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quarta-feira, 23 de agosto de 2023

A corrida para revelar os mistérios do lado escuro da Lua

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Vários países estão tentando pousar no polo do sul da Lua, uma região com temperaturas de -248º C. Por quê? Porque ali pode ser uma região abundante em água.
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TOPO
Por Soutik Biswas, BBC

Postado em 23 de agosto de 2023 às 07h10m

#.*Post. - N.\ 10.920*.#

Alguns países, como Índia e Rússia, estão tentando chegar ao polo sul da Lua — Foto: GETTY IMAGES
Alguns países, como Índia e Rússia, estão tentando chegar ao polo sul da Lua — Foto: GETTY IMAGES

O sol permanece um pouco acima ou logo abaixo do horizonte, enquanto altas montanhas projetam sombras escuras.

🌚Crateras profundas guardam uma escuridão que parece eterna. Algumas dessas áreas foram protegidas da luz solar por bilhões de anos.

Nessas regiões, as temperaturas chegam a surpreendentes -248ºC, porque a Lua não tem atmosfera para aquecer a superfície.

Até agora, nenhum ser humano pôs os pés neste mundo completamente inexplorado.

🚀O polo sul da Lua, segundo a Nasa (agência espacial americana), é intrigante e cheio de "mistério e ciência".

Não é de se admirar que haja uma "corrida espacial" para alcançar esse ponto no sul da Lua, longe dos locais de pouso das missões tripuladas que visitaram o satélite há algumas décadas, agrupados ao redor do equador.

👉Nesta semana, a Índia planeja pousar uma sonda robótica Chandrayaan-3 perto do polo sul.

No domingo, o Luna-25, da Rússia, que deveria ser o primeiro veículo a fazer isso, caiu na Lua.

Era a primeira missão lunar da Rússia em quase 50 anos.

Informações preliminares mostraram que a sonda de 800 kg "deixou de existir como resultado de uma colisão com a superfície da Lua", afirmou a Rússia, em comunicado.

A Índia também está planejando uma missão conjunta do Exploração Polar Lunar (Lupex) com o Japão para explorar as regiões sombreadas ou o chamado "lado escuro da Lua" até 2026.

Por que o Polo Sul está emergindo como um destino científico atraente? Os cientistas dizem que um dos principais motivos é a água.

Os dados coletados pelo Lunar Reconnaissance Orbiter, uma espaçonave da Nasa que orbita a Lua há 14 anos, sugerem que o gelo de água está presente em algumas das grandes crateras permanentemente sombreadas que poderiam potencialmente sustentar vida.

🌙A água existe como sólida ou em vapor na Lua por causa do vácuo — a Lua não tem gravidade suficiente para manter uma atmosfera.

A missão lunar Chandrayaan-1 da Índia foi a primeira a encontrar evidências de água na Lua, em 2008.

A sonda Luna-25 decolou da Rússia em 11 de agosto, mas caiu na Lua no último domingo — Foto: REUTERS
A sonda Luna-25 decolou da Rússia em 11 de agosto, mas caiu na Lua no último domingo — Foto: REUTERS

A história da água

"Ainda não foi comprovado que o gelo d'água é acessível ou manipulável. Em outras palavras, existem reservas de água que podem ser extraídas economicamente?", questiona Clive Neal, professor de geologia planetária na Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos.

A perspectiva de encontrar água na Lua é empolgante de várias maneiras, segundo os cientistas.

A água congelada não contaminada pela radiação do Sol pode ter se acumulado em regiões polares frias ao longo de milhões de anos, levando ao acúmulo de gelo na superfície ou perto dela.

Isso fornece uma amostra única para os cientistas analisarem e entenderem a história da água em nosso sistema solar.

"Podemos abordar questões como de onde veio a água e quando, e quais são as implicações para a evolução da vida na Terra", diz Simeon Barber, cientista da The Open University do Reino Unido, que também trabalha na Agência Espacial Europeia.

Existem outras razões "pragmáticas" para acessar a água na superfície da Lua ou logo abaixo dela, diz o professor Barber.

💧Muitos países estão planejando novas missões com seres humanos à Lua, e os astronautas precisarão de água potável e saneamento.

Transportar equipamentos da Terra para a Lua envolve superar a atração gravitacional da Terra.

Quanto maior o equipamento, mais propulsores e carga de combustível seriam necessários para alcançar um pouso bem-sucedido na Lua.

