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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Por que você provavelmente está comendo plástico

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O microplástico já se infiltrou em todas as partes do planeta. Eles se espalharam totalmente pelo solo e podem até acabar nos alimentos que ingerimos.
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TOPO
Por Isabelle Gerretsen, BBC

Postado em 13 de fevereiro de 2023 às 08h00m

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Os tubérculos aparentemente absorvem mais microplásticos do que frutas, legumes e verduras — Foto: Alamy
Os tubérculos aparentemente absorvem mais microplásticos do que frutas, legumes e verduras — Foto: Alamy

A poluição causada pelo plástico é uma das consequências do nosso modo de vida moderno – mas, agora, ela já está afetando as frutas, legumes e verduras que fazem parte da nossa alimentação.

O microplástico já se infiltrou em todas as partes do planeta.

Ele já foi encontrado no gelo marítimo da Antártida, nos intestinos de animais marinhos que habitam as fossas mais profundas dos oceanos e na água potável em todo o mundo.

A poluição causada pelo plástico também foi encontrada em praias de ilhas remotas e desabitadas e aparece em amostras de água do mar de todo o planeta.

Um estudo estimou que existem cerca de 24,4 trilhões de fragmentos de microplástico nas camadas superiores de água dos oceanos da Terra.

Mas eles não são onipresentes apenas na água. Eles se espalharam totalmente pelo solo e podem até acabar nos alimentos que ingerimos. Ou seja, a cada garfada das nossas refeições, podemos estar inadvertidamente consumindo minúsculos fragmentos de plástico.

Em 2022, uma análise do Environmental Working Group – uma organização ambiental sem fins lucrativos – concluiu que o lodo de esgoto contaminou cerca de 81 mil km² de terras agrícolas nos Estados Unidos com substâncias per e polifluoroalquila (PFAS), também conhecidas como "poluentes orgânicos persistentes".

Estes poluentes são frequentemente encontrados em produtos plásticos e não se decompõem sob condições ambientais normais.

O lodo de esgoto é o subproduto da limpeza da água servida dos municípios. Como seu descarte é caro e ele é rico em nutrientes, o lodo normalmente é utilizado como fertilizante orgânico nos Estados Unidos e na Europa.

No continente europeu, isso se deve, em parte, às normas da União Europeia para promover a economia circular na gestão de resíduos. Estima-se que 8-10 milhões de toneladas de lodo de esgoto sejam produzidas na Europa anualmente e cerca de 40% dessa quantidade é aplicada em terras agrícolas.

Esta prática pode ter feito com que as terras agrícolas europeias se tornassem o maior reservatório global de microplásticos, segundo um estudo de pesquisadores da Universidade de Cardiff, no Reino Unido. Cerca de 31 a 42 mil toneladas de microplásticos – correspondentes a 86 a 710 trilhões de partículas de microplásticos – contaminam as terras agrícolas da Europa todos os anos.

Os pesquisadores concluíram que até 650 milhões de partículas de microplásticos, medindo de 1 a 5 mm, entram em uma instalação de tratamento de esgoto no sul do País de Gales todos os anos.

Essas partículas acabam no lodo de esgoto, compondo cerca de 1% do seu peso total, em vez de serem liberadas com a água limpa.

A quantidade de microplásticos que acaba em terras agrícolas provavelmente é subestimada, segundo Catherine Wilson, uma das autoras do estudo e vice-diretora do Centro de Pesquisas Hidroambientais da Universidade de Cardiff.

Ela afirma que "os microplásticos estão em toda parte e [muitas vezes] são tão minúsculos que não conseguimos vê-los".

E os microplásticos também podem permanecer ali por muito tempo.

Um estudo recente de cientistas do solo da Universidade Philipps de Marburgo, na Alemanha, encontrou microplásticos até 90 cm abaixo da superfície em dois campos de produção agrícola onde lodo de esgoto havia sido aplicado 34 anos antes.

E o uso de arado também fez com que o plástico se espalhasse para áreas onde o lodo não havia sido aplicado.

A concentração de microplásticos no solo de áreas agrícolas na Europa é similar à quantidade encontrada nas águas da superfície dos oceanos, segundo James Lofty, o principal autor do estudo de Cardiff e estudante de pesquisa em PhD do Centro de Pesquisas Hidroambientais.

