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quinta-feira, 1 de setembro de 2022

A intrigante imagem de macaco com mangusto no colo que concorre a prêmio de fotos de vida selvagem

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A cena retrata um momento de ternura ou um predador que garantiu sua presa para o jantar?
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TOPO
Por Ella Hambly, BBC

Postado em 01 de setembro de 2022 às 09h00m

 #.*Post. - N.\ 10.454*.#

A intrigante imagem de macaco com mangusto no colo que concorre a prêmio de fotos de vida selvagem — Foto: CHRISTIAN ZIEGLER/BBC
A intrigante imagem de macaco com mangusto no colo que concorre a prêmio de fotos de vida selvagem — Foto: CHRISTIAN ZIEGLER/BBC

Um momento de ternura ou algo mais sinistro?

A imagem parece mostrar um bonobo abraçando um pequeno mangusto como se fosse um querido animal de estimação. Mas, em vez disso, talvez o macaco tenha pegado o filhote de mangusto para comer no jantar depois de ter matado sua mãe.

Porém, isso seria incomum — os bonobos se alimentam principalmente de frutas e só caçam de vez em quando.

O comportamento intrigante foi fotografado por Christian Ziegler na República Democrática do Congo.

A foto fascinante foi selecionada como altamente recomendada na 58ª edição do concurso Wildlife Photographer of the Year (WPY) do Museu de História Natural de Londres.

A lista dos finalistas foi revelada nesta quinta-feira (01/09), e os vencedores serão anunciados em outubro.

Christian estava seguindo o grupo de bonobos, "submerso até o peito na floresta alagada" do Parque Nacional de Salonga há dias, quando avistou o jovem macho segurando o pequeno mangusto na mão.

"Fiquei muito surpreso ao ver como ele carregava o mangusto com tanto cuidado. Comecei imediatamente a segui-lo e documentá-lo", diz o fotógrafo à BBC News.

Segundo ele, o macaco segurou e acariciou o pequeno mangusto por mais de uma hora.

Mas poderia estar planejando comê-lo.

Quando os bonobos capturam a presa, eles não a matam imediatamente — em vez disso, começam a comer quando ainda estão vivas, de acordo com Barbara Fruth, diretora do Projeto LuiKotale Bonobo, que observa esses animais há mais de 20 anos.

Mas, às vezes, se o jantar for muito farto e o macaco ficar satisfeito, ele trata as presas vivas que sobraram como animais de estimação. Normalmente, esses animais são comidos mais tarde.

Fruth acredita que é provavelmente isso que estava acontecendo na foto.

Ela destaca que os bonobos são conhecidos por sua natureza gentil, empática e pacífica.

"Sabemos que em cativeiro os bonobos cuidam de indivíduos que não são de sua própria espécie", diz a especialista.

Na natureza, no entanto, é improvável que um bonobo cuide de outra espécie como animal de estimação no longo prazo, segundo ela.

Mas Fruth não descarta a ideia de que os macacos mantenham outros animais como acessórios para atrair o interesse de outros membros do grupo e, assim, elevar seu status.

No fim das contas, este mangusto teve um final feliz — o bonobo acabou soltando seu "animal de estimação", que saiu ileso.

O mistério por trás da foto faz parte do seu fascínio para os jurados do concurso do Museu de História Natural.

Natalie Cooper, pesquisadora sênior do Museu de História Natural, selecionou os finalistas com seus colegas do júri dentre quase 40 mil inscritos em 20 categorias.

"Estamos procurando imagens tecnicamente brilhantes — aquelas que você vê uma vez e acorda na manhã seguinte ainda pensando nela", afirma.

O WPY se tornou uma das competições mais prestigiadas do tipo. Foram recebidas inscrições de 93 países para o evento deste ano.

Os vencedores das categorias e do Grande Prêmio serão anunciados durante uma cerimônia no Museu de História Natural de Londres em 11 de outubro.

A exposição anual das melhores fotos, realizada no museu, será aberta em 14 de outubro.

