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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Uma viagem pelos fiordes da Noruega, onde a paz é parte integrante da paisagem



Boa leitura...E muita paz de espírito!


T U R I S M O  &  L A Z E R.


Eduardo Maia 


Hardangerfjord, um dos mais visitados fiordes da Noruega / Foto: Eduardo Maia

*||*-=-*||* OSLO - Após pouco mais de meia hora de navegação, um turista finalmente baixou a câmera e seus olhos encararam, sem qualquer intermediário, uma queda d'água muito alta, que não chegava até os pés do paredão rochoso. O filete se desviava no meio do caminho, perdendo-se entre as gaivotas que escoltavam o navio para dentro do Geirangerfjord, um dos dois fiordes noruegueses listados como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Esses braços de mar que invadiram os longos vales no final da última era glacial estão entre as atrações que tornam a Noruega, o país do Prêmio Nobel da Paz, um destino inadiável, principalmente na temporada de calor europeia, que começa a amenizar em setembro. A cada ano o número de brasileiros por lá aumenta, em busca não só de paisagens raras, mas também de um estilo de vida que em nada lembra as imagens de medo e desespero que correram o mundo, há pouco mais de um mês. A entrega de um dos prêmios mais esperados do ano não acontece por acaso em Oslo, capital de jeito pacato, mas cada vez mais vibrante. Fora dali, seja nas vielas antigas de Bergen, entre os barcos pesqueiros de Alesund, ou nas casas com telhados cobertos por vegetação nos bosques à beira dos fiordes, a paz de espírito parece ser o melhor suvenir que se leva da Noruega.

Uma maravilha que o gelo demorou milênios para escavar
Sognefjord, o maior fiorde da Noruega e o segundo do mundo / Foto: Eduardo Maia
Entre o início de maio e o fim de setembro, as águas tranquilas dos fiordes do oeste da Noruega ficam repletas de embarcações e turistas em busca de uma paisagem única, que tem origem na última era glacial. Naquela época, os vales dos fiordes eram ocupados por gigantescas geleiras, que, durante milênios, escavaram a paisagem atual. Com o derretimento das geleiras, os vales foram ocupados pelo mar. O fenômeno se repetiu em outros locais como Rússia, Canadá, Alasca e Patagônia.


- Resumindo, um fiorde é um vale de formação glacial, muito estreito, muito longo e muito profundo, sempre em locais próximos aos polos e com paredões retos e altos. Como manteiga cortada com uma faca - explica o professor da Faculdade de Geologia da Uerj, Marco André Malmann, que alerta para os "falsos fiordes". - Há casos de vales abertos por rios que parecem fiordes, como o Saco de Mamanguá, em Paraty. Chamam de "fiorde tropical", mas isso não existe.


Vales estreitos, longos, profundos e altos paredões. Tudo isso se vê no Sognefjord, o maior fiorde do país, com 205 quilômetros de extensão, 1.308 metros de profundidade e picos de até mil metros de altura.

Balestrand, a simpática cidadezinha que funciona como porta de entrada para o Sognefjord, no oeste da Noruega / Foto: Eduardo Maia
Um bom ponto de partida para explorar o Sognefjord é Balestrand, charmosa cidadezinha de pouco mais de mil habitantes, que vivem basicamente da pequena agricultura e do turismo. Alguns minutos por ali bastam para apreciar a típica arquitetura regional, com destaque para a igreja anglicana de São Olavo, toda de madeira, com inspiração viking (os dragões ornamentais confirmam), e o centenário Kvikne's Hotel, uma instituição turística local.


De lá partem, diariamente, embarcações de todo tipo e para diversos pontos do fiorde. Há minicruzeiros, ferries e balsas que levam veículos, lanchas e até botes motorizados, que chegam a 80 km/h. Um dos roteiros mais populares liga a cidadezinha a Gudvangen, um vilarejo no final do Naeroyfjord, um dos braços do Sognefjord e listado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade. Seus 17 quilômetros de extensão, com quase nenhuma ocupação humana, explicam o porquê da honraria.


