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terça-feira, 27 de setembro de 2022

A ‘ilusão do conhecimento’ que deixa as pessoas com excesso de confiança

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É fácil pensar que somos uma imensa fonte de conhecimento — na verdade, nós podemos ter muita experiência e habilidades, mas provavelmente sabemos menos do que pensamos.
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TOPO
Por David Robson, BBC

Postado em 27 de setembro de 2022 às 07h35m

 #.*Post. - N.\ 10.487*.#

A ilusão do conhecimento deixa as pessoas com excesso de confiança e pode prejudicar a vida profissional — Foto: GETTY IMAGES/via BBC
A ilusão do conhecimento deixa as pessoas com excesso de confiança e pode prejudicar a vida profissional — Foto: GETTY IMAGES/via BBC

Se você se considera razoavelmente inteligente e instruído, talvez acredite que tenha uma boa compreensão das principais formas como o mundo funciona — conhecimento sobre as invenções conhecidas e os fenômenos naturais à nossa volta.

Agora, pense no seguinte: como se forma um arco-íris? Por que os dias de Sol podem ser mais frios que os nublados? Como um helicóptero voa? Como funciona a descarga do vaso sanitário?

Você consegue dar uma resposta detalhada a uma ou mais destas perguntas? Ou você tem apenas uma vaga ideia do que acontece em cada uma destas situações?

Se você for como grande parte das pessoas que participaram de estudos psicológicos sobre este tema, sua primeira impressão pode ser de que se sairia muito bem.

Mas, quando se pede uma resposta detalhada para cada questão, a maioria das pessoas fica totalmente desorientada — como você também pode ter ficado.

Este fenômeno é chamado de "ilusão do conhecimento". Você pode achar que estes exemplos específicos são triviais — afinal, são o tipo de pergunta que uma criança curiosa pode fazer, e a pior consequência poderia ser ficar com o rosto corado na frente da família.

Mas as ilusões de conhecimento podem prejudicar nosso julgamento em muitos campos. No ambiente de trabalho, por exemplo, podem nos levar a superestimar nosso conhecimento em uma entrevista, menosprezar as contribuições dos nossos colegas e assumir tarefas que somos totalmente incapazes de realizar.

Muitos de nós atravessamos a vida totalmente alheios a essa arrogância intelectual e suas consequências. A boa notícia é que alguns psicólogos indicam que pode haver formas extraordinariamente simples de evitar essa obscura armadilha do pensamento.

A simples observação passiva pode aumentar a confiança das pessoas nas suas habilidades para desempenhar tarefas complexas de vida ou morte, como fazer pousar um avião — Foto: GETTY IMAGES/via BBC
A simples observação passiva pode aumentar a confiança das pessoas nas suas habilidades para desempenhar tarefas complexas de vida ou morte, como fazer pousar um avião — Foto: GETTY IMAGES/via BBC

Desconhecimento desconhecido

A ilusão do conhecimento — também chamada de "ilusão da profundidade de explicação" — foi mencionada pela primeira vez em 2002.

Em uma série de estudos inéditos, os pesquisadores Leonid Rozenblit e Frank Keil, da Universidade Yale, nos Estados Unidos, começaram fornecendo aos participantes exemplos de explicações de fenômenos científicos e mecanismos tecnológicos que foram avaliados em uma escala de 1 (muito vagos) a 7 (muito completos).

Este método permitiu que todos os participantes formassem o mesmo conceito do que significava a compreensão "vaga" ou "completa" de um tema.

Em seguida, veio o teste. Quando confrontados com outras questões técnicas e científicas, os participantes precisavam avaliar o quanto eles achavam que poderiam responder a cada uma delas, usando aquela mesma escala, antes de escrever sua explicação da forma mais detalhada possível.

Rozenblit e Keil descobriram que as avaliações iniciais dos participantes sobre sua própria compreensão eram, muitas vezes, dramaticamente otimistas.

