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terça-feira, 14 de novembro de 2023

Onda de calor: o que é e por que está cada vez mais tão frequente?

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Segundo especialistas, é comum haver ondas de calor na primavera, mas elas têm sido mais intensas em razão da crise climática e do El Niño. Dados do Inpe mostram que a frequência aumentou muito.
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Por Poliana Casemiro, Mariana Garcia, g1

Postado em 14 de novembro de 2023 às 12h20m

#.*Post. - N.\ 11.006*.#

Previsão do tempo: 15 estados e DF estão com alerta vermelho para calor intenso
Previsão do tempo: 15 estados e DF estão com alerta vermelho para calor intenso

Temperaturas altas na madrugada. Dias com calor recorde. O forno que estamos sentindo tem uma responsável: a onda de calor. Mas o que ela significa e por que tem sido cada vez mais frequente? Confira essas e outras dúvidas abaixo.

Segundo especialistas, a onda de calor acontece quando temos uma temperatura acima da média por um período de mais de cinco dias.

Na atual onda de calor, classificada como uma das mais intensas do ano, a temperatura está 5°C acima da média.

A onda de calor é comum todos os anos na transição entre a primavera e o verão. O meteorologista Giovanni Dolif, do Centro Nacional de Desastres Naturais (Cemaden), explica que, nessa época, a Terra já está mais exposta ao Sol com a proximidade do verão. E as temperaturas altas ocorrem porque é uma temporada sem chuva e, com isso, menos nuvens para impedir a passagem de tanto calor.

2023 deve ser o ano mais quente em 125 mil anos, diz observatório europeu2023 deve ser o ano mais quente em 125 mil anos, diz observatório europeu

🥵 Se é comum, por que parece que nunca sentimos tanto calor antes?

O que o meteorologista explica é que a onda de calor se junta a dois eventos que estão fazendo a Terra ficar mais quente: o aquecimento global e o El Niño, fenômeno que deixa as águas do oceano mais quentes.

O nosso planeta está mais quente e, com isso, a onda de calor começa já em uma situação em que estamos com a temperatura acima da média. Tivemos o junho mais quente da história. Esse calor em sequência faz com que hoje a gente veja níveis extremos.
— Giovanni Dolif, meteorologista do Centro Nacional de Desastres Naturais (Cemaden).

E é o que está acontecendo:

  • No domingo (12), o Rio de Janeiro registrou a maior máxima do ano, com 40,4ºC.
  • A semana começou com São Paulo chegando aos 37,7ºC, marcando o segundo dia mais quente da história das medições feitas pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em 1943.
  • Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Rio de Janeiro e Teresina estão com um calor tão intenso que a previsão é de que, nesta terça-feira (14), batam recorde de máxima com 13°C acima da média de novembro.
  • O Inmet colocou 15 estados sob alerta de grande risco pelo calor intenso.

Além de ondas de calor mais intensas, estamos vendo isso acontecer com mais frequência. Essa é a quarta vez que ela ocorre no Brasil neste ano e de forma sequencial. As anteriores foram registradas nos meses de agosto, setembro, outubro e em novembro.

O meteorologista do Climatempo Fábio Luengo explica que o planeta mais quente é que faz com que tenhamos mais sequências de dias com temperaturas acima da média – condição da onda de calor – e que isso é resultado das mudanças climáticas.

O aquecimento global mexe com tudo e bagunça qualquer tipo de evento. Estamos tendo eventos mais extremos e mais frequentes, explica Luengo.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, mostram um salto brutal entre da onda de calor nos últimos 59 anos.

  • De 1961 a 1990: 7 dias
  • 1991 e 2000: 20 dias
  • De 2001 a 2010: 40 dias
  • 2011 e 2020: 52 dias

Os dados indicam que houve aumento das ondas de calor ao longo dos períodos analisados, em praticamente todo o Brasil, com exceção da região Sul, uma parte do sul do estado de São Paulo e o sul do Mato Grosso do Sul.