O Reino Unido detém algumas das maiores concentrações de microplásticos da Europa, com 500 a 1 mil partículas de microplástico sendo espalhadas em terras agrícolas todos os anos, segundo a pesquisa de Wilson e Lofty.

Lofty acrescenta que, além de criar um grande reservatório de microplásticos em terra, a prática do uso de lodo de esgoto como fertilizante também exacerba a crise do plástico nos nossos oceanos.

À medida que a chuva carrega a camada superior do solo para os rios ou causa sua infiltração no lençol freático, os microplásticos, em algum momento, acabam atingindo os cursos d’água.

"A principal fonte de contaminação [de plástico] nos nossos rios e oceanos vem do escoamento [da água]", afirma ele.

Outro estudo, de pesquisadores de Ontário, no Canadá, concluiu que 99% dos microplásticos foram transportados do local onde o lodo foi depositado inicialmente para ambientes aquáticos.

Antes de serem levados pela água, os microplásticos podem deixar substâncias tóxicas no solo.

Eles são feitos de substâncias potencialmente prejudiciais que podem ser liberadas para o meio ambiente à medida que se decompõem e também podem absorver outras substâncias tóxicas, essencialmente permitindo que elas peguem carona para as terras agrícolas, onde podem ser absorvidas pelo solo, segundo Lofty.

Um relatório da Agência Ambiental do Reino Unido, revelado pelo grupo ativista ambiental Greenpeace, concluiu que o lodo de esgoto destinado às terras agrícolas inglesas estava contaminado com poluentes, incluindo dioxinas e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, em "níveis que podem apresentar risco para a saúde humana".

Em 2020, outro experimento, realizado pela agrônoma Mary Beth Kirkham, da Universidade de Kansas, nos Estados Unidos, concluiu que o plástico serve de vetor para a absorção de substâncias tóxicas pelas plantas, como o cádmio.

"Nas plantas onde havia cádmio no solo com o plástico, as folhas de trigo apresentaram muito, muito mais cádmio do que as plantas que cresceram sem plástico no solo", afirmou Kirkham na época.

Outras pesquisas também demonstram que os microplásticos podem prejudicar o crescimento das minhocas e fazer com que elas percam peso.

Os motivos dessa perda de peso não são totalmente conhecidos, mas uma teoria é que os microplásticos podem obstruir o trato digestivo das minhocas, limitando sua capacidade de absorver nutrientes e, com isso, reduzindo seu crescimento.

Isso também causa impactos negativos ao meio ambiente, segundo os pesquisadores, já que as minhocas desempenham um papel fundamental na manutenção da saúde do solo.

Os túneis cavados por elas permitem a aeração do solo, evitam a erosão, aumentam a drenagem da água e reciclam nutrientes.

Partículas de plástico também podem contaminar diretamente os produtos alimentícios. Um estudo de 2020 encontrou microplásticos e nanoplásticos em frutas, legumes e verduras vendidas em supermercados e por vendedores locais em Catania, na Itália.

Entre as frutas, as maçãs foram as mais contaminadas, enquanto as cenouras apresentaram o maior nível de microplásticos entre os outros vegetais da amostra.

Segundo as pesquisas de Willie Peijnenburg, professor de toxicologia ambiental e biodiversidade da Universidade de Leiden, na Holanda, os produtos agrícolas absorvem partículas de nanoplásticos – fragmentos minúsculos que medem de 1 a 100 nm e são cerca de cem a mil vezes menores que um glóbulo sanguíneo humano – da água e do solo ao seu redor, através de rachaduras minúsculas nas suas raízes.

Análises revelaram que a maioria dos plásticos acumula-se nas raízes das plantas e apenas uma quantidade muito pequena viaja até os brotos. "A concentração nas folhas está bem abaixo de 1%", segundo Peijnenburg.

Minúsculos fragmentos de plásticos das roupas, cosméticos ou de plásticos maiores que se decompõem podem chegar facilmente ao solo e aos cursos d'água — Foto: GETTY IMAGES
Minúsculos fragmentos de plásticos das roupas, cosméticos ou de plásticos maiores que se decompõem podem chegar facilmente ao solo e aos cursos d'água — Foto: GETTY IMAGES

Nas verduras, como alface e repolho, a concentração de plástico provavelmente será relativamente baixa, mas o professor alerta que, para raízes, como cenouras, nabos e rabanetes, o risco de consumir microplásticos será maior.