Eles acreditavam que poderiam escrever parágrafos inteiros sobre cada assunto, mas muitas vezes forneciam respostas mínimas — e, depois, muitos ficavam surpresos com o pouco que sabiam sobre os temas questionados.

Os pesquisadores suspeitavam que o excesso de confiança era consequência da capacidade dos participantes de visualizar os conceitos em questão. Não é difícil imaginar o voo de um helicóptero, por exemplo. E a facilidade com que essa imagem vem à mente leva os participantes a sentir mais confiança para explicar a mecânica dos seus movimentos.

Desde este estudo original, diversos psicólogos vêm desvendando ilusões de conhecimento em vários contextos diferentes.

O professor de marketing Matthew Fisher, da Universidade Metodista do Sul, no Texas, Estados Unidos, por exemplo, descobriu que muitos universitários formados superestimam amplamente o alcance da sua formação depois que terminam seus estudos.

Da mesma forma que no primeiro experimento, solicitou-se aos participantes que avaliassem sua compreensão sobre diferentes conceitos antes que fornecessem explicações detalhadas do seu significado.

Mas, desta vez, as questões vieram da matéria que eles próprios haviam estudado anos antes. Uma pessoa formada em Física, por exemplo, precisaria explicar as leis da termodinâmica.

Devido ao desgaste natural das suas memórias, os participantes pareciam ter esquecido muitos detalhes importantes, mas não haviam percebido o quanto de conhecimento haviam perdido — o que os levava a ser excessivamente confiantes nas suas previsões iniciais.

Ao julgarem seu conhecimento, eles acreditavam que detinham o mesmo nível de informação de quando estavam totalmente mergulhados no assunto.

Outras pesquisas demonstraram que a disponibilidade de recursos online pode alimentar nosso excesso de confiança, uma vez que nós confundimos a quantidade de conhecimento disponível na internet com nossas próprias memórias.

Fisher pediu para um grupo de participantes responder perguntas — "como funciona um zíper?", por exemplo — com o auxílio de uma ferramenta de busca, enquanto outro grupo foi simplesmente solicitado a avaliar sua compreensão do tema sem usar fontes adicionais.

Em seguida, os dois grupos foram submetidos ao teste original de ilusão do conhecimento sobre quatro questões adicionais ("como se formam os tornados?" e "por que as noites nubladas são mais quentes?", por exemplo).

Fisher concluiu que as pessoas que haviam usado a internet para responder a pergunta inicial demonstraram maior excesso de confiança na tarefa seguinte.

A ilusão da aquisição de habilidades

Mas a consequência mais séria talvez seja que a maioria de nós superestima o quanto aprende observando os demais. Isso resulta na "ilusão da aquisição de habilidades".

Michael Kardas, que cursa pós-doutorado em administração e marketing na Northwestern University, nos EUA, pediu aos participantes de um estudo para assistirem a vídeos repetidos sobre diversas técnicas, como lançar dardos ou fazer o passo de dança moonwalk, até 20 vezes.

Em seguida, eles precisaram estimar suas habilidades, antes de tentar realizar a tarefa sozinhos. A maioria dos participantes acreditou que a simples observação, ao assistir aos vídeos, os teria ajudado a aprender as técnicas. E, quanto mais eles assistiam, maior era sua confiança inicial.

Mas a realidade foi uma grande decepção.

"As pessoas acreditavam que se sairiam melhor se assistissem ao vídeo 20 vezes, em comparação com assistir apenas uma", afirma Kardas.

"Mas seu desempenho real não demonstrou nenhuma evidência de aprendizado."

E, surpreendentemente, a observação passiva pode até aumentar a confiança das pessoas em sua capacidade de realizar tarefas complexas de vida ou morte, como pousar um avião.

Kayla Jordan, estudante de doutorado da Universidade de Waikato, na Nova Zelândia, liderou um estudo inspirado diretamente na pesquisa de Kardas.

"Nós quisemos testar os limites do fenômeno e se ele poderia ser aplicado a técnicas altamente especializadas", diz Jordan.