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segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Lago no Havaí fica cor-de-rosa por excesso de sal; cientistas apontam estresse ambiental

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Pesquisadores dizem que a coloração é resultado do crescimento de uma bactéria que prospera em altos níveis de sal. A salinidade do lago é o dobro da encontrada na água do mar.
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Por g1

Postado em 13 de novembro de 2023 às 16h25m

#.*Post. - N.\ 11.005*.#

Lago no Havaí, nos Estados Unidos, fica rosa
Lago no Havaí, nos Estados Unidos, fica rosa

Um lago no Havaí (EUA) ficou completamente rosa. O motivo é o excesso de sal presente na água, que está o dobro da salinidade encontrada no mar. Pesquisadores dizem que essa coloração é resultado de um estresse ambiental.

De água salgada, o Lago Kealia fica na ilha de Maui e mudou de cor no dia 30 de outubro.

O que os testes mostraram foi a proliferação de halobactérias – um organismo unicelular que prospera em corpos d'água com altos níveis de sal, deixando o lago cor-de-rosa brilhante. A razão para o aumento dessas bactérias ainda é investigada.

Esta foto de 8 de novembro de 2023 mostra o lago no Kealia Pond National Wildlife Refuge em Maui, Havaí, que ficou rosa em 30 de outubro de 2023.  — Foto: Leslie Diamond via AP
Esta foto de 8 de novembro de 2023 mostra o lago no Kealia Pond National Wildlife Refuge em Maui, Havaí, que ficou rosa em 30 de outubro de 2023. — Foto: Leslie Diamond via AP

Mais salgada do que o mar

Segundo a equipe do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA, a análise da água mostrou que a salinidade está superior a 70 partes por mil. Isso é o dobro da salinidade da água do mar.

A tonalidade rosa brilhante é preocupante para o ecossistema, já que os níveis de sal na água são muito altos para a maioria dos peixes sobreviverem ou outros animais beberem.

Autoridades no Havaí estão investigando por que o lago ficou rosa, mas há indícios de que a culpa pode ser da seca. — Foto: Leslie Diamond via AP
Autoridades no Havaí estão investigando por que o lago ficou rosa, mas há indícios de que a culpa pode ser da seca. — Foto: Leslie Diamond via AP

O governo norte-americano pediu que as pessoas não se aproximem da água, não consumam nem comam peixes retirados do local.

O Serviço de Pesca dos Estados Unidos informou que estão sendo coletadas amostras da água para descobrirem a cepa da halobactéria e que não há uma previsão de medida para reverter o cenário no Lago Kealia.

O governo norte-americano ainda pediu que as pessoas não se aproximem da água. — Foto: Leslie Diamond via AP
O governo norte-americano ainda pediu que as pessoas não se aproximem da água. — Foto: Leslie Diamond via AP

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domingo, 12 de novembro de 2023

5 ameaças que podem levar girafas à extinção

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As populações de girafas diminuíram 40% nos últimos 30 anos e existem agora menos de 70 mil indivíduos adultos na natureza. Quais são as causas deste declínio alarmante do mamífero mais alto do mundo e o que pode ser feito para proteger estes gigantes?
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TOPO
Por Derek Lee*

Postado em 12 de novembro de 2023 às 07h00m

#.*Post. - N.\ 11.004*.#

Girafas são os mamíferos mais altos do mundo. — Foto: GETTY IMAGES via BBC
Girafas são os mamíferos mais altos do mundo. — Foto: GETTY IMAGES via BBC

As populações de girafas diminuíram 40% nos últimos 30 anos e existem agora menos de 70 mil indivíduos adultos na natureza.

Quais são as causas deste declínio alarmante do mamífero mais alto do mundo e o que pode ser feito para proteger estes gigantes pacíficos?

As cinco maiores ameaças às girafas são a perda de habitat, a falta de fiscalização da aplicação da lei, as alterações ecológicas, as alterações climáticas e a falta de conscientização. Abaixo, falarei sobre essas ameaças e o que está sendo feito para salvá-las.

Também explicarei um estudo do qual participei que classificou estas ameaças em termos do risco de cada uma delas de causar a extinção das girafas — e se ações humanas podem diminuí-lo.