'The right look', de Richard Robson, Nova Zelândia

'The right look', de Richard Robson, Nova Zelândia — Foto: RICHARD ROBINSON/BBC
'The right look', de Richard Robson, Nova Zelândia — Foto: RICHARD ROBINSON/BBC

Nesta imagem de Richard Robson, ele e sua câmera se tornaram objeto de fascínio desta jovem baleia-franca-austral. O encontro durou 30 minutos, com a baleia nadando em volta dele, se afastando e voltando para dar mais uma olhada.

As baleias foram caçadas chegando à beira da extinção nos séculos 19 e 20. Mas a população de baleias-francas, conhecidas como 'tohorā' em maori, está se recuperando depois que a caça foi proibida.

Categoria - Retratos de Animais

'Underwater wonderland', de Tiina Törmänen, Finlândia

'Underwater wonderland', de Tiina Törmänen, Finlândia — Foto: TIINA TÖRMÄNEN/BBC
'Underwater wonderland', de Tiina Törmänen, Finlândia — Foto: TIINA TÖRMÄNEN/BBC

Um cardume de percas curiosas encontrou a fotógrafa Tiina Törmänen enquanto ela fazia snorkel num lago em Posio, na Lapônia.

O crescimento excessivo das algas, que lembram nuvens, resultado das mudanças climáticas e do aquecimento das águas, pode causar um problema para a vida aquática quando elas consomem oxigênio e bloqueiam a luz solar.

Categoria - Subaquática

'The lost floods', de Jasper Doest, Zâmbia

'The lost floods', de Jasper Doest, Zâmbia — Foto: JASPER DOEST/BBC
'The lost floods', de Jasper Doest, Zâmbia — Foto: JASPER DOEST/BBC

O fotógrafo holandês Jasper Doest capturou Lubinda Lubinda, gerente de estação da Autoridade do Rio Zambeze, em frente à sua nova casa (à direita), que ele não precisou construir tão alto quanto a última devido aos níveis de água mais baixos.

As mudanças climáticas e o desmatamento resultaram em mais secas na planície aluvial do Zambeze.

"Podemos falar sobre mudanças climáticas à exaustão, mas até que você veja a realidade do problema na tela à sua frente, é difícil se conectar com esse assunto", diz Natalie Cooper sobre a importância da imagem.

'Polar Frame', de Dmitry Kokh, Rússia

'Polar Frame', de Dmitry Kokh, Rússia  — Foto: DMITRY KOKH/BBC
'Polar Frame', de Dmitry Kokh, Rússia — Foto: DMITRY KOKH/BBC

Mais de 20 ursos polares tomaram conta da ilha Kolyuchin, na Rússia, abandonada desde 1992, em busca de comida. Com as mudanças climáticas reduzindo o gelo marinho, os ursos polares estão com mais dificuldade de caçar, indo vasculhar mais perto de assentamentos humanos. Um drone de baixo ruído foi usado para capturar a imagem impressionante.

Categoria - Retratos de Animais

'Treefrog pool party', de Brandon Güell, Costa Rica

'Treefrog pool party', de Brandon Güell, Costa Rica — Foto: BRANDON GÜELL/BBC
'Treefrog pool party', de Brandon Güell, Costa Rica — Foto: BRANDON GÜELL/BBC

Aqui o fotógrafo atravessou com água na altura do peito para capturar um frenesi de reprodução ao amanhecer. Você quase pode ouvir os chamados de acasalamento dos sapos planadores machos enquanto as fêmeas colocam seus ovos em folhas — cerca de 200 de cada vez —, que mais tarde caem na água como girinos.

Categoria - Comportamento: Anfíbios e Répteis

'The snow stag', de Joshua Cox, 8 anos, Reino Unido

Joshua tem agora oito anos, mas tinha apenas seis quando registrou este majestoso cervo durante uma intensa nevasca no Richmond Park, em Londres. Ele começou a usar uma câmera de brinquedo quando era bebê e evoluiu para uma câmera compacta pouco antes desta foto ser tirada.

