11/09 - O dia que marcou uma década
INTERNACIONAL -- NOTÍCIAS & INFORMAÇÃO.
CHARLES McGRATH
DO "NEW YORK TIMES"
DO "NEW YORK TIMES"
*-||=.-.=||-* Diferentemente de alguns outros acontecimentos de grande peso em nossa história --a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, ou a Guerra do Vietnã--, os ataques que aconteceram em 11 de setembro de 2011 não mudaram ou enriqueceram nosso vocabulário especialmente.
Essas coisas às vezes levam tempo. Foi apenas na década de 1960, por exemplo, que o termo "holocausto", que até então indicava qualquer massacre em grande escala, adquiriu as conotações específicas que possui hoje.
Por enquanto, porém, seria possível argumentar que os acontecimentos do 11 de Setembro ainda parecem tão incompreensíveis que, na realidade, até empobreceram um pouco a língua, deixando-nos com um termo inane como "guerra ao terror", que consegue esvaziar tanto "guerra" quanto "terror" de boa parte de seu significado, ou com o termo assustador "homeland" --nosso país--, com seus ecos nazistas. O "homeland" parece ser um lugar muito menos agradável de se viver do que a simples América.
Conhecemos muitas palavras agora que provavelmente já deveríamos ter aprendido antes, como jihad, Taleban, mujahedine e Al Qaeda. E algumas que preferiríamos esquecer, como TSA (sigla da Autoridade de Segurança dos Transportes), verificação de segurança, bomba no sapato e colapso vertical progressivo.
Um termo como "sleeper cell" (célula dormente --formada por agentes infiltrados que passam meses ou anos "dormentes" até entrarem em ação) provavelmente se fixa em nossas cabeças porque contém uma nesga de poesia embutida, e, pela mesma razão, é difícil esquecer as 72 virgens de olhos negros que os terroristas acreditavam estar a caminho de encontrar. A parte sobre "olhos negros" é um toque brilhante, mesmo que provavelmente represente um equívoco de tradução.
Mas as frases mais fortes que passaram a morar na nossa consciência desde aquela manhã de setembro são algumas que são imbuídas de antipoesia, por assim dizer --são resistentes a metáforas ou embelezamento.
O Ponto Zero, por exemplo, um termo que se originou com o Projeto Manhattan e foi empregado originalmente em conexão com explosões nucleares, parece especialmente apropriado neste novo contexto, com seu senso de finalização absoluta, de um ponto que é ao mesmo tempo um fim e um começo e ao qual todo o resto faz referência.
E mesmo o próprio termo 11/09 possui uma espécie de correção. Ninguém mais diz "11 de Setembro", em inglês, para referir-se àquele dia medonho (fazê-lo, brincou um amigo certa vez, seria "tão próprio do 10 de setembro").
A expressão possui uma simplicidade sem enfeites, uma precisão agradável --é o mesmo efeito gerado por "24/7", só que mais forte e sem o exagero contido nesta.
Essas quatro sílabas ficam bem ao final da linguagem, onde as palavras se convertem em abstração. Individualmente, são apenas números aleatórios, vazios; mas, unidas por aquela fatídica barra diagonal, elas contêm tudo. 11/09 --todo o mundo sabe o que isso significa, e dizer mais que isso seria sem sentido. Às vezes as palavras não bastam.
]**[ Tradução de Clara Allain
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