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Os
analistas de defesa J. Michael Dahm e Thomas Shugart explicaram que as
barcaças constituem uma “atualização significativa” para a capacidade de
assalto anfíbio do Exército de Libertação Popular da China (PLA).
No caso de uma invasão de Taiwan,
elas poderiam formar um píer realocável, entregando grandes quantidades
de tanques, veículos blindados e outros equipamentos pesados — uma vez
que a superioridade de fogo tenha sido estabelecida.
“A inovação é
realmente o volume que eles poderiam potencialmente colocar em uma
praia remota ou um porto danificado, ou uma área de desembarque austera,
provavelmente mais de centenas de veículos por hora, se eles
escolhessem fazer isso”, disse Dahm, oficial de inteligência aposentado
da Marinha dos EUA e membro sênior residente do Instituto Mitchell de
Estudos Aeroespaciais.
Shugart, ex-submarinista dos Estados Unidos
e membro sênior adjunto do Center for a New American Security, observou
que as barcaças se somam a uma lista crescente de plataformas, munições
e sistemas de armas inovadores que os militares chineses testaram nos
últimos anos.
“Não há nada parecido com eles no Ocidente. Nunca vi nada parecido com o que estamos vendo aqui”, exclamou.
A CNN entrou em contato com o Ministério da Defesa da China para comentar.
O
Ministério da Defesa de Taiwan declarou que avaliou que as novas
barcaças foram “projetadas com uma rampa extensível para servir como uma
doca improvisada, permitindo o rápido descarregamento dos principais
tanques de batalha e vários veículos em apoio a operações anfíbias”.
A pasta comunicou que continuaria monitorando as barcaças e avaliando suas capacidades e limitações operacionais.
Cortes de comunicação e energia
Enquanto
isso, pesquisadores chineses de instituições afiliadas ao Estado
alegaram ter desenvolvido um poderoso dispositivo de águas profundas: um
cortador de cabos capaz de cortar linhas de comunicação e energia
fortemente fortificadas em profundidades de até quatro mil metros —
quase o dobro da profundidade do cabo submarino mais profundo do mundo.
O
novo design, publicado no mês passado no periódico chinês Mechanical
Engineer, revisado por pares, e relatado pela primeira vez pelo South
China Morning Post, surge em meio a preocupações crescentes sobre a
vulnerabilidade da infraestrutura crítica de Taiwan.
Recentemente, danos suspeitos aos cabos submarinos da ilha alimentaram temores de esforços chineses para minar as comunicações de Taipei com o mundo exterior.
Collin
Koh, pesquisador da S. Rajaratnam School of International Studies
(RSIS) em Cingapura, falou que ferramentas de corte de cabos são
comumente usadas para manutenção, e um avanço na capacidade de cortar
cabos em profundidades recordes com grande eficiência não é alarmante
por si só.
“Mas o que é alarmante aqui é o contexto político que
atribuímos a isso”, ele observou, apontando para incidentes recentes de
danos a cabos submarinos envolvendo embarcações chinesas ao redor de
Taiwan e no Mar Báltico.
A preocupação é que, no caso de uma
invasão, a China poderia cortar os cabos submarinos ao redor de Taiwan,
semeando pânico entre seu público e interrompendo potencialmente a
comunicação militar da ilha com os EUA e outros parceiros.
Mas
Koh destacou que o novo design de corte de cabos pode ter existido até
agora somente no estágio experimental. “Se ele se traduziu em uma
ferramenta operacionalizada para uso é uma grande incógnita”, disse ele.
Barcaças de invasão
O
vídeo das barcaças de desembarque ofereceu a primeira visão de perto do
que o Naval News relatou em janeiro como “barcaças especiais e
incomuns” avistadas no Estaleiro Guangzhou.
O veículo as descreveu
como uma reminiscência dos Portos Mulberry da Grã-Bretanha, que foram
construídos para a invasão aliada da Normandia durante a Segunda Guerra
Mundial.
Embora alguns analistas sugiram que as barcaças podem
servir a propósitos civis, como ajuda humanitária, muitos especialistas —
dentro e fora de Taiwan — acreditam que elas foram construídas
principalmente para fins militares.
Su Tzu-yun, diretor do
Instituto de Pesquisa de Segurança de Defesa Nacional em Taiwan, disse
que as barcaças podem oferecer ao Exército chinês (PLA) uma vantagem
estratégica ao criar pontos de desembarque costeiros improvisados —
principalmente se Taiwan destruir seus próprios portos em autodefesa no
caso de uma invasão.

