Em épocas de crise é comum que haja um aumento na inadimplência. No Brasil não é diferente: a proporção de inadimplentes entre todos os tomadores de crédito aumentou expressivamente ao longo do último ano, tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas, e isso pode ter um grande impacto sobre a economia.

Para varejistas, por exemplo, a receita cai quando um cliente não honra as suas dívidas. Isso pode comprometer a capacidade do comerciante de arcar com os custos operacionais diários ou de repor o estoque, o que também afeta as vendas dos seus fornecedores. Em períodos de maior aperto financeiro, os prejuízos dos inadimplentes podem levar o comerciante a demitir funcionários, elevando assim o desemprego. Entra, portanto, em um ciclo vicioso, pois o desemprego leva a mais inadimplência.

Pesquisa Nacional do Consumidor Inadimplente, feita pelo Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) entre janeiro a março, mostra que a inadimplência foi um dos principais motivos para o aumento do  desemprego no país. 41% dos entrevistados dizem não ter conseguido pagar as contas por estarem desempregados. Um número preocupante e crescente, considerando que a taxa de desemprego do país chegou a quase 11% no primeiro trimestre de 2016 e ainda não apresenta tendência de queda.

Os bancos também são afetados pelo número crescente de inadimplentes. Expostas a maiores riscos na concessão de empréstimos, as instituições bancárias tentam limitar a exposição aos maus pagadores, dificultando o acesso ao crédito (através de mais garantias ou informações sobre o tomador de crédito) e elevando os juros. Com juros mais altos, porém, menos pessoas serão capazes de tomar empréstimo ou de continuar pagando a dívida já contratada anteriormente. Um novo ciclo vicioso.

Segundo o Banco Central (BC), a taxa média de juros bancários é a maior dos últimos cinco anos – em março, chegou a 50,9% ao ano. A taxa de inadimplência também bateu o recorde dos últimos cinco anos: 5,6% em março. O problema é que taxas de inadimplências maiores também elevam o spread bancário, que é a diferença entre o que os bancos pagam na captação de recursos e o que eles cobram ao conceder um empréstimo para uma pessoa física ou jurídica. No mês de março, o spread bancário chegou ao patamar de 37,3%, um dos maiores do mundo.

O estoque total de crédito concedido no país caiu 0,7% em março, ante o mês anterior. Isso se deve principalmente ao fato de as empresas de todos os setores e portes terem diminuído significativamente suas captações de empréstimos.

Além disso, pesa também o aumento das Provisões para Devedores Duvidosos (PDD). Quando uma empresa destina parte de sua receita para a PDD, ela reduz o seu lucro no período. Como a PDD é um fundo que não é investido, redistribuído como dividendo aos acionistas ou utilizado para o financiamento próprio das empresas, a sua existência representa um custo adicional.

Mesmo em um cenário de recuperação da economia do país, ainda sofreremos com os efeitos da inadimplência, pois ela demora a recuar, mesmo com a queda do desemprego. Os altos juros bancários – que acompanham a Selic – não devem cair sem que a inflação dê sinais de retração. É melhor apertar os cintos e ter paciência: diminuir o nível de inadimplência será tão complicado quanto colocar a economia em ordem.

Post em parceria com Carlos Augusto Egreja, graduando em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas e consultor pela Consultoria Júnior de Economia (www.cjefgv.com)