Girafas herdam padrão de manchas das mães, diz estudo
Girafas herdam padrão de manchas das mães, diz estudo

O estudo utilizou dados de mais de 3.100 girafas identificadas ao longo de oito anos numa área não cercada de 4.500 km² do ecossistema Tarangire, na Tanzânia.

Usamos os dados para simular como as mudanças ambientais e o uso da terra poderiam afetar a população de girafas ao longo de 50 anos. As descobertas podem orientar ações de conservação.

Degradação, fragmentação e perda de habitat

As girafas precisam de grandes áreas de savana com abundantes arbustos e árvores nativas para se alimentarem. A maior ameaça para as girafas é a degradação, fragmentação e perda dos seus habitats através de atividades humanas, como a agricultura e a expansão dos assentamentos humanos.

A perda de habitat fora das áreas protegidas é a principal razão para o recente declínio no número de girafas. Os parques nacionais fornecem a maior parte do habitat restante. Alguns bons habitats permanecem desprotegidos, mas são cuidados por pastores.

Os pastores tradicionais, como os Maasai, no norte da Tanzânia, mantêm grandes espaços de savana natural onde a vida selvagem e as pessoas prosperam juntas.

No entanto, a maioria das pessoas que agora vivem em áreas que eram habitat de girafas são sedentárias. À medida que as populações de agricultores e cidadãos se expandem, as girafas são forçadas a viver em áreas de terra mais pequenas e isoladas. Isto reduz o seu acesso a alimentos e água e aumenta a sua vulnerabilidade.

Os conservacionistas estão trabalhando para salvaguardar o habitat desprotegido das girafas e manter ou restaurar as ligações entre as áreas protegidas. A gestão comunitária dos recursos naturais é fundamental para esta atividade, pois dá às comunidades locais o poder legal para proteger as suas terras e recursos.

Aplicação da lei insuficiente

Outra grande ameaça às girafas é a caça ilegal para os mercados de carne de animais selvagens. Isso geralmente é controlado por organizações criminosas internacionais.

Uma maior fiscalização é a melhor ferramenta para combater esta ameaça. Os conservacionistas estão trabalhando para reforçar a aplicação da lei local e internacional em torno dos crimes contra a vida selvagem e para reduzir a procura de produtos de girafas.

Isto requer o apoio a patrulhas anti-caça por guardas florestais e patrulhas anti-caça nas aldeias. Também é essencial que as comunidades tenham alternativas, formas legais de ganhar a vida.

Uma terceira grande ameaça às girafas são as alterações ecológicas causadas pelo homem que afetam a disponibilidade de alimentos e a mobilidade. Estas mudanças incluem o desmatamento de savanas para produção de lenha e carvão vegetal, mineração e construção de estradas e oleodutos. O desvio de água e o bombeamento de águas subterrâneas também afetam o seu habitat e o acesso à água.

A mineração, as estradas e os oleodutos podem perturbar os padrões naturais de movimento da vida selvagem, resultando em populações mais pequenas e mais isoladas, mais suscetíveis à extinção local.

Os conservacionistas estão promovendo a silvicultura sustentável, novas técnicas para preparar alimentos, como uso de fogões a gás, a conservação da água e o planejamento dos recursos hídricos subterrâneos.

Também estão construindo passagens para a vida selvagem em estradas e oleodutos.

Alterações Climáticas

A previsão é de que as alterações climáticas resultantes da poluição por dióxido de carbono causada pelo homem aumentem as temperaturas e as precipitações em muitas áreas da savana africana.

As girafas não são afetadas pelas temperaturas mais elevadas observadas até agora, mas o aumento das chuvas sazonais está associado à menor sobrevivência das girafas devido a doenças e à menor qualidade dos alimentos.

Como mudanças climáticas estão alterando comportamento, reprodução e tamanho de animaisComo mudanças climáticas estão alterando comportamento, reprodução e tamanho de animais

A longo prazo, mais chuvas criarão condições favoráveis ao aumento da cobertura vegetal lenhosa nas savanas.