Imagem
que circula nas redes sociais e foi geolocalizada pela CNN mostra
barcaças chinesas à distância na província de Guangdong, no sul da China
• Weibo
“Essas barcaças têm seis ou oito pés
hidráulicos que podem levantá-las da água para criar uma plataforma
estável, e então podem criar uma ponte de águas rasas para uma área mais
profunda”, explicou Su.
Shugart, o ex-submarinista, afirmou que
as barcaças poderiam até mesmo lançar uma rampa sobre paredões ou outros
obstáculos em uma estrada costeira, permitindo que o PLA envie tropas e
equipamentos para a costa.
Ele acrescentou que as barcaças também
aumentam a velocidade operacional. “Nós as vimos sendo montadas,
desmontadas e montadas novamente várias vezes em questão de dias”,
informou o especialista, citando imagens de satélite.
No entanto,
devido ao tamanho e baixa velocidade, essas embarcações são altamente
vulneráveis ao fogo inimigo e provavelmente só seriam mobilizadas como
parte de uma segunda onda.
Possivelmente atuando após as forças
de desembarque iniciais através do Estreito, que tem cerca de
aproximadamente 129 km de largura em seu ponto mais estreito, dizem os
especialistas.
“Antes mesmo de pensarem em embarcar uma força de
desembarque e enviar tropas por meio do Estreito (de Taiwan), eles já
teriam certeza de que tomaram o ar, as informações e o domínio naval em
todo o caminho por esse meio”, ressaltou Shugart.
As barcaças “não
seriam trazidas para a frente até que o ambiente fosse tornado seguro
para elas, assim como no Dia D da Segunda Guerra Mundial, os Estados
Unidos tinham controle aéreo e marítimo completos antes que as forças
desembarcassem”, acrescentou.
Dias antes do vídeo das barcaças
aparecer nas redes sociais chinesas, a Administração de Segurança
Marítima da província de Guangdong emitiu um aviso proibindo navios de
entrar em um longo e estreito corpo de água devido a “testes marítimos”.
A CNN entrou em contato com a agência do governo de Guangdong para comentar.
Movimento das embarcações
Em
21 de março, imagens de satélite da Maxar Technologies mostraram que as
barcaças haviam se movido cerca de 15 km ao sul ao longo da costa.
As
imagens também capturaram uma balsa roll-on/roll-off (RO-RO) atracada
ao lado da terceira e maior barcaça, posicionada mais distante da costa.
Dias
depois, uma imagem de satélite do Planet Labs mostrou outro navio de
carga RO-RO se aproximando da mesma barcaça do lado oposto.

Uma
balsa é vista atracada ao lado de uma barcaça perto da costa da cidade
de Zhanjiang, no sul da China, em 21 de março de 2025 • Satellite image
©2025 Maxar Technologies
Segundo Shugart, as
autoridades chinesas podem estar testando a capacidade das barcaças de
interagir com embarcações civis RO-RO, o que poderia aumentar
significativamente as capacidades de transporte marítimo do PLA,
permitindo a transferência rápida de inúmeros veículos com rodas e
esteiras.
Projetados para transportar um grande número de veículos
para mercados estrangeiros, os navios RO-RO proliferaram globalmente,
mas especialmente na China nos últimos anos para atender à crescente
demanda global por veículos elétricos chineses.
Mas os
planejadores militares chineses e a mídia estatal também tomaram nota de
suas capacidades de uso duplo para dar suporte às operações do
Exército.
Em um exercício militar de 2021, a emissora estatal
chinesa CCTV elogiou as balsas RO-RO por permitirem “implantação
terrestre e marítima em larga escala e de unidades completas com
descarregamento e carregamento imediatos”.
Imagens exibidas pela emissora mostraram fileiras de tanques perfeitamente alinhados dentro de tal balsa.
“Essas
barcaças podem melhorar significativamente a capacidade do PLA de
entregar logística após uma invasão”, pontuou Dahm, ex-oficial de
inteligência da Marinha dos EUA.
Mas ele observou que elas são
somente parte da ambição do líder chinês Xi Jinping de modernizar o PLA e
transformá-lo em um exército de “classe mundial”.
Autoridades
americanas acreditam que Xi instruiu o Exército chinês a estar pronto
para invadir Taiwan até 2027, embora tenham enfatizado que isso não
significa que uma invasão ocorrerá em 2027.
“No contexto de todas
as outras melhorias que estamos vendo nas capacidades do PLA e
especialmente na infraestrutura do PLA, as barcaças são apenas o objeto
brilhante que chama a atenção para o fato de que o PLA está fazendo
esses preparativos para estar preparado para agir sob as ordens de Xi
Jinping nos próximos anos, se for chamado a fazê-lo”, explicou Dahm.