+*-*+ Polícia diz não ter registrado homicídio em bairro ocupado em Salvador.
Unidade é a primeira; outras 34 bases devem ser instaladas até 2014.
Vista da Base Comunitária do Calabar
(Foto: Tatiana Dourado/G1)
(Foto: Tatiana Dourado/G1)
A comunidade era considerada a mais violenta da capital baiana. A Secretaria de Segurança informou não ter dados específicos sobre índices de criminalidade no bairro antes da Base e o G1 aguarda levantamento da Polícia Militar. "Aqui já aconteceu de ter quatro mortes em um único fim de semana", afirma Gilson Magalhães, conhecido como ‘Siba’, de 41 anos, diretor da Associação dos Moradores e conselheiro tutelar.
A previsão é que 34 bases sejam implantadas no estado até 2014 no estado. A Secretaria de Segurança Pública planeja em julho uma base no bairro Nordeste Amaralina, na capital baiana.
A primeira base em funcionamento é comandada pela capitã da Polícia Militar Maria Oliveira, de 31 anos. Ela e muitos moradores do Calabar relatam que o principal alívio compartilhado é a possibilidade de circulação entre vias principais, praças, becos e vielas sem a companhia de pessoas armadas, cenário frequente antes de 29 de março deste ano.
Nesta data, 300 homens da Tropa de Choque deram início à busca aos traficantes de droga da região, que inclui o bairro do Alto das Pombas. A ocupação permanente, com a instalação da Base, ocorreu quase um mês depois, no dia 27 de abril.
“Eu mesma estou feliz da vida. Feliz mesmo. Os meninos podem brincar na rua, eu já posso ir para meu barzinho, tomar minha cervejinha, coisas que não fazia antes. Eu não tenho queixa nenhuma”, comemora dona Maria Célia Barbosa, de 52 anos, avó de 13 netos e um bisneto, sendo que apenas dois não moram no Calabar. Ela, que andava pela rua cantarolando, tinha acabado de buscar três deles na creche do bairro.
Morador do Calabar há 28 anos, o comerciante Paulo de Jesus, de 39 anos, agora fecha sua barraca de rações uma hora mais tarde. “Antes eu abria às 9h e fechava tudo às 19h, no máximo. Mas agora só encerro tudo às 20h e já abro às 7h. Estamos em paz, segurança total. Antes estava aqui e passavam três, quatro pessoas armadas”, diz.
Dona Maria Célia com os netos: "eu mesma estou
feliz da vida" (Foto: Tatiana Dourado/G1)
feliz da vida" (Foto: Tatiana Dourado/G1)
Reparação
“Há um mês, a população não ouve barulho de tiro”, comemora Gilson Magalhães, conhecido como ‘Siba’, de 41 anos, diretor da Associação dos Moradores e conselheiro tutelar. Se ele tivesse que escolher uma palavra para definir o primeiro mês, ela seria “reparação”, já que, antes da Base, “muita mãe teve que chorar”.
“Uma senhora chegou para mim e falou que se a polícia comunitária tivesse chegado antes, o filho dela não teria morrido. Aqui já aconteceu de ter quatro mortes em um único fim de semana. Tivemos que esperar a Base para outros serviços públicos, como educação e saúde, começarem a chegar. Isto é necessário, porque a pessoa não nasce marginal”, avalia.
Tropa comunitária
O efetivo comandado pela Capitã Maria é dividido em cinco grupos, cada um deles com média de 20 policias recém-formados, capacitados através dos princípios da vigilância comunitária e dos direitos humanos. Eles trabalham das 7h às 19h e das 19h às 7h, todos os dias. A área de atuação compreende pelo menos um quilômetro, que corresponde aos bairros Calabar e Alto das Pombas.
“A principal missão deles é quebrar o paradigma de que os policiais são violentos e corruptos. Nosso policial é cidadão e, assim, queremos também quebrar o preconceito do estereótipo dos marginais. É uma batalha diária, difícil”, afirma. De acordo com ela, ainda não foi registrada ocorrência grave neste primeiro mês.