💸As novas empresas espaciais comerciais cobram cerca de US$ 1 milhão (R$ 4,9 milhões) para levar um quilo de carga útil para a Lua.

É US$ 1 milhão por litro de água potável. Os empreendedores espaciais, sem dúvida, veem o gelo lunar como uma oportunidade de fornecer aos astronautas água de origem local.
— Simeon Barber, cientista da The Open University

Mas isso não é tudo.

A Índia enviou ao espaço o módulo de pouso Chandrayaan-3 — Foto: REUTERS
A Índia enviou ao espaço o módulo de pouso Chandrayaan-3 — Foto: REUTERS

As moléculas de água podem ser quebradas em átomos de hidrogênio e oxigênio, e ambos podem ser usados ​​como propulsores para disparar foguetes.

🧊Mas primeiro os cientistas precisam saber quanto gelo existe na Lua, em quais formas e se ele pode ser extraído de maneira eficiente e purificado para torná-lo seguro para beber.

Além disso, alguns pontos no polo sul são banhados pela luz solar por longos períodos de tempo, até 200 dias terrestres de iluminação constante.

☀️"A energia solar é outro recurso [para estabelecer uma base lunar e equipamentos de energia] potencial que o polo possui", diz Noah Petro, cientista do projeto da Nasa.

O polo sul lunar também fica na borda de uma enorme cratera de impacto.

Com um diâmetro de 2.500 km e atingindo profundidades de até 8 km, esta cratera é uma das formações mais antigas do sistema solar.

"Ao pousar no polo, você pode começar a entender o que está acontecendo com esta grande cratera", diz Petro.

Navegar no polo lunar com trajes espaciais e ferramentas de amostragem em um ambiente de luz e temperatura distintamente diferente em contraste com os locais equatoriais previamente explorados também promete fornecer informações valiosas.

Mas os cientistas são cautelosos em chamar o que está acontecendo de "corrida para o polo sul".

"Essas missões foram planejadas por décadas e foram adiadas muitas vezes. A corrida não é crítica para nossa compreensão da Lua. A última vez que houve uma corrida espacial real, acabamos perdendo o interesse na Lua depois de três anos e não retornamos à sua superfície em 50 anos", diz Vishnu Reddy, professor de ciências planetárias da Universidade do Arizona.

As missões indiana e russa também tinham alguns objetivos comuns, apontam os cientistas.

Ambos pretendiam pousar com espaçonaves de tamanho semelhante na região polar sul, mais ao sul do equador do que qualquer missão lunar anterior.

Após uma tentativa malsucedida de pouso em 2019, a Índia buscará mostrar sua capacidade de precisão de pouso na Lua próximo do polo.

Também visa examinar a exosfera da Lua – uma atmosfera extremamente esparsa – e analisar o regolito polar, um acúmulo de partículas soltas e poeira acumulada ao longo de bilhões de anos que repousam sobre um leito rochoso.

Os objetivos do Luna-25 incluíam a análise da composição do regolito polar, bem como um exame de elementos de plasma e poeira da exosfera do polo lunar.

Para ter certeza, o local de pouso do orbitador indiano está "um pouco longe do polo real".

Mas os dados [que ele vai fornecer] serão fascinantes.
— Clive Neal, professor de geologia planetária na Universidade de Notre Dame (EUA)

A Rússia e a China têm planos de construir uma estação espacial lunar para desenvolver instalações de pesquisa na superfície do satélite, em órbita ou em ambos.

A Rússia está planejando mais missões Luna.

Já a Nasa está enviando instrumentos em aterrissadores comerciais para ir a lugares além da Lua.

O Japão está se preparando para enviar um módulo de pouso inteligente (a missão SLIM) em 26 de agosto - uma missão de pequena escala para demonstrar técnicas precisas de pouso lunar por um pequeno explorador.

E, claro, o programa Artemis da Nasa visa levar astronautas de volta à Lua em uma série de voos espaciais, mais de meio século após a última missão Apollo.

"A Lua é como um quebra-cabeça gigante. Temos algumas das peças, cantos e arestas com base em amostras e dados de meteoritos lunares. Temos uma imagem de como é a Lua, mas essa imagem está incompleta", disse Petro. "A Lua ainda está nos surpreendendo."