Ela explica que pilotar exige centenas de horas de treinamento e profundo conhecimento de física, meteorologia e engenharia, que as pessoas são incapazes de aprender em um vídeo curto.

A primeira instrução para os participantes foi: "Imagine que você está em um avião de pequeno porte. Há uma emergência, o piloto está indisponível, e você é a única pessoa que pode fazer o avião pousar."

Metade dos participantes assistiu a um vídeo de quatro minutos de um piloto aterrissando um avião, e os demais não viram o vídeo.

Mas o vídeo não mostrava nem sequer o que as mãos do piloto estavam fazendo durante o procedimento — e, portanto, não tinha nenhuma serventia como instrução.

O excesso de confiança no próprio conhecimento pode invadir o ambiente de trabalho e tornar as pessoas mais arrogantes — Foto: GETTY IMAGES/via BBC
O excesso de confiança no próprio conhecimento pode invadir o ambiente de trabalho e tornar as pessoas mais arrogantes — Foto: GETTY IMAGES/via BBC 

Mas muitas das pessoas que assistiram ao vídeo ficaram muito mais otimistas sobre sua capacidade de fazer pousar um avião com segurança.

"Elas tinham cerca de 30% mais confiança, em comparação com as pessoas que não assistiram àquele vídeo", afirma Jordan.

Dilemas da vida real

Essas ilusões de conhecimento podem trazer consequências significativas.

O excesso de confiança no próprio conhecimento pode fazer com que você se prepare menos para uma entrevista ou apresentação, por exemplo, deixando você constrangido quando é pressionado a demonstrar seus conhecimentos.

O excesso de confiança pode ser um problema específico quando você busca uma promoção. Ao observar as pessoas à distância, você pode acreditar que já sabe o que é preciso para o trabalho e que já aprendeu todas as técnicas necessárias.

Mas, ao iniciar o trabalho, você pode descobrir que precisava saber muito mais do que parecia.

A ilusão do conhecimento também pode nos levar a menosprezar nossos colegas. Da mesma forma que confundimos o conhecimento obtido pelo Google com o nosso próprio, podemos não perceber o quanto dependemos do conhecimento e da capacidade das pessoas à nossa volta.

"Ao observar as habilidades e a base de conhecimento dos demais, as pessoas às vezes podem acreditar erroneamente que elas são uma extensão do conhecimento delas próprias", afirma Jordan.

E, se começarmos a acreditar que o conhecimento dos colegas é nosso, podemos ficar menos dispostos a lembrar e demonstrar gratidão por suas contribuições — uma forma de arrogância muito comum no ambiente de trabalho.

E superestimar nosso conhecimento, esquecendo o apoio que recebemos dos demais, também pode criar sérios problemas quando tentarmos seguir sozinhos, com um projeto solo.

O que as pessoas podem fazer para evitar essas armadilhas? Uma solução é simples: teste a si próprio.

Se você estiver avaliando sua capacidade de realizar uma tarefa que não é familiar, por exemplo, não confie apenas em uma ideia vaga e resumida do que essa tarefa envolveria. Em vez disso, analise com mais tempo e cuidado as etapas que você precisaria realizar para atingir esse objetivo.

Você pode concluir que há enormes lacunas de conhecimento que você precisará preencher antes de começar o trabalho. E, ainda melhor, você pode consultar um especialista no tema e perguntar o que ele está fazendo — uma conversa que servirá para analisar qualquer pressuposto arrogante de sua parte.

Como as muletas tecnológicas têm o potencial de amplificar a confiança no seu conhecimento, você também pode verificar seus hábitos online. Fisher sugere que você faça uma breve pausa e tente ao máximo se lembrar de um fato antes de recorrer a uma busca na internet. Ao reconhecer conscientemente que "deu branco", você pode começar a avaliar de forma mais realista a sua memória e os seus limites.

"É preciso ter a disposição de se sentir desorientado", diz ele.

"Você precisa sentir sua ignorância, o que pode ser desconfortável."