Isto poderia ajudar as girafas, aumentando o seu abastecimento alimentar, mas apenas se uma quantidade suficiente de savana natural for preservada da exploração humana.

Falta de conhecimento e conscientização

A quinta grande ameaça às girafas é a falta de conhecimento e conscientização sobre as suas necessidades.

As girafas são frequentemente ignoradas e sub-representadas na pesquisa, financiamento e políticas sobre a vida selvagem. Muitas pessoas não sabem que as girafas estão ameaçadas e enfrentam múltiplas ameaças em toda a África.

Os conservacionistas estão trabalhando para aumentar o conhecimento e a conscientização sobre as girafas local e mundialmente.

Os cientistas estão estudando a demografia, a dieta, o comportamento e a genética das girafas, e existe um grande programa de educação ambiental na Tanzânia, nos EUA e na Europa.

Criando um futuro seguro para girafas

As girafas enfrentam uma crise silenciosa de extinção em África. Mas ainda há esperança de que possam ser salvas se as pessoas compreenderem e abordarem o problema.

O novo estudo do qual fui coautor classificou ameaças e analisou ações potencialmente mitigadoras.

A nossa simulação mostrou que o maior fator de risco para a extinção local das girafas foi uma redução na fiscalização da aplicação da lei sobre a vida selvagem, levando a mais caça ilegal.

No modelo, um aumento na aplicação da lei mitigaria os efeitos negativos das alterações climáticas e da expansão das cidades ao longo dos limites das áreas protegidas.

O estudo destaca a grande utilidade da aplicação da lei como ferramenta de conservação da natureza.

Dada a sua vasta distribuição histórica em África e áreas de vida individuais de milhares de hectares, as girafas provavelmente não sobreviverão apenas dentro dos limites de áreas protegidas pequenas e fragmentadas.

Proponho, como parte das nossas recomendações baseadas em evidências, que as pastagens utilizadas pela vida selvagem e pelos pastores como vias de circulação sejam permanentemente protegidas da agricultura, mineração e construção de grandes obras de infraestrutura.

Isso dará às pessoas e também aos animais de grande porte, como as girafas, liberdade para circular.

Também exigirá a expansão da aplicação da lei sobre a vida selvagem nas terras das aldeias fora das áreas protegidas formais.

Estas medidas ajudariam a possibilitar que pessoas e girafas prosperassem juntas.

*Derek E. Lee é biológo e pesquisador na Penn State University, nos EUA.

**Este artigo foi publicado no site de divulgação científica The Conversation e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original (em inglês).

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sábado, 11 de novembro de 2023

Cidade, faculdade e prédios de madeira: saiba por que o material é visto como o futuro da construção

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Insumo é alternativa sustentável e pode reduzir o uso de recursos não renováveis. Instituto de Arquitetura da USP irá construir um dos primeiros prédios públicos de madeira do país.
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Por Paula Paiva Paulo

Postado em 11 de novembro de 2023 às 09h55m

#.*Post. - N.\ 11.003*.#

Entenda por que a madeira é considerada o futuro da construçãoEntenda por que a madeira é considerada o futuro da construção

A Suécia vai construir uma cidade toda de madeira. Na Ásia, Singapura inaugurou uma faculdade feita de madeira. A Vila Olímpica de Paris, em 2024, será construída com madeira. E há uma disputa para ver quem fica com o título de prédio mais alto do mundo… em madeira.

Nesta reportagem, você vai entender por que um dos materiais mais antigos do mundo vem sendo visto como o futuro da construção civil. E também verá que:

🪵o uso da madeira, um recurso renovável e que armazena carbono, é uma alternativa mais sustentável em relação ao emprego do concreto e do aço;

🌎no mundo, há incentivos do poder público para aumentar o alcance dessa inovação;

📋já no Brasil, ainda estamos engatinhando na utilização da madeira na estrutura de construções.

Uma torre de mais de 100 metros... de madeira?

Hoje, graças à tecnologia de ponta, é possível fabricar — em madeira — componentes estruturais como vigas, pilares e lajes. É a chamada madeira engenheirada, processada industrialmente.