Outro estudo de Peijnenburg e seus colegas concluiu que, na alface e no trigo, a concentração de microplásticos era 10 vezes menor do que no solo à sua volta.

"Descobrimos que somente as partículas menores são absorvidas pelas plantas e as grandes, não", afirma ele.

Para Peijnenburg, isso é tranquilizador. Mas ele acrescenta que muitos microplásticos irão se degradar, decompondo-se em nanopartículas que serão uma "boa fonte para absorção pela planta".

A absorção das partículas de plástico não parece prejudicar o crescimento das plantas, segundo as pesquisas de Peijnenburg. Mas o efeito desse acúmulo de plástico na nossa alimentação sobre a saúde humana não é tão claro.

É preciso ter mais pesquisas para compreender este ponto, segundo Peijnenburg, especialmente porque o problema só irá aumentar.

"Levará décadas para que os plásticos sejam totalmente removidos do meio ambiente", afirma ele.

"Mesmo se o risco atual não for muito alto, não é uma boa ideia ter substâncias persistentes [em terras agrícolas]. Elas irão se acumular e podem representar risco no futuro."

Impactos à saúde

O impacto da ingestão de plástico sobre a saúde humana ainda não é totalmente compreendido, mas já existem algumas pesquisas indicando que ela pode ser prejudicial.

Estudos demonstram que as substâncias acrescentadas durante a produção de plástico podem prejudicar o sistema endócrino e os hormônios que regulam o nosso crescimento e desenvolvimento.

As substâncias encontradas no plástico estão relacionadas a uma série de outros problemas de saúde, que incluem câncer, doenças cardíacas e falhas no desenvolvimento fetal.

Altos níveis de ingestão de microplásticos podem também causar lesões celulares, que poderão gerar inflamações e reações alérgicas, segundo análise dos pesquisadores da Universidade de Hull, no Reino Unido.

Os pesquisadores analisaram 17 estudos anteriores, que observaram o impacto toxicológico do microplástico sobre as células humanas.

A análise comparou a quantidade de microplásticos que causam lesões celulares em exames de laboratório com os níveis ingeridos pelas pessoas na água potável, sal e frutos do mar.

Concluiu-se que as quantidades ingeridas aproximavam-se das que podem causar morte celular, mas podem também causar reações imunológicas, incluindo reações alérgicas, lesões das paredes celulares e estresse oxidativo.

"Nossas pesquisas demonstram que estamos ingerindo microplásticos em níveis consistentes com os efeitos prejudiciais às células, que, em muitos casos, são o evento inicial de efeitos sobre a saúde", segundo Evangelos Danopoulos, principal autor do estudo e pesquisador da Faculdade de Medicina Hull York, no Reino Unido.

"Sabemos que os microplásticos podem romper as barreiras celulares e também decompô-las. Sabemos que eles podem também causar estresse oxidativo das células, que é o início das lesões dos tecidos", afirma o pesquisador.

Existem duas teorias sobre como os microplásticos causam a decomposição celular, segundo Danopoulos.

Suas extremidades pontiagudas podem romper a parede celular ou as substâncias contidas nos microplásticos podem prejudicar as células.

O estudo concluiu que os microplásticos com formato irregular são os mais propensos a causar a morte celular.

"O que precisamos entender agora é como muitos microplásticos permanecem no nosso corpo e qual tipo de tamanho e formato é capaz de cruzar a barreira celular", explica Danopoulos.

Se os plásticos se acumularem até os níveis que podem se tornar prejudiciais ao longo de um período de tempo, eles podem representar um risco ainda maior à saúde humana.

Mas, mesmo sem essas respostas, Danopoulos questiona se é preciso tomar mais cuidado para que os microplásticos não entrem na cadeia alimentícia.

"Se soubermos que o lodo está contaminado com microplásticos e as plantas têm a capacidade de extraí-los do solo, devemos utilizá-lo como fertilizante?", pergunta ele.

Devemos proibir o lodo de esgoto?

Espalhar lodo sobre terras agrícolas é proibido na Holanda desde 1995. No princípio, o país incinerava o material, mas passou a exportá-lo para o Reino Unido, onde era usado como fertilizante na agricultura, depois de enfrentar problemas em um incinerador na capital holandesa, Amsterdã.

A Suíça proibiu o uso de lodo de esgoto como fertilizante em 2003, porque ele "compreende toda uma série de substâncias prejudicais e organismos patogênicos produzidos pelas indústrias e por residências particulares".

