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quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Como e quando os humanos começaram a ficar de pé e andar

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O bipedismo, que significa andar sobre duas pernas, foi resultado de uma evolução gradual que começou há muitos milhões de anos.
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TOPO
Por BBC

Postado em 08 de dezembro de 2021 às 09h45m

Post.- N.\ 10.121

Lucy (ao centro) e dois indivíduos da espécie Australopithecus sediba, um ancestral dos humanos modernos de 2 milhões de anos atrás — Foto: Wikimedia Commons
Lucy (ao centro) e dois indivíduos da espécie Australopithecus sediba, um ancestral dos humanos modernos de 2 milhões de anos atrás — Foto: Wikimedia Commons

Quando e como começamos a andar? — Rayssa, 11 anos, Newark, New Jersey.

Esta é uma pergunta importante porque muitos antropólogos veem o bipedismo — que significa andar sobre duas pernas como uma das características que definem os "hominídeos", ou humanos modernos, e seus ancestrais.

Mas é difícil dar uma resposta simples porque o bipedismo não apareceu da noite para o dia. Foi resultado de uma evolução gradual que começou há muitos milhões de anos.

E é claro que não há vídeos da primeira pessoa que andou ereta. Então, como os cientistas tentam responder às perguntas sobre como os humanos se moviam em um passado remoto?

Felizmente, a forma dos ossos de uma criatura e a maneira como eles se encaixam podem contar a história de como aquele corpo se movia quando estava vivo. E os antropólogos podem encontrar outras evidências na paisagem, por exemplo, que indicam como os povos antigos caminhavam.

Em 1994, os primeiros fósseis de um hominídeo até então desconhecido foram encontrados na Etiópia. Os antropólogos responsáveis pela descoberta descreveram os restos mortais como sendo de uma mulher adulta, e decidiram chamar a espécie de Ardipithecus ramidus, apelidada de "Ardi".

Ao longo dos dez anos seguintes, mais de cem fósseis da espécie de Ardi foram encontrados e datados entre 4,2 milhões e 4,4 milhões de anos.

Quando os cientistas examinaram essa coleção de ossos, eles identificaram certas características que indicavam bipedismo. O pé, por exemplo, tinha uma estrutura que permitia dar passos com o impulso dos dedos, como fazemos hoje, o que os símios que caminham sobre quatro patas não fazem.

A forma dos ossos pélvicos, a maneira que as pernas estavam posicionadas sob a pélvis e como os ossos das pernas se encaixavam, também sugeriam que andavam eretos.

Pode ser que Ardi não andasse exatamente como fazemos hoje, mas o bipedismo, como forma normal de movimento, parece ser uma característica desses fósseis de 4,4 milhões de anos atrás.

Reprodução do que viria a ser Lucy, da espécie de Australopithecus afarensis — Foto: Getty Images
Reprodução do que viria a ser Lucy, da espécie de Australopithecus afarensis — Foto: Getty Images

Antropólogos já haviam encontrado quase 40% do esqueleto completo de uma espécie de hominídeo que viveu cerca de 1 milhão de anos depois de Ardi, também na Etiópia.

Por causa de sua semelhança com outros fósseis encontrados no sul e no leste da África, chamaram a espécie de Australopithecus afarensis, que em latim significa "símio do sul de uma região distante".

Os restos mortais encontrados também eram do sexo feminino, então eles apelidaram de "Lucy" em homenagem a uma música dos Beatles (Lucy In The Sky With Diamonds) popular na época.

Vários outros fósseis desta espécie — mais de 300 indivíduos — foram adicionados ao grupo, e hoje os pesquisadores sabem muito sobre Lucy e seus parentes.

Lucy tinha uma pelve parcial, mas bem preservada, que foi como os antropólogos sabiam que ela era do sexo feminino.

A pélvis e os ossos da coxa se encaixavam de uma maneira que mostrava que ela caminhava ereta sobre as duas pernas. Nenhum osso dos pés foi preservado, mas descobertas posteriores de A. afarensis incluem pés e indicam também o andar bípede.