Supertelescópio James Webb revela detalhes inéditos de UranoSupertelescópio James Webb revela detalhes inéditos de Urano
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terça-feira, 22 de agosto de 2023

Não é só boca ou garras: plantas carnívoras têm armadilhas até debaixo da terra e da água

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Conheça as 5 artimanhas desses vegetais, que podem atrair presas simulando um orvalho ou abrigo. Brasil tem o maior número de espécies criticamente ameaçadas do mundo por causa da conversão de terras para a agricultura, diz estudo de especialista.
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Por Paula Salati, g1

Postado em 22 de agosto de 2023 às 07h30m

#.*Post. - N.\ 10.919*.#

A drosera captura as suas presas a partir do visual. Suas gotas colantes se assemelham a orvalhos. É o gênero com o maior número de plantas, ao lado das utricularias. — Foto: Arquivo Julio Santiago - UFMG
A drosera captura as suas presas a partir do visual. Suas gotas colantes se assemelham a orvalhos. É o gênero com o maior número de plantas, ao lado das utricularias. — Foto: Arquivo Julio Santiago - UFMG

Nem sempre as armadilhas das plantas carnívoras são óbvias e visíveis como a boca de uma Nephentes ou as garras de jaula da famosa dionaea ou apanha-moscas, uma das espécies mais conhecidas no Brasil.

Suas artimanhas também podem aparecer na forma de um 'belo orvalho' – que, na verdade, é uma cola – ou até mesmo na de um 'abrigo' debaixo da terra ou da água, que, de repente, pode sugar as presas.

As capturas das plantas carnívoras também vão muito além dos insetos: algumas podem comer larvas, vermes, protozoários, sapos e até roedores ou pássaros mais distraídos. Veja abaixo um infográfico sobre cada tipo de armadilha.

Plantas carnívoras — Foto: Arte g1/ Luisa Blanco
Plantas carnívoras — Foto: Arte g1/ Luisa Blanco

Nessa reportagem, você ainda pode conferir:

Dionaea capturando inseto; planta usa a armadilha da jaula. — Foto: Arquivo pessoal/Julio Santiago - UGMG
Dionaea capturando inseto; planta usa a armadilha da jaula. — Foto: Arquivo pessoal/Julio Santiago - UGMG

A síndrome carnívora se desenvolveu como um mecanismo de sobrevivência de plantas localizadas em ambientes com solo pouco fértil, explica Julio Santiago, mestrando em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Os insetos, contudo, são uma fonte complementar de nutrientes, e não a principal.

"A principal fonte de energia das plantas carnívoras ainda é o sol, pois, assim como a maioria das plantas, elas fazem fotossíntese", ressalta o professor Paulo Gonella, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

Os insetos servem, na verdade, para complementar nutrientes que existem em pouca quantidade no solo onde vivem as plantas carnívoras, como o nitrogênio e o fósforo.

A larva de mosca que consegue roubar a comida de planta carnívora
A larva de mosca que consegue roubar a comida de planta carnívora

Podem capturar animais maiores, como ratos e pássaros?

Sim, mas de forma acidental e não são todas as espécies que conseguem. As Nephentes, por exemplo, têm estruturas para capturar animais um pouco maiores por causa do seu formato semelhante a um jarro.

"Os insetos são as presas principais das plantas carnívoras. Pequenas aves ou roedores são presas eventuais, que podem cair na armadilha atraídas pelos próprios insetos capturados ou pelo açúcar que a planta libera", diz Gonella.

A depender do tamanho do bicho, as plantas podem até apodrecer por causa da dificuldade de digerir uma quantidade muito alta de nutrientes.

Nephentes pode capturar de forma acidental animais um pouco maiores, mas sua presa principal é o inseto. — Foto: Arquivo Julio Santiago - UFMG
Nephentes pode capturar de forma acidental animais um pouco maiores, mas sua presa principal é o inseto. — Foto: Arquivo Julio Santiago - UFMG

Qual é a maior do mundo?

Há duas espécies que estão, até o momento, entre as maiores do mundo, e que podem atingir até 1,5 metro de altura: a Drosera magnifica e a Nephentes rajah, diz Santiago.

A Drosera magnifica é originária do estado de Minas Gerais, enquanto a Nephentes rajah, da Ilha de Bornéu, do Sudeste Asiático.

Como funciona uma fábrica de insetos
Como funciona uma fábrica de insetos

Plantas carnívoras são venenosas? Podem 'morder' o dedo?

Nenhuma planta carnívora que se tem conhecimento é venenosa ou tóxica e tampouco tem interesse na carne humana.

"[Se você colocar o dedo], pode até estimular [a planta], mas não o suficiente para prender. Em muitos casos, nem vai estimular, porque a sinalização química [que incentiva a captura] está relacionada à quitina, uma proteína presente no exoesqueleto dos insetos", explica Santiago.