➡️Com essa novidade, o mundo passou a ver até arranha-céus construídos com esse material. O mais alto era o Mjøstårnet, na Noruega, com 85 metros. Em 2022, ele foi desbancado pelo Ascent, nos Estados Unidos, apenas um metro mais alto. E a previsão é que ele seja superado pelo Canadá, onde está sendo construída uma torre de mais de 100 metros de altura.

Torre de madeira de mais de cem metros de altura está sendo construída no Canadá, em Vancouver — Foto: Divulgação/Perkins Will
Torre de madeira de mais de cem metros de altura está sendo construída no Canadá, em Vancouver — Foto: Divulgação/Perkins Will

É a corrida da Torre Eiffel, brincou o engenheiro Alan Dias sobre a busca pela estrutura mais alta.

Ele trabalha há 25 anos com estruturas em madeira e conheceu alguns destes gigantes de madeira engenheirada.

Mais do que marcos de altura, as construções de prédios têm um valor didático: culturalmente, ainda há resistência com a madeira como estrutura.

A altura [dos edifícios] demonstra que a tecnologia é robusta e segura. Tem um aspecto de validação técnica que é muito poderoso, afirma Ana Belizário, arquiteta e head comercial da Urbem, fábrica de madeira engenheirada.

Fenômeno semelhante aconteceu quando subiu o primeiro arranha-céu de São Paulo, o Edifício Martinelli, na década de 30. Com a população ainda receosa com a novidade, o italiano Giuseppe Martinelli se mudou com a família para o último andar do edifício, para provar que ele era seguro e confiável.

Suécia irá construir cidade toda de madeira, a Stockholm Wood City — Foto: Divulgação/Atrium Ljungberg
Suécia irá construir cidade toda de madeira, a Stockholm Wood City — Foto: Divulgação/Atrium Ljungberg

Madeira é mesmo uma alternativa sustentável? Mas e as árvores?

Pensar na madeira como opção sustentável não é óbvio, já que é comum relacionar seu uso à derrubada de árvores. Mas a matéria-prima dessas construções não vem de vegetação nativa, e sim de florestas plantadas — árvores cultivadas pelo homem com o objetivo de produzir e comercializar madeira.

Assim, é um recurso renovável, diferente do insumo necessário para produzir o concreto e o aço, materiais que hoje dominam a indústria da construção.

A madeira representa a oportunidade de usar com parcimônia e economia os nossos recursos não renováveis, que vão ser cada vez mais preciosos", diz a arquiteta Ana Belizário.

Com tecnologia de ponta aplicada à madeira, hoje é possível utilizá-la como componente estrutural, em vigas, pilares e concreto — Foto: Divulgação/Dengo
Com tecnologia de ponta aplicada à madeira, hoje é possível utilizá-la como componente estrutural, em vigas, pilares e concreto — Foto: Divulgação/Dengo

Além disso, o processo de fabricação do concreto e do aço hoje gasta muita energia e polui muito. A construção civil é responsável por 38% das emissões de gás carbônico no mundo relacionadas à energia, segundo a agência da ONU para o Meio Ambiente.

Já a madeira, em um metro cúbico, é capaz de estocar até uma tonelada de carbono. Mesmo depois de ela ser cortada e processada, o elemento não é liberado para o meio ambiente.

"A madeira engenheirada está para os produtos imobiliários assim como o carro elétrico está para a mobilidade", explica Belizário.

Um estudo da revista científica "Nature", publicado em 2022, mostrou que, se até 2100, 90% dos novos moradores das cidades morarem em construções de madeira, a redução de gases do efeito estufa será de 106 gigatoneladas. Hoje, o planeta emite cerca de 40 gigatoneladas por ano.

E se pegar fogo?