Além de restos fósseis, os cientistas encontraram outras evidências notáveis de como a espécie de Lucy se deslocou na região de Laetoli, na Tanzânia.

Sob uma camada de cinzas vulcânicas que data de 3,6 milhões de anos atrás, antropólogos encontraram pegadas fossilizadas no que antes havia sido uma superfície úmida de cinzas vulcânicas.

Os rastros se estendem por quase 30 metros, e 70 impressões individuais indicam a presença de pelo menos três indivíduos caminhando eretos sobre os dois pés.

Dada a idade presumida, os donos das pegadas eram provavelmente Australopithecus afarensis.

As pegadas comprovam que esses hominídeos caminhavam sobre duas pernas, mas o andar parece um pouco diferente do nosso de hoje. Ainda assim, Laetoli fornece evidências sólidas do bipedismo há 3,5 milhões de anos.

Um hominídeo com anatomia tão parecida com a nossa e que podemos dizer que caminhava como nós só apareceu na África há 1,8 milhão de anos.

O Homo erectus foi o primeiro a ter pernas longas e braços mais curtos que tornariam possível andar, correr e se deslocar pelas paisagens da Terra como fazemos hoje.

O Homo erectus também tinha um cérebro muito maior do que os hominídeos bípedes anteriores, e fabricava e usava ferramentas de pedra chamadas instrumentos acheulianos.

Antropólogos consideram o Homo erectus nosso parente próximo e um dos primeiros membros de nosso próprio gênero, Homo.

Então, como você pode ver, o andar humano demorou muito para se desenvolver. Surgiu na África há mais de 4,4 milhões de anos, muito antes do início da fabricação de ferramentas.

Por que os hominídeos andam eretos? Talvez isso tenha permitido que eles avistassem os predadores com mais facilidade ou corressem mais rápido, ou talvez o ambiente tenha mudado e houvesse menos árvores para subir, como os primeiros hominídeos faziam.

Seja como for, os humanos e seus ancestrais começaram a caminhar muito cedo em sua história evolutiva.

Embora o bipedismo tenha vindo antes da fabricação de ferramentas, a postura ereta liberou as mãos deles para fazer e usar ferramentas, o que acabou se tornando uma das marcas registradas dos humanos como nós.

*Jan Simek é professor de Antropologia na Universidade do Tennessee, nos EUA.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado pela BBC sob uma licença Creative Commons.

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terça-feira, 7 de dezembro de 2021

A engenhosa solução dos antigos persas para 'capturar o vento' e se refrescar no calor escaldante

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Como os captadores de vento não precisam de eletricidade para funcionar, eles são uma forma de resfriamento verde e barata. Com o ar condicionado mecânico convencional já representando um quinto do consumo total de eletricidade do mundo, alternativas antigas como o captador de vento estão se tornando uma opção cada vez mais atraente.
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Por Kimiya Shokoohi, BBC

Postado em 07 de dezembro de 2021 às 13h05m

Post.- N.\ 10.120

Afirma-se que Yazd tem mais captadores de vento que qualquer outra cidade do mundo — Foto: Alamy via BBC
Afirma-se que Yazd tem mais captadores de vento que qualquer outra cidade do mundo — Foto: Alamy via BBC

Do Antigo Egito ao Império Persa, um método engenhoso de capturar e dirigir o vento refrescou as pessoas por milênios. Na busca por refrigeração livre de emissões, o "captador de vento" pode vir nos ajudar novamente.

A cidade de Yazd, no deserto do centro do Irã, é, há muito tempo, um centro de criatividade. Yazd é o berço de uma das maravilhas da engenharia antiga — um sistema que inclui uma estrutura de refrigeração subterrânea chamada yakhchal, um sistema de irrigação subterrâneo chamado qanats e até uma rede de mensageiros chamada pirradazis, criado mais de 2.000 anos antes do serviço postal americano.

Dentre as tecnologias antigas de Yazd, encontra-se o captador de vento, ou bâdgir, em persa.

