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domingo, 7 de março de 2021

Os 6 números que definem todo o Universo

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Todas as evidências e teorias baseadas em observações do Universo podem ser reunidas em um modelo padrão de cosmologia que tem apenas seis parâmetros.
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TOPO
Por BBC

Postado em 07 de março de 2021 às 19h00m


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Todas as evidências e teorias baseadas em observações do universo podem ser reunidas em um modelo padrão de cosmologia que tem apenas seis parâmetros — Foto: Getty Images via BBC
Todas as evidências e teorias baseadas em observações do universo podem ser reunidas em um modelo padrão de cosmologia que tem apenas seis parâmetros — Foto: Getty Images via BBC

Neste trecho editado do The Little Book of Cosmology ("O Pequeno Livro da Cosmologia", em tradução literal, publicado pela Princeton University Press e reproduzido aqui com permissão da editora), o professor de física Lyman Page explica como nosso modelo de Universo é baseado apenas em seis parâmetros.

Como estudamos o Universo como um todo?

Meu trabalho se concentra na radiação cósmica de fundo em micro-ondas (CMB, na sigla em inglês) — os tênues resquícios de energia do Big Bang — e como medi-la pode guiar nosso caminho para a compreensão do Universo.

Mas há muitas outras maneiras de estudar o cosmos, e os físicos que o fazem se especializam em tudo, desde a relatividade geral até a termodinâmica e a teoria das partículas elementares.

Fazemos observações em quase todos os regimes de comprimento de onda acessíveis para medição e com detectores de partículas de última geração.

As observações provêm de lugares próximos e dos confins mais distantes do espaço.

Todas essas evidências e teorias podem ser reunidas em um modelo padrão surpreendentemente simples de cosmologia, que tem apenas seis parâmetros.

Esses são os números que definem todo o Universo.

O conteúdo do Universo

Os primeiros três parâmetros nos falam sobre o conteúdo do Universo.

A matéria escura constitui 25% do Universo — Foto: Getty Images via BBC
A matéria escura constitui 25% do Universo — Foto: Getty Images via BBC

Nós os descrevemos como frações de uma estimativa total de matéria e energia, como os componentes de um gráfico de pizza.

O primeiro parâmetro descreve a quantidade de matéria normal, átomos, no Universo, e diz que eles representam apenas 5% do Universo.

O segundo parâmetro descreve a matéria escura, um tipo de partícula elementar nova que ainda não entendemos, que representa 25% do Universo.

Surpreendentemente, a quantidade de matéria escura, que podemos derivar das nossas medições das diminutas flutuações de temperatura da radiação cósmica de fundo, coincide com o valor deduzido das observações dos movimentos das estrelas e galáxias.

No entanto, o valor que obtemos das medições da CMB é muito mais preciso.

Nossas medições também nos dizem algo mais.

Como a CMB chega até nós desde a Era da Recombinação (ou do Desacoplamento), quando o Universo primordial se resfriou o suficiente para liberar os fótons do plasma quente que os uniu por várias centenas de milhares de anos após o Big Bang, fazendo com que o Universo se tornasse transparente, podemos ver que a matéria escura claramente existia nos primórdios do Universo.

Além disso, podemos ver que os átomos, a matéria de que somos feitos, representam apenas um sexto da massa total do Universo.

O terceiro parâmetro é a constante cosmológica, a misteriosa energia escura que está na raiz da expansão acelerada do Universo.

Ela representa 70% da estimativa total de matéria e energia do Universo. Também não sabemos o que é essa energia escura, mas sabemos que ela existe, porque medimos diretamente sua presença por meio da aceleração cósmica.

Estrelas e galáxias em formação

O quarto parâmetro é a profundidade óptica, ou quão opaco o Universo era para os fótons que viajam por ele.

Este é o mais astrofísico de todos os parâmetros do modelo padrão da cosmologia.

Com isso, queremos dizer que ele captura nosso escasso conhecimento de todo o complexo processo de formação e subsequente explosão das primeiras estrelas e formação das primeiras galáxias no Universo.