"Parecia que ele estava tomando um banho de neve", diz Joshua.

Categoria - 10 anos ou menos

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62750100

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quarta-feira, 31 de agosto de 2022

'Blob': a extraordinária criatura que nos obriga a questionar se somos a espécie mais inteligente

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Trata-se de um organismo que pode calcular e navegar em sistemas complexos com incrível eficiência e objetividade. Desde 2018, eles são "professores convidados não humanos" em uma universidade em Massachusetts.
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TOPO
Por BBC

Postado em 31 de agosto de 2022 às 19h30m

 #.*Post. - N.\ 10.453*.#

Uma criatura amarela que mora na floresta e não tem cérebro, mas é capaz de pensar — Foto: RONALD GRANT
Uma criatura amarela que mora na floresta e não tem cérebro, mas é capaz de pensar — Foto: RONALD GRANT

Que tal começarmos com um teste rápido.

Você está perdido em uma enorme loja que parece um labirinto e não sabe como sair dela. A quem você pede ajuda?

Pergunta 2: Você está redigindo um documento de política para assessorar o governo dos Estados Unidos sobre como governar suas fronteiras nacionais. Onde você procura conselhos?

Última pergunta: Você precisa desenhar um mapa da teia cósmica, como você faz isso?

Existem, é claro, várias respostas para essas perguntas, mas em todos os casos você poderia ser inspirado por um organismo: o bolor limoso, que também pode ser conhecido por muitos nomes diferentes.

Sendo cientificamente preciso ele não é exatamente um bolor... mas pelo menos uma de suas espécies é extraordinária.

"O bolor é uma divisão do mundo dos fungos, mas o bolor limoso é na verdade um protista (não é um animal, planta ou fungo) - é essencialmente uma célula gigante", diz o biólogo Merlin Sheldrake, autor do livro Entangled Life, que aborda o tema.

O bolor limoso é um plasmódio, ou seja, uma célula que contém muitos núcleos. Então, ao contrário da maioria dos organismos unicelulares, você não precisa de um microscópio para vê-lo.

E essa única célula é capaz de tecer vastas redes exploratórias feitas de tentáculos semelhantes a veias que podem se estender até um metro.

Existem cerca de 900 espécies de bolor limoso, mas vamos nos concentrar no Physarum Polycephalum, que literalmente quer dizer "bolor de várias cabeças". Ele também é conhecido como "blob" (referindo-se ao clássico filme de 1958 The Blob).

Clássico filme The Blob serviu de inspiração para nomear popularmente o bolor limoso — Foto: GETTY IMAGES
Clássico filme The Blob serviu de inspiração para nomear popularmente o bolor limoso — Foto: GETTY IMAGES

Por que os cientistas do mundo estão tão empolgados com essa espécie em particular?

"Ele se tornou um organismo emblemático de resolução de problemas. É fácil de cultivar e cresce rápido, o que é uma das razões pelas quais tem sido tão bem estudado", explica Sheldrake.

"Mas acima de tudo, seus comportamentos são extraordinários."

Ele pode fazer todos os tipos de coisas.

"Explorar, resolver problemas, adaptar-se a novas situações, tomar decisões entre cursos alternativos de ação - e tudo sem cérebro!"

Como ele faz isso?

"O Physarum é sensível ao gradiente químico, então pode crescer em direção a sinais químicos ou ficar longe dos pouco atraentes".

"Primeiro, ele tende a crescer em todas as direções ao mesmo tempo. E então, quando encontra comida, ele se retrai e forma as conexões entre suas fontes de alimento."

É um pouco como se você estivesse no deserto e precisasse procurar água. Você tem que escolher apenas uma direção para caminhar.

O Physarum Polycephalum pode "andar" em todas as direções ao mesmo tempo até encontrar alimentos; depois encolhe os ramos que não encontraram nada e fortalece os que encontraram, através de uma série de contrações químicas.

