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quinta-feira, 9 de março de 2017

62% dos brasileiros não acreditam nas instituições do país, diz pesquisa

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Postado em 09 de março de 2017 às 09h00m
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A confiança dos brasileiros nas instituições do país despencou no último ano e está no pior nível desde 2001. Só 24% das pessoas acredita no governo e 62% delas dizem que o sistema nacional como um todo ruiu e não é mais capaz de atender as demandas da sociedade. A corrupção é o maior temor dos brasileiros e o a proteção da economia nacional é desejada pela maioria deles, mesmo que signifique menor crescimento.

Estas são as principais conclusões do estudo global Edelman Trust Barometer 2017, que o blog dá com exclusividade. Descrença, medo e um individualismo exacerbado são as características mais ressaltadas no levantamento. 


A deterioração geral na relação dos indivíduos com o governo, as empresas, as ONG’s e a mídia ocorreu em 21 dos 28 países pesquisados e o Brasil está entre aqueles que tiveram a piora mais acentuada, passando a integrar o grupo dos desconfiados.
Arte Crise de confianca 690
A pesquisa foi feita on-line com mais de 33 mil pessoas em todos os países selecionados, sendo 1.150 entrevistados por país, entre outubro e novembro de 2016. O grupo de entrevistados está dividido em dois públicos: o geral e o informado. Este segundo representa 15% do total com gente com formação superior, experiência no mercado de trabalho e consumo de mídias - o topo da pirâmide, a elite.

No Brasil, a confiança caiu em três instituições e com pouca diferença entre os dois públicos, ou seja, o sentimento é o mesmo entre os informados e o público geral. Até 2015 a elite brasileira sempre confiou mais como em outros países ainda acontece. Agora não, todos se juntaram num bolo que não enxerga mais credibilidade nas instituições no Brasil.

O sistema é parcial em prol das elites que são indiferentes ao povo ficando mais ricas do que merecem; o trabalho duro não é recompensado; as crianças não terão um futuro melhor; o país não está na direção certa; não há confiança nos líderes atuais; os reformadores e energéticos são necessários para gerar as mudanças.  Essas foram verdades captadas pela pesquisa sobre senso de injustiça, desesperança e desejo de mudança no país.

A conclusão é alarmante. Para 62% dos brasileiros, o sistema está falhando com elas. O baixo índice de confiança corrobora a falência do sistema. Este é um ciclo de desgaste contínuo que gera um vácuo para o crescimento do populismo. A falta de confiança é a gasolina e o medo que nasce com a ruptura com sistema, o fósforo, disse ao G1 o Rodolfo Araújo, diretor de Marca e Inteligência da Edelman Significa no Brasil – braço brasileiro da agência de comunicação integrada.

Um em cada dois países perdeu a crença no sistema. Este quadro já gerou alguns incêndios de grandes proporções, como a vitória do Brexit, com a saída do Reino Unido da União Europeia, e a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. O movimento populista é hoje a maior ameaça nos países desenvolvidos. A evolução da confiança, ou da desconfiança, nas instituições aqui no Brasil acende um alerta também sobre o nosso futuro.

O populista é contra todas as instituições. É um político que cresce enfraquecendo todas elas. Eu li num artigo recente da The Economist que o populismo é uma ideologia leve, que se encaixa com facilidade em qualquer outra ideologia. O que explica a gente ter populista de todo tipo, mesmo aqui no Brasil, como Collor e o Lula, por exemplo.

Eu acho que vamos ver isso crescer nas eleições de 2018 e é um risco que eu não gostaria de ver a gente correr, desabafa o economista Armando Castelar, da Fundação Getúlio Vargas.

A avenida que se abre para o populismo é a consequência da esfera política – e que gera riscos consideráveis para a economia e o desenvolvimento. Mas há outras características do quadro de ruptura apresentado pelo estudo Edelman Trust Barometer que despertam atenção.

O individualismo é ressaltado pela forma com que as pessoas passaram a se alimentar de informações e dar credibilidade a elas. As ferramentas de busca são hoje a ferramenta usada por 57% pelos brasileiros na busca de informações. Quase a metade deles (43%) não escuta mais pessoas ou organizações das quais discordam com frequência.  E 42% nunca ou raramente mudam de ideias sobre questões sociais importantes.

Essa pulverização nas fontes de informação mostra que as pessoas pensam assim: eu confio mais em quem é igual a mim, numa reconexão com o indivíduo. No limite, eles não estão olhando para o coletivo e sim para a sua própria condição, explica Rodolfo Araújo da Edelman Significa.

O ciclo de desconfiança e descrença nas instituições também gerou uma sensação de medo crescente no mundo todo e no Brasil não foi diferente. Aqui o maior medo é com a corrupção, para 70% dos brasileiros. Temas como a globalização, a imigração e o desgaste dos valores sociais também estão no radar por aqui.

Finalmente, mas não menos importante e surpreendente, o estudo Trust Barometer feito no Brasil mostra um desejo de proteção à indústria nacional, numa clara escolha pelo protecionismo. O que chama atenção é que o Brasil já é um país muito fechado, convivendo com todas as consequências negativas das escolhas feitas até hoje, como a alta taxação dos importados e a exigência de conteúdo nacional em vários setores.

Antes mesmo de o país experimentar uma economia mais aberta e integrada ao comércio mundial, os brasileiros demonstram que não querem mudar de estratégia, ou seja, que continuemos fechados ou até mais. A qualquer custo, até mesmo de um menor crescimento.

O Brasil tem uma cultura protecionista desde Getúlio Vargas que nunca deixou de existir. A indústria sempre foi muito protecionista e a noção de progresso e desenvolvimento ficou atrelada a isso. Os brasileiros ainda dão muito valor às empresas estatais, ao gasto público. É diferente do que estão vivendo hoje nos EUA ou com a Brexit, analisa Armando Castelar, da FGV.

O quadro geral apresentado pelo estudo Edelman Trust Barometer 2017 dá um claro recado aos líderes de instituições no mundo todo e aqui do Brasil também. Está na hora de uma repactuação com a sociedade, com uma renovação da agenda do país.

Estamos vendo um esgotamento do modelo que imperou até agora. O que deve provocar um gatilho para que as instituições se mexam e coloquem as pessoas no centro das atenções.  E elas têm de buscar a reaproximação com a sociedade de forma genuína, com autenticidade. 

Essa agenda que está aí não pode mais ser cumprida, então vamos mudar a agenda. Todos têm de escutar de verdade o que a sociedade está dizendo para depois dar novas repostas, conclui Rodolfo Araújo.
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