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domingo, 26 de maio de 2024

Como a barata-alemã, ou baratinha, conquistou o planeta

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Essa espécie vive em grandes cidades, suas carapaças suportam 900 vezes o peso total do inseto e são imunes à maioria dos inseticidas.
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TOPO
Por Deutsche Welle

Postado em 26 de maio de 2024 às 17h40m

#.*Post. - N.\ 11.212*.#

Barata-germânica, conhecida como baratinha, vive nas grandes cidades — Foto: Creative Commons
Barata-germânica, conhecida como baratinha, vive nas grandes cidades — Foto: Creative Commons

Presente onde os humanos estão, vetor de doenças e difícil de matar, "Blattella germanica" é a espécie de barata mais comum. Apesar do nome, sua origem era controversa.

Um novo estudo esclarece esse mistério de 250 anos. Que as baratas são criaturas nojentas, é praticamente consenso universal. Menos reconhecidos são seus "superpoderes": extremamente velozes, elas conseguem se achatar totalmente para passar por uma brecha e, além das garras usuais nos insetos, têm patas dotadas de órgãos adesivos que permitem escalar até mesmo superfícies verticais mais lisas.

Acima de tudo, porém, apresentam resiliência extraordinária: suas carapaças suportam 900 vezes o peso total do inseto, tornando quase impossível esmagá-las. Para completar, são imunes à maioria dos inseticidas.

Isso é um grande problema, pois baratas podem transmitir um grande número de bactérias, vírus e fungos, desencadeando alergias, disenteria, enterite, hepatite A, antraz, salmonelose, tuberculose, entre outras doenças. Nos estábulos, são vetores da febre aftosa.

Fato também pouco conhecido é que a espécie mais bem-sucedida é a barata-alemã (Blattella germanica), difundida – e detestada – em todos os continentes. Medindo até dois centímetros de comprimento, o animal noturno gosta de ambientes úmidos e habita todo tipo de edifícios, no mundo inteiro. Na natureza, por outro lado, é raro encontrá-la: ela é mesmo uma espécie de "melhor inimiga do homem".

Existe cheiro de barata? Veja o que dizem especialistas

A espécie foi descrita pela primeira vez pelo naturalista sueco Carl von Linné, em 1776, portanto pouco depois da Guerra dos Sete Anos, quando a metade da Europa Central estava em ruínas e reinava grande miséria.

Apesar do nome barata-alemã (ou germânica, ou francesa, ou baratinha), a origem da onipresente espécie não estava totalmente esclarecida. Agora coube à equipe liderada por Qian Tang, da Universidade Nacional de Cingapura, resolver esse mistério entomológico de quase 250 anos, reconstruindo a trajetória do inseto marrom pelo tempo e o espaço. Para tal, examinou-se o material genético de 281 baratas originárias de 17 países em cinco continentes.

A conclusão foi que a barata-alemã se desenvolveu cerca de 2.100 anos atrás, a partir da barata-asiática (Blattella asahinai), a qual se adaptara aos assentamentos humanos da Índia ou de Mianmar. Até hoje, ambas as espécies se assemelham muito.

Nos séculos seguintes, a variante "germânica" se propagou em direção ao ocidente a partir de duas rotas distintas: 1.200 anos atrás, aproveitou a expansão econômica e militar do islã; e há cerca de 400 anos, seguiu os rastros do colonialismo europeu, especialmente britânico e holandês.

Contudo, até o início do século 18, o habitat principal da barata-germânica ainda se restringia à Ásia. Isso só mudou na segunda metade, ou seja, na época em que von Linné descreveu o inseto.

Nas regiões mais quentes do Brasil, ela compete nas casas com a temida barata-americana (Periplaneta americana): medindo até cinco centímetros, essa espécie é dotada de asas, sendo também chamada barata-voadora. O nome alternativo barata-de-esgoto acrescenta mais uma camada de asco à reputação da espécie.

Flexibilidade genética a serviço da sobrevivência

A campanha triunfal da "Blattella germanica" se acelerou com o advento do comércio mundial de longa distância, com suas vias de transporte cada vez mais eficientes e, portanto, mais rápidas, registra a equipe de Qian Tang na revista científica PNAS, da Academia Nacional de Ciências dos EUA.

Lá pelo fim do século 19 e início do 20, ela havia conquistado o resto do mundo: apesar de sensível ao frio, as casas com calefação e tubulações lhe garantiam condições de vida ideais.