A intensa luz dessas primeiras estrelas e galáxias quebrou o hidrogênio que prevalecia no cosmos em prótons e elétrons que o compõem, causando a reionização do Universo.

Nesse processo, cerca de 5 a 8% dos fótons da CMB, os fótons que haviam sido liberados no momento do desacoplamento, se dispersaram novamente.

Para fazer uma analogia, considerando que o Universo antes era transparente, é como se tivesse entrado um pouco de névoa.

Não muito forte, você ainda consegue ver um litoral distante, mas a visibilidade foi reduzida. Curiosamente, para determinar a profundidade óptica do Universo, é feita uma medição da polarização da CMB.

A polarização, junto com a intensidade e o comprimento de onda, é uma das três características de uma onda de luz. A polarização especifica a direção na qual uma onda de luz oscila.

Por exemplo, a luz que reflete no capô do seu carro está polarizada horizontalmente. Ou seja, a onda de luz oscila de um lado para o outro horizontalmente.

Os óculos escuros polarizados bloqueiam essa direção de oscilação e seu reflexo associado.

Da mesma forma, os elétrons liberados pelo processo de reionização dispersaram e polarizaram os fótons da CMB.

Se você pudesse olhar para a CMB com ou sem "óculos escuros" polarizados, veria que parece ligeiramente diferente.
Com esses seis parâmetros, podemos calcular as características não apenas da CMB, mas também de qualquer medição cosmológica que desejamos fazer — Foto: Getty Images via BBC
Com esses seis parâmetros, podemos calcular as características não apenas da CMB, mas também de qualquer medição cosmológica que desejamos fazer — Foto: Getty Images via BBC

Flutuações quânticas

Os dois últimos parâmetros descrevem as origens das diminutas flutuações que deram origem a toda a estrutura que observamos hoje no Universo.

Se tivéssemos um modelo completo do Universo, que começasse com pequenas flutuações quânticas e previsse com sucesso quais seriam as flutuações da matéria em esferas com 25 milhões de anos-luz de diâmetro, poderíamos eliminar um desses dois parâmetros.

Infelizmente, embora tenhamos um esboço muito bem sucedido para entender como o Universo evoluiu, ainda não conhecemos todas as conexões, por isso precisamos desse parâmetro.

É chamado de espectro de potência primordial e descreve as flutuações na densidade do Universo no espaço tridimensional.

No início do Universo, essas flutuações eram pequenas, mas à medida que o Universo se expandiu, essas variações de densidade se tornaram grandes em todo o cosmos.

Onde havia áreas ligeiramente mais densas no cosmos primordial, a matéria continuou a se agrupar, e agora podemos ver galáxias ou aglomerados de galáxias; em outras, onde havia menos densidade, não vemos quase nada.

O parâmetro restante, chamado índice espectral escalar, é o mais difícil de entender, mas também é nossa melhor janela para o nascimento do Universo.

Ele nos diz como as flutuações primordiais, as pequenas variações de energia que estavam presentes no Universo primitivo, dependem da escala angular.

Para compreender isso melhor, vamos usar uma analogia musical.

Este último parâmetro cosmológico nos permite distinguir entre "ruído branco" e, digamos, "ruído rosa", em que as notas graves (análogas às escalas angulares grandes) têm um volume maior do que as notas agudas (análogas às escalas angulares pequenas).

Usando a CMB, descobrimos que as flutuações primordiais eram ligeiramente maiores em amplitude em escalas angulares grandes do que em escalas menores. Em outras palavras, o ruído cósmico primordial é ligeiramente rosado.

Com esses seis parâmetros, podemos calcular as características não apenas da CMB, mas também de qualquer medição cosmológica que desejamos fazer.

Podemos, por exemplo, calcular a idade do Universo: 13,8 bilhões de anos (pode haver uma variação aproximada de 40 milhões de anos).

A observação mais restritiva é a da anisotropia da CMB: as diminutas flutuações da temperatura.

No entanto, o modelo padrão da cosmologia é consistente com todas as medições de todas as áreas da física e da astronomia.