Já o Estado americano do Maine também proibiu a prática em abril de 2022, depois que autoridades ambientais encontraram altos níveis de PFAS no solo usado para agricultura, em produtos agrícolas e na água.

Altos níveis de PFAS também foram encontrados no sangue de agricultores e a contaminação disseminada levou diversas fazendas a encerrar suas atividades.

A nova legislação do Maine proíbe a aplicação, venda e distribuição de composto que contenha lodo de esgoto, mas permite sua exportação.

A proibição total do uso do lodo de esgoto como fertilizante não é necessariamente a melhor solução, segundo Catherine Wilson, da Universidade de Cardiff.

Segundo ela, a proibição poderá incentivar os agricultores a usar mais fertilizantes de nitrogênio sintéticos.

"[Com lodo de esgoto], estamos usando um produto residual de forma eficiente, em vez de produzir fertilizantes de combustível fóssil infinitamente", afirma Wilson.

Ela também ressalta que o resíduo orgânico no lodo também ajuda a devolver carbono para o solo e o enriquece com nutrientes, como fósforo e nitrogênio, que evitam a degradação do solo.

Para Wilson, "precisamos quantificar os microplásticos no lodo de esgoto, de forma a poder [determinar] onde estão os problemas e começar a administrá-los".

Ela sugere que, em lugares com alto nível de microplásticos, o lodo de esgoto pode ser incinerado para gerar energia, em vez de ser usado como fertilizante.

Uma forma de evitar a contaminação das terras agrícolas é recuperar as gorduras, óleos e graxas (que contêm alto nível de microplásticos) nas instalações de tratamento de esgoto e usar essa "espuma superficial" como biocombustível, em vez de misturá-la ao lodo, segundo afirmam Wilson e seus colegas.

Os pesquisadores indicam que alguns países europeus, como a Itália e a Grécia, descartam o lodo de esgoto em aterros, mas eles advertem que existe o risco de que os microplásticos escapem desses locais para o meio ambiente, contaminando terrenos e corpos d’água vizinhos.

Wilson e Danopoulos concordam que é preciso ter muito mais pesquisas para determinar a quantidade de microplásticos nas terras agrícolas e seus possíveis impactos à saúde e ao meio ambiente.

"O microplástico está agora a ponto de deixar de ser um contaminante para se tornar um poluente", segundo Danopoulos.

"Um contaminante é algo que é encontrado onde não deveria estar. Os microplásticos não deveriam estar na nossa água e no solo. Se comprovarmos que [eles têm] efeitos prejudiciais à saúde, isso os tornaria um poluente e teríamos que criar legislação e regulamentos."

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

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domingo, 12 de fevereiro de 2023

O que é o enigmático quadrado de Sator, o quebra-cabeça sem solução há 150 anos

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Um símbolo cristão, um amuleto, um enigma ou apenas um conto: o antigo palíndromo de cinco palavras continua a provocar debates.
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Por Dalia Ventura, BBC

Postado em 12 de fevereiro de 2023 às 07h15m

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Um símbolo cristão, um amuleto, um enigma ou apenas um conto: o antigo palíndromo de cinco palavras continua a provocar debates — Foto: GETTY IMAGES
Um símbolo cristão, um amuleto, um enigma ou apenas um conto: o antigo palíndromo de cinco palavras continua a provocar debates — Foto: GETTY IMAGES

Pode ser só um enigma engraçado, criado por um cidadão romano por brincadeira. Mas o que ele não imaginava é que havia inventado um quebra-cabeça para os eruditos que o estudam até hoje, dois mil anos depois.

"A composição de palíndromos era um passatempo da nobreza romana", segundo Duncan Fishwick, autoridade mundial na história de Roma.

Eles eram frequentemente gravados nas paredes. Um dos exemplos mais antigos foi encontrado em Pompeia, ao lado de mais de 70 outros grafites. Mas esta é apenas uma das muitas teorias sobre o fascinante quadrado de Sator.

Não é de se estranhar que existam tantas explicações para o seu significado. Afinal, o quadrado passou 19 séculos sendo reproduzido em papiros, tábuas de argila e livros. Ele foi transformado em amuleto, receitado como remédio e copiado em ossos, madeira, pão, telhas, portas e muros de monumentos com diversos estilos e propósitos, na Europa, Ásia, África e na América.