No momento em que o inseto pousa em uma planta carnívora, há uma sinalização química da presença quitina que faz o vegetal reconhecer a presença de um alimento promissor.

De onde vem a tangerina
De onde vem a tangerina

Espécies pelo mundo e ameaça de extinção

No mundo, há cerca de 860 espécies de plantas carnívoras conhecidas, sendo que a maior parte delas são dos gêneros Drosera, Utricularia e Nephentes.

Os dados são do estudo "Conservação das plantas carnívoras na Era da Extinção", publicado em 2020 por Gonella e outros autores, na revista científica Global Ecology and Conservation.

O Brasil é o segundo país com o maior número de espécies (cerca de 130), perdendo apenas para a Austrália, que tem aproximadamente 250.

Quando se trata das que estão ameaçadas de extinção, há, hoje, cerca de 193, o que representa 20% do total das espécies.

Dessas, 28 estão no Brasil, das quais 13 são classificadas como "criticamente ameaçadas". O Brasil é o país com o maior número de espécies nesse estado, mostra o estudo de Gonella, que adota critérios de classificação da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Planta carnívora do gênero philcoxia só existe no Brasil e está criticamente ameaçada de extinção. Suas armadilhas são subterrâneas. — Foto: Divulgação/PNAS
Planta carnívora do gênero philcoxia só existe no Brasil e está criticamente ameaçada de extinção. Suas armadilhas são subterrâneas. — Foto: Divulgação/PNAS

O gênero Philcoxia, que só existe no Brasil – mais especificamente nos biomas Cerrado e Caatinga –é o que mais preocupa, pois 100% dele está ameaçado, conta o professor da UFSJ.

Essas plantas crescem em areias muito brancas e dão flores de cor lilás. Elas se alimentam de pequenos vermes que vivem no solo, a partir de armadilhas adesivas em folhas que ficam debaixo da terra.

Outro gênero em risco no Brasil é a Drosera, com 40% de plantas ameaçadas.

"O Brasil tem uma responsabilidade muito grande na conservação de suas espécies carnívoras. Um dos principais fatores que está causando isso [a ameaça de extinção] é a destruição dos habitats para conversão para a agricultura", diz Gonella.

"O uso de fertilizantes e pesticidas na agricultura tornam o solo mais rico do que eles são originalmente, fazendo com que outras espécies invadam esses locais e acabem competindo pelos habitats das plantas carnívoras", acrescenta.

À direita, a parte de cima de uma utricularia e, à esquerda, sua parte subaquática. — Foto: Leonhard Lenz/Miguel Porto
À direita, a parte de cima de uma utricularia e, à esquerda, sua parte subaquática. — Foto: Leonhard Lenz/Miguel Porto

De onde vem o espumante
De onde vem o espumante

Conheça o limão exótico que custa quase R$ 800 o quiloConheça o limão exótico que custa quase R$ 800 o quilo
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segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Navio cargueiro 'movido a vento' estreia em viagem ao Brasil

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Cargueiros movidos a energia eólica podem ajudar a indústria a caminhar em direção a um futuro mais verde
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TOPO
Por BBC

Postado em 21 de agosto de 2023 às 14h40m

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Cargueiros movidos a energia eólica podem ajudar indústria a caminhar em direção a um futuro mais verde — Foto: Cargill/Via BBC
Cargueiros movidos a energia eólica podem ajudar indústria a caminhar em direção a um futuro mais verde — Foto: Cargill/Via BBC

Um navio de carga equipado com velas especiais gigantes movidas a vento partiu em sua viagem inaugural.

A empresa de transporte marítimo Cargill, que fretou a embarcação, diz esperar que a tecnologia ajude a indústria a caminhar em direção a um futuro mais verde.

O uso das grandes velas (ou "asas") WindWings, de design britânico, visa a reduzir o consumo de combustível e, portanto, a pegada de carbono do transporte marítimo.

Estima-se que a indústria seja responsável por cerca de 2,1% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2).

A primeira jornada do navio Pyxis Ocean será da China para o Brasil — e servirá como o primeiro teste da tecnologia no mundo real.

Dobradas quando o navio está no porto, as velas são abertas depois da embarcação zarpar. Elas têm 37,5 metros de altura e são construídas com o mesmo material das turbinas eólicas, o que as torna mais duráveis.