"A ascensão da civilização humana desencadeou a evolução e disseminação de espécies adaptadas aos ambientes urbanos", confirma o estudo de Cingapura. A única coisa que os animais de sangue frio não suportam é secura: nas residências modernas, sem cantos úmidos, elas logo morrem de sede.

Um outro fator, contudo, garantiu o extraordinário sucesso da barata-alemã em povoar o mundo: em comparação com outras, ela apresenta resistência fora do comum a inseticidas. As substâncias químicas pouco efeito têm contra elas, pois as mais resistentes já transmitem a imunidade à geração seguinte, em seus genes.

Como cada fêmea consegue produzir até 400 ovos em seus três meses de vida média, esse processo é extremamente veloz: no prazo de poucos meses, umas poucas baratas-alemãs sobreviventes são capazes de reconstituir populações respeitáveis.

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Como conter enchentes no Brasil, segundo criador das 'cidades-esponja': 'Barragens estão fadadas ao fracasso'

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Para Kongjian Yu, a resposta está em parar de 'lutar contra a água' e investir em soluções duradouras e baseadas na natureza.
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Por Julia Braun

Postado em 226 de maio de 2024 às 06h00m

#.*Post. - N.\ 11.211*.#

O Parque Sanya Mangrove em Hainan, na China, foi um dos projetados pela equipe de Kongjian Yu. — Foto: Turenscape
O Parque Sanya Mangrove em Hainan, na China, foi um dos projetados pela equipe de Kongjian Yu. — Foto: Turenscape

Eventos atmosféricos extremos com períodos prolongados de fortes chuvas e inundações, como as ocorridas no Rio Grande do Sul nas últimas semanas, se tornarão cada vez mais comuns e intensos, segundo os cientistas.

Mas o que as cidades podem fazer para evitar ou mitigar esse tipo de tragédia?

Para o criador do conceito de cidades-esponja, o arquiteto chinês Kongjian Yu, a resposta está em parar de "lutar contra a água" e investir em soluções duradouras e baseadas na natureza.

"Temos uma escolha a fazer: investir em grandes barragens e diques que estão fadados a fracassar ou apostar em algo que é duradouro, sustentável e ainda bonito e produtivo", questionou o decano da faculdade de Arquitetura e Paisagismo da Universidade de Pequim em entrevista à BBC News Brasil.

Para Yu, as soluções tradicionais baseadas em barragens de cimento e tubulações impermeáveis já se mostraram incapazes de acompanhar os efeitos das mudanças climáticas, já que as chuvas são cada vez mais intensas e o nível da água de rios e mares não para de subir.

Como alternativa, o arquiteto propõe adotar uma infraestrutura verde, baseada em um balanço hídrico artificial que seja o mais parecido possível com o natural e dê espaço e tempo para que a água seja absorvida pelo solo.

Em outras palavras, criar espaços e infraestruturas capazes de absorver, reter e liberar a chuva de forma que ela retorne ao ciclo natural da água sem causar estragos.

O conceito já foi aplicado pela equipe de Yu em diversas cidades na China e também na Tailândia, Indonésia e Rússia — e por outros arquitetos em todo o mundo.

Segundo o chinês, ele pode ser reproduzido em qualquer lugar, inclusive no Brasil.

"Funciona em qualquer lugar. As cidades-esponja são uma solução para climas extremos, onde quer que eles estejam", diz.

"E o Brasil pode se dar muito bem com elas, porque tem muitas áreas naturais, o que dá mais espaço para a água escoar."

De acordo com o arquiteto, além de impedir inundações, o modelo também pode ser útil durante os períodos de seca, já que a água armazenada pode ser utilizada para irrigação e para manter as árvores e plantas da cidade em boas condições.

🌧️Além das fortes chuvas, períodos mais prolongados de seca também são efeitos das mudanças climáticas.

Antes de sofrerem com as inundações, muitos produtores gaúchos já haviam sido castigados pela falta de água no ano safra de 2021/22.

Mas para que o conceito das cidades-esponja funcione, ele deve se basear em três grandes estratégias, segundo Kongjian Yu.

Kongjian Yu já ganhou diversos prêmios internacionais por seus projetos. — Foto: Turenscape
Kongjian Yu já ganhou diversos prêmios internacionais por seus projetos. — Foto: Turenscape

Contenção da água

O primeiro princípio adotado nos projetos do chinês é reter a água assim que ela toca o solo. Segundo Yu, isso pode ser alcançado por meio de grandes áreas permeáveis e porosas, não pavimentadas.

