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domingo, 5 de junho de 2011

A arte de apreciar o silêncio

  COMPORTAMENTO


SUZANE G. FRUTUOSO


A contadora Cristina Veloso, que não conseguia se desligar na meditação: oito meses depois, diz ter aprendido a valorizar as pequenas coisas (Foto:Evelson de Freitas/AE)


"*&&*" O céu azul, o sol e o tempo friozinho, em meio a um jardim amplo de encher os olhos, faziam daquele o dia perfeito para se distanciar do estresse cotidiano. E lá foi o JT, acompanhar, em um sábado de maio, uma prática de meditação no Templo Zu Lai, espaço budista em Cotia, Região Metropolitana de São Paulo. O retiro, das 9h às 17h, incluía manter silêncio absoluto. Zero barulho. Ruídos muito ao longe. Som só o da natureza.

Para quem se animou, um aviso: focar em não pensar em nada e não abrir a boca, além de ficar imóvel em muitos momentos, não é fácil. Pode ser até frustrante, quando se percebe que o nirvana não está logo ali e a mente custa a desligar. E doloroso, já que a posição de lótus não é para quaisquer joelho e coluna despreparados.

Nada disso, porém, parece assustar uma legião de paulistanos ávidos por encontrar um caminho que os ajude a aliviar as tensões de quem vive na metrópole. “No primeiro retiro de um dia que organizamos, em abril, vieram 39 pessoas. Agora, foram 70 participantes”, diz a mestra Miao You. Vinda da Malásia e vivendo no Zu Lai há cinco anos, foi ela quem conduziu a prática. “Meditação, silêncio, é duro, não confortável.”

Os retiros mais longos, que duram até quatro dias e são marcados em feriados, recebiam cerca de cem pessoas em 2010. Este ano, no carnaval, os interessados chegaram a 140. Foi necessário criar uma lista de espera. Não significa que todos os que começam terminam. No segundo dia, surgem as primeiras desistências. “Tem gente que implora pelo celular de volta. Outros choram.”

A prática de um dia nasceu justamente considerando essas dificuldades. Mesmo assim, a monja Coen, do Templo Soto Zen Budista Tenzuizenji, no Pacaembu, zona oeste, não o recomenda aos iniciantes. “Pode desencorajar o indivíduo. Meditação e silêncio exigem paciência e a compreensão de que tudo é transitório. A postura precisa se tornar familiar. Ninguém entra numa corrida de 10 quilômetros sem preparo.”

O curso de meditação, com aulas de alguns minutos que crescem gradativamente, é o mais indicado. Ela afirma que recebe cerca de 60 pessoas por semana querendo conhecer a meditação, uma média de dez a mais do que no ano passado. Mas só 30% dos interessados continuam.

O estresse é o principal fator que leva à procura da meditação. Aumentou, porém, o incômodo específico com os ruídos da cidade. Mais carros, construções, aviões, gente falando ao celular ou ouvindo música sem se preocupar com o outro. É a reclamação contínua de quem chega pedindo ajuda. “Contudo, somos nós que estamos fazendo barulho. Ninguém lembra”, diz a monja Coen.

Para o monge Guen Kelsang Odro, professor do Centro de Meditação Kadampa Mahabodhi, na Vila Madalena, zona oeste, se a mente aprende a silenciar, nenhum ruído ao redor é capaz de atrapalhar. “Temos que mudar a mente, mudar nossa maneira de pensar a vida, os problemas e as dificuldades.”

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