Essas estruturas notáveis são comumente encontradas elevando-se sobre os telhados de Yazd. Muitas vezes, são torres retangulares, mas elas também existem em formato circular, quadrado, octogonal e em outros formatos ornamentados.

Afirma-se que Yazd é a cidade com mais captadores de vento do mundo. Eles podem ter se originado no Antigo Egito, mas, em Yazd, o captador de vento logo se mostrou indispensável, possibilitando a vida naquela parte quente e árida do planalto iraniano.

Embora muitos dos captadores de vento da cidade do deserto tenham caído em desuso, suas estruturas estão agora chamando a atenção de acadêmicos, arquitetos e engenheiros, a fim de estudar o papel que eles poderiam desempenhar para nos manter refrigerados em um mundo em rápido aquecimento.

Como os captadores de vento não precisam de eletricidade para funcionar, eles são uma forma de resfriamento verde e barata. Com o ar condicionado mecânico convencional já representando um quinto do consumo total de eletricidade do mundo, alternativas antigas como o captador de vento estão se tornando uma opção cada vez mais atraente.

Existem duas forças principais que dirigem o ar através das estruturas: a entrada do vento e a mudança da impulsão do ar dependendo da temperatura — o ar quente tende a subir sobre o ar frio, que é mais denso.

Primeiramente, quando o ar é captado pela abertura de um captador de vento, ele é canalizado para baixo até a construção, depositando eventuais fragmentos ou areia no pé da torre. O ar então flui ao longo de toda a parte interna da construção, às vezes sobre piscinas subterrâneas com água para melhor resfriamento. Por fim, o ar aquecido se elevará e deixará a construção através de outra torre ou abertura, com o auxílio da pressão no interior da construção.

As aberturas das torres ficam voltadas para o vento, canalizando-o e distribuindo-o para baixo, até o interior das construções — Foto: Alamy via BBC
As aberturas das torres ficam voltadas para o vento, canalizando-o e distribuindo-o para baixo, até o interior das construções — Foto: Alamy via BBC

A forma da torre e outros fatores — como o projeto da casa, a direção para onde a torre está voltada, a quantidade de aberturas, sua configuração de pás internas fixas, canais e altura — são todas adequadamente definidas para aumentar a capacidade da torre de canalizar vento para baixo, até o interior da construção.

A história do uso do vento para resfriar construções começou quase ao mesmo tempo em que as pessoas começaram a viver no ambiente quente dos desertos.

Uma das primeiras tecnologias de captura do vento data de 3.300 anos atrás, no Egito, segundo os pesquisadores Chris Soelberg e Julie Rich, da Universidade Estadual Weber em Utah, nos Estados Unidos. Nesse sistema, as construções tinham paredes espessas, poucas janelas voltadas para o sol, aberturas para entrada de ar na principal direção dos ventos e uma ventilação de saída do outro lado — conhecida em árabe como arquitetura malqaf.

Mas há quem defenda que o captador de vento foi inventado no próprio Irã.

De qualquer forma, os captadores de vento se espalharam pelo Oriente Médio e pelo norte da África. Variações dos captadores de vento iranianos podem ser encontradas com nomes locais, como os barjeels do Catar e do Bahrein, os malqaf do Egito, os mungh do Paquistão e muitos outros, segundo Fatemeh Jomehzadeh, da Universidade de Tecnologia da Malásia, e seus colegas.

Acredita-se que a civilização persa tenha adicionado variações estruturais para permitir melhor resfriamento, como a sua combinação com os sistemas de irrigação existentes para ajudar a resfriar o ar antes da sua liberação por toda a casa.

No clima quente e seco de Yazd, essas estruturas se tornaram cada vez mais populares, até que a cidade se tornou um oásis de altas torres ornamentadas em busca do vento do deserto. Yazd é uma cidade histórica que foi reconhecida como Patrimônio Mundial da Unesco em 2017 — em parte, pela sua grande quantidade de captadores de vento.

Além de desempenhar o propósito funcional de resfriar as casas, as torres também tinham forte importância cultural. Os captadores de vento fazem parte da paisagem de Yazd, da mesma forma que o Templo do Fogo de Zoroastro e a Torre do Silêncio.