No final deste passeio, não se surpreenda se um barco viking, com figuras barbudas e cobertas de peles de animais, aparecer para recepcionar os visitantes no Gudvangen Fjordtell, um misto de restaurante, hotel, loja de suvenir e centro de cultura viking. Passar uma noite num dos 12 quartos disponíveis é uma experiência quase inusitada. O quarto, simples, porém confortável, é decorado com motivos vikings e tem a parte do teto sobre a cama feita de vidro. Ou seja, com os primeiros raios de sol, já é hora de acordar. Mas a paisagem, de cara para o fiorde, não dá chance para o mau humor matinal.

Brunost, o queijo de cabra amorronzado que lembra doce de leite, um clássico de Undredal, à beira do Auralandsfjord, na Noruega / Eduardo Maia
Sem vikings, mas também com jeito de cidadezinha congelada no tempo, Undredal é outra parada obrigatória à beira do Aurlandsfjord, outro braço do Sognefjord. O principal produto local é o queijo de cabra, em especial o brunost, de cor marrom e que lembra o doce de leite, em cor, textura e até no sabor. Com 10% de leite de vaca e caramelo, é levemente adocicado. Os queijos de Undredal podem acompanhar um dos 16 tipos de cerveja produzidos pela cervejaria Aegir, localizada em Flam, mais uma minúscula cidade banhada pelo fiorde. Batizada com o nome do deus nórdico da bebida, a cervejaria funciona num prédio de madeira que lembra um templo escandinavo, conta o mestre cervejeiro e proprietário Evan Lewis.


- A marca está presente em toda a Escandinávia e no Reino Unido. Mas a maioria das pessoas que entra em nossa fábrica pensa se tratar de uma igreja antiga. É irônico - observa.
Apesar de bem pequena, Flam é um dos principais destinos da região. É ponto final de muitos cruzeiros locais e primeira estação da linha férrea turística que leva à cidade de Myrdal, a bordo do trem Flamsbana. No caminho, de 20 quilômetros, há paisagens de tirar o fôlego de vales e rios e uma parada para fotos na cachoeira Kjosfossen.

A cachoeira Steinsdaslfossen, no vilarejo de Norheimsund, uma das mais visitadas da Noruega / Eduardo Maia
Myrdal é meio caminho para Voss, capital norueguesa dos esportes radicais. Mas se você está interessado em mais fiordes, encare mais uma hora de estrada na direção do Hardangerfjord, o segundo maior do país e o terceiro na lista mundial. A região é considerada o "pomar da Noruega", pela tradição de produção de frutas, em especial maçãs, cerejas e ameixas. A geleira Hardangerjokulen é outra atração popular, principalmente para passeios de helicóptero.


Lá fica o Hotel Ullensvang, um dos mais tradicionais da região dos fiordes, na localidade de Lofthus, administrado há cinco gerações pela família Utne e que já abrigou, por uma larga temporada, o compositor norueguês Edvard Grieg, homenageado com uma estátua em madeira nos jardins. A região de Hardanger tem ainda atrações como a cachoeira Steinsdalsfossen, no vilarejo de Norheimsund, rumo a Bergen.


Entre paredões, cachoeiras e estradas que valem a viagem Paredões do Geirangerfjord, um dos dois fiordes da Noruega classificados como Patrimônio da Humanidade pela Unesco / Foto: Eduardo Maia
A Unesco também classificou o Geirangerfjord como Patrimônio da Humanidade. Com 15 quilômetros de extensão, este fiorde é uma das atrações mais populares do país, atraindo de 150 a 200 navios de cruzeiros e mais de 700 mil visitantes a cada ano. A presença de embarcações de grande porte, algumas para mais de dois mil passageiros, não obstrui a paisagem. Ao contrário, ajuda a dar a dimensão real da grandeza dos fiordes.


Há minicruzeiros diários entre Hellesylt e Geiranger, duas cidades, para não fugir do padrão, quase cenográficas e que podem ser exploradas com um simples olhar. Essas travessias duram 55 minutos e têm seu ápice quando passam em frente à cachoeira Sete Irmãs (De Syv Sostre, em norueguês), formada por sete quedas d'água separadas, mas próximas, que se descortinam de uma altura de 410 metros. Há outras cachoeiras pelo caminho, algumas até mais vistosas. Uma delas chama Brudesloret, cuja tradução para o português reforça a tese de que "Véu da noiva" é um nome de cachoeira quase obrigatório, seja no Brasil ou na Noruega.


Para quem quiser explorar essas paisagens de forma mais ativa, há opção de aluguel de caiaques ou trilhas de trekking de vários níveis. Da estrada que corre paralela a Geiranger, chega-se a dois mirantes que oferecem vistas privilegiadas do fiorde.

