Revelada por Hiram Bingham há 100 anos, Machu Picchu continua a ser o destino de sonhos para muita gente que deseja conhecer de perto o ícone da civilização inca.
Fábio Vendrame / MACHU PICCHU
## =#= ## O paciente e cuidadoso trabalho de seus ancestrais está imortalizado nas pedras. Orgulhoso disso e com semelhante dedicação, Lorencio Montesinos ajuda a conservar Machu Picchu, obra-prima inca revelada ao mundo há um século. A cidade esculpida nos Andes às portas da Amazônia peruana festeja seu centenário de descobrimento científico renovada graças ao empenho de seus herdeiros.
Montesinos, de 51 anos, dedica quase dez horas por dia a raspar fungos e musgos das paredes de granito. Faz parte de uma equipe de 60 homens responsáveis pela manutenção do sítio arqueológico. "Ainda há muitos turistas que causam problemas, fazem barulho e deixam sujeira", conta ele, natural de Águas Calientes, atual Machupicchu Pueblo, o povoado que habita a região desde sempre. "Muitos pensam que estão na Disney... Não tem nada a ver", diz. "Reclamam que não há lixeiras, mas se não tem é por uma razão muito simples: é proibido ingressar em Machu Picchu com lixo."
Apenas um sinal de como as coisas por ali estão mudando. Machu Picchu está diferente, sim. Fruto da engenharia megalítica inca, a ancestral cidade de pedra comemora no dia 24 de julho o centenário de seu descobrimento científico com novas regras de visitação.
As mudanças são notórias. Acesso restrito a um número limitado de turistas e fiscalização rigorosa fazem parte das diretrizes adotadas pelo governo peruano para garantir a longevidade do mais espetacular sítio arqueológico da América do Sul, uma das maravilhas da humanidade.
Trata-se de um amplo trabalho coordenado pelo arqueólogo Fernando Astete, diretor do Parque Arqueológico Nacional de Machu Picchu há dez anos. "Nosso objetivo é evitar a concentração de gente durante a visita, diminuindo os impactos e riscos que a sobrecarga de pessoas acarreta", diz Astete, principal responsável pela mudança de perfil no turismo local.
A transformação foi deflagrada assim que ele assumiu o controle da exploração turística na cidadela, antes nas mãos de agências e operadoras. A primeira atitude foi fixar em 2,5 mil o número de pessoas que ingressam a Machu Picchu por dia. Isso acarretou em aumentar o preço do ingresso e, assim, o perfil dos visitantes também mudou. Se antes a maioria era composta por mochileiros de orçamento apertado, agora há gente de todas as idades - e, necessariamente, com os bolsos mais cheios.
Fernando Astete (esq.) é diretor do Parque Arqueológico Nacional de Machu Picchu há uma década. Montesinos (dir.) dedica dez horas por dia a raspar fungos e musgos das paredes
Contudo, é bom ressaltar, Astete é o tipo de cara que acha absurda a ideia de um teleférico ligando Águas Calientes ao sítio arqueológico, conforme foi cogitado - e levado a sério por uns e outros - tempo atrás. Para ele, defensor da pesquisa atrelada à conservação, a estrada que rasga a montanha em zigue-zague, e facilita muito o acesso dos visitantes, já foi mais que suficiente.
Não há, portanto, a menor possibilidade de que Machu Picchu se transforme numa Xcaret, legado maia na Península de Yucatán convertido em um complexo turístico de massa - bem-sucedido, diga-se. Os viajantes que cultuam a cidadela inca agradecem.
Mas as mudanças continuam em curso. Uma década atrás era permitido, por exemplo, caminhar pela praça principal. O gramado central vivia lotado de gente, que ali se deitava, fazia piqueniques ou simplesmente dava um tempo observando o entorno. Isso também acabou. "Estabelecemos um circuito fechado, de maneira que os turistas percorrem os principais pontos em cerca de duas horas", diz Astete.
Enquanto isso, Montesinos segue cuidando de cada detalhe da cidade de pedra. "Temos muita satisfação em mostrar o que nossos antepassados fizeram, mas, por favor, respeitem as regras!"
Sergio Neves/AE
2,5 mil é o número máximo de pessoas que podem ingressar a Machu Picchu por dia.
Apenas um sinal de como as coisas por ali estão mudando. Machu Picchu está diferente, sim. Fruto da engenharia megalítica inca, a ancestral cidade de pedra comemora no dia 24 de julho o centenário de seu descobrimento científico com novas regras de visitação.
As mudanças são notórias. Acesso restrito a um número limitado de turistas e fiscalização rigorosa fazem parte das diretrizes adotadas pelo governo peruano para garantir a longevidade do mais espetacular sítio arqueológico da América do Sul, uma das maravilhas da humanidade.
Trata-se de um amplo trabalho coordenado pelo arqueólogo Fernando Astete, diretor do Parque Arqueológico Nacional de Machu Picchu há dez anos. "Nosso objetivo é evitar a concentração de gente durante a visita, diminuindo os impactos e riscos que a sobrecarga de pessoas acarreta", diz Astete, principal responsável pela mudança de perfil no turismo local.
A transformação foi deflagrada assim que ele assumiu o controle da exploração turística na cidadela, antes nas mãos de agências e operadoras. A primeira atitude foi fixar em 2,5 mil o número de pessoas que ingressam a Machu Picchu por dia. Isso acarretou em aumentar o preço do ingresso e, assim, o perfil dos visitantes também mudou. Se antes a maioria era composta por mochileiros de orçamento apertado, agora há gente de todas as idades - e, necessariamente, com os bolsos mais cheios.
Fernando Astete (esq.) é diretor do Parque Arqueológico Nacional de Machu Picchu há uma década. Montesinos (dir.) dedica dez horas por dia a raspar fungos e musgos das paredes
Contudo, é bom ressaltar, Astete é o tipo de cara que acha absurda a ideia de um teleférico ligando Águas Calientes ao sítio arqueológico, conforme foi cogitado - e levado a sério por uns e outros - tempo atrás. Para ele, defensor da pesquisa atrelada à conservação, a estrada que rasga a montanha em zigue-zague, e facilita muito o acesso dos visitantes, já foi mais que suficiente.
Não há, portanto, a menor possibilidade de que Machu Picchu se transforme numa Xcaret, legado maia na Península de Yucatán convertido em um complexo turístico de massa - bem-sucedido, diga-se. Os viajantes que cultuam a cidadela inca agradecem.
Mas as mudanças continuam em curso. Uma década atrás era permitido, por exemplo, caminhar pela praça principal. O gramado central vivia lotado de gente, que ali se deitava, fazia piqueniques ou simplesmente dava um tempo observando o entorno. Isso também acabou. "Estabelecemos um circuito fechado, de maneira que os turistas percorrem os principais pontos em cerca de duas horas", diz Astete.
Enquanto isso, Montesinos segue cuidando de cada detalhe da cidade de pedra. "Temos muita satisfação em mostrar o que nossos antepassados fizeram, mas, por favor, respeitem as regras!"
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