Em suma, não importa como olhamos para o cosmos — por meio de sondagens de galáxias, de estrelas em explosão, da abundância de elementos de luz, das velocidades das galáxias ou da CMB —, nós só precisamos de todos os seis parâmetros explicados acima, e processos físicos conhecidos, para descrever o Universo que observamos.

O que significa ser capaz de descrever algo de forma tão simples e quantitativa? Significa que entendemos como as peças do Universo se encaixam para formar o todo. Entendemos algumas conexões profundas na natureza.

Isso significa que se pode demonstrar que estamos errados, não com diferentes argumentos, mas com um modelo quantitativo melhor que descreve mais aspectos da natureza.

Há poucos sistemas estudados por cientistas que podem ser descritos de forma tão simples, completa e com tanta precisão. Temos sorte de o Universo observável ser um deles.

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Pesquisador de Viçosa publica estudo que identifica o cachorro mais antigo das Américas

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Fragmento pré-histórico de osso foi descoberto no Alasca. Flávio Augusto da Silva Coelho foi o principal autor de um artigo científico realizado em um doutorado na Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos.
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Por G1 Zona da Mata

Postado em 07 de março de 2021 às 15h15m


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Graduado na UFV, Flávio Coelho segura o fragmento de osso descoberto no Alasca — Foto: UFV/Divulgação
Graduado na UFV, Flávio Coelho segura o fragmento de osso descoberto no Alasca — Foto: UFV/Divulgação

O pesquisador viçosense Flávio Augusto da Silva Coelho publicou recentemente um estudo que identificou, num fragmento pré-histórico de osso descoberto no Alasca, que pertence aos Estados Unidos, o cachorro mais antigo já encontrado no continente americano.

O artigo publicado na revista Proceeding of Royal Society B e repercutido em sites internacionais importantes como Science e National Geographic tem como principal autor o biólogo que é bacharel em Ciências Biológicas e mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).

De acordo com o estudo, o cachorro teria surgido na Sibéria e vindo para o continente americano com os ancestrais dos seres humanos, o que reforça a expressão de melhor amigo do homem, já que nem o período glacial separou os dois seres.

Desde que foram domesticados, os cães sempre acompanharam os seres humanos. Por isso, a presença deles é um forte indicativo da presença de nossa espécie, ajudando a entender a ocupação do planeta por nós", revelou o pesquisador.

Atualmente, ele cursa doutorado na Universidade de Buffalo e estuda a evolução e biogeografia de mamíferos no sudeste do Alasca, e a descoberta contribui para o entendimento do modo como os primeiros Homo sapiens chegaram ao que, milhares de anos depois, viria a se tornar a América.

Uma das conclusões mais significativas no estudo, que também é assinado por Stephanie Gill, Crystal M. Tomlin Timothy H. Heaton e Charlotte Lindqvist, diz respeito à trajetória dos seres humanos na vinda da Ásia para o Alasca e além.

A teoria mais aceita era a de que o deslocamento teria ocorrido numa rota surgida no interior do território, então ocupado por duas grandes geleiras. Isso porque os restos do que antes era o cachorro mais antigo haviam sido encontrados em uma região central dos Estados Unidos, que sugere um percurso por dentro do continente.

"Nossas análises apoiam um caminho diferente, pela costa oeste, à margem do que hoje é o Oceano Pacífico", observou Flávio, acrescentando que, na época, o "litoral" era bem distinto de como é hoje.

"A maior parte da água estava congelada nos polos, então o nível dos oceanos era muito mais baixo, algo em torno de 150 metros. Isso tornava possível andar em muitas áreas que estão atualmente submersas", destacou o pesquisador.

O estudo continua e ainda existem muitas perguntas a serem respondidas como, por exemplo, como se deu o deslocamento entre as regiões do planeta.

"Ainda não se sabe se a travessia aconteceu a pé ou em algum tipo de embarcação, por exemplo. Nem por qual razão os seres humanos vieram. Mas sabemos que, quem veio, teve a companhia de cachorros", completou.