Em um experimento memorável, "blob" aprendeu a "ignorar" os químicos colocados para bloquear seu caminho para a comida. Esse comportamento sugere uma forma primitiva de memória, e ninguém sabe como ela realiza essa façanha — Foto: SCIENCE PHOTO LIBRARY
Em um experimento memorável, "blob" aprendeu a "ignorar" os químicos colocados para bloquear seu caminho para a comida. Esse comportamento sugere uma forma primitiva de memória, e ninguém sabe como ela realiza essa façanha — Foto: SCIENCE PHOTO LIBRARY

"Nunca deixa de me surpreender que eles possam usar essas contrações para fazer esse tipo de cálculo analógico, para integrar informações sem precisar de um cérebro. Que sua coordenação ocorra em todos os lugares ao mesmo tempo e em nenhum lugar em particular."

Uma rede ferroviária no Japão

Tudo isso significa que o "blob" é capaz, em termos humanos, de resolver problemas, fazer redes, navegar em sistemas e labirintos com uma eficiência incrível.

Há um estudo japonês icônico de 2010, quando o Physarum traçou a rede ferroviária da Grande Tóquio, e para isso precisou somente de uma pequena placa de Petri e um punhado de aveia.

Segundo os estudos, o Physarum adora aveia, é a sua comida preferida.

"Então, eles modelaram a área da Grande Tóquio colocando copos de aveia nos centros urbanos e depois o lançaram. Ao longo de algumas horas, havia formado uma rede eficiente que conectava os copos de aveia, e essa rede parecia muito com a rede de metrô existente na área da Grande Tóquio", detalha o estudo.

O Physarum havia estabelecido, em questão de horas, uma rede eficaz que levou décadas para ser feita na vida real.

Adaptação da ilustração do estudo do professor Toshiyuki Nakagaki sobre a criação e otimização de redes por parte do P. polycephalum. — Foto: TIM TIM / WIKIPEDIA
Adaptação da ilustração do estudo do professor Toshiyuki Nakagaki sobre a criação e otimização de redes por parte do P. polycephalum. — Foto: TIM TIM / WIKIPEDIA

O "blob" no universo

Após o estudo de Tóquio, experimentos com Physarum Polycephalum decolaram em todo o mundo, para projetar novas redes de transporte urbano ou encontrar rotas eficazes de evacuação de incêndio, até mesmo mapear a teia cósmica... o que parece estranho, mas ocorreu.

Uma equipe de cientistas fez uma simulação digital traçando as localizações das 37.000 galáxias conhecidas.

Então, um algoritmo inspirado no "blob", adaptado da placa de Petri para trabalhar em três dimensões, foi liberado em um banquete virtual onde as galáxias estavam representadas por pilhas de copos de aveia digital, por assim dizer.

A partir daí, o algoritmo produziu um mapa digital em 3D da teia cósmica subjacente, visualizando os fios em grande parte invisíveis de matéria que os astrofísicos acreditam que unem as galáxias do universo.

Eles compararam com dados do Telescópio Espacial Hubble, que detecta traços da teia cósmica, e descobriram que tudo combinava em grande parte.

Portanto, parece haver uma estranha semelhança entre as duas redes, a rede de "blob" formada pela evolução biológica e as de estruturas no cosmos criadas pela força primordial da gravidade.

Os astronômos apelaram à criatividade ao tentar rastrear a indescrítivel teia cósmica, a coluna vertebral do cosmos. As imagens mostram algumas das galáxias das quais o "blob" se "alimentou" (representadas em amarelo) e os fios de conexão da rede cósmica (roxo) sobrepostos — Foto: NASA, ESA Y J. BURCHETT Y O. ELEK (UC SANTA CRUZ)
Os astronômos apelaram à criatividade ao tentar rastrear a indescrítivel teia cósmica, a coluna vertebral do cosmos. As imagens mostram algumas das galáxias das quais o "blob" se "alimentou" (representadas em amarelo) e os fios de conexão da rede cósmica (roxo) sobrepostos — Foto: NASA, ESA Y J. BURCHETT Y O. ELEK (UC SANTA CRUZ)

Os "blobs" acadêmicos

Vamos voltar para a dura realidade daquele pequeno ponto azul no espaço que é o nosso mundo.