Da mesma forma que uma esponja com muitos orifícios, a cidade deve conter a chuva com lagos artificiais e áreas de açude alimentados naturalmente ou por canos que ajudam a escoar a água de rios e represas.

Telhados e fachadas verdes, assim como valas com áreas verdes com camadas de solo permeáveis ​​por baixo também são usadas para esse propósito.

Kongjian Yu explica que, em áreas cultiváveis, reservar 20% do terreno para operar como um sistema de açude é suficiente para impedir que o restante do lote seja inundado. Essa área pode ainda ser adaptada para colheitas resistentes à umidade e para posteriormente abastecer o restante das plantações em épocas de seca.

Apesar de ser algo recente, a base teórica na qual as cidades-esponja resgata as antigas tradições chinesas da agricultura e da gestão da água.

"Temos que aprender com a aquacultura como fazer essa terra fértil, quais culturas podem sobreviver e usar essas áreas para isso", diz. "O arroz é um exemplo de uma plantação que pode funcionar." 
Redução da velocidade

Em seguida, o arquiteto aconselha pensar no manejo da água coletada. Isto é, desacelerar o fluxo d'água.

Em vez de tentar canalizar a água rapidamente para longe em linhas retas, rios tortuosos com vegetação ou várzeas reduzem a velocidade da água.

Eles oferecem mais um benefício, que é a criação de áreas verdes, parques e habitats para animais, purificando a água escoada na superfície com plantas que removem toxinas poluentes e nutrientes.

Yu conta que se interessou pelo tema da urbanização e da contenção das águas após vivenciar uma experiência com inundações durante a infância.

Na época com apenas 10 anos, o chinês vivia em uma fazenda na Província de Zhejiang, perto de Hangzhou. Durante um período de fortes chuvas, o córrego da região inundou os campos de arroz da comunidade agrícola e Yu foi pego pelas águas, carregado pela enchente.

Mas as plantas, troncos e salgueiros ao longo do córrego reduziram a velocidade do fluxo do rio, permitindo que ele se agarrasse à vegetação e saísse das águas.

"Se o rio fosse como muitos são hoje, nivelados com paredes de concreto, certamente eu teria me afogado", contou Yu à BBC.

As técnicas usadas pelo arquiteto em seus projetos atuam da mesma forma que a vegetação no córrego na fazenda de Yu, desacelerando a água.

O rio Wujiang em Zhejiang, a Província natal de Yu, foi recentemente remodelado. — Foto: Turenscape
O rio Wujiang em Zhejiang, a Província natal de Yu, foi recentemente remodelado. — Foto: Turenscape

Escoamento e absorção

A terceira estratégia é adaptar as cidades para que elas tenham áreas alagáveis, para onde a água possa escorrer sem causar destruição.

"Em vez de construir barragens e ir acumulando a água em áreas de cimento, precisamos nos adaptar à água, deixa a cidade lidar com a água de forma saudável", diz Yu.

A principal forma de fazer isso é criar grandes estruturas naturais alagáveis para que a água possa ser contida por um tempo e, depois, absorvida pelo lençol freático.

Yu defende que essas áreas alagáveis permaneçam desocupadas, evitando-se construções nas áreas baixas.

Nos casos de infiltração, podem ser feitas caixas infiltrantes, que facilitam a entrada da água no solo.

Algumas cidades usam "jardins de chuva" que armazenam o excesso de chuva em tanques subterrâneos e túneis. A água só é descartada nos rios depois que os níveis diminuem.

Plantas que absorvem água também podem ser usadas para dar conta do alto volume de chuvas.

"A natureza se adapta. O conceito de cidade-esponja é baseado no princípio de que a natureza regula a água", diz o arquiteto. "Não é apenas a natureza em si. Sistemas feitos pelo homem devem ser certamente usados, mas a natureza deve ser dominante."

Yu afirma ainda que, para conter as grandes inundações previstas para os próximos anos, é preciso expandir essa estratégia por várias regiões e criar um "planeta-esponja" onde a força das águas possa ser dissipada e desacelerada aos poucos.

Ainda na visão do chinês, além de parques adaptados e áreas cultiváveis capazes de absorver mais água, lagoas e pântanos podem coexistir com rodovias e arranha-céus.

