COMPORTAMENTO
SUZANE G. FRUTUOSO
A  contadora Cristina Veloso, que não conseguia se desligar na meditação:  oito meses depois, diz ter aprendido a valorizar as pequenas coisas  (Foto:Evelson de Freitas/AE)
"*&&*" O céu azul, o sol e o tempo friozinho, em meio a um jardim amplo de  encher os olhos, faziam daquele o dia perfeito para se distanciar do  estresse cotidiano. E lá foi o JT, acompanhar, em um sábado de maio, uma  prática de meditação no Templo Zu Lai, espaço budista em Cotia, Região  Metropolitana de São Paulo. O retiro, das 9h às 17h, incluía manter  silêncio absoluto. Zero barulho. Ruídos muito ao longe. Som só o da  natureza.
Para quem se animou, um aviso: focar em não pensar em nada e não  abrir a boca, além de ficar imóvel em muitos momentos, não é fácil. Pode  ser até frustrante, quando se percebe que o nirvana não está logo ali e  a mente custa a desligar. E doloroso, já que a posição de lótus não é  para quaisquer joelho e coluna despreparados.
Nada disso, porém, parece assustar uma legião de paulistanos ávidos  por encontrar um caminho que os ajude a aliviar as tensões de quem vive  na metrópole. “No primeiro retiro de um dia que organizamos, em abril,  vieram 39 pessoas. Agora, foram 70 participantes”, diz a mestra Miao  You. Vinda da Malásia e vivendo no Zu Lai há cinco anos, foi ela quem  conduziu a prática. “Meditação, silêncio, é duro, não confortável.”
Os retiros mais longos, que duram até quatro dias e são marcados em  feriados, recebiam cerca de cem pessoas em 2010. Este ano, no carnaval,  os interessados chegaram a 140. Foi necessário criar uma lista de  espera. Não significa que todos os que começam terminam. No segundo dia,  surgem as primeiras desistências. “Tem gente que implora pelo celular  de volta. Outros choram.”
A prática de um dia nasceu justamente considerando essas  dificuldades. Mesmo assim, a monja Coen, do Templo Soto Zen Budista  Tenzuizenji, no Pacaembu, zona oeste, não o recomenda aos iniciantes.  “Pode desencorajar o indivíduo. Meditação e silêncio exigem paciência e a  compreensão de que tudo é transitório. A postura precisa se tornar  familiar. Ninguém entra numa corrida de 10 quilômetros sem preparo.”
O curso de meditação, com aulas de alguns minutos que crescem  gradativamente, é o mais indicado. Ela afirma que recebe cerca de 60  pessoas por semana querendo conhecer a meditação, uma média de dez a  mais do que no ano passado. Mas só 30% dos interessados continuam.
O estresse é o principal fator que leva à procura da meditação.  Aumentou, porém, o incômodo específico com os ruídos da cidade. Mais  carros, construções, aviões, gente falando ao celular ou ouvindo música  sem se preocupar com o outro. É a reclamação contínua de quem chega  pedindo ajuda. “Contudo, somos nós que estamos fazendo barulho. Ninguém  lembra”, diz a monja Coen.
Para o monge Guen Kelsang Odro, professor do Centro de Meditação  Kadampa Mahabodhi, na Vila Madalena, zona oeste, se a mente aprende a  silenciar, nenhum ruído ao redor é capaz de atrapalhar. “Temos que mudar  a mente, mudar nossa maneira de pensar a vida, os problemas e as  dificuldades.”
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