O objetivo de tudo isso é cultivar um pouco mais de humildade — uma das "virtudes intelectuais" clássicas celebradas pelos filósofos.

Ao reconhecer nossas ilusões de conhecimento e admitir os limites da nossa compreensão, todos nós podemos evitar as inconvenientes armadilhas do pensamento. E podemos pensar e tomar decisões com mais sabedoria.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Worklife.

Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/vert-cap-62985145

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sábado, 24 de setembro de 2022

Por que nenhum país da América Latina tem armas nucleares – e o papel do Brasil nisso

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Sob ditaduras militares, Brasil e Argentina resistiram a acordo que proibiu o desenvolvimento de armas nucleares na América Latina e Caribe.
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Por BBC

Postado em 24 de setembro de 2022 às 09h15m

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As bombas de Hiroshima e Nagasaki deram início à era do terror nuclear — Foto: Getty Images/Via BBC
As bombas de Hiroshima e Nagasaki deram início à era do terror nuclear — Foto: Getty Images/Via BBC

Durante a segunda metade do século 20, a humanidade viveu com medo de um possível holocausto nuclear. Era uma espécie de pesadelo apocalíptico.

À possibilidade de um confronto com armas atômicas entre as duas superpotências rivais, Estados Unidos e União Soviética, logo se somou a preocupação com a chamada proliferação nuclear: a possiblidade de que outros países e — ainda mais preocupante — organizações terroristas pudessem obter o controle da bomba.

Para tentar conter essa possibilidade, o governo do presidente americano Dwight Einsenhower lançou em 1953 a iniciativa "Átomos para a Paz", que prometia facilitar o acesso a usos pacíficos da energia nuclear para países que renunciassem a se equipar com a bomba.

Em 1957, foi criada a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que faz parte do sistema das Nações Unidas; e pouco mais de uma década depois, em 1968, foi estabelecido o Tratado de Não-Proliferação Nuclear para fazer frente a esse perigo.

Putin convoca 300 mil reservistas e ameaça Ocidente com guerra nuclearPutin convoca 300 mil reservistas e ameaça Ocidente com guerra nuclear

Essas iniciativas, no entanto, não foram capazes de impedir que em praticamente todas as regiões do mundo exista pelo menos um país que tenha desenvolvido armas nucleares.

Aos Estados Unidos e à Rússia (herdeira do arsenal soviético) somaram-se países da Europa (Reino Unido e França); da Ásia (China, Coreia do Norte, Índia e Paquistão); do Oriente Médio (Israel, que não admite formalmente ter a bomba) e da África (África do Sul, único país que desenvolveu a bomba e depois voluntariamente se desfez dela).

Assim, Estados de praticamente todas as partes do mundo têm ou tiveram armas nucleares com uma notável exceção: a América Latina, onde não apenas não há potências nucleares, como foi a primeira região densamente povoada do mundo a se declarar uma zona livre de armas nucleares.

Como isso aconteceu? As razões são várias, mas as primeiras razões são encontradas há seis décadas.

A crise dos mísseis em 1962 levou o mundo à beira da Terceira Guerra Mundial — Foto: Getty Images/Via BBC
A crise dos mísseis em 1962 levou o mundo à beira da Terceira Guerra Mundial — Foto: Getty Images/Via BBC

O impacto da crise dos mísseis

"A história de por que a América Latina não tem armas nucleares remonta à crise dos mísseis em outubro de 1962, quando a União Soviética posicionou mísseis em Cuba, dando origem a uma crise entre os Estados Unidos e a União Soviética", explica Luis Rodríguez, pesquisador de pós-doutorado do Centro de Segurança e Cooperação Internacional da Universidade de Stanford, na Califórnia (EUA).

"Como resultado, vários países da América Latina decidiram começar a formar uma resposta multilateral para evitar que outra crise de mísseis aconteça na região. Essa foi a primeira vez que países da América Latina viram riscos nucleares tão próximos de casa", acrescenta o especialista sobre o episódio considerado o ponto mais próximo que a humanidade esteve de uma Terceira Guerra Mundial.