Projeto em Zhejiang é parte da implementação da ideia de 'cidade-esponja'. — Foto: Turenscape
Projeto em Zhejiang é parte da implementação da ideia de 'cidade-esponja'. — Foto: Turenscape

Experiências

Em 2015, o presidente chinês, Xi Jinping, inaugurou oficialmente o "Programa Cidade-Esponja", que incentivava as cidades a adotar uma infraestrutura verde para conter a água, ao invés das estratégias cinza comuns (feitas com cimento, concreto, aço e asfalto).

Yu é consultor da iniciativa e ajudou a construir centenas de "parques-esponja" na China.

Um deles é o Houtan Park, em Xangai. A faixa verde de quase 2 quilômetros de extensão ao longo do rio Huangpu foi projetada em uma antiga área industrial.

Terraços plantados com bambu, ervas e gramíneas nativas são cortados por passarelas de madeira instaladas entre lagoas e pântanos.

As zonas úmidas filtram a água, retardam o fluxo do rio e criam um ambiente propício para aves aquáticas e peixes.

Mas o conceito de cidade-esponja não é exclusivo da China. Um dos projetos supervisionados por Yu fora do país foi nomeado Parque Florestal Benjakitti.

Em Bangkok, na Tailândia, o parque possui um labirinto de lagos, árvores e pequenas ilhas. Inaugurado em 2022, ocupa mais de 400 mil metros quadrados e foi construído no lugar de uma antiga fábrica de tabaco.

Em todo o mundo, cada vez mais lugares estão enfrentando dificuldades com o aumento das chuvas, um fenômeno que os cientistas relacionam às mudanças climáticas.

À medida que as temperaturas se elevam com o aquecimento global, cada vez mais umidade evapora na atmosfera, causando chuvas mais fortes.

E os cientistas afirmam que essa situação só irá piorar. No futuro, as chuvas serão mais intensas que o normal.

Com tempestades cada vez mais fortes, especialistas questionam se as cidades-esponja serão capazes de conter inundações.

Pesquisadores do tema analisaram os resultados das cidades que receberam os projetos incentivados pelo governo chinês desde 2015.

Muitas das iniciativas-piloto tiveram um efeito positivo, com projetos de baixo impacto, como telhados verdes e jardins de chuva, desacelerando o escoamento.

Uma das cidades que demonstraram mais entusiasmo em relação ao projeto, Zhengzhou, na província de Henan, recebeu 60 bilhões de yuans (cerca de R$ 42 bilhões).

Ainda assim, após a cidade ser atingida por uma das chuvas mais fortes da sua história em 2021, as ruas ficaram inundadas e mais de 70 pessoas morreram.

Mas Yu insiste que a sabedoria da China antiga não pode estar errada e essas falhas são causadas pela execução inadequada ou fragmentada da sua ideia pelas autoridades locais.

A enchente em Zhengzhou, segundo ele, foi um exemplo clássico. A cidade pavimentou seus lagos, de forma que não houve retenção de água suficiente quando a chuva começou.

O rio principal havia sido canalizado com drenagens de concreto, fazendo com que a água fluísse com a velocidade "de uma descarga de vaso sanitário", segundo o arquiteto. Além disso, construções importantes como hospitais foram construídas sobre terras baixas.

Yu afirma ainda que as soluções podem ser combinadas: manter as estruturas de contenção que já existem e implementar os elementos das cidades-esponja ao mesmo tempo.

O chinês, porém, não vê vantagem em continuar construindo novas barragens que em alguns anos se tornarão obsoletas.

"Se [as cidades] já vão investir dinheiro, que seja em um projeto baseado na natureza", diz. "Meus projetos demoram em torno de 1 a 3 anos e podem ajudar as cidades a lidar com a água por muito tempo."

Yu diz ainda que os próprios moradores podem usar seus jardins, terraços e telhados como esponjas para ajudar a absorver a água das chuvas.

"Não estou dizendo que vamos solucionar o problema completamente dessa forma, mas vamos certamente mitigar as consequências."

