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segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Últimos 8 anos foram de calor recorde no mundo; no Brasil, ondas de frio fizeram a temperatura cair em 2022, menos na Amazônia

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Temperatura global no ano passado ficou 1,2 ºC acima dos níveis pré-industriais, segundo o serviço de monitoramento da União Europeia. Em parte do Brasil, termômetros ficaram abaixo da média
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Por Júlia Putini e Roberto Peixoto, g1

Postado em 16 de janeiro de 2023 às 18h45m 

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As temperaturas extremas em 2022, principalmente na Europa e na China, contribuíram para que os últimos oito anos fossem os mais quentes registrados no mundo, de acordo com o Copernicus, serviço de monitoramento do clima da União Europeia (UE). No geral, a temperatura global no ano passado ficou 1,2 ºC acima dos níveis pré-industriais do século 19.

No Brasil, porém, o cenário foi diferente em 2022. Ondas de frio atípicas fizeram a temperatura média cair na maior parte do país. A exceção foi na região da floresta amazônica, que não recebeu essas ondas e apresentou aumento na média de temperatura. (Veja no mapa abaixo.)

Comparação das temperaturas de 2022 feita pelo sistema Copernicus — Foto: Copernicus/ECMWF - Arte/g1/Kayan Albertin
Comparação das temperaturas de 2022 feita pelo sistema Copernicus — Foto: Copernicus/ECMWF - Arte/g1/Kayan Albertin

Meteorologistas ouvidos pelo g1 dizem que não houve nenhum fenômeno meteorológico específico que justificasse esse quadro na Amazônia.

O que se tem de dados é que, principalmente no segundo semestre de 2022, tivemos meses mais quentes, que coincidiram com o período mais seco, fazendo com que as temperaturas no ano ficassem acima da média.

"O El Niño e a La Niña estão mais associados com a questão de secas e chuvas, respectivamente, mas não explicam a temperatura elevada", afirma Bruno Kabke Bainy, meteorologista do Cepagri/Unicamp.

Segundo ele, não se pode descartar a influência do aquecimento global para explicar essas variações nas temperaturas do país em geral.

"Embora em 2022 o Brasil tenha tido essas amplas áreas com temperaturas anuais mais baixas, isso não implica em uma tendência ou tampouco contraria as evidências de mudanças climáticas."

— Bruno Kabke Bainy.

No caso da Amazônia, os constantes recordes de desmatamento, queimadas e focos de calor só agravam o aquecimento global. Já em setembro de 2022, o número de queimadas registradas na floresta tinha superado o total de 2021 inteiro, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

A Floresta Amazônica é questão central no debate ecológico internacional — Foto: Getty Images
A Floresta Amazônica é questão central no debate ecológico internacional — Foto: Getty Images

Também no ano passado, o Deter registrou a pior marca da série histórica anual, com um acumulado de alertas de desmatamento na Amazônia Legal de mais de 10 mil km², área equivalente ao tamanho da cidade do Recife.

De acordo com o Copernicus, o ano de 2022 no mundo foi o quinto ano mais quente já registrado na história. Também chegaram a essa conclusão a Nasa, a agência espacial norte-americana, e a Organização Meteorológica Mundial (OMM), só que usando base de dados diferentes e outras metodologias.


O estudo do Copernicus também mostrou que:

  • A La Niña persistiu durante boa parte do ano, pelo terceiro ano consecutivo.
  • A Europa teve seu segundo ano mais quente já registrado, superado 2020. Além disso, o continente viveu o verão mais quente desde que há registos climáticos.
  • A temperaturas relativamente baixas e a alta pluviosidade no leste da Austrália no ano passado são características climáticas tipicamente associadas ao La Niña.
  • Em fevereiro, a extensão do gelo do mar Antártico mostrou seu nível diário mais baixo em 44 anos de registros de satélite.
  • Em nenhum lugar do globo, tivemos uma região com o ano mais frio já registrado.
Cenário brasileiro
São Joaquim (SC) teve frio intenso e geada no primeiro domingo de maio — Foto: Mycchel Legnaghi/São Joaquim Online
São Joaquim (SC) teve frio intenso e geada no primeiro domingo de maio — Foto: Mycchel Legnaghi/São Joaquim Online

A diferença do Brasil para o resto do mundo em 2022, com temperatura média mais baixa, pode ser explicada por alguns eventos climáticos adversos, que ocorreram de maneira pontual, segundo o meteorologista Bruno Bainy.

Como o serviço europeu não fornece dados específicos para países como o Brasil, o pesquisador, a pedido do g1, comparou as informações do Copernicus com os balanços mensais de temperatura do Instituto Nacional de Meteorologia, o Inmet, até novembro (os dados de dezembro ainda estão em análise pelo instituto) e verificou que batem com o mapa.

