.

As áreas verdes em tom mais claro são corredores ecológicos já implantados e, em vermelho, são os espaços em implantação – ao norte e a oeste do PE Morro do Diabo.

O corredor oeste, segundo Cullen Junior, liga o parque estadual a um dos fragmentos da Estação Ecológica (Esec) do Mico-leão-preto, trecho que possui quase 1,3 mil hectares restaurados.

Há uma grande área que ainda não foi restaurada, então há uma ambição já em ação, que é o corredor ao norte do Parque Estadual do Morro do Diabo, que deve conectar o parque a outros fragmentos da Estação Ecológica do Mico-leão-preto.

O tamanho da área restaurada nos últimos 15 anos nesses dois corredores principais equivale a dois mil campos de futebol.

Imagem antes da restauração da paisagem — Foto: Laury Cullen Junior
Imagem antes da restauração da paisagem — Foto: Laury Cullen Junior


Imagem depois da restauração da paisagem — Foto: Laury Cullen Junior
Imagem depois da restauração da paisagem — Foto: Laury Cullen Junior

'Olhos'

De acordo com Cullen Junior, o trabalho de restauração tem uma pergunta como base: Como é que essas espécies enxergam essa paisagem?. Meio que a gente faz a restauração aos olhos dessas espécies, comentou ao G1.

As espécies indicadas pelo pesquisador são as chamadas detetives ou carros-chefes, que vêm sendo estudadas a longo prazo, bem como monitorados com novas tecnologias, e ajudam os pesquisadores no entendimento da paisagem.

Mico-leão-preto está entre as espécies que habitam o Pontal do Paranapanema e que já foram 'detetives ecológicos' — Foto: Gabriela Cabral Rezende
Mico-leão-preto está entre as espécies que habitam o Pontal do Paranapanema e que já foram 'detetives ecológicos' — Foto: Gabriela Cabral Rezende

Já estiveram no cargo de detetives ecológicos as onças-pintadas, as onças-pardas, as jaguatiricas, as antas e os micos-leões-pretos.

A estimativa é de que no Pontal habitam, e utilizam a floresta conectada, por volta de:

  • 30 onças-pintadas
  • 30 jaguatiricas
  • 1 mil antas
  • 1,4 mil micos-leões-pretos
Onça-pintada é uma das espécies carros-chefes no Pontal do Paranapanema — Foto: Divulgação/IPÊPrêmio Rolex 2004
Onça-pintada é uma das espécies carros-chefes no Pontal do Paranapanema — Foto: Divulgação/IPÊPrêmio Rolex 2004

São espécies raras, endêmicas, muitas ameaçadas e que estão abrigadas nesses remanescentes da Mata Atlântica, e que precisam desses corredores, que precisam dessas florestas conectadas para ter a sua sobrevivência garantida a longo prazo, 50 a 100 anos, explicou Cullen Junior ao G1.

Contudo, o coordenador lembrou que a região não conta somente com esses grandes mamíferos, há muitos outros da mesma classe, além de anfíbios, aves, e muitos outros. É um ecossistema muito único que ocorre em transição com o cerrado e isso gera diversidade, destacou.

De acordo com Cullen Junior, em relação à fauna, o Pontal tem aproximadamente 250 espécies de aves catalogadas. A flora também é muito rica e conta com espécies como o cedro, o jequitibá e os ipês, que só ocorrem em baixa densidade e que são muito consideradas na mata atlântica paulista.

Corredores Ecológicos envolvem comunidade e geração de empregos — Foto: Laury Cullen Junior
Corredores Ecológicos envolvem comunidade e geração de empregos — Foto: Laury Cullen Junior

Componentes

Com quase 15 anos de história e florestas plantadas, o projeto dos Corredores da Vida também é interessante devido aos três componentes envolvidos, ainda de acordo com o coordenador de pesquisas e projetos do IPÊ:

  • Clima
  • Comunidade/geração de empregos
  • Biodiversidade

Conforme explicou Cullen Junior, a questão climática está relacionada ao carbono. As florestas sequestram CO2 e neutralizam a emissão do gás. As compensações envolvem também grandes empresas, sempre dentro do escopo dos corredores.

No segundo componente, a comunidade é envolvida em qualquer serviço da cadeia da restauração. Nesse caso estão os assentados da reforma agrária e a agricultura familiar.

A gente tem um número bem consolidado hoje no mercado da restauração; a cada mil hectares restaurados a gente envolve 200 empregos diretos, ou seja, esses empregos estão sempre envolvidos na cadeia da restauração, dos serviços prestados ou da própria produção de mudas, a gente tem os grandes viveiros comunitários na região que prestam esse serviço de produção de mudas, então todo hectare plantado envolve os comunitários, explicou ao G1 o coordenador.

O ganho para a biodiversidade local compõe o terceiro pilar. A região tem, em especial, o mico-leão-preto, uma espécie endêmica e ameaçada, além de espécies como a anta e as onças-pintadas.

Esses corredores são feitos pra isso, para trazer melhoria de clima, trazer geração de renda e trazer ganho pra biodiversidade, para essas espécies todas endêmicas e ameaçadas que ocorrem no Oeste Paulista, salientou Cullen Junior.

O coordenador ainda contou que os corredores ecológicos foram concebidos por conta dos micos-leões-pretos.

Eles têm baixa capacidade de locomoção em paisagens de pastagens e antropizadas, culturas agrícolas, eles ocorrem em baixa densidade, então eles precisam de uma forma de conexão pra eles encontrarem outros parentes próximos, então se isso não acontecer ocorrem sérios problemas genéticos que podem levar essa população à extinção num curto prazo, comentou.