Depois de muito tempo sem uso, o estado de conservação de muitos captadores de vento iranianos não é bom, mas alguns pesquisadores querem que eles sejam restaurados e voltem a funcionar — Foto: Alamy via BBC
Depois de muito tempo sem uso, o estado de conservação de muitos captadores de vento iranianos não é bom, mas alguns pesquisadores querem que eles sejam restaurados e voltem a funcionar — Foto: Alamy via BBC

E há também o captador de vento do Jardim de Dowlat Abad, que se acredita ser o mais alto do mundo (com 33 metros de altura) e um dos poucos ainda em funcionamento. Abrigado em uma construção octogonal, ele fica de frente para uma fonte e um lago que se estende ao longo de fileiras de pinheiros.

Possível renascimento?

Com a eficácia do resfriamento fornecido por esses captadores de vento livres da emissão de gases, alguns pesquisadores argumentam que eles merecem ressurgir.

O pesquisador Parkham Kheirkhah Sangdeh estudou minuciosamente a aplicação científica e a cultura local dos captadores de vento na arquitetura contemporânea na Universidade de Ilam, no Irã. Ele afirma que inconvenientes como insetos que ingressam nas calhas e o acúmulo de poeira e fragmentos do deserto fizeram com que muitas pessoas abandonassem os captadores de vento tradicionais.

No seu lugar, são utilizados sistemas de resfriamento mecânicos, como unidades convencionais de ar condicionado. Muitas vezes, esses sistemas alternativos são alimentados por combustíveis fósseis e usam refrigerantes que agem como poderosos gases do efeito estufa quando liberados para a atmosfera.

Há muito tempo, o advento das modernas tecnologias de resfriamento é culpada pela deterioração dos métodos tradicionais no Irã, segundo a historiadora da arquitetura iraniana Elizabeth Beazley escreveu em 1977.

Sem manutenção constante, o clima hostil do planalto iraniano desgastou muitas estruturas, desde captadores de vento até casas de armazenamento de gelo. Kheirkhah Sangdeh também observa que o abandono dos captadores de vento se deveu, em parte, à tendência do público de adotar tecnologias vindas do Ocidente.

"É preciso que haja mudanças de perspectiva cultural para usar essas tecnologias. As pessoas precisam observar o passado e entender por que a conservação de energia é tão importante", afirma o pesquisador, "a começar pelo reconhecimento da história cultural e da importância da conservação de energia".

Kheirkhah Sangdeh espera que os captadores de vento do Irã sejam reformados para oferecer resfriamento com uso eficiente de energia às construções existentes. Mas ele encontra muitas barreiras para esse trabalho, como as tensões internacionais existentes, a pandemia de Covid-19 e a atual falta de água. "A situação está tão ruim no Irã que [as pessoas] levam um dia de cada vez", afirma ele.

À medida que os arquitetos buscavam formas passivas de resfriamento, os captadores de vento iranianos inspiraram projetos modernos na Europa, nos Estados Unidos e em outras partes do mundo — Foto: Alamy via BBC
À medida que os arquitetos buscavam formas passivas de resfriamento, os captadores de vento iranianos inspiraram projetos modernos na Europa, nos Estados Unidos e em outras partes do mundo — Foto: Alamy via BBC

Métodos e sistemas de resfriamento que não utilizam combustíveis fósseis, como os captadores de vento, poderão muito bem merecer seu ressurgimento, mas, para surpresa de muitos, eles já estão presentes — embora não sejam tão grandiosos como os iranianos — em muitos países ocidentais.

No Reino Unido, cerca de 7.000 variações de captadores de vento já foram instaladas em edifícios públicos entre 1979 e 1994. Eles podem ser vistos em construções como o Hospital Real de Chelsea, em Londres, e em supermercados de Manchester.

Esses captadores de vento modernos lembram pouco as estruturas iranianas em forma de torre. Em um edifício de três andares em uma rua movimentada no norte de Londres, pequenas torres de ventilação pintadas de rosa-choque oferecem ventilação passiva. No alto de um shopping center em Dartford, também no Reino Unido, torres de ventilação cônicas giram para capturar a brisa com o auxílio de uma asa traseira que mantém a torre voltada para a direção do vento.