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sábado, 6 de março de 2021

Estromatólitos: como a forma de vida mais antiga conhecida ajudou a tornar a Terra habitável

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Há bilhões de anos, essas colônias de micro-organismos liberaram oxigênio na atmosfera da Terra, permitindo à vida prosperar e evoluir. Hoje, elas ainda resistem na costa da Austrália.
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TOPO
Por Marian McGuinnes, BBC

Postado em 06 de março de 2021 às 19h25m


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Estromatólitos são fósseis vivos e as formas de vida mais antigas do nosso planeta — Foto: Getty Images via BBC
Estromatólitos são fósseis vivos e as formas de vida mais antigas do nosso planeta — Foto: Getty Images via BBC

O teto solar e as janelas estavam abertas. Eu estava dirigindo na Indian Ocean Drive, algumas horas ao norte de Perth rumo ao Lago Thetis, na Costa dos Corais da Austrália.

Como um desenho de Escher, a paisagem se metamorfoseava de plantações agrícolas em matagais com pedras calcárias, acompanhada de moinhos de vento que extraíam água do Aquífero Yarragadee formado durante a era Jurássica.

Havia eucaliptos de troncos brancos e arbustos brotando aos montes, bandos de cacatuas negras alçando voos estridentes e, infelizmente, dezenas de cangurus que haviam sido atropelados.

Uma viagem de carro ao longo da costa do continente mais antigo do planeta não podia deixar de ser repleta de mistérios. Enquanto eu passava por placas verdes e amarelas na estrada alertando para ficar atenta a cangurus, emas e equidnas, havia outra forma de vida rara que eu estava procurando — uma que remonta ao início dos tempos.

Estromatólitos são fósseis vivos e as formas de vida mais antigas em nosso planeta. O nome deriva do grego, stroma, que significa "colchão", e lithos, que quer dizer "pedra". Estromatólito significa literalmente "rocha em camadas".

A existência dessas rochas antigas corresponde a três quartos do caminho de volta às origens do Sistema Solar.

Ao longo da Indian Ocean Drive, na Austrália, arbustos estilo punk brotam aos milhares — Foto: Marrian McGuiness
Ao longo da Indian Ocean Drive, na Austrália, arbustos estilo punk brotam aos milhares — Foto: Marrian McGuiness

Do ponto de vista científico amador, os estromatólitos são estruturas rochosas construídas por colônias de organismos microscópicos fotossintetizantes chamados cianobactérias. À medida que sedimentos se acumulam em águas rasas, as bactérias crescem sobre eles, se vinculando às partículas sedimentares e construindo camadas milimétricas sobre camadas milimétricas até se tornarem montes.

A construção deste império trouxe consigo seu papel mais importante na história da Terra. Eles faziam fotossíntese. Usando o Sol para obter energia, produziam oxigênio, e aumentaram assim o volume de oxigênio na atmosfera do planeta para cerca de 20%, permitindo à vida prosperar e evoluir.

Estromatólitos vivos são encontrados apenas em algumas lagoas salgadas ou baías ao redor do mundo. A Austrália é internacionalmente reconhecida por sua variedade de habitats de estromatólitos, tanto vivos quanto fossilizados.

Fósseis dos primeiros estromatólitos conhecidos, com cerca de 3,5 bilhões de anos, são encontrados perto de Marble Bar, na região de Pilbara.

Como a Terra tem uma idade estimada de 4,5 bilhões de anos, é impressionante perceber que podemos testemunhar como o mundo se parecia no início dos tempos, quando os continentes estavam se formando. Antes das plantas. Antes dos dinossauros. Antes dos seres humanos.

Segui em frente pela Indian Ocean Drive. De vez em quando, em meio ao matagal, eu conseguia ver uma parte da água azul turquesa. Em seguida, fragmentos das dunas de areia brancas da cidade de Lancelin.

Este é um litoral de naufrágios e barracas que vendem lagosta, dos devastadores Roaring Forties (Vendavais da Latitude 40), ventos fortes que açoitam a zona a 40 e 50 graus de latitude a sul do Equador, e dos ventos Fremantle Doctor, conhecidos pelo alívio que trazem em uma tarde escaldante de verão. É uma costa selvagem encantada.