Rodríguez explica que, desde o final da década de 1950, surge a preocupação de impedir que outro país fizesse aquilo que os Estados Unidos fizeram em Hiroshima e Nagasaki. Na Europa, a Irlanda foi um dos países que promoveram essa ideia e, na América Latina, foi a Costa Rica. No entanto, até então, esse risco era visto como algo distante.

Ryan Musto, da Faculdade de William e Mary (Virgínia, EUA), concorda que a ideia de banir a bomba existia na América Latina desde antes de 1962, mas avalia que então tudo mudou.

"A Crise dos Mísseis de Cuba foi um catalisador, e o Brasil então propõe tornar a América Latina uma zona livre de armas nucleares como uma possível solução para essa crise, porque poderia facilitar a retirada de mísseis de Cuba, ao mesmo tempo em que permitia livrar a cara tanto dos Estados Unidos, como da União Soviética", diz Musto à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

Essa iniciativa não prosperou e a crise dos mísseis foi resolvida através do diálogo direto entre Washington e Moscou. Mas muitos países latino-americanos continuaram a ver a criação de uma zona livre de armas nucleares como uma forma de evitar que uma crise semelhante voltasse a acontecer no futuro.

Assim, a região iniciou um processo de negociações que culminou em fevereiro de 1967 com a criação do Tratado de Tlatelolco (bairro da Cidade do México onde foi celebrado o acordo) que proíbe o desenvolvimento, aquisição, teste e instalação de armas nucleares na América Latina e Caribe.

Este tratado entrou em vigor em 1969, mas com ele os riscos de proliferação nuclear na região não chegaram ao fim, pois havia dois Estados-chave na região relutantes em aceitá-lo plenamente.

Brasil tem duas usinas nucleares em atividade — Foto: Getty Images/Via BBC
Brasil tem duas usinas nucleares em atividade — Foto: Getty Images/Via BBC

A resistência de Brasil e Argentina

Embora o Brasil tenha sido um dos proponentes iniciais da criação de uma zona latino-americana livre de armas nucleares, logo mudou sua posição sobre o assunto, cedendo esse posto de liderança ao México.

O esforço mexicano foi recompensado com o fato de o tratado levar o nome de Tlatelolco, sede do Ministério das Relações Exteriores daquele país, e com o Prêmio Nobel da Paz concedido ao diplomata mexicano Alfonso García Robles em 1982.

"Depois do golpe no Brasil em 1964, as elites militares do país decidiram investir menos no projeto de desmilitarização da América Latina", diz Rodríguez.

Outro país da região, relevante do ponto de vista da tecnologia nuclear, que se recusou a aceitar totalmente o Tratado de Tlatelolco foi a Argentina.

"Depois de 1962, o México se torna a face visível dessa iniciativa. O Brasil se distancia dela. Há cientistas que questionavam internamente: 'Queremos mesmo abrir mão do nosso direito de ter armas nucleares em troca de nada? O que acontecerá se um dia precisarmos delas?'", diz Musto.

O especialista afirma que ambos os países apoiaram formalmente o Tratado de Tlatelolco porque "pegaria mal" não apoiar, e participaram da elaboração do acordo tentando influenciar para que fosse permitido o que então era conhecido como "explosões nucleares pacíficas".

Rodríguez explica que, naquela época, acreditava-se que a energia nuclear poderia ser um instrumento para acelerar o desenvolvimento dos países latino-americanos e que essas "explosões pacíficas" poderiam ser usadas, por exemplo, para abrir minas, canais de navegação ou até mesmo para obras de hidrelétricas.

"Foi isso que levou países como Brasil e Argentina a desenvolver certos programas nucleares de tecnologia de uso duplo, que poderiam servir ​​para fins civis ou militares, o que gerou certas tensões, principalmente com organizações internacionais", diz Rodríguez.