Cidades-esponja: conheça conceito que usa ciência para prevenir tragédias como a do RS

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sábado, 25 de maio de 2024

O mistério sobre por que cérebros humanos estão encolhendo

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Quando comparados com outros animais de tamanho semelhante, nossos cérebros são gigantescos. Mas estão menores em comparação com o Homo Sapiens de 100 mil anos atrás.
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TOPO
Por BBC

Postado em 25 de maio de 2023 às 16h30m

#.*Post. - N.\ 11.210*.#

Ilustração sobre o cérebro humano — Foto: Getty Images
Ilustração sobre o cérebro humano — Foto: Getty Images

Os cérebros dos humanos modernos são cerca de 13% menores do que os do Homo sapiens que viveu há 100 mil anos. Por que exatamente isso ainda intriga os pesquisadores?

Tradicionalmente, acredita-se que o nosso grande cérebroseja o que diferencia nossa espécie de outros animais. A capacidade de pensamento e inovação dos seres humanos foi o que nos permitiu criar a primeira arte, inventar a roda e até pousar na Lua.

Certamente, quando comparados com outros animais de tamanho semelhante, nossos cérebros são gigantescos. O cérebro humano quase quadruplicou de tamanho nos seis milhões de anos desde que a nossa espécie partilhou pela última vez um ancestral comum com os chimpanzés. No entanto, estudos mostram que esta tendência para cérebros maiores se inverteu no Homo sapiens. Na nossa espécie, o tamanho médio do cérebro diminuiu ao longo dos últimos 100 mil anos.

Por exemplo, num estudo recente de 2023, Ian Tattersall, paleoantropólogo e curador emérito do Museu Americano de História Natural na cidade de Nova York, acompanhou os volumes de caixas cranianas de antigos hominídeos ao longo do tempo. Ele começou com as espécies mais antigas conhecidas e terminou com os humanos modernos.

O pesquisador descobriu que a rápida expansão cerebral ocorreu de forma independente em diferentes espécies de hominídeos e em épocas diferentes na Ásia, Europa e África. As espécies cujos cérebros cresceram ao longo do tempo incluem Australopithecus afarensis, Homo erectus, Homo heidelbergensis e Homo neanderthalensis.

O tamanho do cérebro mudou à medida que novas espécies de humanos, como o 'Homo neanderthalensis', surgiram — Foto: Getty Images
O tamanho do cérebro mudou à medida que novas espécies de humanos, como o 'Homo neanderthalensis', surgiram — Foto: Getty Images

No entanto, a tendência de aumento do cérebro ao longo do tempo virou de cabeça para baixo com a chegada dos humanos modernos. Os crânios de homens e mulheres hoje são em média 12,7% menores do que os do Homo sapiens que viveu durante a última era glacial.

Temos crânios com formatos muito peculiares, por isso os primeiros humanos são muito fáceis de reconhecer – e os primeiros têm cérebros extremamente grandes, diz Tattersall.

A descoberta de Tattersall replica a de outros. Por exemplo, em 1934, Gerhardt Von Bonin, um cientista alemão afiliado à Universidade de Chicago em Illinois, escreveu que "há uma indicação definitiva de uma diminuição [no cérebro humano], pelo menos na Europa, nos últimos 10 ou 20 mil anos".

Então, como podemos explicar esta redução impressionante? Tattersall sugere que a diminuição do tamanho do cérebro começou há cerca de 100 mil anos, o que corresponde a um período de tempo em que os humanos mudaram de um estilo de pensamento mais intuitivo para o que ele chama de processamento de informação simbólica – ou pensar de uma forma mais abstrata para entender melhor o seu entorno.

Essa foi a época em que os humanos começaram a produzir artefatos simbólicos e gravuras com imagens geométricas significativas, diz Tattersall.

O pesquisador acredita que o catalisador que causou a mudança no estilo de pensamento foi a invenção espontânea da linguagem. Isso fez com que as vias neurais do cérebro fossem reorganizadas de uma forma mais metabolicamente eficiente, permitindo que os humanos obtivessem maior retorno do seu investimento.

Em outras palavras, à medida em que cérebros menores e mais bem organizados foram capazes de realizar cálculos mais complexos, cérebros maiores e metabolicamente caros tornaram-se simplesmente desnecessários.

Ao que parece, provavelmente os nossos antepassados processaram a informação por uma espécie de força bruta, e a inteligência, neste contexto, foi dimensionada de acordo com o tamanho do cérebro. Portanto, quanto maior for o seu cérebro, mais você aproveitou dele, diz Tattersall.

Mas a nossa maneira de pensar é diferente. Desconstruímos o mundo que nos rodeia em um vocabulário de símbolos abstratos, e remontamos esses símbolos para fazer perguntas como 'E se?'