Alguma coisa fez com que o quadrado de Sator fosse considerado especial. Mas seu significado original se perdeu. Estudiosos tentam reencontrá-lo há 150 anos, sem chegar a nenhuma conclusão que seja universalmente aceita.

Mas isso não diminui nossa atração pelo quadrado e sua maravilhosa criatividade.

25 em 5x5

Com suas 25 letras ordenadas em uma grade de 5x5, o quadrado de Sator não é um palíndromo comum.

Palíndromos são palavras ou frases que podem ser lidas igualmente em qualquer direção. Mas este é muito mais sofisticado que o clássico "socorram-me, subi no ônibus em Marrocos".

Ele é composto por cinco palavras em latim que interagem entre si: SATOR, AREPO, TENET, OPERA e ROTAS, dispostas de forma que possam ser lidas em quatro direções diferentes:

Sator — Foto: GETTY IMAGES
Sator — Foto: GETTY IMAGES

  • Horizontalmente, a partir do canto superior esquerdo;
  • Também horizontalmente, a partir do canto inferior direito;
  • Verticalmente, a partir do canto superior esquerdo;
  • E também verticalmente, mas a partir do canto inferior direito.

Trata-se do chamado palíndromo quádruplo.

Além disso, as palavras da primeira e da quinta linha são as mesmas, apenas invertidas. O mesmo ocorre na segunda e na quarta linha. E, como se ainda fosse pouco, a palavra central, na terceira linha — TENET — é um palíndromo.

O quadrado é também um acróstico múltiplo — qualquer letra de uma palavra no quadrado exterior é também a primeira letra de outra palavra que parte dela em ângulo reto.

E, se você desenhar uma linha diagonal partindo da letra "S", no canto superior esquerdo até o "S" no canto inferior direito, todas as letras de cada lado da linha estarão refletidas em perfeita simetria. O mesmo acontece se a linha for traçada entre as letras "R" no canto superior direito e inferior esquerdo.

Fantástico, mas... há um significado?

É aqui que tudo se complica. Vamos começar separando cada palavra, individualmente.

O quadrado de Sator, gravado em uma porta de Grenoble, na França. Quem poderá decifrá-lo? Os filólogos, os matemáticos ou os teólogos? — Foto: TUX-MAN
O quadrado de Sator, gravado em uma porta de Grenoble, na França. Quem poderá decifrá-lo? Os filólogos, os matemáticos ou os teólogos? — Foto: TUX-MAN

"Sator", em latim, significa semeador, agricultor, fundador, autor ou progenitor (geralmente, divino).

"Tenet" significa manter, sustentar, conservar, compreender, possuir, dominar.

"Opera" pode significar "com cuidado" ou "trabalho"; mas também quer dizer ajuda, serviço, esforço/problema ou obras e feitos.

Acredita-se ainda que "rotas" se refira a "rodas". Como verbo, quer dizer "fazer girar".

Por fim, "arepo". Esta é a mais obscura. Ela não aparece em nenhum lugar no mundo latino. Por isso, a maioria dos especialistas concorda que se trata de um nome próprio, embora, mesmo assim, não figure em nenhum outro lugar.

E...?

Se lermos de cima para baixo, começando com "Sator", pode-se construir a oração: "o fazendeiro Arepo domina suas rodas com dificuldade".

Ou, alterando-se a ênfase das palavras: "o semeador Arepo guia com as rodas com destreza".

É claro que não é o mesmo sentido. De qualquer forma, seria possível que o quadrado de Sator tenha sobrevivido por tanto tempo e atravessado tantas fronteiras geográficas e culturais, só para contar uma história tão trivial sobre um lavrador?

Pode ser, mas os estudos e debates continuam oferecendo outras hipóteses e interpretações. Estas traduções simples já foram reformuladas, resultando, por exemplo, na oração mais metafórica: "o Criador das terras domina as rodas celestiais".

Seria excesso de licença poética?

A frase pode ser justificada, considerando que a imagem de um agricultor todo-poderoso é encontrada na obra dos escritores latinos. Além disso, a palavra "sator" — com a imagem de "pai" no sentido de "criador" — era usada no final do século 1° para referir-se tanto ao deus da agricultura romano, Saturno, quanto a Júpiter, pai de todos os deuses e dos seres humanos.