Rodríguez e Musto afirmam que não foi comprovado que os governos da Argentina e do Brasil tivessem planos de desenvolver armas nucleares, embora haja indícios de que houve pessoas dentro dos governos dos dois países partidárias dessa possibilidade.

"O que Brasil e Argentina fizeram foi criar um programa nuclear fora das regulamentações da Agência Internacional de Energia Atômica, por isso são chamados de programas secretos do Brasil e Argentina", diz Rodríguez.

"Há historiadores como Carlos Pati, um italiano que trabalha no Brasil, que não constataram que as motivações foram puramente militares ou que foram para criar armas nucleares. O que se vê é que houve uma divisão nos dois países entre facções das elites que queriam armas nucleares e facções que decidiram não tê-las", acrescenta.

Musto indica que ambos os países estavam muito preocupados com as limitações que os acordos internacionais poderiam impor às suas opções de desenvolvimento nuclear.

"Ambos os países queriam desenvolver um ciclo completo e independente de produção de combustível nuclear. Não queriam que sua soberania nuclear fosse afetada", diz.

Apesar de tudo, no início da década de 1990, ambos os países renunciaram ao direito às explosões nucleares pacíficas, se integraram totalmente ao Tratado de Tlatelolco e, posteriormente, fizeram o mesmo com o Tratado de Não-Proliferação Nuclear.

Essas decisões foram acompanhadas pelo abandono, tanto pela Argentina, quanto pelo Brasil, de seus programas de desenvolvimento de mísseis balísticos. Projetos que, combinados com seus programas de desenvolvimento nuclear fora do Tratado de Não-Proliferação, geraram preocupação na comunidade internacional.

Rivalidades, custos e instituições internacionais

Além do impacto da crise dos mísseis, há outros fatores que contribuíram para que nenhum país da América Latina — e especialmente Brasil e Argentina, que estavam em melhor posição para isso — se equipasse com a bomba.

Ryan Musto aponta, por exemplo, para o fato de a região não ter o tipo de rivalidades intensas e conflitos que ocorrem em outras partes do mundo.

"Sim, Brasil e Argentina são rivais, mas isso nunca chegou a um ponto forte o suficiente para levar a uma corrida armamentista. Em geral, a América Latina parece ser uma região relativamente estável quando se trata de conflitos interestatais", destaca o especialista.

Outro elemento que contribuiu no caso do Brasil e da Argentina foi que ambos os países fizeram a transição de ditaduras militares para a democracia em meados da década de 1980.

O alto custo de um programa atômico também pode ter desempenhado um papel importante em dissuadir a proliferação nuclear na região.

"Desenvolver um programa nuclear é muito caro. Precisa de muita infraestrutura, especialistas e conhecimento", diz Rodríguez, da Universidade de Stanford.

Esse alto custo, além disso, não é medido apenas pela quantidade de dinheiro que o programa de armas nucleares exige. Também são altos os custos diplomáticos e de prestígio derivados de ir contra a corrente do consenso internacional contra a proliferação de armas e também das oportunidades perdidas relacionadas ao uso pacífico da energia nuclear.

Um exemplo claro disso, segundo Musto, ocorreu em 1975, quando o Brasil assinou com a Alemanha Ocidental o maior acordo da história em termos de transferência de tecnologia nuclear para um país do sul global.

"O acordo deveria ajudar o Brasil a construir oito reatores nucleares. Bem, os Estados Unidos pressionaram a Alemanha Ocidental porque o Brasil não era membro do Tratado de Não-Proliferação Nuclear e havia suspeitas sobre seu programa atômico — e talvez também devido a alguns interesses comerciais dos EUA. No fim, o acordo não se concretizou", afirma.

"Então, esses tipos de aspirações desapareceram porque Brasil e Argentina não participaram plenamente do sistema de padrões nucleares previsto no regime do Tratado de Não-Proliferação", acrescenta.

Assim, chegou-se a um ponto em que, para ambos os países, havia mais benefícios e oportunidades se estivessem totalmente integrados às instituições internacionais que regulam o uso pacífico da energia atômica, do que tentando preservar sua liberdade de ação fora delas.