"Esse tipo de pensamento simbólico deve ter exigido um conjunto muito mais complexo de conexões dentro do cérebro do que estava presente anteriormente. Minha sugestão é que ter essas conexões extras permitiu que o cérebro funcionasse de uma forma muito mais eficiente em termos energéticos."

No entanto, outros paleontólogos argumentam que o registo fóssil mostra que os cérebros começaram a encolher mais recentemente do que Tattersall sugere, o que significa que a mudança não poderia estar ligada à linguagem. A data em que Tattersall estima a aquisição da linguagem (100 mil anos atrás) também é contestada.

Adoro essa teoria, acho realmente brilhante, diz o cientista cognitivo Jeff Morgan Stibel, do Museu de História Natural da Califórnia.

"Mas não vimos dados que mostrem que houve um declínio já há 100 mil anos que não tenha resultado, em algum momento, em uma reversão, onde o tamanho do cérebro começou a aumentar novamente. Houve declínios naquela época. Mas e seguida, o cérebro voltou a crescer. Ou seja, os dados ainda não correspondem a essa hipótese."

Stibel acredita que as mudanças climáticas, e não a linguagem, poderiam explicar nossos cérebros menores. Em um estudo de 2023, ele analisou os crânios de 298 Homo sapiens nos últimos 50 mil anos. Ele descobriu que os cérebros humanos têm diminuído há cerca de 17 mil anos – desde o fim da última era glacial. Quando examinou cuidadosamente o registo climático, o pesquisador descobriu que a diminuição do tamanho do cérebro estava correlacionada a períodos de aquecimento da Terra.

O que vimos foi que, quanto mais quente o clima, menor é o tamanho do cérebro dos humanos. E quanto mais frio, maior é o cérebro, diz Stibel.

Cérebros menores poderiam ter permitido que os humanos esfriassem rapidamente. É sabido que os humanos em climas quentes desenvolveram corpos mais magros e mais altos para maximizar a perda de calor. É possível que nossos cérebros tenham evoluído de maneira semelhante.

Hoje em dia, se fizer calor, podemos vestir uma camiseta, pular na piscina ou ligar o ar condicionado, mas há 15 mil anos essas opções não estavam disponíveis para nós, diz Stibel.

O cérebro é o maior consumidor de energia de todos os órgãos, pois pesa cerca de 2% da nossa massa corporal, mas consome mais de 20% da nossa energia metabólica em repouso. Provavelmente também deveria se adaptar ao clima. Nossa teoria é que cérebros menores dissipam melhor o calor e também têm uma produção de calor reduzida."

A descoberta sugere que o rápido aquecimento do planeta atual pode fazer com que o nosso cérebro encolha ainda mais.

A ascensão de civilizações complexas

Talvez a teoria mais proeminente apresentada para explicar o encolhimento do nosso cérebro seja que tudo começou quando os nossos antepassados deixaram de ser caçadores-coletores, criaram raízes e começaram a construir sociedades complexas.

Em 2021, Jeremy DeSilva, antropólogo do Dartmouth College, nos EUA, analisou fósseis cranianos que vão desde o hominídeo Rudapithecus do Mioceno (quase 10 milhões de anos atrás) até os humanos modernos (300 mil a 100 anos atrás). Ele calculou que os nossos cérebros começaram a encolher há apenas 3.000 anos, mais ou menos no mesmo momento em que civilizações complexas começaram a surgir (embora desde então tenha revisto a sua estimativa, argumentando que o declínio no tamanho do cérebro ocorreu entre 20 e 5 mil anos atrás).

DeSilva sugere que o nascimento de sociedades e impérios complexos significou que o conhecimento e as tarefas poderiam ser espalhados. As pessoas já não tinham de saber tudo e, como os indivíduos já não tinham de pensar tanto para sobreviver, os seus cérebros diminuíram de tamanho.

No entanto, essa teoria também é contestada.

Nem todas as sociedades de caçadores-coletores se tornaram complexas da mesma forma que, digamos, os egípcios há 3 mil anos, mas o tamanho do cérebro também diminuiu nessas sociedades, diz Eva Jablonka, professora emérita do Instituto Cohn de História, Filosofia, Ciência e Ideias na Universidade de Tel Aviv, em Israel.

Jablonka argumenta que, mesmo que os cérebros tenham diminuído à medida em que surgiam sociedades mais complexas, isso não significa necessariamente que cérebros menores fossem, necessariamente, uma resposta adaptativa.