Permitir que uma embarcação seja levada pelo vento, em vez de depender apenas de seu motor, pode reduzir as emissões de um navio de carga em até 30%.

Jan Dieleman, presidente da Cargill Ocean Transportation, disse que a indústria está em uma "jornada para descarbonizar".

Ele admite não haver uma "bala de prata", mas disse que essa tecnologia demonstra a rapidez com que as coisas estão mudando.

"Cinco, seis anos atrás, se você perguntasse às pessoas sobre descarbonização, elas diriam 'bem, vai ser muito difícil, não vejo isso acontecendo tão cedo'", disse ele à BBC.

Cinco anos depois, acho que a narrativa mudou completamente e todos estão realmente convencidos de que precisam fazer sua parte. O desafio para todos é um pouco entender como fazer isso acontecer."

"É por isso que assumimos o desafio de ser uma das maiores empresas a assumir parte do risco, experimentar coisas e levar o setor adiante."

O Pyxis Ocean vai demorar cerca de seis semanas para chegar ao Brasil, seu destino final.

A tecnologia usada na embarcação foi desenvolvida pela empresa britânica BAR Technologies, que surgiu da equipe do velejador britânico Ben Ainslie na Copa América de 2017, uma competição chamada por muitos de "Fórmula 1 dos mares".

"Este é um dos projetos mais lentos que já fizemos, mas sem dúvida com o maior impacto para o planeta", disse à BBC o chefe da equipe, John Cooper, que trabalhava para a McLaren, da Fórmula 1.

Ele acredita que esta viagem marcará uma virada para a indústria marítima.

"Prevejo que até 2025 metade dos novos navios serão encomendados com propulsão eólica", disse ele.

"A razão pela qual estou tão confiante é a economia - uma tonelada e meia de combustível por dia. Com quatro 'asas' em uma embarcação, são seis toneladas de combustível economizadas, ou seja, 20 toneladas de CO2 economizadas. Por dia. Os números são enormes."

A inovação veio do Reino Unido, mas as "asas" (WindWings) são fabricadas na China. Cooper diz que a falta de apoio do governo para reduzir o custo do aço importado impede a empresa de fabricá-lo aqui.

"É uma pena, eu adoraria construir no Reino Unido", disse ele à BBC.

'Mergulhar de cabeça'

Especialistas dizem que a energia eólica para embarcações é uma área promissora, já que a indústria naval tenta reduzir os estimados 837 milhões de toneladas de CO2 que produz a cada ano.

Em julho, a indústria concordou em zerar a emissão de gases que aquecem o planeta "por volta de 2050" — uma promessa que os críticos disseram ser capenga.

"A energia eólica pode fazer uma grande diferença", diz Simon Bullock, pesquisador de navegação no Tyndall Centre, na Universidade de Manchester.

Ele disse que novos combustíveis mais limpos levarão tempo para surgir, "então temos que mergulhar de cabeça em medidas operacionais em navios existentes, como modernizar embarcações com velas, pipas e rotores".

"Em última análise, vamos precisar de combustíveis de carbono zero em todos os navios, mas, até lá, é urgente tornar cada viagem o mais eficiente possível. Velocidades mais lentas também são uma parte crítica da solução", disse ele à BBC.

Stephen Gordon, diretor administrativo da empresa de dados marítimos Clarksons Research, concorda que as tecnologias relacionadas ao vento estão "ganhando força".

O número de navios que usam essa tecnologia dobrou nos últimos 12 meses, disse.

"No entanto, a referência para esse dado é baixa. Na frota de transporte marítimo internacional e na carteira de pedidos de mais de 110.000 embarcações, temos registros de menos de 100 com tecnologia assistida pelo vento hoje."

Mesmo que esse número aumente drasticamente, a tecnologia eólica pode não ser adequada para todas as embarcações, por exemplo, onde as velas interferem no descarregamento de contêineres.

A indústria naval ainda não tem um caminho claro para a descarbonização e, dada a escala, o desafio e a diversidade da frota naval mundial, é improvável que haja uma solução única para a indústria a curto ou médio prazo, analisa Gordon.

John Cooper, da BAR Technologies, é mais otimista, porém, dizendo que o futuro das asas eólicas é "muito promissor".

Ele também admite certa satisfação com a ideia da indústria voltar às origens.

"Os engenheiros sempre odeiam, mas eu sempre digo que é uma volta para o futuro", disse ele. "A invenção dos grandes motores de combustão destruiu as rotas comerciais e marítimas e agora vamos tentar reverter essa tendência."

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