O Physarum também pode nos ajudar com problemas que vão além do mapeamento e da criação de redes, como para coisas humanas mais complexas, como formulação de políticas e governança.

"De certa forma, os Physarum são economistas, em termos de alcançar um ótimo universo", diz o filósofo experimental Jonathon Keats.

Em 2018, ele foi ao Hampshire College, em Massachusetts, EUA, com uma ideia.

"Propus que os "blobs" fossem nomeados como professores visitantes, com a ideia de ter um grupo desses especialistas no campus para refletir sobre alguns dos problemas mais desafiadores do mundo."

Foi o primeiro programa acadêmico do mundo para uma espécie não humana e foi chamado de Consórcio Plasmodium.

Página de universidade americana tem área dedicada ao consórcio — Foto: Reprodução/Hampshire College
Página de universidade americana tem área dedicada ao consórcio — Foto: Reprodução/Hampshire College

Os polycephalies de Physarum se tornaram estudiosos, com direito a escritório.

"Não tem janelas, mas os "blobs" não gostam muito de luz, então do ponto de vista deles foi bom, e logo que eles se instalaram lá, pudemos começar."

Eles modelaram os problemas humanos de maneira que os blobs pudessem "entendê-los" para obter sua perspectiva imparcial.

"Os Physarum são superorganismos: eles são um apesar de serem muitos. Portanto, eles são mais objetivos do que nós quando se trata de assuntos humanos."

Eles começaram com as questões usuais de rede e mapeamento, distribuição e transporte, antes de passar para algumas preocupações políticas maiores, "desde políticas de drogas até questões de nosso uso de recursos", observa Keats.

O muro de Trump

Talvez os experimentos mais polêmicos tenham sido aqueles que exploraram a política de fronteira internacional.

"Criamos um mundo simplificado, que é realmente o que qualquer um faz quando está criando qualquer tipo de modelo (os economistas fazem isso o tempo todo)."

"O que fizemos foi pegar uma das condições mais fundamentais: um lugar tem alguma coisa, outro lugar tem outra coisa, e cada lugar quer proteger o que tem contra o outro."

O "blob" com seu prato preferido: aveia — Foto: SCIENCE PHOTO LIBRARY
O "blob" com seu prato preferido: aveia — Foto: SCIENCE PHOTO LIBRARY

Eles usaram dois recursos essenciais para os "blobs", proteína e açúcar, e os espalharam em uma placa de Petri, cada um em um lado oposto, e tentaram com uma parede entre eles e também sem ela, deixando Physarum descobrir o que fazer com esses recursos.

"Eles não apenas sobreviveram, mas prosperaram no caso de não haver muro e floresceram mais na área de fronteira", explica o pesquisador.

"Então escrevemos uma carta para Kirstjen Nielsen, que era a Secretária de Segurança Nacional nos EUA na época, e também enviamos para as Nações Unidas e muitos outros órgãos governamentais, dizendo a eles que as fronteiras não são uma boa ideia e que devemos superar o medo para reconhecer como ter fronteiras abertas beneficia a todos."

Absurdo?

É claro que esses problemas internacionais multifacetados não podem ser reduzidos a algumas poucas placas de Petri.

Mas o ponto é que esses experimentos são deliberadamente exagerados para nos desafiar a pensar de novas maneiras.

"O consórcio Plasmodium é, em certo sentido, absurdo. As pessoas riem quando ouvem que os "blobs" montaram um grupo de especialistas em colaboração com humanos em uma universidade nos Estados Unidos porque simplesmente não é assim que as coisas são feitas."

Mas acho que também há algo muito sério por trás disso. O Physarum têm uma inteligência excepcional, então precisamos incorporar algumas das ideias que obtemos ao observar como eles se comportam, pensando em nós mesmos de maneiras que não tínhamos feito antes", declara o pesquisador.