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Plantas carnívoras têm 5 armadilhas diferentes e algumas até debaixo da terra e água; conheça os tipos

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Vegetais podem atrair presas simulando um orvalho ou abrigo. Brasil tem o maior número de espécies criticamente ameaçadas do mundo por causa da conversão de terras para a agricultura, diz estudo de especialista.
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Por Paula Salati, g1

Postado em 24 de setembro de 2022 às 05h35m

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(1) Dionaea; (2) Drosera; (3) Genlisea (subaquática ou subterrânea); (4) Nephentes; (5) Utricularia (subaquática ou subterrânea). — Foto: Arquivo pessoal Julio Santiago/Noah Elhardt/ Miguel Porto/Leonhard Lenz
(1) Dionaea; (2) Drosera; (3) Genlisea (subaquática ou subterrânea); (4) Nephentes; (5) Utricularia (subaquática ou subterrânea). — Foto: Arquivo pessoal Julio Santiago/Noah Elhardt/ Miguel Porto/Leonhard Lenz

Nem sempre as armadilhas das plantas carnívoras são óbvias e visíveis como a boca de uma Nephentes ou as garras de jaula da famosa dionaea ou apanha-moscas, uma das espécies mais conhecidas no Brasil.

Suas artimanhas também podem aparecer na forma de um 'belo orvalho' – que, na verdade, é uma cola – ou até mesmo na de um 'abrigo' debaixo da terra ou da água, que, de repente, pode sugar as presas.

As capturas das plantas carnívoras também vão muito além dos insetos: algumas podem comer larvas, vermes, protozoários, sapos e até roedores ou pássaros mais distraídos. Veja abaixo um infográfico sobre cada tipo de armadilha.

Nessa reportagem você ainda pode conferir:

  • Por que as plantas carnívoras comem insetos?
  • Elas conseguem capturar animais maiores?
  • Qual é a maior do mundo?
  • Plantas carnívoras são venenosas? Podem 'morder' o dedo?
  • Quantas espécies existem e quais estão ameaçadas de extinção no Brasil?
Plantas carnívoras — Foto: Arte/ Luisa Blanco
Plantas carnívoras — Foto: Arte/ Luisa Blanco

Por que as plantas carnívoras precisam comer insetos?

A síndrome carnívora se desenvolveu como um mecanismo de sobrevivência de plantas localizadas em ambientes com solo pouco fértil, explica Julio Santiago, mestrando em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Os insetos, contudo, são uma fonte complementar de nutrientes, e não a principal.

"A principal fonte de energia das plantas carnívoras ainda é o sol, pois, assim como a maioria das plantas, elas fazem fotossíntese", ressalta o professor Paulo Gonella, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

Os insetos servem, na verdade, para complementar nutrientes que existem em pouca quantidade no solo onde vivem as plantas carnívoras, como o nitrogênio e o fósforo.

Dionaea capturando inseto; planta usa a armadilha da jaula. — Foto: Arquivo pessoal/Julio Santiago - UGMG
Dionaea capturando inseto; planta usa a armadilha da jaula. — Foto: Arquivo pessoal/Julio Santiago - UGMG

Podem capturar animais maiores, como ratos e pássaros?

Sim, mas de forma acidental. As Nephentes, por exemplo, têm estruturas para capturar animais um pouco maiores por causa do seu formato semelhante a um jarro.

"Os insetos são as presas principais das plantas carnívoras. Pequenas aves ou roedores são presas eventuais, que podem cair na armadilha atraídas pelos próprios insetos capturados ou pelo açúcar que a planta libera", diz Gonella.

A depender do tamanho do bicho, as plantas podem até apodrecer por causa da dificuldade de digerir uma quantidade muito alta de nutrientes.

Nephentes pode capturar de forma acidental animais um pouco maiores, mas sua presa principal é o inseto. — Foto: Arquivo Julio Santiago - UFMG
Nephentes pode capturar de forma acidental animais um pouco maiores, mas sua presa principal é o inseto. — Foto: Arquivo Julio Santiago - UFMG

Qual é a maior do mundo?