Os Estados Unidos também adotaram projetos inspirados nos captadores de vento com entusiasmo. Um desses exemplos é o centro de visitantes do Parque Nacional de Zion, no sul de Utah.

O parque fica em um alto planalto desértico, com clima e topografia comparáveis com a região de Yazd, e o uso de tecnologias de resfriamento passivo como o captador de vento eliminou quase por completo a necessidade de ar condicionado mecânico. Os cientistas registraram diferença de temperatura de 16°C entre o lado externo e o interior do centro de visitantes, apesar das muitas pessoas que passam regularmente pelo local.

À medida que se aprofunda a busca de soluções sustentáveis para o aquecimento global, surgem mais oportunidades que favorecem a construção de captadores de vento. Em Palermo, na Itália, pesquisadores descobriram que o clima e as condições de vento existentes fazem da cidade um local propício para uma versão do captador de vento iraniano.

Em outubro, o captador de vento foi exposto com destaque na feira Expo Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, como parte de uma rede de construções cônicas no pavilhão da Áustria. Para sua idealização, a empresa de arquitetura austríaca Querkraft inspirou-se no barjeel — a versão árabe do captador de vento.

Enquanto pesquisadores como Kheirkhah Sangdeh argumentam que o captador de vento tem muito mais a oferecer para o resfriamento de casas sem o uso de combustíveis fósseis, essa engenhosa tecnologia já migrou para outras partes do mundo — mais do que se pode imaginar. Na próxima vez que você encontrar uma torre de ventilação alta no topo de um supermercado, edifício ou escola, examine com cuidado. Você pode estar olhando para o legado dos magníficos captadores de vento do Irã.

Leia a íntegra desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

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Estudo mostra campeões de desmatamento cada vez menos desenvolvidos na Amazônia

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Cidades que mais desmataram a floresta desde 2018 são mais violentas, desiguais e têm menos oportunidades. Metade delas está concentrada no Pará, Estado com o segundo pior índice de progresso.
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TOPO
Por Laís Modelli, BBC — De São Paulo para a BBC News Brasil

Postado em 07 de dezembro de 2021 às 10h50m

Post.- N.\ 10.119

Autoridades do Pará fiscalizam área desmatada na Amazônia em Pacajá, a 620 km de Belém, em 22 de setembro de 2021. O município é um dos campeões de desmatamento na Amazônia. — Foto: Evaristo Sá/AFP
Autoridades do Pará fiscalizam área desmatada na Amazônia em Pacajá, a 620 km de Belém, em 22 de setembro de 2021. O município é um dos campeões de desmatamento na Amazônia. — Foto: Evaristo Sá/AFP

Os municípios campeões em desmatamento na Amazônia são os menos desenvolvidos da região, revelou a terceira edição do Índice de Progresso Social, IPS Amazônia 2021, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), publicado nesta segunda-feira (6).

De acordo com o IPS Amazônia 2021, dos 772 municípios amazônicos, os vinte que mais desmataram a floresta desde 2018 são mais violentos, sofrem mais com falta de saneamento básico e têm os piores índices de saúde, educação, acesso à informação e equidade de gênero.

"Em geral, vimos que onde tem muito desmatamento na Amazônia tem muita pobreza e baixo progresso social", explica o autor principal do IPS 2021, Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon.

O IPS é um índice criado em 2013 por acadêmicos de grandes centros de pesquisa do mundo para analisar as condições sociais e ambientais de países, estados e municípios.

Diferente do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o IPS considera que medidas de desenvolvimento baseadas apenas em indicadores econômicos são insuficientes para atestar o progresso de uma região.

"Crescimento econômico sem progresso social resulta em degradação ambiental, aumento na desigualdade, exclusão e conflitos sociais", explica trecho da publicação.