Esse é o aspecto mais atraente de tudo isso. Que um organismo sem cérebro pode nos ensinar a ser mais objetivos, a pensar mais a longo prazo, e que pode abordar um problema de uma maneira que simplesmente não pensaríamos.

E no caso de alguns enigmas, como mapear o cosmos, pode ser mais rápido do que a gente.

Tudo isso põe em dúvida nossas definições humanas de inteligência.

Do fundo de nossas hierarquias, Physarum é considerado um desafio que tem sido cada vez mais estudado — Foto: SCIENCE PHOTO LIBRARY
Do fundo de nossas hierarquias, Physarum é considerado um desafio que tem sido cada vez mais estudado — Foto: SCIENCE PHOTO LIBRARY

"Nossa visão hierárquica da inteligência com humanos no topo da Grande Pirâmide revela o narcisismo de nossa espécie", afirma Sheldrake.

"Pensar sobre o mundo sem usar a nós mesmos como o padrão pelo qual todos os outros seres vivos devem ser julgados pode ajudar a amortecer algumas das hierarquias que sustentam o pensamento moderno", completa.

Essas hierarquias significam que nós, Homo sapiens, temos uma opinião incrivelmente alta de nós mesmos, e isso tem nos ajudado a chegar longe.

Mas talvez isso já tenha cumprido o seu propósito.

"Acho que nós, humanos, temos a necessidade de acreditar em um tipo de superioridade. Essa alta autoestima tem sido o motor da dominação. Temos sido capazes de fazer mais e isso é um resultado de acreditar que podemos mais", aponta Keats. .

"Mas estamos chegando a um limite, ao ponto em que essa forma de pensar está piorando o mundo para nós e para outras espécies. Então é hora de repensar."

E um catalisador para esse repensar é o Physarum Polycephalum, um protista de uma única célula sem cérebro que fica na parte inferior dessa hierarquia, de onde pode abalar todo o sistema.

Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62703311

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Brasileiros de renda média pagam mais Imposto de Renda do que os super-ricos

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Levantamento dos auditores da Receita Federal mostra que assalariados pagam, proporcionalmente aos rendimentos, mais IR que os contribuintes que estão no topo da pirâmide social; especialistas defendem reforma para rever isenções e faixas de cobrança do tributo.
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Por Bianca Lima e Luiz Guilherme Gerbelli, GloboNews e g1

Postado em 31 de agosto de 2022 às 06h20m

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O sistema tributário brasileiro coleciona distorções que impactam os cofres do governo – e o bolso dos contribuintes. Uma delas faz com que os assalariados de renda média paguem mais Imposto de Renda (IR) do que os super-ricos.

No topo da pirâmide social, os contribuintes com renda mensal superior a 320 salários mínimos (o equivalente a R$ 334,4 mil) pagam uma alíquota efetiva de IR de apenas 5,25%. Esse percentual representa o quanto de fato é recolhido em IR como proporção do rendimento total da pessoa.

De Olho no Orçamento — Foto: Arte/g1
De Olho no Orçamento — Foto: Arte/g1

É praticamente a mesma alíquota daqueles que ganham de cinco a sete salários mínimos (entre R$ 5,2 mil e R$ 7,3 mil) – que são taxados, efetivamente, em 4,91%. E inferior ao percentual observado na faixa de sete a dez salários (R$ 7,3 mil a R$ 10,4 mil), que pagam em Imposto de renda 7,7% dos rendimentos.

Não existe uma classificação oficial para as faixas de renda no Brasil. Entidades e órgãos de governo utilizam dados diferentes nesse cálculo.

Os números foram calculados pelo Sindifisco Nacional, sindicato que reúne os auditores da Receita Federal, com base nos dados da declaração de Imposto de Renda de 2021, referentes ao ano-calendário de 2020. Por esse motivo, foi considerado o valor do salário mínimo de 2020.

"É exatamente o contrário do que deveria ocorrer. São os que podem pagar menos (Imposto de Renda), pagando mais, e os que podem pagar mais, pagando menos", afirma Isac Falcão, presidente do Sindifisco Nacional.