Geiranger, um dos dois fiordes noruegueses classificados pela Unesco como Patrimônio da Humanidade / Foto: Eduardo Maia
Mais ao sul está o Nordfjord, menos badalado que os vizinhos, mas que também ostenta um conjunto de belos cenários e cidades bucólicas em suas margens. Uma delas é Loen, boa base para explorar o Briksdalsbreen, um dos braços mais acessíveis do Jostedalsbreen, o maior glaciar da Europa. A geleira, de 800 quilômetros quadrados, está dentro de um parque nacional que se estende por 1.310 quilômetros quadrados, chegando até a região do Sognefjord. Loen conta com uma boa infraestrutura turística, como hotéis e restaurantes. De lá também podem ser feitas caminhadas sobre o glaciar e passeios de helicóptero.


Nem só de fiordes e geleiras, entretanto, vive a região. Uma hora ao sul de Loen está o Lago Jolster, onde o verde das montanhas refletes nas águas calmas. Perto dali também fica a cadeia de montanhas Gaular, outro ponto de interesse, principalmente para amantes de caminhadas.


No caminho, algumas das paisagens que são clichês neste pedaço de Europa: montanhas muito altas, rios de águas cristalinas, estradas sinuosas, casas isoladas no meio do nada, muitas delas com teto coberto por vegetação, e várias cachoeiras. A cada punhado de metros a vontade de parar o carro para fotografar é quase irresistível.


Mas poucos cenários são tão bonitos como o da Likholefossen, uma cachoeira que não se vê da estrada, mas que é parada obrigatória no começo da Riksveg 13 (ou apenas Rv13), uma das mais belas rodovias panorâmicas da Noruega, usada basicamente como rota turística. Uma ponte atravessa o rio, quase acima da queda d'água. A câmera vai ficar molhada, mas cada foto valerá a pena.
Bacalhau tem cabeça na entrada para a região dos fiordes As construções de madeira colorida de Bryggen, antigo porto de Bergen tombado pela Unesco / Foto: Eduardo Maia
Para ver os fiordes do oeste norueguês de perto, o visitante obrigatoriamente precisa escolher entre duas cidades como ponto de partida: Bergen e Alesund. Sorte do turista, que poderá conhecer parte importante da História do país. Segunda maior cidade da Noruega e importante polo portuário e petrolífero, Bergen alia seu centro histórico tombado pela Unesco a um dia a dia animado. Considerada a capital pesqueira da Noruega, Alesund mantém registros de um passado art nouveau quase intacto, pouco comum no país.


Roteiros saindo de Bergen em direção às regiões de Hardanger e Sognefjord são muito populares, com partidas diárias durante o verão. Mas a cidade merece ao menos um dia de exploração. Boa parte do tempo será gasto no Bryggen, o antigo porto mercantil de Bergen, formado por curiosas construções de madeira, herança dos 400 anos (entre 1350 e 1754) em que a cidade foi um importante entreposto comercial da então poderosa Liga Hanseática, que dominou o comércio no norte da Europa entre os séculos XIII e XVII, quando começou a entrar em declínio.


Hoje sobraram 62 construções da época, a maioria em madeira, reconstruídas algumas vezes por causa de incêndios. Essas casas estreitas, compridas e coloridas, que antes abrigavam galpões e postos comerciais (ainda se veem janelões onde o bacalhau era posto para secar), hoje são restaurantes, lojas, ateliês e museus.
 
Vendedora do mercado de peixe de Bergen, o mais conhecido da Noruega / Foto: Eduardo Maia

O Bryggen termina praticamente onde começa o Fisk Market, um dos mercados de peixe mais famosos da Europa. Como outros tantos do gênero, o mercado de Bergen é bastante turístico, com preços bem mais altos do que em mercados convencionais. Mas vale a pena circular entre as barraquinhas e puxar assunto com os vendedores, em sua maioria italianos, espanhóis e portugueses.


Prove, sem compromisso, lasquinhas de salmão, bacalhau e outros peixes, oferecidos como iscas. E, se sua consciência ecológica permitir, não deixe de aceitar uma provinha de carne de baleia. King crabs e outros tipos de crustáceos também têm lugar garantido. Se a fome apertar, sanduíches e grelhados vendidos no local podem ser uma boa opção. E menos caros que os pratos oferecidos nos restaurantes do entorno.