Veja abaixo os dez municípios onde houve maior desmatamento da Amazônia desde 2018 e que tiveram as piores notas no IPS (de zero a 100 pontos, em que zero indica o pior índice de progresso social):

  1. Pacajá (PA) - 44.34 pontos
  2. Portel (PA) - 46,25 pontos
  3. Apuí (AM) - 47,49 pontos
  4. Senador José Porfírio (PA) - 49,26 pontos
  5. Novo Repartimento (PA) - 49,71 pontos
  6. Uruará (PA) - 49,84 pontos
  7. Anapu (PA) - 49,95 pontos
  8. Novo Progresso (PA) - 51,60 pontos
  9. Cujubim (RO) - 52,11 pontos
  10. São Félix do Xingu (PA) - 52,94 pontos
Municípios com as maiores taxas de desmatamento entre 01 de janeiro de 2019 a 25 de novembro de 2021.  — Foto: Deter/Inpe (via BBC)
Municípios com as maiores taxas de desmatamento entre 01 de janeiro de 2019 a 25 de novembro de 2021. — Foto: Deter/Inpe (via BBC)

Em 11º lugar aparece Altamira (PA), com 52,95 pontos. O município é líder em desmatamento no Brasil desde 2009.

Além do desmatamento, o documento destaca que estes locais também estão fortemente associados com conflitos sociais no campo e garimpo ilegal.

"Os dados mostram que o desmatamento da Amazônia não compensa nem para a economia, já que afugenta investidores, não promove inclusão social e esgota os recursos naturais da população, causando mais pobreza", diz Veríssimo. 
O exemplo do Pará

Metade das vinte cidades com os piores índices de desenvolvimento social estão no Pará, estado historicamente líder em desmatamento.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), de 1º de janeiro de 2018 a 20 de outubro de 2021 (período considerado no IPS), o Pará desmatou cerca de 16.714 km², uma área maior que 2.340 campos de futebol.

Além disso, mesmo faltando dois meses para fechar 2021 (os dados foram atualizados até 21 de outubro), o desmatamento no Pará este ano (5.023 km²) já é o maior desde 2009 (5.367 km²).

Entre os nove estados amazônicos, o Pará obteve a segunda pior nota do IPS Amazônia: em uma escala de zero a 100, o estado paraense somou apenas 52,94 pontos.

Roraima é o estado com o menor índice de desenvolvimento social, com 52,37 pontos.

Se por um lado o desmatamento avançou nestas áreas nos últimos anos, não houve melhora no índice de progresso social nestes locais desde o último IPS, publicado em 2018.

"Áreas de desmatamento intenso tiveram uma estagnação no seu progresso social desde 2018. Em alguns municípios, o índice chegou a piorar. E em todos eles, os piores indicadores foram o de segurança e o de saneamento básico", explica Veríssimo.

A mensagem do IPS Amazônia 2021 é contrária à fala do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, durante a Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP26, quando afirmou no discurso de líderes: "onde existe muita floresta, também existe muita pobreza".

"O IPS atesta que este modelo de desenvolvimento baseado em desmatamento e uso predatório dos recursos naturais (extração ilegal de madeira, garimpo de ouro) resulta em baixo progresso social", rebate Veríssimo.

A primeira edição do IPS, de 2003, já havia mostrado que regiões muito desmatadas tiveram um aumento inicial do IDH. Porém, à medida que os recursos naturais foram sendo esgotados, estes indicadores começaram a cair substancialmente.

Há riqueza onde existe floresta

Um estudo publicado em abril, conduzido pelo professor associado da Universidade de Nova York Salo Coslovsky, pesquisador do projeto Amazônia 2030, mostrou que explorar produtos da floresta que não envolvam desmatamento é um comércio internacionalmente lucrativo.

"Neste estudo, examinei todo o comércio exterior dos produtos da Amazônia e identifiquei que há cerca de 60 produtos compatíveis com a floresta", aponta Coslovsky.

O professor explica que "compatíveis com a floresta" são produtos retirados diretamente da floresta e dos seus rios, ou seja, recursos naturais que se encaixam em três categorias: pesca e psicultura; extração florestal não madeireira (a coleta de castanhas e do açaí, por exemplo); alimentos agroflorestais (modelo agrícola onde a produção de alimento preserva a floresta, beneficiando os dois sistemas).

