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domingo, 3 de abril de 2011

Como e porque o ato de mentir pode acabar fazendo parte da rotina de trabalho!...



    ##= Quando estagiava na Defensoria Pública estadual, o então estudante de direito M.C. por semanas a fio observou um velhinho, de seus 70 anos, que se despencava do Estácio até o Centro, a pé, atrás de um parecer sobre seu processo. Um dia, perguntou aos colegas qual era a história ali. O senhorzinho, responderam, ganhara uma causa, mas como o réu não tinha bens em seu nome, nada ia levar: não havia o que arrendar para o pagamento. Só que a equipe não enfrentava a situação - não lhe contava a verdade. M.C. contou. E virou herói do velhinho, que até voltou à Defensoria uma vez mais, para presenteá-lo com docinhos.
O caso é só um, entre tantos, que mostram como o ato de mentir faz parte do dia a dia de trabalho. Em enquete feita na semana passada pelo site do Boa Chance - perguntando que profissionais mais mentem no exercício de suas funções - a maioria dos leitores (41%) respondeu advogados, seguidos por vendedores, jornalistas e assistentes de médicos, como mostra matéria de Paula Dias, publicada neste domingo no Boa Chance.

O resultado reforça revelação de pesquisa realizada pelo psicólogo Jerry Jellison, da Universidade do Sul da Califórnia, Estados Unidos: os considerados mais mentirosos são os que têm maior número de contatos sociais, como vendedores, auxiliares de consultórios médicos, advogados, psicólogos e jornalistas. O cientista chegou a essa conclusão após gravar conversas de 20 profissionais de várias áreas.

No caso da mentira no trabalho não estamos falando das sociais, daquelas que todo mundo conta para se livrar de situações embaraçosas. O jogo aqui é esconder a verdade para conquistar um cliente, surpreender o chefe, desfazer um erro ou - no caso do nosso senhorzinho - camuflar possíveis fragilidades. Uma das principais motivações, não importa a área de atuação, seria a competitividade do mercado:

- As pessoas mentem para tirar alguma vantagem ou encobrir deficiências que, imaginam, não serão toleradas. É um comportamento nocivo, pouco sustentável a médio e longo prazos. Mais eficaz é correr atrás do prejuízo: traçar um plano de desenvolvimento para adquirir conhecimentos e reciclar habilidades para garantir o seu espaço - diz Jacqueline Resch, sócia-diretora da Resch Recursos Humanos.

Segundo José Soares de Souza Filho, presidente do Sindicato dos Empregados, Vendedores, Viajantes e Pracistas do Comércio no Estado do Rio (Venrio), o medo de perder o cliente e a pressão da concorrência não são as únicas causas de os vendedores faltarem com a verdade, vez por outra:

- A falta de conhecimento sobre o produto é uma das principais razões. Hoje, que os consumidores se tornaram mais bem informados e exigentes, o problema ainda é maior. Costumo dizer que o vendedor que mente só vende uma vez, perdendo a chance de multiplicar a clientela.

A fama dos advogados, por sua vez, não é creditada só às teses de defesa ou acusação. Afinal, quem não conhece a famosa piada: "quer saber quando um advogado está mentindo? Basta olhar se seus lábios estão mexendo". Brincadeiras à parte, para Alberto de Paula Machado, vice-presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a fama é fruto de desconhecimento de como o profissional age na prática.

- Se o cliente confessa um crime, o advogado não deve omitir o fato, e, sim, defendê-lo com base em suas justificativas, o que é diferente de mentir - diz Machado, para quem alguns advogados não são muito realistas sobre si mesmo. - Muitos mentem sobre sua formação ou dizem que são habilitados para uma função, quando não são.


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