Superlaboratório instalado em Campinas (SP) começa a funcionar na prática e passa oferecer estrutura para ajudar no conhecimento sobre o Sars-Cov-2; primeira linha habilitada pode auxiliar no desenvolvimento ou melhoramento de remédio.
Por Fernando Evans, G1 Campinas e região
11/07/2020 18h00 Atualizado há 16 horas
Postado em 12 de julho de 2020 às 12h00m
Maior empreendimento científico do país abre as portas para pesquisas do mundo sobre Covid
Maior investimento da ciência brasileira,
o Sirius, superlaboratório de luz síncrotron de 4ª geração instalado em
Campinas (SP), realizou os primeiros experimentos ao obter imagens em
3D de estruturas de uma proteína imprescindível para o ciclo de vida do
novo coronavírus (Sars-Cov-2). Tais detalhes podem ajudar na compreensão
de como o vírus se comporta dentro das células e podem auxiliar na
busca ou melhoramento de remédios para combater à Covid-19.
A análise de uma proteína já conhecida serviu para validar e habilitar o
funcionamento do acelerador de elétrons concebido para analisar
diferentes materiais em escalas de átomos e moléculas. Com isso, o
Centro Nacional de Pesquisa em Energias e Materiais (CNPEM), que abriga o
Sirius, passa a receber, a partir da próxima semana, propostas de
cientistas interessados em usar a estrutura para estudar avançar nos
estudos para enfrentamento da doença.
Segundo a equipe do Sirius, as propostas serão avaliadas por
especialistas do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e, diante
da necessidade do enfrentamento da pandemia, terão prioridade
pesquisadores com familiaridade com experimentos que possam avançar no
entendimento molecular do vírus.
Uma força-tarefa vem sendo realizada desde o início da pandemia para entregar duas das 13 linhas de pesquisas previstas na 1ª fase do projeto.
A primeira a ficar ativa e que fez as imagens da estrutura da proteína é
chamada de Manacá, dedicada a técnicas de Cristalografia de Proteínas
por Raios X. Na prática, é a estação que pode ajudar cientistas a
encontrar ou melhorar um fármaco capaz de inibir ou agir frente ao novo
coronavírus.
A expectativa é que, nos próximos meses, esteja em funcionamento a
Cateretê, uma linha de luz com aplicação de técnicas de Espalhamento de
Raios X, capaz de produzir imagens celulares únicas no mundo, segundo os
especialistas. Na prática, os cientistas conseguiriam, pela primeira
vez, ver e resolver todos os processos biológicos que ocorrem em única
célula.
Diretor-geral do CNPEM e do projeto Sirius, Antônio José Roque da
Silva, diz esperar que todos setores da sociedade reconheçam a
importância da ciência para a solução de problemas.
"Começamos a oferecer condições de pesquisa inéditas para os
pesquisadores do País. Neste momento em que se falta tanto da
importância da ciência e tecnologia para a solução de problemas, estamos
diante de uma máquina avançada, projetada por brasileiros e construída
em parceria com a indústria nacional. Espero que, cada vez mais, todos
os setores da sociedade reconheçam a importância da ciência para a
solução dos nossos problemas e as capacidades que temos no País."
O circo e a mexerica...
Para ser ter uma ideia do que os cientistas que trabalham no Sirius
tentam "enxergar" e entender com a ajuda do superlaboratório, basta ver a
comparação feita pela pesquisadora do CNPEM, Daniela Trivella.
"Se uma célula humana fosse do tamanho de um circo, o vírus seria o equivalente a uma mexerica."
Com as linhas de pesquisa, os cientistas esperam ver e distinguir a
interação do vírus em tanto espaço. E com a potência do equipamento será
possível enxergar, inclusive, até os pequenos "gominhos da fruta",
estruturas menores que as proteínas do Sars-Cov-2, por exemplo.
"Em tudo o que a gente faz na vida, sempre é melhor entender para
depois agir. Só que agora não há tempo. Quanto mais informações sobre o
vírus, sobre a doença, mais vamos entender como ele funciona e como
atuar", defende Daniela.
Empolgação
A possibilidade de contribuir de forma direta nessa corrida global da
ciência por conhecimento sobre o Sars-Cov-2 empolga os pesquisadores do
CNPEM.
"A grande maioria dos pesquisadores não consegue fazer nada. Ou está
fora da área, ou não tem ferramentas, ou não tem estrutura. Talvez
possamos contribuir de forma efetiva", projeta Mateus Cardoso, chefe da
Divisão de Materiais Moles e Biológicos do LNLS (Laboratório Nacional de
Luz Síncrotron) do CNPEM.
"Na minha vida, não sei se vou ter um orgulho tão grande de ter participado de algo tão importante como o Sirius", diz.
O que é o Sirius?
Principal projeto científico do governo federal, o Sirius é um laboratório de luz síncrotron de 4ª geração, que atua como uma espécie de "raio X superpotente" que analisa diversos tipos de materiais em escalas de átomos e moléculas.
Atualmente, há apenas um laboratório de 4ª geração de luz síncrotron operando no mundo: o MAX-IV, na Suécia.
Para observar as estruturas, os cientistas aceleram os elétrons quase
na velocidade da luz, fazendo com que percorram o túnel de 500 metros de
comprimento 600 mil vezes por segundo. Depois, os elétrons são
desviados para uma das estações de pesquisa, ou linhas de luz, para
realizar os experimentos.
Esse desvio é realizado com a ajuda de imãs superpotentes, e eles são
responsáveis por gerar a luz síncrotron. Apesar de extremamente
brilhante, ela é invisível a olho nu. Segundo os cientistas, o feixe é
30 vezes mais fino que o diâmetro de um fio de cabelo.
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