Por enquanto, estrutura física da Base existe apenas no Calabar, mas a comandante afirma que há possibilidade de ser implantada uma sede da polícia também no bairro vizinho, considerados rivais no tráfico de drogas. “Até o momento, não conseguimos sentir esta rivalidade, até porque a tropa de choque já trabalhou a área antes de ocuparmos. O que percebo é o ciúme porque estamos fixos apenas aqui embaixo e realmente precisamos nos unir mais”, explica.
Tráfico e outros delitos
A região compreendida entre o Calabar e o Alto das Pombas está sob o policiamento das 7ª e 14ª delegacias (a primeira no bairro da Barra e a outra na Federação). O G1 solicitou estatísticas do índice de criminalidade antes da instalação da unidade no bairro para a Secretaria de Segurança Pública (SSP) e Polícia Militar, mas ainda aguarda retorno. A SSP afirmou que tem apenas dados gerais de uma região mais ampla.
O delegado titular da 14ª, João Cavadas, afirma que neste primeiro mês de funcionamento da Base de Segurança Comunitária não foram registrados homicídios na região do Calabar que está sob a responsabilidade da sua equipe.
"Houve diminuição de todos os tipos de delitos. Os principais deles são pequenos furtos, roubos a transeuntes e estabelecimentos comerciais, lesão corporal grave e tentativa de homicídio", explica o titular. Sobre a rivalidade gerada pela disputa de pontos de tráfico de drogas, Cavadas aponta para a intervenção do policiamento em ruas e vielas que antes eram dominadas pela prática ilícita.
"Se não tinha policiamento e passa a ter, diminui a comercialização desses entorpecentes". Para ele, a chegada da Base ofereceu tranquilidade para que moradores do Alto das Pombas e do Calabar transitassem livremente pela comunidade um do outro, o que antes não ocorria de forma pacífica por conta da disputa entre facções criminosas.
Sobre o tráfico, capitã Maria afirma que a polícia sabe que a prática persiste em alguns pontos da comunidade e que a extinção é uma tarefa a longo prazo, conjunta principalmente com oportunidades de educação e saúde. “Muitos dos traficantes saíram, especialmente os líderes. Eles estão sem liderança, mas ainda temos aqui muitos consumidores”, informa.
Serviços
Administração pública, organizações não governamentais e privadas começam a se movimentar para ampliar serviços educacionais e de saúde nos dois bairros. Até então, três escolas atendem a população – uma no Calabar e duas no Alto das Pombas -, que conta também com um posto de saúde em cada um deles.
De acordo com Siba, alguns projetos estão em fase avançada de implantação: o Projeto Nacional de Resistência às Drogas, o Topa (Todos pela Educação), o Eja (Educação para Jovens e Adultos). Outros já funcionam no salão de eventos da Base de Segurança, como cursos de idiomas, música e pré-vestibulares.
Sensibilidade e experiência no comando de Maria
Oliveira (Foto: Tatiana Dourado/G1)
Oliveira (Foto: Tatiana Dourado/G1)
A sensibilidade feminina e a experiência de trabalhos anteriores em comunidades são duas características principais para que capitã Maria Oliveira fosse convidada pelo então coronel da Polícia Militar, Nilton Mascarenhas, para ser comandante da primeira Base de Segurança Comunitária do Estado.
Segundo Maria, é preciso se aproximar das crianças de maneira delicada para que elas se deixem ser orientadas e possam enxergar na polícia uma ponte para conviver em uma comunidade livre da violência, sem a necessidade de repressão policial.
A comandante tem experiência em segurança comunitária porque já participou do Programa Educacional de Resistência às Drogas e Violência e atuou nessa área na cidade de Camaçari, região metropolitana de Salvador, entre os anos de 2007 a 2009, junto à comunidade das Cascalheiras, onde atuava com uma relação bem próxima das crianças.
Próximas bases
A previsão da Secretaria de Segurança Pública é de que no mês de julho a próxima Base de Segurança Comunitária do estado seja inaugurada no bairro Nordeste Amaralina. Por conta da extensão territorial, a SSP planeja instalar quatro unidades nesta comunidade.
Outros bairros de Salvador também serão beneficiados, a exemplo de Tancredo Neves e Fazenda Coutos. A previsão é que 34 bases sejam implantadas no estado até 2014 - 20 em Salvador e 14 no interior. Elas serão fixadas em pontos estratégicos e vão abranger uma área de dois quilômetros quadrados.
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