Eu estava quase em Cervantes, a capital da lagosta na costa norte do Parque Nacional de Nambung. Após alguns quilômetros por uma estrada de terra, cheguei ao Lago Thetis, o lar dos estromatólitos.

Há muito para ver perto do Lago Thetis e do Lago Clifton, incluindo o Parque Nacional de Nambung — Foto: Marrian McGuiness
Há muito para ver perto do Lago Thetis e do Lago Clifton, incluindo o Parque Nacional de Nambung — Foto: Marrian McGuiness

O Lago Thetis é pequeno, raso e triangular. Uma trilha de arbustos serpenteava por flores de pétalas azuis e folhas grossas, juncos e salicórnias vermelhas. De vez em quando, os cangurus locais levantavam a cabeça para dar uma conferida na gente.

Foi então que eu os avistei. Havia milhares de estromatólitos quase camuflados sob as ondulações, submersos como tartarugas antigas prendendo a respiração sob a água ligeiramente opaca.

Fiquei de boca aberta. Tirando a área periférica e imaginando o céu laranja metano da atividade vulcânica, é assim que a vida se parecia no início dos tempos.

O Lago Thetis tem pouco mais de 2 metros de profundidade e o dobro da salinidade do mar.

O lago ficou isolado há cerca de 4,8 mil anos, quando o nível do mar caiu durante a última grande era glacial. As áreas costeiras recuaram, e as dunas do litoral retiveram a água no interior, criando o lago. Estima-se que esses doadores de oxigênio pedregosos estejam crescendo há cerca de 3,5 mil anos.

Uma passarela de metal foi construída sobre o lago para que você possa ver os estromatólitos abaixo. Na caminhada de 1,5 km que dá a volta no lago, você pode olhar, mas não tocar, uma vez que muitas dessas relíquias antigas foram danificadas por pessoas que andaram sobre elas.

Mas há uma outra parte da família dos estromatólitos que está presente neste trecho da costa. O progresso evolutivo há cerca de 1 bilhão de anos iniciou um processo de transição lento em que os estromatólitos em camadas foram desaparecendo, à medida que outra variação emergia. Eram seus primos mais novos: os trombólitos.

Cerca de uma hora de carro ao sul de Perth, peguei a Old Coast Road no Parque Nacional de Yalgorup até o Lago Clifton, lar dos maiores trombólitos que vivem em lagos no hemisfério sul.

Estima-se que os trombólitos do Lago Clifton tenham 2 mil anos — Foto: Getty Images via BBC
Estima-se que os trombólitos do Lago Clifton tenham 2 mil anos — Foto: Getty Images via BBC

Quando Brian Cox, o carismático apresentador e professor de física da Universidade de Manchester, no Reino Unido, visitou os trombólitos para sua série de documentários Wonders of the Universe ("Maravilhas do Universo"), sua admiração pelas "estranhas bolhas rochosas nas águas rasas" inspirou muitos turistas a procurar o Lago Clifton para ver "a primeira forma de vida na Terra".

Os trombólitos derivam da mesma raiz da "trombose", que significa "coágulo". Os trombólitos têm aparência coagulada, enquanto os estromatólitos são em camadas.

De acordo com a falecida pesquisadora Linda Moore, da Universidade da Austrália Ocidental, os estromatólitos entraram em declínio no momento em que houve uma explosão de vida marinha mais avançada.

O ecossistema deles foi abalado quando a ameba predadora e outros organismos unicelulares chamados foraminíferos usaram suas extensões semelhantes a dedos para engolfar os estromatólitos, transformando suas estruturas finas de camadas em aglomerados.

Para sobreviver, os estromatólitos precisavam de água altamente salina que restringia outras formas de vida marinha concorrentes, enquanto os trombólitos se adaptaram. Eles sobreviveram e prosperaram em um ambiente menos salgado que o mar, e sua textura coagulada proporcionou um lar onde minúsculos animais poderiam coexistir.

Com uma impressionante ancestralidade linear, estima-se que os trombólitos do Lago Clifton tenham 2 mil anos.