O deus romano Saturno, em um afresco do século 1° d.C. em Pompeia. Ele poderia ser o semeador do quadrado de Sator. Seu nome, 'Sautran', aparece abaixo do mais antigo dos quadrados. — Foto: GETTY IMAGES
O deus romano Saturno, em um afresco do século 1° d.C. em Pompeia. Ele poderia ser o semeador do quadrado de Sator. Seu nome, 'Sautran', aparece abaixo do mais antigo dos quadrados. — Foto: GETTY IMAGES

Outros estudiosos acreditam que o quadrado deve ser lido em estilo bustrofédico — uma forma de escrever empregada na Grécia Antiga, lida em direções alternadas.

O bustrofédon pode indicar origens estoicas greco-romanas ou pitagóricas para o quadrado. Sua leitura resulta em frases como SATOR OPERA TENET — TENET OPERA SATOR que significa algo como: "o que você semear, irá colher".

Mas a questão incômoda sobre a palavra desconhecida "arepo" permanece. E, com ela, as tentativas de decodificação.

Uma delas parte do princípio de que "arepo" seria uma contração de Aerópago (Corte Suprema). Neste caso, a frase SATOR OPERA TENET AREPO ROTAS poderia ser traduzida como:

"O semeador decide seus trabalhos diários, mas só a Corte Suprema decide sobre o seu destino." Em outras palavras, os mortais escolhem seus caminhos, mas os destinos são escolhidos pelos deuses.

Mas, enquanto alguns estudiosos continuavam se concentrando nas palavras, outros romperam os limites do quadrado e começaram a brincar com as letras.

Deus e o diabo

Uma das formas elaboradas foi SAT ORARE POTEN ET OPERA ROTAS. Seu significado mais comumente aceito é "poder suficiente para orar e trabalhar diariamente". Ou, resumidamente, o lema "ora et labora" (ore e trabalhe).

Já outros encontram relações com o diabo. Em 1883, o historiador alemão Gustav Fritsch reformulou as letras para descobrir uma invocação a Satanás.

Já o historiador francês Guillaume de Jerphanion (1877-1948) encontrou, com as mesmas letras, exemplos de fórmulas conhecidas para exorcismos, como este:

RETRO SATANA, TOTO OPERE ASPER ("afasta-te, Satanás, cruel em todas as tuas obras").

Mas a reorganização de letras mais impressionante talvez seja a formação da palavra "PATERNOSTER" ("Pai nosso"), duas vezes, intercaladas na letra "N" para formar uma cruz.

PATERNOSTER — Foto: BBC
PATERNOSTER — Foto: BBC

Esta foi uma das razões que convenceram muitas pessoas de que o quadrado de Sator era um símbolo originalmente cristão. Chegou-se até a dizer que as duas letras "A" e as duas letras "O" que sobraram representariam Alfa e Ômega — a primeira e a última letra do alfabeto grego, atribuídas a Jesus pelo apóstolo João, quando escreveu o livro do Apocalipse:

"Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o último, o princípio e o fim" (22:13).

Também é preciso destacar que, no quadrado, a palavra TENET forma uma cruz. E não há dúvida de que o quadrado de Sator foi significativo no cristianismo.

Sua presença nas igrejas e em contextos e conteúdos que incluem páginas da Bíblia é testemunha dessa importância. Em diferentes épocas e lugares, o quadrado de Sator esteve relacionado à tradição cristã das formas mais variadas.

Um texto bizantino garante que o quadrado contém os nomes de batismo dos três Reis Magos, que não aparecem na Bíblia: Ator, Sator e Peratoras. Já o Livro Etíope dos Mortos atribui aos pregos da cruz de Cristo nomes similares às palavras do quadrado: Sador, Alador, Danet, Areda e Rodas.

Uma hipótese é que o quadrado de Sator foi projetado para ajudar os fiéis na contemplação, fornecendo uma recordação da presença de Deus. Outra possibilidade muito difundida é que os primeiros cristãos o tenham usado para comunicar-se secretamente quando eram perseguidos pelas autoridades do império romano — como fizeram com o símbolo do peixe, o Ichthus.

Placa de fogo com inscrição mágica, utilizada para expulsar os maus espíritos do fogo, no combate a incêndios. Faz parte do acervo do Museu Oberhaus, em Passau, na Alemanha. — Foto: GETTY IMAGES
Placa de fogo com inscrição mágica, utilizada para expulsar os maus espíritos do fogo, no combate a incêndios. Faz parte do acervo do Museu Oberhaus, em Passau, na Alemanha. — Foto: GETTY IMAGES

Origem desconhecida

Embora se tenha como certo que os cristãos adotaram o quadrado enigmático, é pouco provável que eles tenham sido seus criadores.