As principais conclusões dele foram que:

  • Os últimos meses do ano podem ter sido os principais responsáveis pela temperatura anual abaixo da média no Brasil. Isso porque foi justamente nessa época que um frio histórico foi registrado em algumas regiões do país.
  • Novembro, por exemplo, foi um mês atipicamente frio para boa parte da metade leste do país, com temperaturas muito abaixo da média no Sul, Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste.
  • Essa onda de frio foi tão excepcional que, segundo o Inmet, no ano passado, o Brasil teve o mês de novembro mais frio dos últimos 46 anos.
  • Já no primeiro semestre, houve uma grande variabilidade nas temperatura em todo o país, com meses mais quentes, mais frios e dentro da média em todos os estados e regiões.
  • Um exemplo disso foi a onda de frio bastante intensa que derrubou as temperaturas em grande parte do país em maio e o mês de julho muito mais quente que o normal, com temperaturas bem acima da média para praticamente todo o território brasileiro (exceto entre o ES, norte de MG e o Nordeste).
  • Já na região do Centro-Oeste e da Amazônia, houve a persistência de meses mais quentes no final de 2022.
Aquecimento global
Manifestante em ato em 2019 em Washington contra o aquecimento global — Foto: Kevin Lamarque/Reuters
Manifestante em ato em 2019 em Washington contra o aquecimento global — Foto: Kevin Lamarque/Reuters

O impacto do aquecimento global não significa apenas ondas de calor, mas, sim, desequilíbrio nas dinâmicas do planeta.

Em entrevista ao Jornal Nacional, Giovanni Dolif, meteorologista do Centro de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden) em São José dos Campos, explicou que a todo momento sistemas meteorológicos se formam na atmosfera, jogando ventos mais quentes em direção aos polos, impedindo que eles esfriem demais. Enquanto isso, os ventos mais frios seguem em direção à linha do Equador.

Com a temperatura média do planeta aumentando, esses sistemas ficam mais intensos, buscando equilíbrio mais rapidamente. O resultado? Ventos mais fortes, tempestades e ondas de frio onde antes não tinha.

No vídeo abaixo, veja como o aquecimento global influencia no frio que provocou recordes de temperatura pelo Brasil:

Entenda como aquecimento global influencia as massas de ar quente e frioEntenda como aquecimento global influencia as massas de ar quente e frio

La Niña

O estudo do Copernicus mostra também uma tendência que já tinha sido alvo de alerta no final do ano passado.

Por causa do aumento contínuo das concentrações de gases de efeito estufa e o acúmulo constante de calor na nossa atmosfera, a Organização Meteorológica Mundial havia previsto que os últimos oito anos estavam a caminho de serem os mais quentes já registrados.

Quanto maior o aquecimento, piores os impactos. Temos níveis tão altos de dióxido de carbono [um dos maiores contribuintes para a crise climática] na atmosfera agora que o 1,5°C do Acordo de Paris está mal ao nosso alcance, disse à época o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.

E isso vem preocupando meteorologistas e cientistas do clima porque esse aumento se confirmou mesmo com a influência da La Niña, um evento climático natural que manteve as temperaturas globais relativamente baixas nos últimos dois anos.

Nos anos em que ocorrem o fenômeno, a temperatura tende a cair mundialmente 0,2 °C, o que mascara os efeitos do aquecimento global. Mesmo assim, 2022 foi um dos anos mais quentes da história.

"A grande sacada do estudo do Copernicus é que, mesmo sob o efeito da La Ninã, 2022 foi um dos anos mais quentes da história desde quando se fazem medições meteorológicas", avalia o meteorologista da Unicamp. 
Oscilação Antártica

Pedestre tenta se proteger do frio no centro de São Paulo no mês de maio, considerado o mais frio desde 1990 — Foto: Rentato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo
Pedestre tenta se proteger do frio no centro de São Paulo no mês de maio, considerado o mais frio desde 1990 — Foto: Rentato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Além da La Ninã, que favorece essa entrada de um ar mais frio e provoca mudanças nos padrões de chuva em diversos lugares, Bainy explica que as temperaturas baixas que aconteceram também em maio e novembro no país foram influenciadas por um padrão de variabilidade climática conhecido como Oscilação Antártica, que favorece a incursão de frentes frias vindas do continente gelado até a América do Sul.

O fenômeno, que tem três fases distintas (neutra, positiva e negativa), faz com que fortes ventos soprem quase continuamente nas latitudes médias e altas do hemisfério sul.

O pesquisador, porém, é cauteloso ao afirmar que não é possível saber ao certo de que forma a crise do clima poderá afetar a periodicidade e a ocorrência de eventos do tipo.

"Mas as mudanças climáticas imprimem alterações nesses mecanismos de variabilidades climáticas", destaca. 
Tendência de aquecimento
Queima de combustíveis fósseis impacta no aquecimento global — Foto: Reuters/Yves Herman/File Photo
Queima de combustíveis fósseis impacta no aquecimento global — Foto: Reuters/Yves Herman/File Photo

Carlo Buontempo, diretor do sistema Copernicus, afirma que os dados do estudo não são surpreendentes ou inesperados, uma vez que há uma tendência de aumento das temperaturas desde a era pré-industrial.

O século 19 marcou o início das emissões de dióxido de carbono por meio da queima de combustíveis fosseis e, desde então, a temperatura da Terra subiu 1,2°C.

É importante lembrar que 1,5°C é o chamado limite seguro das mudanças climáticas.

Esse é o limiar de aumento da taxa média de temperatura global que temos que atingir até o final do século para evitar as consequências da crise climática provocada pelo homem por causa da crescente emissão de gases de efeito estufa na nossa atmosfera.

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