Aqui, também, uma passarela passa sobre o lago, onde logo abaixo, os trombólitos podem ser observados. Olhando cuidadosamente, você pode ver minúsculos fios de oxigênio subindo para a superfície da água.

Os trombólitos podem sobreviver em um ambiente menos salgado que o mar — Foto: Getty Images via BBC
Os trombólitos podem sobreviver em um ambiente menos salgado que o mar — Foto: Getty Images via BBC

Para o povo aborígene Noongar desta região, a história do Tempo dos Sonhos (mitos e crenças mantidas vivas pelos aborígenes australianos há mais de 40 mil anos) conta a origem dos trombólitos. Com a terra seca, os Noongars oraram ao mar para que a água se tornasse potável.

Seu criador deixou o mar na forma da serpente Woggaal Maadjit. Ela passou pelas dunas de areia, criando uma enseada. Botou seus ovos (os trombólitos) e enrolou seu corpo para protegê-los (as dunas de areia protegendo o lago).

Os filhotes de serpente que eclodiram dos ovos esculpiram rios e, quando morreram, abriram túneis no subsolo formando fontes subterrâneas em seu caminho de volta para o Tempo dos Sonhos. Essas fontes forneceram água potável para o povo Noongar.

Do ponto de vista científico, os trombólitos microbianos usam a luz solar para fazer fotossíntese e obter energia e para precipitar o carbonato de cálcio (calcário) das nascentes de água doce que borbulham do aquífero subjacente.

O fluxo de água subterrânea com baixo teor de salinidade e nutrientes e alto teor de alcalinidade é essencial para seu crescimento e sobrevivência; qualquer alteração desafia sua existência.

O Lago Clifton é um ambiente frágil. Em 2009, os trombólitos foram listados como criticamente ameaçados de extinção e agora estão protegidos pela Convenção de Ramsar sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional, colocando esta área na mesma categoria que o Parque Nacional Kakadu, Patrimônio Mundial da Humanidade — o maior parque nacional da Austrália, preservando a maior variedade de ecossistemas do continente.

As ações para conservação do Lago Clifton incluem a construção da passarela para evitar que esmaguem os trombólitos; monitoramento da qualidade e níveis da água; proteção da reserva de vegetação nativa que ajuda a filtrar nutrientes e poluentes; monitoramento da saúde da comunidade de trombólitos; e articulação com proprietários de terras agrícolas e urbanas para gerenciar e proteger a qualidade da água.

Eles precisam de proteção. A mudança no clima está afetando a salinidade do lago. A crescente urbanização aumentou o fluxo de nutrientes, causando a proliferação de algas que bloqueiam a luz solar e sufocam os trombólitos.

Em pouco mais de cem anos de alterações induzidas pelo homem no lago, a sobrevivência desses organismos antigos é tênue. Como a serpente do Tempo dos Sonhos, Woggaal Maadjit, cabe a nós protegê-los.

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Por que iceberg do tamanho do Rio de Janeiro que se desprendeu da Antártica anima cientistas?

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Bloco de gelo vinha dando sinais de ruptura há 5 anos; fenômeno é descrito como "espetacular" e não coloca vidas em risco no momento, mas terá que ser monitorado.
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TOPO
Por Jonathan Amos, BBC

Postado em 06 de março de 2021 às 14h15m


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VÍDEO: Iceberg gigante se desprende da Antártica
VÍDEO: Iceberg gigante se desprende da Antártica

Um iceberg gigante de cerca de 1.270 km² (a cidade do Rio de Janeiro tem 1.255 km²) quebrou e se desprendeu da Antártica, gerando euforia na comunidade científica.

Na sexta-feira (26/2), instrumentos na superfície da plataforma de gelo Brunt confirmaram o rompimento.

Esta não é a primeira vez, nem será a última: icebergs periodicamente se desprendem de plataformas de gelo. O último grande pedaço a quebrar na região antártica de Brunt foi no início dos anos 1970.

Além de raro, o fenômeno é descrito por cientistas como "espetacular" porque ocorre naturalmente e não tem relação com mudanças climáticas - estas, sim, uma preocupação global.