Mico-leão-preto é uma das espécies que vivem nas florestas do Pontal do Paranapanema — Foto: Divulgação/IPÊPrêmio Rolex 2004
Mico-leão-preto é uma das espécies que vivem nas florestas do Pontal do Paranapanema — Foto: Divulgação/IPÊPrêmio Rolex 2004

Corredores de negócios

As florestas do Pontal do Paranapanema são formadas por áreas públicas estaduais e federais, que são o Morro do Diabo e a Esec Mico-leão-preto, respectivamente – juntas somam quase 40 mil hectares de terras – e privadas.

Além dessas duas áreas públicas, acredita-se que há mais uns 10 mil hectares em áreas privadas, que são florestas que ocorrem em áreas de fazendas, que fazem parte das reservas legais, que nosso código florestal e a própria lei da Mata Atlântica exigem que sejam mantidas e conservadas, conforme Cullen Junior.

É esse conjunto de florestas remanescentes que oferece a grande oportunidade de conservação de espécies, mas que também exige essas conexões por estarem isoladas e às vezes distantes uma das outras.

Essas conexões são esses corredores ecológicos, que vão, no curto, médio e longo prazos, permitir que essas espécies se movimentem e evitem problemas sérios genéticos e demográficos, afirmou o pesquisador ao G1.

Pontal do Paranapanema abriga o maior remanescente de Mata Atlântica no Estado de SP — Foto: Divulgação/IPÊPrêmio Rolex 2004
Pontal do Paranapanema abriga o maior remanescente de Mata Atlântica no Estado de SP — Foto: Divulgação/IPÊPrêmio Rolex 2004

Cullen Junior ainda enfatizou que são importantes as participações do ente público, mas só esse apoio não garante que essas espécies sobrevivam, por isso, e pela localização de remanescentes, existem as associações e parcerias com fazendeiros e assentamentos do Pontal.

Além disso, ainda são necessárias parcerias em longo prazo e acordos para que essas florestas fiquem em pé e que exista a possibilidade de envolver tanto os fazendeiros quanto os assentados nesse grande projeto de conservação.

É importante enfatizar que a gente fala que são corredores de vida, mas são corredores de negócios também, porque, além de eles trazerem esse aspecto de conservação, essa restauração propicia esse negócio entre as entidades ambientais e esses grandes proprietários rurais, que estão cada vez mais pressionados pela lei florestal e pelos próprios ministérios públicos, a resolverem suas pendências ambientais, afirmou.

O pesquisador ainda colocou que ao mesmo tempo em que a gente consegue trazer conservação de espécies, de vida, a gente também consegue apoiar esses grandes proprietários a regularizarem ambientalmente as suas propriedades. Acho que é uma grande oportunidade de a gente trazer uma parceria e um Pontal bom pra todos, disse.

A gente consegue fazer um tripé muito interessante, onde o IPÊ consegue fazer essa visão de longo prazo com esse mapa dos sonhos, a governança na captação de recursos, os grandes caras entram com essas grandes áreas e os pequenos proprietários entram com esses serviços; o que gera uma equação muito interessante, argumentou o pesquisador.

Cullen Junior lembrou ao G1 do histórico de sérios conflitos relacionados à reforma agrária e ocupações de terra no Pontal do Paranapanema e ressaltou:

Onde a gente sempre teve conflito entre o pequeno e o grande, o pequeno MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra], o assentado, a agricultura familiar, e o grande, hoje a gente tem negócios; hoje nós temos assentado invadindo, entre aspas, essas grandes terras, não pra busca de conflito, mas pra busca de conservação. Então, foi uma equação muito grande que a gente conseguiu resolver, unindo os grandes, os pequenos em prol da conservação da natureza, salientou.

O coordenador de pesquisas do IPÊ ressaltou ainda a importância da instituição, com seus legado, permanência e presença a longo prazo, bem como seu papel de longa data na captação de recursos para oferecer o ambiente de oportunidade de parceria.

Ganham todos. É uma situação que todos os lados ganham, ganha o proprietário, que tem sua propriedade regularizada ambientalmente à luz do Código Florestal, ganham as próprias comunidades rurais nesse aspecto de geração de renda, em termos de serviços e de venda de mudas, e ganham o IPÊ, as entidades, a ciência. Ganha a vida, frisou ao G1.

Um dos trabalhos junto à comunidade é a plantação de mudas — Foto: Laurie Hedges
Um dos trabalhos junto à comunidade é a plantação de mudas — Foto: Laurie Hedges

Ganho de florestas

O Pontal do Paranapanema é uma das últimas áreas que mais ganhou floresta nos últimos cinco anos, conforme contou Cullen Junior ao G1, com base em estatísticas do SOS Mata Atlântica, por meio do Atlas de Conservação da Mata Atlântica.

No dado, vai ver que o Estado de São Paulo, o oeste do estado de São Paulo conseguiu recuperar floresta.

Então, a gente não tem mais problema de desmatamento no Pontal, muito pelo contrário, a gente teve ganho de cobertura florestal. E essa nossa parceria vem junto com as próprias exigências do nosso Código Florestal de hoje e essa nova lei florestal exige e dá no máximo 20 anos pra que esses proprietários públicos e privados tragam essa floresta de volta; nem todos têm esse recursos, declarou.

Imagem antes da restauração da paisagem — Foto: Laury Cullen Junior
Imagem antes da restauração da paisagem — Foto: Laury Cullen Junior


Imagem depois da restauração da paisagem — Foto: Laury Cullen Junior
Imagem depois da restauração da paisagem — Foto: Laury Cullen Junior

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