A análise detalhada do IR mostra que a a faixa de renda em que a cobrança do tributo é maior é entre aqueles que ganham de 20 a 30 salários mínimos (entre R$ 20,9 mil e R$ 31,3 mil), alcançando uma alíquota efetiva de 11,89%. A partir daí, a cobrança fica cada vez menor. (Veja mais detalhes no gráfico abaixo).

"Essa é uma característica muito negativa do sistema tributário brasileiro, porque um dos princípios importantes da tributação é que ele respeite a capacidade econômica do contribuinte. O que significa dizer que você deveria tributar menos os mais pobres, de forma intermediária a classe média e mais quem é mais rico", afirma Manoel Pires, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Rendas isentas

Essa distorção ocorre, em grande parte, porque uma fatia expressiva da renda dos mais ricos é recebida na forma de lucros e dividendos, que são isentos de IR desde 1996. São valores distribuídos por empresas a sócios e acionistas.

Quem ganha mais de 320 salários mínimos por mês – ou seja, os 1% mais ricos do País – tem quase 70% da sua renda livre desse tributo. Já o trabalhador que recebe entre um e dois salários está na outra ponta e tem apenas 13% dos rendimentos isentos.

O gráfico abaixo deixa claro que, quanto maior a renda do contribuinte, maior é a fatia de rendimentos não tributados.

Ampla reforma

Os analistas afirmam que as distorções na cobrança do Imposto de Renda só serão corrigidas por meio de uma ampla reforma tributária. Na avaliação deles, dois pontos são fundamentais:

  • 1) Rever isenções. A isenção da cobrança de IR sobre lucros e dividendos e fundos fechados de investimentos precisa ser alterada, porque, no formato atual, acaba beneficiando a parcela mais rica da sociedade brasileira.

"Essas isenções são importantes para quem tem mais renda. As pessoas pobres não têm um rendimento relevante obtido com lucros e dividendos, por exemplo", afirma Pires, que ressalta que seria necessário mexer, também, no Imposto de Renda da Pessoa Jurídica.

"O país deveria reduzir a carga (tributária) na empresa para compensar a volta da tributação sobre lucros e dividendos. Isso iria ajudar muito o Brasil, porque a alíquota (de Imposto de Renda) nas empresas é muito elevada. Então, uma redução iria colocar a gente numa convergência com as principais tendências internacionais", acrescenta.

  • 2) Atualizar e criar novas faixas. Os especialistas também acreditam que o país precisa remodelar as faixas de cobrança de IR – o reajuste pela inflação, por exemplo, deixou ser automático desde 1996 – e criar novas alíquotas, que sejam superiores aos 27,5% (a mais alta da tabela atual).

"A nossa faixa mais alta é baixa (na comparação com outros países). Na experiência internacional, a gente vê alíquotas que chegam a 35% ou 40%", diz o pesquisador do Ibre/FGV.

"O país passou a depender de um ato formal do governo para que a tabela pudesse ser reajustada (pela inflação). Ou seja, a simples omissão do Executivo em mandar o reajuste da tabela do Imposto de Renda passou a consistir numa forma de aumento (de carga tributária)", diz Falcão, do Sindifisco Nacional.

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Defasagem da tabela

Atualmente, segundo os cálculos dos auditores fiscais, a tabela do IR acumula uma defasagem de 147% em relação à inflação.

Em junho de 2021, o governo Jair Bolsonaro enviou ao Congresso Nacional uma proposta de alteração do Imposto de Renda, como parte da reforma tributária. O texto chegou a ser aprovado pela Câmara dos Deputados, mas não avançou no Senado.

O projeto isenta de IR todos os trabalhadores celetistas que recebem até R$ 2,5 mil mensais (hoje, esse valor é de R$ 1,9 mil) e reajusta as demais faixas de cobrança. Também propõe alterações no imposto pago pelas empresas e a volta da tributação sobre lucros e dividendos.

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