Com tempo, vale a pena sair da área mais turística da cidade. Perto do Bryggen e do mercado ficam as ruas Skostredet e Kong Oscars, cheias de lojas alternativas, brechós, bares e cafés. Na Torgallmenningen, a principal via de pedestres, estão as grifes internacionais e um monumento em homenagem aos grandes navegadores noruegueses. Entre eles, os vikings que colonizaram a Groenlândia e foram os primeiros europeus na América do Norte, por volta do ano 1000.


Bergen também pode ser vista do Floibanen, um mirante ao qual se chega de funicular. Mais que a cidade, a atração é justamente a geografia do lugar, formada por diversas ilhas de um lado e o início dos fiordes do outro.

Centro antigo de Alesund, que tem o maior conjunto de prédios art nouveau da Noruega / Foto: Eduardo Maia
Também é possível ter uma vista panorâmica de Alesund a partir de um mirante, no topo do morro Aksla. Lá de cima se vê perfeitamente o conjunto de prédios art nouveau que fez a fama da cidade, que é a que possui o maior número de construções no estilo e em melhor estado de conservação em toda a Noruega.


Tal uniformidade não foi por acaso. No início do século passado, o centro da cidade foi consumido por um grande incêndio. A reconstrução aconteceu nos anos seguintes, de maneira muito rápida e aproveitando o estilo que era moda na época. Essa história está contada em fotos e mobiliário da época no Centro Norueguês de Art Nouveau (Jugendstilsenteret), no antigo porto, de onde saem passeios pelos fiordes próximos. Alesund é o principal ponto de partida para o Geirangerfjord e para a cadeia de montanhas de Sunnmore, que atrai praticantes de escalada e esportes radicais de todo o mundo.

No aquário de Alesund, diversas espécies da costa norueguesa, inclusive peixes da família do bacalhau / Foto: Eduardo Maia
Além de capital do art nouveau, Alesund é a considerada a capital pesqueira do país. O título não é pouca coisa, principalmente se considerarmos a importância da atividade na história norueguesa. Aos visitantes brasileiros e portugueses, os nativos também gostam de dizer que a cidade é a capital mundial do bacalhau. De fato, boa parte da receita local vem da pesca e do processamento da iguaria amada pelos lusófonos dos dois lados do Atlântico. Há até uma história que conta que o primeiro navio norueguês que levou bacalhau para o Brasil saiu de Alesund e atracou no Rio de Janeiro, em meados dos século XIX.


Quem gosta de aquários tem mais um motivo para visitar a cidade. O Atlanterhavsparken (Parque Marinho Atlântico) fica na praia de Tueneset, a poucos minutos do centro de Alesund. O centro tem muitas atividades voltadas para crianças, como alimentação de pinguins e mergulho entre os peixes. Nos tanques, espécies típicas das águas frias do Mar do Norte, entre eles, os da família do bacalhau. E o mais impressionante: todos com cabeça.
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COMO CHEGAR
De trem: A empresa NSB administra as linhas de trem da Noruega. Algumas viagens, como Oslo-Bergen (a partir de R$ 175, ida e volta, sete horas cada trecho), são consideradas cênicas. A linha Oslo-Myrdal (também a partir de R$ 175, ida e volta, cinco horas) permite chegar a Flam e ao Sognefjord. nsb.no


PASSEIOS
Flamsbana: A passagem de ida e volta do trem turístico entre Flam e Myrdal custa R$ 102. www.flaamsbana.no
Aquaviário: As principais empresas que fazem o transporte aquaviário de veículos ou passageiros nos fiordes são a Fjord1 ( fjord1.no ) e a Tide ( tide.no ), com ferry boats, embarcações turísticas e barcos rápidos. A Charter Cruise ( chartercruise.no ) também opera na região. As empresas também oferecem linhas de ônibus.


Operadoras: Das operadoras especializadas na região dos fiordes, a Try Norway ( trynorway.com ) e a Fjord Tours ( fjordtours.com ) são as mais conhecidas.


CÂMBIO
R$ 1 vale 3,4 coroas norueguesas.


OUTRAS INFORMAÇÕES
visitnorway.com
Eduardo Maia viajou a convite da Try Norway e da Visit Denmark
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