"Se há 3 mil anos surgissem sociedades muito maiores e mais complexas, isso poderia estar correlacionado a diferenças muito maiores nas classes sociais. Se, como consequência, a maioria das pessoas fosse pobre, então sabemos que a pobreza e a desnutrição comprometeriam o desenvolvimento cérebro."

Marta Lahr, do Centro Leverhulme de Estudos Evolutivos Humanos da Universidade de Cambridge, também sugeriu que a deficiência de nutrientes poderia explicar a redução dos nossos crânios. Em 2013, ela analisou ossos e cabeças de toda a Europa, África e Ásia. Ela descobriu que o Homo sapiens com o maior cérebro viveu entre 20 e 30 mil anos atrás, e que os cérebros humanos começaram a encolher há 10 mil anos.

Isto está dentro do prazo em que se pensa que os nossos antepassados deixaram de ser caçadores-recolectores e passaram a dedicar-se à agricultura. Ela argumenta que a dependência da agricultura pode ter criado deficiências de vitaminas e minerais, resultando em um crescimento atrofiado.

Entretanto, alguns cientistas argumentam que os crânios humanos ficaram menores como consequência da vida doméstica, com base no fato de que espécies domesticadas, como cães e gatos (que são criados por serem amigáveis) têm cérebros de 10 a 15% menores do que os dos seus antepassados selvagens. Se humanos mais amigáveis e mais sociais tivessem mais sucesso do ponto de vista evolutivo, então os cérebros poderiam ter encolhido com o tempo. Mas nem todos estão convencidos.

Não acredito nessa teoria da autodomesticação, diz Jablonka. "Se isso ocorreu, deve ter acontecido há cerca de 800 mil anos, e não há qualquer evidência de que o cérebro humano tenha encolhido naquela época."

Então, onde isso nos leva? Infelizmente, para entender por que os cérebros encolheram, seria necessário identificar exatamente quando o encolhimento começou. Mas o registo fóssil torna esta tarefa quase impossível. Fósseis mais antigos são mais difíceis de encontrar, por isso o registro é fortemente distorcido para espécies mais novas. Para algumas espécies mal preservadas, dependemos atualmente de alguns ou mesmo de um único crânio.

O que sabemos é que no Pleistoceno, os cérebros humanos tinham aproximadamente o mesmo tamanho dos cérebros dos Neandertais, que é um pouco maior do que o tamanho médio dos cérebros humanos atuais, diz Tattersall.

"A média de todos os cérebros do Homo sapiens com mais de 20 mil anos também é alta. Mas quando exatamente começou a diminuir é uma questão que não está totalmente clara, porque o registro não é tão bom. Tudo o que sabemos é que naquela época, os cérebros eram grandes e hoje são cerca de 13% menores."

Estamos nos tornando menos inteligentes?

Se os cérebros estão encolhendo, o que isso significa para a inteligência humana? Dependendo da teoria em que você acredita, cérebros menores podem nos tornar mais inteligentes, mais burros ou não ter qualquer efeito sobre a inteligência.

É verdade que o tamanho do cérebro não é tudo. Os cérebros dos homens são cerca de 11% maiores que os das mulheres devido ao tamanho do corpo, também maior. No entanto, a investigação demonstrou que mulheres e homens têm capacidades cognitivas semelhantes. Há algumas evidências contestadas de que espécies de hominídeos com cérebros menores, como o Homo floresiensis e o Homo naledi, eram capazes de comportamentos complexos, sugerindo que a forma como o cérebro está conectado é o que determina a inteligência. No entanto, em geral, ter um cérebro maior em relação ao tamanho do corpo está correlacionado com inteligência.

O fato de o nosso cérebro estar diminuindo significativamente neste momento leva à conclusão lógica de que a nossa capacidade de ficarmos mais inteligentes está diminuindo também, ou ao menos não está crescendo, diz Stibel.

"No entanto, o que fizemos nos últimos 10 mil anos foi criar ferramentas e tecnologias que nos permitam descarregar a cognição em artefatos. Somos capazes de armazenar informações em computadores e usar máquinas para calcular coisas para nós. Portanto, nossos cérebros podem até estar apresentando uma menor capacidade de inteligência e de poder intelectual, mas isso não significa que nós, como espécie, estejamos ficando menos inteligentes coletivamente."

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