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domingo, 3 de maio de 2020

Idosos, negros, minorias: quem é deixado para trás na pandemia

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“A Covid-19 descortinou um Brasil que a gente não queria ver. Isso só vai mudar quando tivermos uma política de cuidados ao longo da vida toda, da infância à velhice”, diz especialista
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 Rio de Janeiro  

 Postado em 03 de maio de 2020 às 12h15m  

      Post.N.\9.252  
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Na semana passada, assisti a dois seminários pela web que tratavam das desigualdades sociais e econômicas e seus reflexos no combate ao novo coronavírus. Apesar de um ter acontecido nos Estados Unidos e o outro no Brasil, eram complementares. O do dia 27 de abril foi promovido pelo centro de longevidade da Universidade de Stanford; o dia 29 reuniu especialistas brasileiros em geriatria e gerontologia. Em ambos, a mesma constatação: dizer que o vírus não discrimina peca pela inexatidão, porque há grupos que estão muito mais desprotegidos que outros.

Vou começar pelo evento on-line de Stanford, porque sempre achamos que a grama do vizinho é mais verde e que os problemas de lá são menos severos que os daqui – o que não é verdade. Amani Allen, professora de epidemiologia na Universidade da Califórnia, Berkeley, afirmou que, nos EUA, os negros têm mais doenças e vivem menos. Um exemplo: no estado do Michigan, no centro-oeste norte-americano, os afrodescendentes correspondem a 14% da população, mas representam 40% das mortes. O conceito de raça é uma construção social da desigualdade. Desde a infância os negros têm uma proteção menor do sistema de saúde e capacidade limitada de ascensão social. A Covid-19 está jogando luz nas disparidades, disse a pesquisadora. Sabemos como melhorar a qualidade do atendimento, mas não como acabar com a desigualdade. Quando a pandemia passar, o que faremos para que a situação não se repita?, questionou. No Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde entre 10 e 26 de abril, cresceu o percentual de pretos e pardos entre internados e mortos.
Apesar de serem o principal grupo de risco, os idosos são ignorados na elaboração de estratégias para combater a pandemia — Foto: Cataortizparodi0 por PixabayApesar de serem o principal grupo de risco, os idosos são ignorados na elaboração de estratégias para combater a pandemia — Foto: Cataortizparodi0 por Pixabay

David Hayes-Bautista, diretor do centro de estudos de saúde da população latina da Universidade da Califórnia, Los Angeles, destacou um outro segmento da sociedade norte-americana que está na linha de frente: os latinos são, em sua maioria, parte do grupo de trabalhadores essenciais, os mais expostos ao novo coronavírus. Agora vamos somar os idosos a esse contingente que vem sendo deixado para trás. Na quarta-feira, o Reino Unido acrescentou, em um só dia, quase 5 mil mortes à sua contabilidade. Antes dessa data, as autoridades britânicas contabilizavam apenas óbitos em hospitais, ignorando os que haviam morrido em casa ou em asilos, o que mostra como os velhos que estão em instituições podem se tornar vítimas invisíveis.

Essa invisibilidade foi a tônica do painel Covid-19 no Brasil = gerontocídio?, promovido na quinta-feira pela Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva). Anita Liberalesso Neri, professora da Unicamp, afirmou que, como cidadã e idosa, está preocupada: há uma falsa solidariedade com os idosos, que são vistos apenas como frágeis, desamparados e improdutivos, sendo culpabilizados por onerar o sistema de saúde. Assistimos a um pico de emergência do etarismo (preconceito contra os velhos). Marilia Berzins, presidente do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento, ressaltou que, de acordo com os dados populacionais, a velhice é mulher, pobre e negra, a situação mais desigual, a de piores condições nesse cenário de pandemia.

Alexandre da Silva, professor da Faculdade de Medicina de Jundiaí, enfatizou a maior letalidade do novo coronavírus para os negros: não podemos esquecer que mais da metade dos auxiliares de enfermagem é composta por mulheres negras. Para elas, o isolamento social é um privilégio. E foi duro em sua análise: o que está acontecendo é uma necropolítica, com mais óbitos de idosos e negros. Na avaliação da geriatra Karla Giacomin, consultora da OMS para políticas públicas sobre o envelhecimento, a Covid-19 descortinou um Brasil que a gente não queria ver. Só haverá outra realidade quando tivermos uma política de cuidados ao longo da vida toda, da infância à velhice, para todos. Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional da Longevidade e moderador do evento, lembrou que, no Brasil, a pandemia tem inclusive uma cara jovem: as comorbidades afetam nossa população mais precocemente e por isso adultos jovens se tornam vítimas da Covid-19.

Apesar de serem o principal grupo de risco, os idosos são ignorados na elaboração de estratégias para combater a pandemia. Essa foi a conclusão de um estudo publicado no British Medical Journal elaborado por pesquisadores de três universidades. Um deles, o professor Lloyd-Sherlock, da University of East Anglia, foi enfático: a resposta global ao coronavirus deveria contemplar quem vai sofrer as consequências mais devastadoras, e isso ocorrerá com os idosos dos países de renda baixa ou média. Nessas nações estão 69% da população acima dos 60 anos e as condições para o isolamento social são precárias.

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