Laboratório de Produtos Florestais, do governo dos Estados Unidos, fez testes com fogo em construções de madeira engenheirada. — Foto: Reprodução/United States Department of Agriculture
Laboratório de Produtos Florestais, do governo dos Estados Unidos, fez testes com fogo em construções de madeira engenheirada. — Foto: Reprodução/United States Department of Agriculture

Também faz parte do senso comum associar madeira à combustão. Por anos, o Laboratório de Produtos Florestais, do governo dos Estados Unidos, fez testes com fogo em construções de madeira engenheirada. Eles construíram pequenos edifícios só para queimar, e o material apresentou uma boa resistência. Além disso, são aplicados produtos para que o fogo não se propague.

Segundo os especialistas, mais do que o fogo, o maior vilão da madeira é a água. Por isso, o grande desafio é proteger o material da umidade.

Desvantagens: preço alto, carência de profissionais e burocracias

Veja os pontos negativos do uso do material:

💸A utilização da madeira engenheirada em construções ainda implica custos maiores em relação aos materiais convencionais. Segundo o engenheiro Alan Dias, a obra pode sair até 30% mais cara. No entanto, ele ressalta que, se o empreendimento for pensado desde o início para ser feito em madeira, o custo pode ser equivalente ao tradicional, de concreto e aço.

🧑‍🎓Há poucos profissionais familiarizados com a tecnologia, da fabricação à montagem.

📝Ao comprar a madeira, também é importante estar atento às certificações florestais que garantam que o manejo da floresta plantada respeita todos os requisitos ambientais (do monitoramento da saúde do solo à gestão da fauna).

Brasil ainda 'engatinha', mas USP é vanguarda

O Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP irá construir um dos primeiros prédios públicos de madeira do país — Foto: Divulgação/USP
O Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP irá construir um dos primeiros prédios públicos de madeira do país — Foto: Divulgação/USP

Apesar de o mundo já ver até arranha-céus de madeira, no Brasil as construções com o material ainda engatinham.

Por enquanto, a novidade é vista apenas em casas de altíssimo padrão e em algumas lojas conceito, como a chocolateria Dengo, na Avenida Faria Lima, em São Paulo, e o recém-inaugurado McDonald's, próximo à Avenida Paulista.

O cenário deve mudar nos próximos anos. As partes envolvidas, de fornecedores a incorporadoras, estão expandindo os negócios já de olho em um aumento da demanda.

"A matéria-prima foi um primeiro questionamento. Hoje, a capacidade produtiva é de 110 mil m3 por ano. Isso dá, a grosso modo, 400 mil m2 de área privativa. Tem muito espaço para crescer, afirmou Nicolaos Theodorakis, CEO da startup Noah, que oferece soluções para construções em madeira.

Construções de madeira são vistas em "lojas conceito" em São Paulo, como o McDonald's perto da Avenida Paulista e a chocolateria Dengo, na Faria Lima. — Foto: Divulgação/McDonald's e Divulgação/Dengo/Fábio Nunes
Construções de madeira são vistas em "lojas conceito" em São Paulo, como o McDonald's perto da Avenida Paulista e a chocolateria Dengo, na Faria Lima. — Foto: Divulgação/McDonald's e Divulgação/Dengo/Fábio Nunes

➡️A academia também está de olho na novidade. O Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP, em São Carlos, irá construir um dos primeiros prédios públicos de madeira do país. A ideia é que o novo edifício da faculdade seja uma nova referência arquitetônica.

É um cartão de visita. O IAU está bastante animado com esse projeto, no sentido de contribuir nessa mudança de paradigma da construção civil, disse Akemi Ino, professora do instituto e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade -HABIS/IAU-USP.

Para a professora, a inovação ganharia impulso no Brasil se fosse incentivada pelo poder público, o que já é visto em alguns lugares do mundo.

A região metropolitana de Amsterdã, que reúne 32 municípios na Holanda, estabeleceu que 20% dos novos projetos sejam construídos com madeira a partir de 2025. Na França, 50% dos novos prédios públicos devem ser de madeira ou outro material biológico.

O contexto de crise ambiental exige que todo setor industrial repense seus processos, afirmou Akemi Ino.

Maior construção de madeira da Ásia é a Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura — Foto: Divulgação/Nanyang Technological University
Maior construção de madeira da Ásia é a Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura — Foto: Divulgação/Nanyang Technological University

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