"Identificamos que esses 60 produtos trazem US$ 300 milhões (R$ 1,7 bilhão) em receita anual para a Amazônia. Ou seja, a Amazônia já produz produtos compatíveis com a floresta de excelente qualidade e com preços competitivos no mercado global", afirma Coslovsky.

O estudo também identificou que, apesar de abrigar 30% das florestas tropicais do planeta, a Amazônia brasileira é responsável por apenas 0,17% em um mercado de US$ 176,6 bilhões (R$ 1 trilhão) anuais.

"Se não é o Brasil, quem domina o mercado global de produtos originários de florestas tropicais? Descobriu-se que são países mais pobres que o nosso e com pouca infraestrutura, como Bolívia, Equador, Tanzânia e Vietnã. Alguns deles não têm nem mesmo saída para o mar", diz o professor.

"O desenvolvimento social e econômico da Amazônia independe de mais asfalto ou da construção de mais estradas no meio da floresta; de mais portos na região ou qualquer outro grande empreendimento. Países com bem menor infraestrutura e com trechos menores de floresta tropical estão dominando um mercado global em que o Brasil poderia ser líder", afirma Coslovsky.

Manter a floresta em pé também é essencial para o restante do Brasil, uma vez que a Amazônia regula o clima e o regime de chuvas de todo o país.

"Todo o Brasil precisa da Amazônia para levar chuvas para o Sul, Sudeste e Centro-Oeste, umidade essencial para as plantações dessas regiões", descreve o professor da UNY.

Áreas desmatadas não são produtivas

Vaca em pasto plantado em área desmatada da Amazônia perto da rodovia Transamazônica em Humaitá, no Amazonas — Foto: Bruno Kelly/Reuters
Vaca em pasto plantado em área desmatada da Amazônia perto da rodovia Transamazônica em Humaitá, no Amazonas — Foto: Bruno Kelly/Reuters

Dados do Inpe mostram que a Amazônia já perdeu cerca 20% de suas florestas originais, ao contrário do que afirmou o presidente Jair Bolsonaro em novembro, quando disse a investidores em Dubai que "os ataques que o Brasil sofre quando se fala em Amazônia não são justos. Lá, mais de 90% daquela área está preservada".

Além do dado mencionado pelo presidente não estar correto, somente 10% da área que já foi desmatada na Amazônia está sendo utilizada de forma realmente produtiva.

"As áreas desmatadas têm baixíssima produção. Muitas delas foram, inclusive, abandonadas após o desmatamento", explica Coslovsky.

Além de ajudar a acabar com o desmatamento ilegal, incentivar uma economia sustentável na região pode recuperar as áreas já degradadas.

"A Amazônia é muito grande e cada área requer uma solução O problema não é simples de resolver", pondera. "Mas muitas destas áreas desmatadas e abandonadas podem se tornar, por exemplo, agroflorestas".

O professor dá como exemplo a atual produção do cacau na região amazônica.

"O cacau está crescendo na Amazônia. O produto é típico da região tropical, então ele pode ser plantado em consórcio com outros alimentos típicos, como a banana, formando ali uma agrofloresta", afirma Coslovsky.

Desenvolvimento semelhante ao do Camboja

Em uma escala de zero a 100, o IPS Amazônia 2021 ficou em 54,59 pontos, uma ligeira redução em relação ao índice de 2018 (54,64 pontos), edição anterior do documento.

Em relação à média global, o documento do Imazon compara que, se a região amazônica fosse um país, a Amazônia estaria em posição semelhante ao Camboja, 40º pior país no ranking global do IPS.

Em relação à média nacional, o índice de progresso social na Amazônia também é menor que o índice do Brasil, que foi de 63,29 pontos.

Mato Grosso (57,94), Rondônia (57,20) e Amapá (54,96) são os estados com os índices acima do IPS Amazônia 2021 (54,49), enquanto que os demais estados têm índices abaixo da média. Nenhum dos nove estados da região, contudo, superou a média nacional.

