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Com o mesmo investidor do Newcastle, time que comprou Lucho Rodríguez faz parte de megaprojeto do governo saudita que pretende construir cidades tecnológicas no deserto e atua em diferentes esportes<<<===+===.=.=.= =---____-------- ----------____---------____::____ ____= =..= = =..= =..= = =____ ____::____-----------_ ___---------- ----------____---.=.=.=.= +====>>>
Por Isabela Reis — Rio de Janeiro
Postado em 12 de Setembro de 2.025 às 12h00m
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Conheça o Neom, clube de cidade futurista na Arábia Saudita que ainda não existe
NEOM - neo (prefixo latino que significa "novo") + m (abreviação de "Mostaqbal", palavra árabe que significa "futuro" )
Uma transferência entrou para o livro dos recordes do futebol brasileiro na última semana. O Bahia vendeu o atacante Lucho Rodríguez para o Neom por 22 milhões de euros incluindo bônus, o equivalente a R$ 139,3 milhões - o negócio mais caro da história da região Nordeste.
O novo destino do jogador é um clube que acabou de chegar à Primeira Divisão da Arábia Saudita e faz parte de um projeto trilionário que promete misturar futuro, sustentabilidade e tecnologia com muito esporte. O objetivo é construir uma região futurística que será uma das principais sedes da Copa do Mundo de 2034.
+ Bahia encaminha venda de Lucho Rodríguez para futebol saudita com valor recorde no Nordeste
Camisa de aquecimento do Neom antes de duelo contra a Roma na pré-temporada — Foto: Giuseppe Maffia/NurPhoto via Getty Images
— O logotipo de Neom é o "ciclo do futuro" e representa o espírito da nossa missão: criar um "novo futuro" baseado em cinco princípios fundamentais: natureza, tecnologia, habitabilidade, sustentabilidade e comunidade. Eles são nossos guias enquanto construímos e implementamos nosso projeto — explica o site oficial.
Projeto Neom
Neom é um plano de "terra do futuro" na Arábia Saudita. A ideia é criar uma nova região que será construída no deserto e pode chegar a custar R$ 5 trilhões (1 trilhão de dólares). O centro do planejamento é a construção de cinco cidades, com características específicas e que sejam centros de negócios, habitação e conservação ambiental.
Veja o projeto de Neom, região futurística da Arábia Saudita
Todo projeto é financiado pelo Fundo de Investimento Público da Arábia (PIF, na sigla para Public Investment Fund) e liderado pelo príncipe Mohammed bin Salman (o "M" do nome Neom também é uma homenagem ao herdeiro saudita).
As cinco cidades futurísticas são: Sindalah, uma ilha resort de luxo; Trojena, uma região de montanha a 2.600 metros acima do nível do mar; Oxagon, uma cidade industrial flutuante; Magna, região costeira no Golfo de Aqaba; The Line, uma construção linear de 170 km de comprimento (equivalente a 1700 campos de futebol) e 500 metros de altura.
Maquete do projeto de cidade vertical do Neom exposta em Seul, na Coreia do Sul — Foto: Chris Jung/NurPhoto via Getty Images
A mais famosa é a última delas. "The Line" promete abrigar até nove milhões de pessoas (o equivalente a quase toda população do estado do Ceará) e funcionar com 100% de energia renovável, sem carros ou estradas. Segundo o plano, toda locomoção será possível em "uma caminhada de cinco minutos" ou com trens de alta velocidade, além de possuir um regulador climático para todo o ano.
Outro destaque prometido pelo Neom é o primeiro estádio suspenso do mundo, dentro da "The Line". Homônimo ao clube e ao projeto, ele será sustentado a 350 metros de altura, terá vista para o Mar Vermelho e capacidade para abrigar 46 mil pessoas. A previsão é que a arena seja inaugurada em 2032 e seja uma das estrelas na Copa do Mundo do país.
Se você estiver no 50ª andar de um prédio e quiser se locomover por dois quilômetros para o estádio para asssistir a Neom x Barcelona, por exemplo, você vai usar um dos vários sistemas de transporte. Pode ser tanto 10 andares acima ou abaixo de você
Para demonstrar sua força e promover a proposta através do esporte, o projeto pegou um time de futebol para chamar de seu. O atual clube Neom se chamava Al-Suqoor, clube criado em 1965, sem títulos em sua história e que nunca havia disputado a elite saudita.
A mudança veio em 2023, quando o time trocou de nome, entrou para o conglomerado do Neom e passou a também ser financiado pelo Fundo Saudita. O apoio financeiro do PIF, assim como no restante do programa, é um sinal do tamanho que o projeto quer alcançar. Força essa que já se provou em outras equipes.
Neom SC conquista acesso para a Saudi Pro League 25/26 — Foto: Divulgação / Neom
O investidor é dono dos quatro maiores clubes da Arábia Saudita (Al-Hilal, Al-Nassr, Al-Ittihad e Al-Ahli) e grandes campeões do cenário asiático. E ainda expande seu poderio para o exterior - o PIF também controla o Newcastle, clube de brasileiros como Bruno Guimarães e Joelinton na Premier League.