Os exemplos mais antigos conhecidos do quadrado foram encontrados sob as cinzas da erupção do vulcão Vesúvio, na Itália, que soterrou Pompeia no ano 79 d.C. E existe um consenso entre os estudiosos de que a presença do cristianismo na cidade, naquela época, era improvável.

E há outras razões que precisam ser consideradas:

  • O idioma comum do cristianismo naquela época era o grego, não o latim;
  • O conceito de Deus como alfa e ômega só seria difundido entre os cristãos posteriormente;
  • Pai Nosso era uma expressão que já era utilizada por outros credos. O nome do deus romano Júpiter, por exemplo, era uma contração de "lou" ("deus do céu") e "pater" ("pai"). Júpiter era, portanto, o seu pai que estava nos céus;
  • A cruz só se tornaria um símbolo popular de Cristo ao longo do século 2°;
  • Os símbolos cristãos codificados são mais fortemente relacionados aos períodos de perseguição generalizada, especialmente a partir do século 3°.

Por todas estas razões, muitas pessoas concluem que o quadrado de Sator foi reciclado e reapropriado pelos cristãos posteriormente.

Sobre as suas verdadeiras origens, existem muitas teorias que o relacionam às escolas filosóficas pitagórica e estoica, além de religiões como o orfismo e o misterioso mitraísmo. Também se afirma que referências a divindades gregas ou egípcias tenham sido codificadas no quadrado.

Mas uma das teorias mais dominantes, respaldada por importantes acadêmicos, é que suas raízes provavelmente se encontram no judaísmo antigo.

O quadrado de Sator, em hebraico. — Foto: BBC
O quadrado de Sator, em hebraico. — Foto: BBC

Havia muitos judeus residentes em Pompeia, que falavam latim. Sua afinidade pelos símbolos de palavras místicas e codificadas é conhecida e alguns estudiosos consideram que interpretar o palíndromo como uma equação matemática representa a divindade judaica.

Os mesmos motivos que, para alguns, provam que o símbolo era cristão também parecem ser válidos para o judaísmo. Por exemplo:

  • As letras "T" de TENET podem ser explicadas como cruzes cristãs, mas também como a forma latina do símbolo judaico da salvação "tau" (de Ezequiel);
  • A palavra latina "Paternoster" também era comum no judaísmo. Diversas orações judaicas já faziam referência ao "Pai Nosso";
  • O conceito de alfa e ômega aparece no judaísmo muito antes do cristianismo (Êxodo 3:14 e Isaías 41:4 e 44:6). Já as letras "aleph" e "tau" são usadas no Talmud como símbolos de totalidade.

O quadrado pode ter sido criado durante as perseguições aos judeus nos anos 19 ou 49 d.C. e caído em desuso, para ser posteriormente resgatado pelos cristãos que enfrentavam perseguições similares e apreciavam o simbolismo oculto do quadrado.

Encanto

Seja qual for a origem do quadrado, ele resistiu... e modificou-se.

Com o passar dos séculos, foram atribuídas a ele propriedades mágicas, sendo considerado um amuleto para afastar o mal ou as enfermidades.

Placa de fogo com inscrição mágica, utilizada para expulsar os maus espíritos do fogo, no combate a incêndios. Faz parte do acervo do Museu Oberhaus, em Passau, na Alemanha. — Foto: WOLFGANG SAUBER
Placa de fogo com inscrição mágica, utilizada para expulsar os maus espíritos do fogo, no combate a incêndios. Faz parte do acervo do Museu Oberhaus, em Passau, na Alemanha. — Foto: WOLFGANG SAUBER

O quadrado era usado para curar qualquer coisa, desde mordidas de cachorro e raiva (comia-se pão com o quadrado modelado na manteiga) até dores de dente, medo de água ou a loucura.

Na Alemanha medieval, acreditava-se que um disco talhado com o quadrado podia apagar incêndios. Na Islândia, ele era gravado nas unhas para curar icterícia. No Brasil, era usado para curar picadas de cobras.