Descolamentos como este, ao contrário, indicam uma reorganização da natureza em busca de equilíbrio em áreas geladas e ajudam a ciência a entender o funcionamento de grandes plataformas de gelo.

Fissuras como a denominada North Rift deram pistas de um rompimento — Foto: Avankints
Fissuras como a denominada North Rift deram pistas de um rompimento — Foto: Avankints

Segurança

Não muito longe dali fica a estação Halley, da British Antarctic Survey (BAS), uma instituição do Reino Unido dedicada à pesquisa na região.

A BAS tem um conjunto de aparelhos de GPS na plataforma Brunt que transmite informações sobre a movimentação do gelo para a sede da agência em Cambridge, Inglaterra.

Desde 2017, a estação opera com capacidade reduzida devido ao risco iminente de um desprendimento como esse.

Não havia ninguém na base e não há vidas em risco na área.

Especialistas agora devem analisar imagens de satélite para assistirem ao desprendimento com mais detalhes — por exemplo, verificando se há instabilidades perto da estação Halley.

"Embora a ruptura de grandes pedaços de gelo na Antártica seja completamente normal, rompimentos como o detectado na plataforma Brunt na sexta-feira ainda são bastante raros e emocionantes", disse o professor Adrian Luckman, da Universidade de Swansea, no País de Gales.

O cientista tem acompanhado imagens de satélite de Brunt nas últimas semanas e previu o rompimento.

A estação Halley é conhecida por ser base para pesquisas sobre a camada de ozônio — Foto: BAS/Thomas Barningham
A estação Halley é conhecida por ser base para pesquisas sobre a camada de ozônio — Foto: BAS/Thomas Barningham

"Com três longas fissuras que se desenvolveram ativamente no sistema da plataforma Brunt nos últimos cinco anos, todos prevíamos que algo espetacular iria acontecer", disse Luckman à BBC.

"O tempo dirá se esse descolamento fará com que mais blocos se quebrem nos próximos dias e semanas. Na Universidade de Swansea, estudamos o desenvolvimento de rachaduras na plataforma de gelo e por quealgumas levam a grandes rompimentos, enquanto outras não", diz o cientista.

"Os motivos para isso podem explicar a existência de grandes plataformas de gelo", ele completa.

O novo iceberg, com seus 1.270 km², é grande, mas menor que o iceberg A68, que se desprendeu em julho de 2017 na plataforma de gelo Larsen C.

Descolado em 2017, iceberg A68 tinha quase quatro vezes o tamanho do Rio de Janeiro — Foto: Mario Tama/Getty Images
Descolado em 2017, iceberg A68 tinha quase quatro vezes o tamanho do Rio de Janeiro — Foto: Mario Tama/Getty Images

Mesmo com um quarto do tamanho do A68, esta parte do Brunt precisa ser rastreada pelo risco que pode representar para a navegação no futuro.

O Centro Nacional de Gelo dos Estados Unidos vai batizar o novo iceberg depois de algum tempo.

Por estar no mesmo quadrante Antártico (0-90W) em que o A68 se originou, ele também terá a letra "A" em seu nome — provavelmente se chamará A74.

Imagem aproximada mostra separação entre iceberg e plataforma de Brunt — Foto: Copernicus/Sentine-2/Leeds UNI/Anna Hogg
Imagem aproximada mostra separação entre iceberg e plataforma de Brunt — Foto: Copernicus/Sentine-2/Leeds UNI/Anna Hogg

Mudanças climáticas?

O desprendimento de icebergs de uma plataforma de gelo é um acontecimento muito natural, portanto não é atribuído às mudanças climáticas.

A plataforma "busca" manter seu equilíbrio — e rompimento de icebergs é uma forma de balancear a massa acumulada de neve e a entrada de gelo a partir de glaciares por terra.

Diferente do que acontece em outras áreas geladas, os cientistas não detectaram região de Brunt mudanças climáticas que alterariam significativamente o processo natural descrito acima.

Além disso, estimativas sugerem que o Brunt chegou à sua maior extensão no último século, o que favorece grandes descolamentos como este.

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