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Retorno do continente gelado para Punta Arenas, no Chile, levou 4
dias.
Navio Ary Rongel será reabastecido e volta ao Polo Sul nesta sexta
(15).
Em 1911, o norueguês Roal Amundsen e sua equipe foram os primeiros a alcançar o Polo Sul por uma rota que levou 57 dias. Pouco mais de um mês depois, o inglês Robert Scott alcançou o mesmo ponto, mas morreu no caminho de volta.
Câmera instalada no navio brasileiro Ary Rongel
mostra o Estreito de Drake, na Antártica (Foto: Reprodução)
Em 1914, o também inglês Ernest Shackleton, a bordo do navio Endurance, quis
demarcar território com o plano de cruzar a pé o continente gelado. No entanto,
ficou mais conhecido pelo "fracasso mais bem-sucedido da história", pois perdeu
seu navio, deixou parte da tripulação isolada na região e saiu com outros homens
em busca de ajuda. Relatos apontam que o resgate de todos a bordo do Endurance
ocorreu em 1916, após dias passados comendo carne de cachorro, foca e
pinguim.Inspiração para o Drake
Shackleton, Amundsen e Scott são as maiores inspirações para o comandante Marcelo Luis Seabra Pinto, 49 anos, do navio brasileiro Ary Rongel, que já fez 19 viagens para a Antártica, levando a bordo, por diversas vezes, militares e cientistas – além de jornalistas, como a reportagem do G1. No entanto, ele deixa claro que as façanhas desses desbravadores são consideradas loucura atualmente.
Navio Ary Rongel já fez 19 viagens para a
Antártica, levando militares e cientistas (Foto: Eduardo
Carvalho/G1)
Seabra Pinto cita como fato inimaginável para os dias atuais, por exemplo,
colocar uma embarcação para atravessar o Estreito de Drake sem fazer nenhum tipo
de consulta meteorológica prévia – o ocorreu com o Endurance.Cerca de 860 km separam a Antártica e o Cabo de Hornos, o ponto – pertencente ao Chile – mais extremo da América do Sul. O trecho é o mais temido pelos navegantes, e a meteorologia da região precisa ser transmitida de forma precisa antes de qualquer embarcação entrar na área, pois um atraso no rumo do navio pode resultar no encontro com uma tempestade densa e perigosa.
Bote com militares, cientistas e jornalistas segue
do solo antártico para o navio (Foto: Eduardo Carvalho/G1)
Segundo Seabra Pinto, a travessia é complicada pois é nessa região que as
frentes frias antárticas, que acabaram de se formar no continente gelado,
encontram o oceano pela primeira vez, para seguir em direção ao continente
sul-americano e esfriar as temperaturas da região.Nesse local, é possível enfrentar ondas que ultrapassam dez metros de altura e ventos que alcançam uma velocidade de até 250 km/h, sob o risco de rachaduras no casco dos navios despreparados para uma tormenta.
Comandante do navio Ary Rongel é Marcelo Luis
Seabra Pinto, de 49 anos (Foto: Eduardo Carvalho/G1)
Travessia sofridaO Ary Rongel e sua tripulação enfrentou o estreito durante 41 horas, entre a tarde de sexta-feira (8) e o início da manhã de domingo (10).
"Foi um Drake não muito bom. O navio chegou a inclinar 35 graus para a esquerda e até 28 graus para a direita, por causa do tamanho das ondas", explica o comandante Seabra Pinto.
Gelo é visto no Canal de Beagle, conhecido como o
'corredor das geleiras' (Foto: Eduardo Carvalho/G1)
De fato, o balanço foi sentido pela tripulação. Quase todos a bordo
desapareceram dos corredores do Ary Rongel por dois dias. Quem mais trabalhou
nesse período foram o médico e o enfermeiro da embarcação, ajudando aqueles que
não conseguiam se alimentar direito e precisavam de hidratação.Os poucos corajosos restantes ficaram sentados assistindo a uma sessão ininterrupta de seis filmes legendados, enquanto o navio se atirava contra as ondas.
Ushuaia, última cidade argentina da 'Terra do
Fogo', está no pé de montanhas (Foto: Eduardo Carvalho/G1)
Nos camarotes – os quartos da tripulação –, as cadeiras usadas para ver
televisão caíam e eram jogadas para todos os cantos, já que quase ninguém ousava
levantar-se para pegá-las, pelo temor de sofrer um rápido enjoo, que poderia
resultar em vômito.A torcida não era para chegar mais rápido ao continente, mas para sair logo do Estreito de Drake, o que só ocorreu por volta das 10h de domingo, quando o navio entrou pelos canais chilenos – lagos do Oceano Atlântico cercados por montanhas ainda com neve no topo.
Prático chileno Juan Pablo Gómez dá suporte
ao
Ary Rongel na travessia (Foto: Eduardo Carvalho/G1)
Após a tempestade, a bonança...Ary Rongel na travessia (Foto: Eduardo Carvalho/G1)
Nesse trecho, é possível passar por corredores de águas tranquilas, como as do Canal de Beagle, popularmente conhecido como o "corredor das geleiras". Nele, é possível enxergar imensos aglomerados de gelo, resquícios do inverno passado, com constantes cascatas de água, em decorrência do derretimento causado pelo verão.
De acordo com o prático (profissional habilitado pela Marinha com conhecimento das águas em que atua) chileno Juan Pablo Gómez, de 25 anos, por dia passam pela região cerca de 70 embarcações, incluindo cruzeiros. Gómez, que é sub-tenente da Armada Chilena e dá suporte ao Ary Rongel durante a travessia pelos canais, já passou por esses corredores pelo menos dez vezes e diz que a mudança das estações nessa área é muito visível.
Do local, é possível avistar ainda a região da Patagônia Argentina. Mesmo ao longe, Ushuaia, último município da Argentina situado na "Terra do Fogo", destacava-se cravada no pé das montanhas.
Mapa do trecho percorrido; à dir., momento em que
navio chileno encosta no Ary Rongel para desembarque de práticos que ajudaram na
passagem pelos canais, o que levou 5 minutos (Foto: Eduardo
Carvalho/G1)
A passagem lenta, mas a passos largos, do Ary Rongel só foi terminar com sua
atracação no porto chileno de Punta Arenas, por volta das 17h desta
segunda-feira (11). Nesta sexta-feira (15), após reabastecer o navio com
alimentos e combustível, a tripulação tomará o caminho de volta para a
Antártica, dando continuidade à operação brasileira no continente, cuja 31ª
edição termina apenas no dia 25 de abril.
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