Seu significado original e até as primeiras interpretações podem ter se perdido, mas o quadrado de Sator serviu de linha para conectar práticas místicas através do tempo e da distância e tecer parte da colcha de retalhos que forma a cultura global. E continua cumprindo com esta função, gerando comentários acadêmicos e polêmica entre os eruditos.

Um desses eruditos descreveu o quadrado de Sator como morador da "região misteriosa onde se encontram a religião, a superstição e a magia, onde se acredita que as palavras, os números e as letras, quando adequadamente combinados, exercem poder sobre os processos da natureza..."

É possível que o criativo autor do quadrado ficasse satisfeito com esta observação.

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sábado, 11 de fevereiro de 2023

Cerrado registra mais que o dobro do desmatamento da Amazônia em janeiro

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Apesar da queda de 10% em comparação com ano passado, tamanho da área devastada é de 441,85 km², maior que Curitiba, por exemplo. Dados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), nesta sexta (10).
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Por Walder Galvão, g1 DF

Postado em 11 de fevereiro de 2023 às 14h45m

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Incêndio no Cerrado do Distrito Federal — Foto: Joelson Maia / TV Globo
Incêndio no Cerrado do Distrito Federal — Foto: Joelson Maia / TV Globo

O desmatamento no Cerrado Brasileiro atingiu 441,85 km² em janeiro de 2023, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados nesta sexta-feira (10). Conforme o levantamento, a área devastada no bioma é mais que o dobro registrado na Amazônia (167 km²) (saiba mais abaixo).

A área de Cerrado desmatada apresentou queda de 10% em comparação com igual período do ano passado, quando o registro ficou em 491,64 km². Apesar disso, o perímetro desmatado é maior do que a cidade de Curitiba inteira – a capital do Paraná tem 434,892 km².

De acordo com o WWF Brasil, o patamar de destruição no Cerrado é considerado "alto". Conforme a organização, o bioma já perdeu quase 50% da cobertura original e, apesar da redução, "não é momento para se comemorar, já que as perdas anuais são superiores às da Amazônia".

Cerrado: berço das águas

Área de Cerrado desmatada — Foto: Marcos Vergueiro/Secom-MT
Área de Cerrado desmatada — Foto: Marcos Vergueiro/Secom-MT

O Cerrado é chamado de berço das águas porque alimenta oito das 12 principais bacias hidrográficas do país. Ele responde por mais de 90% da vazão da bacia do São Francisco e por quase metade de toda a vazão da bacia do rio Paraná, que abastece a Hidrelétrica de Itaipu.

O monitoramento do bioma é feito pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), que produz sinais diários de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que 3 hectares (0,03 km²) – tanto para áreas totalmente desmatadas como para aquelas em processo de degradação florestal (por exploração de madeira, mineração, queimadas e outras).

Desmatamento nas unidades da federação

Veja em quais estados do Brasil o Cerrado foi mais devastado:

  • Na Bahia, o Inpe registrou a maior área de devastação: 156,37 km²
  • O Piauí, que perdeu 123,79 km² do bioma, segue em segundo lugar
  • O Maranhão perdeu 44,57 km² de Cerrado
  • Mato Grosso perdeu 39,41 km²
Comparação de áreas de Cerrado devastadas em janeiro de 2019 até 2023

Em janeiro de 2021, a área desmatada de Cerrado no país foi de 138,01 km². Em 2020, foram 194,87 km².

Apenas 2019, que registrou 544,5 km², superou os patamares de devastação dos demais períodos (veja gráfico abaixo).

Áreas de desmatamento no Cerrado em janeiro (km²)
544,5544,5194,87194,87138,01138,01491,64491,64441,85441,85201920202021202220230100200300400500600
Fonte: Deter/Inpe

Devastação na Amazônia

A área de 167 km² devastada na Amazônia em janeiro de 2023 foi a quarta menor marca para o mês na série história do Deter, que começou em 2015.

No ano passado, o índice chegou a 430 km² no mesmo mês. Assim, a queda em relação ao mesmo período de 2022 foi de 61%.

No ano passado, o índice chegou a 430 km² no mesmo mês. Assim, a queda em relação ao mesmo período de 2022 foi de 61%.

VÍDEO: destruição do Cerrado

Cerrado brasileiro perde mais de 20% da vegetação nativa que tinha na década de 1980Cerrado brasileiro perde mais de 20% da vegetação nativa que tinha na década de 1980
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