Enquanto a sede futurística não fica pronta, o Neom treina e recebe seus jogos em Tabuk, cidade vizinha ao projeto. A primeira conquista veio em abril do ano passado com a classificação para o principal Campeonato Saudita e com ajuda brasileira. O responsável pela promoção foi Péricles Chamusca, técnico com passagens por Botafogo e Vitória que comandou o time de maio do ano passado até julho deste ano.
Vista interna do projeto de estádio do Neom na cidade futurítisca — Foto: Divulgação / Neom
Além do treinador, o Neom também teve jogadores do Brasil em sua história. Por exemplo, já passaram por lá Romarinho, ex-Corinthians e atualmente no Vitória, Carlos Júnior, revelado pelo Atlético-MG, e Petros, ex-São Paulo.
Atualmente, o técnico é Christophe Galtier, ex-Paris Saint-Germain. O Neom fez três amistosos na pré-temporada, incluindo um empate de 2 a 2 contra a Roma na Itália, e estreou na Liga Saudita no último dia 28, em uma derrota de 1 a 0 para o Al-Ahli.
Ação multiesportiva
Apesar do grande destaque ser o mais novo competidor da liga saudita de futebol, a proposta do Neom quer ir muito além no quesito esporte. O projeto investe em diferentes frentes para incentivar competições esportivas e estimular o estilo de vida saudável.
Desenvolvemos e promovemos um ambiente de vida ativo para as comunidades de NEOM por meio do esporte, bem-estar físico e esportes de aventura. Nossa missão é unir comunidades, promover estilos de vida ativos e contribuir para uma economia dinâmica e próspera.
Para os amantes de carros, por exemplo, a cidade futurista é dona de uma equipe de corrida automobilística sustentável. Em 2022, a Neom se uniu a McLaren, montadora britânia famosa na Fórmula 1, para se aventurar na Fórmula E. A categoria é a primeira totalmente elétrica do mundo, ou seja, sem emissões de carbono.
Carro da Neom Racing durante treino do E-Prix de Portland (EUA), em junho do ano passado — Foto: John Lamparski/Getty Images
No futebol, a Neom investe também na base. O projeto anunciou há três anos o Shuhub, programa em parceria com a Confederação Asiática de Futebol (AFC) que se propõe a desenvolver a nova geração de talentos sauditas através de treinamento de alto rendimento e criação de instalações esportivas. A proposta faz turnês pelo país e atende mais de 400 meninos e meninas.
A empresa também possui a "Neom Beach Games", um torneio anual para esportes de praia, como o basquete 3x3, a natação e o triatlo. Aliás, a seleção brasileira masculina de futebol de areia é tricampeã nas últimas edições consecutivas do evento. Sem contar os patrocínios, como à Champions League da Ásia e às Eliminatórias da região para a última Copa do Mundo, no Catar.
Seleção brasileira de futebol de areia com a taça do NEOM Beach Games 2023 — Foto: Francois Nel/Getty Images
Outro exemplo do interesse no esporte já está marcado no calendário da futura região. A Neom foi escolhida pelo Conselho Olímpico da Ásia (OCA) para sediar os Jogos Asiáticos de Inverno de 2029. A competição será em Trojena, um complexo luxuoso que faz parte da estrutura futurística e inclui diferentes possibilidades nas montanhas sauditas.
Controvérsias e denúncias
Apesar de vender um futuro sustentável e um "lar para sonhadores e realizadores", o projeto Neom foi alvo de graves críticas públicas nos últimos anos. Em 2024, uma reportagem da BBC inglesa denunciou que as áreas de construção das cidades futurísticas eram de aldeias originárias da região, que foram tiradas à força e sem indenização adequada.
A matéria se baseou em relatos da ONU e do ALQST, grupo ativista árabe de direitos humanos. Segundo eles, algumas aldeias nativas foram demolidas, como al-Khuraybah, Sharma e Gaya, e pelo menos 47 cidadãos foram detidos por resistirem à invasão.
Poster de grupo ativista refaz o logotipo do projeto Neom com imagens de denúncias — Foto: Divulgação / ALQST
Neom também gerou insatisfação no viés ambiental. O ALQST produziu um manifesto no ano passado, intitulado "Uma avaliação de impacto ambiental e de direitos humanos: um briefing para potenciais parceiros e investidores". O documento garante que o projeto é um sintoma do esforço das autoridades sauditas para fazer "greenwashing" - prática de promoções sustentáveis para maquiar impactos maiores do mesmo causador.
— A dependência do projeto em tecnologias não comprovadas e o "tecno-otimismo", uma forma de "atraso climático", lançam dúvidas sobre a genuinidade de toda a narrativa verde das autoridades. Sua ambição declarada de construir a megacidade verde do futuro está claramente em desacordo com a direção política mais ampla do reino, como sua promessa de "aumentar a extração de combustíveis fósseis" — diz o manifesto.