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sexta-feira, 15 de abril de 2011

"Uma guerra civil com intervenção estrangeira', diz especialista sobre conflito na Líbia"

""Otan pede aviões mais precisos e cobra maior participação de membros no confronto da Líbia...""


BERLIM - O comandante militar da Otan, James Stavridis, solicitou nesta quinta-feira aviões mais precisos para evitar a morte de civis líbios em suas operações, que já provocaram vítimas rebeldes e civis em fogo amigo. Apesar de o chanceler britânico, William Hague, assegurar que a Aliança Atlântica nunca esteve mais unida, nenhum país se ofereceu, na reunião em Berlim, para fornecer os aviões pedidos nem para auxiliar no ataque às tropas de Kadafi - num forte indício de que a estratégia da Otan na Líbia não é consenso entre seus membros.

- Certamente existem alguns países que não descartam (o envio de mais aviões) e podem muito bem consider fazer isso - disse Hague.
O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen said, disse que a organização precisa de mais aviões para atacar as forças do regime em áreas populosas. Segundo ele, os membros da Otan se comprometeram a fornecer "todos os recursos necessários" para a missão e manter "um ritmo operacional elevado contra alvos legítimos".

" Para evitar baixas entre os civis precisamos de equipamentos sofisticados "


- Para evitar baixas entre os civis precisamos de equipamentos sofisticados, precisamos de mais aeronaves com artilharia precisa para ataques terrestres.

- Não tivemos promessas ou compromissos específicos nesta reunião, mas eu ouvi indicações que me deram esperança. E por natureza eu sou um otimista

Desde que os Estados Unidos passaram o comando da operação à Otan, França e Reino Unido vêm fazendo críticas abertas à falta de envolvimento de outros países na ação. Dos 28 membros da Aliança, apenas 14 participam ativamente da operação - acompanhados de outros países como o Qatar, os Emirados Árabes Unidos e a Suécia. Deles, apenas seis realizam ataques contra alvos terrestres do regime. O chanceler britânico, William Hague, afirmou ter esperanças de que outros países ofereçam caças para atacar as forças do ditador, enquanto os rebeldes - sob forte ataque na cidade de Misurata - pedem uma ação mais contundente da Otan.

" Os EUA já estão dando uma grande contribuição, com o apoio logístico. É razoável pedirmos que outros países façam novas contribuições "


- Os EUA já estão dando uma grande contribuição, com o apoio logístico. É razoável pedirmos que outros países façam novas contribuições - disse Hague.

Mas numa reunião de portas fechadas, o chanceler francês, Alain Juppé, solicitou à secretária de Estado, Hillary Clinton, que os EUA contribuíssem com mais aviões para a operação. Hillary, no entanto, se mostrou resistente ao pedido.

No início da semana, o ministro da Defesa francês, Gerard Longuet, disse que apenas os aviões A-10 e AC-130, de posse exclusiva dos EUA, seriam capazes de romper o impasse militar. Apesar de terem passado o comando da operação à Otan, os EUA realizaram 35% das missões aéreas nos últimos dias, mas deixaram a responsabilidade de bombardear alvos militares e tropas de Kadafi a outros países. Oficialmente, funcionários americanos desviaram da questão, afirmando que a Otan não fez um pedido aos EUA por mais caças, e lembrando que o país já participa de diversas outras formas.

Paris e Londres vêm pressionando também, particularmente, Espanha, Itália, Holanda e Suécia para participarem de ataques às tropas de Kadafi. A Espanha já negou o pedido, e a Itália se mostra relutante.

- Tivemos sucesso no início bombardeando tanques, mas estamos encontrando problemas agora que Kadafi está movendo suas tropas para mais perto da população civil - disse uma diplomata ao "Washington Post".

BERLIM - Para o ex-vice-ministro da Defesa alemão e atual professor de estratégia militar da Universidade de Potsdam, Walther Stuetzle, a manutenção dos bombardeios da Otan na Líbia é um erro grave e não tem o aval do Conselho de Segurança da ONU.

O GLOBO: A Otan vai refletir sobre a exigência dos Brics de suspender imediatamente os bombardeios na Líbia?

WALTHER STUETZLE: Seria bom se a Otan atendesse à exigência. Mas eu acho que não há chances para isso. A prova são os bombardeios de hoje (ontem). A Otan está inflexível porque a França e a Inglaterra decidiram realizar uma campanha militar contra a Líbia. A Alemanha é contra, mas errou também por não ter procurado um entendimento político. Agora a Otan está numa situação difícil porque a ação é mais complicada do que parecia no início.

O GLOBO: Na sua opinião, a Otan pode realizar uma guerra contra a vontade de diversos países?

STUETZLE: O Conselho de Segurança elaborou uma resolução que permite o cessar-fogo, o início da negociação pacífica, e sanções - com o congelamento dos bens de Kadafi e de sua família, além do embargo de armas. A guerra aérea não tem o aval da ONU, que decidiu apenas o fechamento do espaço aéreo para impedir os bombardeios de Kadafi.

O GLOBO: A ONU e a Otan buscaram uma solução política antes do início da ação militar?

STUETZLE: Não, e este foi, na minha opinião, um erro gravíssimo. A França e a Inglaterra queriam começar logo com a campanha militar antes de esperar o resultado dos esforços diplomáticos.

O GLOBO: Qual o significado do impasse para o futuro da Otan?

STUETZLE: O significado é uma crise política da Aliança Atlântica. Além disso, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, tem mostrado ser incapaz de proteger o maior bem da aliança, que é o consenso político. Há na Líbia uma guerra civil com a intervenção de estrangeiros. A guerra precisa terminar, mas não através de ataques de fora, e sim de um diálogo político. O que a Líbia precisa é de uma nova ordem política, o que só é possível através do diálogo e de negociações.

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