"O IPS 2021 mostra que o desenvolvimento social na Amazônia é inferior ao do próprio Brasil, que também é baixo", alerta Veríssimo.

Para o pesquisador, o retrato da Amazônia atualmente é "de uma tempestade perfeita de destruição ambiental, subdesenvolvimento econômico e dos piores indicadores sociais do Brasil".

Os pesquisadores destacam que o IPS Amazônia não reflete as condições sociais e culturais específicas dos povos indígenas que habitam as Terras Indígenas e das populações quilombolas que ocupam Territórios Quilombolas. Para isso, segundo o Imazon, seria necessário um IPS específico para estes territórios.

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Parcela dos super-ricos na riqueza global aumenta na pandemia, aponta estudo

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0,01% mais ricos do mundo viram sua fatia na riqueza global atingir 11% este ano. Crise da Covid exacerbou as desigualdades entre os muito ricos e o resto da população.
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TOPO
Por Reuters

Postado em 07 de dezembro de 2021 às 09h45m

Post.- N.\ 10.118

A parcela da riqueza das famílias nas mãos dos bilionários aumentou em um valor recorde durante a pandemia, com os milionários também 'saindo da Covid-19' à frente dos demais, segundo um estudo divulgado nesta terça-feira (7).

O Relatório Global de Desigualdade, produzido por uma rede de cientistas sociais, estimou que os bilionários detêm 3,5% de toda a riqueza global das famílias, acima dos 2% registrados no início da pandemia, no começo de 2020.

"A crise da Covid exacerbou as desigualdades entre os muito ricos e o resto da população", afirmou Lucas Chancel, um dos autores do estudo, apontando que as economias ricas usaram apoio fiscal maciço para reduzir a forte alta da pobreza vista em outros lugares.

O relatório usou como base uma série de pesquisas de especialistas e dados de domínio público, com um prefácio escrito pelos economistas Abhijit Banerjee e Esther Duflo, dois dos três que receberam, em 2019, o prêmio Nobel por seu trabalho sobre a pobreza.

"Uma vez que a riqueza é a principal fonte de ganhos econômicos futuros e, cada vez mais, de poder e influência, isso sugere novos aumentos futuros da desigualdade", escreverem os economistas, sobre o que eles chamaram de "extrema concentração de poder econômico nas mãos de uma minoria muito pequena de super ricos".

Jeff Bezos, dono da Amazon e homem mais rico do mundo segundo a Forbes — Foto: EPA
Jeff Bezos, dono da Amazon e homem mais rico do mundo segundo a Forbes — Foto: EPA

Os resultados corroboram uma série de estudos já existentes, "listas de mais ricos" e outras evidências que apontam para um crescimento das desigualdades de saúde, sociais, de gênero e raciais durante a pandemia.

lista de bilionários da Forbes deste ano, por exemplo, incluiu um recorde de 2.755 bilionários, com uma riqueza combinada de US$ 13,1 trilhões – no ano passado, eram US$ 8 trilhões.

O novo relatório mostra que os 520 mil adultos que correspondem aos 0,01% mais ricos do mundo viram sua fatia na riqueza global atingir 11% este ano, ante 10% no ano passado. Pertencer a essa parcela da população significa ter pelo menos US$ 19 milhões (cerca de R$ 108 milhões).

Analistas dizem que alguns dos 'super ricos' se beneficiaram da mudança para o ambiente digital durante os lockdowns em diversas partes da economia global, enquanto outros simplesmente lucraram com a alta dos preços dos ativos enquanto os mercados financeiros apostam na velocidade e 'forma' da recuperação global.

O estudo também apontou que, embora a pobreza tenha crescido acentuadamente em países com uma cobertura de bem estar mais fraca, o pesado apoio governamental nos Estados Unidos e na Europa conseguiu reduzir pelo menos parte do impacto sobre as faixas de renda mais baixas.

"Isso mostra a importância dos estados sociais na luta contra a pobreza", disse Chancel.

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