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Proposta de referendo coloca em xeque resgate da Grécia e derruba mercados; dólar dispara
Publicada em 01/11/2011 às 16h32m
Vinicius Neder e Bruno Villas Bôas, com agências [:[*-*-*]:] RIO - As bolsas de valores em todo o mundo estão em forte queda nesta terça-feira, após o anúncio surpreendente do primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, de que um referendo será convocado para verificar se a população grega aprova os cortes de gastos necessários para a liberação do pacote de resgate ao país. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) é duramente impactada e as bolsas da Europa registraram quedas de cerca de 5%. Por volta de 15h50m, o Ibovespa, índice de referência do mercado, tombava 1,66%, aos 57.369 pontos. O índice chegou a cair 3,84% na mínima do dia. No mercado de câmbio, o dólar comercial sobe 1,99%, a R$ 1,736 na compra e R$ 1,738 na venda, após registrar alta de 3,46% na máxima da manhã.
O pacote de resgate à Grécia, anunciado por líderes europeus na semana passada como parte do plano contra a crise e que trouxe otimismo aos mercados, fica em xeque se a população rejeitar os cortes de gastos. Segundo o governo grego, o referendo deverá ocorrer só em janeiro. Na próxima sexta-feira, Papandreou tentará obter um voto de confiança no Parlamento, e que, caso não se confirme, pode significar o colapso do gabinete grego. Integrantes do partido governista pediram a renúncia do primeiro-ministro.
A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, disseram que travariam conversas de emergência sobre a Grécia com a União Europeia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e os líderes da zona do euro na quarta-feira. Eles também devem se encontrar com representantes do governo grego antes do encontro do G20 na quinta.
Segundo Sarkozy, o pacote de resgate da Grécia é a única via possível para resolver a crise da dívida do país. Ele afirmou que a ideia do referendo "surpreendeu toda a Europa" e que as duas maiores economias da Europa concordaram em liderar as instituições europeias "para examinar as condições" sob as quais agora o plano deve ser levado adiante.
Com fortes perdas nas ações de bancos, os principais índices da Europa desabaram. Em Londres, o FTSE 100 caiu 2,33%. Em Paris, o CAC 40 recuou 5,20%. Em Frankfurt, o DAX tombou 5,03%. Em Madri, a queda foi de 4,64% no índice IBEX 35. Em Milão, o FTSE MIB desabou 6,87%.
- O mercado subiu em outubro embalado pelas negociações sobre a Grécia e a aprovação de um acordo por líderes da zona do euro. E agora, de repente, tudo pode ir por água abaixo - explica Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco WestLB do Brasil. - Os investidores temem o calote, o que colocaria em risco a situação dos bancos europeus.
O pessimismo de investidores na Bovespa segue o movimento nos Estados Unidos. Em Wall Street, o Dow Jones (principal índice da Bolsa de Nova York) recua 1,65%. O S&P 500, que que engloba as 500 principais empresas dos EUA, cai 1,92%. O Nasdaq, termômetro do setor de tecnologia, retrocede 2,09%.
Na semana passada, os líderes da zona do euro concordaram em conceder a Atenas um segundo pacote, de 130 bilhões de euros, e a anistia de 50% de sua dívida. O governo grego quer colocar as medidas em consulta popular porque exigem um programa de cortes de gastos bastante impopular, que já desencadeou uma onda de protestos entre os gregos. Só que tentar aprovar esse pacote via referendo coloca em dúvida a capacidade de colocá-lo em prática.
- Esse anúncio do governo grego é tudo o que não poderia ocorrer - diz o estrategista de varejo da corretora Ágora, José Francisco Cataldo.
O primeiro-ministro da Grécia se comprometeu a convocar o referendo em discurso a parlamentares do dividido Partido do Movimento Socialista Pan-Helênico (Pasok), mas não falou em data específica para a votação. Papandreou disse que precisava de maior apoio político para as medidas fiscais e as reformas estruturais exigidas pelos credores internacionais.
- Temos fé nos nossos cidadãos. Acreditamos no seu juízo e, portanto, na sua decisão - disse Papandreou, após rejeitar pedido para antecipar as eleições. - Todas as forças políticas do país devem apoiar as exigências do pacote de resgate. Os cidadãos vão fazer o mesmo assim que tiverem integralmente informados.
Produção industrial cai e contribui para as perdas da Bolsa
No mercado doméstico, praticamente todas as ações estão em queda. Além das preocupações com a Europa, a Bolsa é influenciada pela queda da produção industrial em 2% em setembro, na comparação com o mês anterior, como informou nesta terça-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Em agosto a produção havia caído 0,1% (dado revisado) na mesma comparação.
Na China, o índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) recuou para 50,4 em outubro, de 51,2 em setembro. O indicador do setor manufatureiro do país veio bem abaixo da mediana das previsões feitas por analistas ouvidos pela Dow Jones, de 51,7 para outubro. O nível de atividade econômica na China impacta diretamente os preços das commodities (matérias-primas com cotação internacional). Empresas produtoras desses insumos têm grande peso na Bolsa brasileira.
As perdas no Ibovespa são lideradas por construtoras e bancos. PDG ON (ordinária, com voto) cai 3,56%, a R$ 7,30. As units do Santander caem 2,97%, a R$ 14,99, enquanto os papéis preferenciais (PN, sem voto) do Itaú Unibanco recuam 1,28%, a R$ 32,29. Petrobras PN recua 1,59%, a R$ 20,98, enquanto Vale PNA perde 2,03%, a R$ 39,97.
- As construtoras subiram bem em outubro e investidores aproveitam para embolsar lucros - explica Cataldo, da Ágora, completando que os papéis do setor de construção estão entre os mais voláteis da Bolsa.
Na Ásia, os principais mercados fecharam em queda pelo temor de que um referendo anule os esforços europeus para conter a crise. Em Tóquio, o índice Nikkei encerrou em baixa de 1,70%. Uma outra razão para vender foi a queda do índice manufatureiro da China em outubro, fazendo o mercado de Hong Kong perder 2,49%. O índice de Seul teve leve alta de 0,03%. A bolsa de Taiwan avançou 0,45%, enquanto o índice referencial de Xangai ganhou 0,07%. Cingapura retrocedeu 2,33% e Sydney fechou com desvalorização de 1,52%.
Com a reviravolta provocada pelo anúncio do governo grego, o dólar se valoriza fortemente os mercados de câmbio. O euro recua 0,87% perante a moeda americana, segundo a agência Bloomberg News.
Dólar em alta em todo o mundo
No mercado local, segundo o gerente de câmbio da corretora Icap Brasil, Ítalo Abucater dos Santos, o movimento está de acordo com o dia de fuga de ativos de risco. Com isso, os grandes compradores de dólar são os investidores estrangeiros.
- Todos os investidores estão voltados para a Europa - diz Santos.
Para ele, a euforia recente foi exagerada, baseada na crença de que havia coisas resolvidas na crise europeia, mas não o plano da semana passada foi anunciado sem detalhes. Por isso, o otimismo de outubro, quando o Ibovespa registrou alta mensal de 11,49% e o dólar comercial recuou 9,46%, pode ter sido pontual.
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