Há duas espécies que estão, até o momento, entre as maiores do mundo, e que podem atingir até 1,5m de altura: a Drosera magnifica e a Nephentes rajah, diz Santiago.

A Drosera magnifica é originária do estado de Minas Gerais, enquanto a Nephentes rajah, da Ilha de Bornéu, do Sudeste Asiático.

Plantas carnívoras são venenosas? Podem 'morder' o dedo?

Nenhuma planta carnívora que se tem conhecimento é venenosa ou tóxica e tampouco tem interesse na carne humana.

"[Se você colocar o dedo], pode até estimular [a planta], mas não o suficiente para prender. Em muitos casos, nem vai estimular, porque a sinalização química [que incentiva a captura] está relacionada à quitina, uma proteína presente no exoesqueleto dos insetos", explica Santiago.

No momento em que o inseto pousa em uma planta carnívora, há uma sinalização química da presença quitina que faz o vegetal reconhecer a presença de um alimento promissor.

Espécies pelo mundo

A drosera captura as suas presas a partir do visual. Suas gotas colantes se assemelham a orvalhos. É o gênero com o maior número de plantas, ao lado das utricularias. — Foto: Arquivo Julio Santiago - UFMG
A drosera captura as suas presas a partir do visual. Suas gotas colantes se assemelham a orvalhos. É o gênero com o maior número de plantas, ao lado das utricularias. — Foto: Arquivo Julio Santiago - UFMG

No mundo, há cerca de 860 espécies de plantas carnívoras conhecidas, sendo que a maior parte delas são do gênero Drosera, Utricularia e Nephentes.

Os dados são do estudo "Conservação das plantas carnívoras na Era da Extinção", publicado em 2020 por Gonella e outros autores, na revista científica Global Ecology and Conservation.

O Brasil é o segundo país com o maior número de espécies (cerca de 130), perdendo apenas para a Austrália, que tem aproximadamente 250.

Quando se trata das que estão ameaçadas de extinção, há, hoje, cerca de 193, o que representa 20% do total das espécies.

Dessas, 28 estão no Brasil, das quais 13 são classificadas como "criticamente ameaçadas". O Brasil é o país com o maior número de espécies nesse estado, mostra o estudo de Gonella, que adota critérios de classificação da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Planta carnívora do gênero philcoxia só existe no Brasil e está criticamente ameaçada de extinção. Suas armadilhas são subterrâneas. — Foto: Divulgação/PNAS
Planta carnívora do gênero philcoxia só existe no Brasil e está criticamente ameaçada de extinção. Suas armadilhas são subterrâneas. — Foto: Divulgação/PNAS

O gênero Philcoxia, que só existe no Brasil – mais especificamente nos biomas Cerrado e Caatinga –é o que mais preocupa, pois 100% dele está ameaçado, conta o professor da UFSJ.

Essas plantas crescem em areias muito brancas e dão flores de cor lilás. Elas se alimentam de pequenos vermes que vivem no solo, a partir de armadilhas adesivas em folhas que ficam debaixo da terra.

Outro gênero em risco no Brasil é a Drosera, com 40% de plantas ameaçadas.

"O Brasil tem uma responsabilidade muito grande na conservação de suas espécies carnívoras. Um dos principais fatores que está causando isso [a ameaça de extinção] é a destruição dos habitats para conversão para a agricultura", diz Gonella.

"O uso de fertilizantes e pesticidas na agricultura tornam o solo mais rico do que eles são originalmente, fazendo com que outras espécies invadam esses locais e acabem competindo pelos habitats das plantas carnívoras", acrescenta.

À direita, a parte de cima de uma utricularia e, à esquerda, sua parte subaquática. — Foto: Leonhard Lenz/Miguel Porto
À direita, a parte de cima de uma utricularia e, à esquerda, sua parte subaquática. — Foto: Leonhard Lenz/Miguel Porto

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