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quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Molécula em veneno de cobra inibe o novo coronavírus, aponta pesquisa da Unesp de Araraquara

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Após testes em laboratório, cientistas observaram que a molécula extraída do veneno do réptil inibiu em 75% a capacidade do vírus se multiplicar em células de macaco.
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Por EPTV1

Postado em 25 de agosto de 2021 às 16h15m


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Pesquisadores descobrem que veneno de cobra brasileira pode ajudar no tratamento da Covid
Pesquisadores descobrem que veneno de cobra brasileira pode ajudar no tratamento da Covid

Pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara (SP), identificaram no veneno da cobra brasileira jararacuçu um peptídeo (pedaço de proteína) capaz de conter a reprodução do novo coronavírus.

A descoberta ocorreu após testes realizados em laboratório, nos quais os pesquisadores observaram que a molécula extraída do veneno do réptil inibiu em 75% a capacidade do vírus se multiplicar em células de macaco. Os resultados obtidos no trabalho foram publicados em um artigo na revista científica internacional Molecules.

A eficiência do peptídeo foi testada no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), onde uma amostra do coronavírus está isolada.

Pesquisadores estudaram proteínas do veneno da cobra jararacuçu — Foto: Miguel Nema/Parque Estadual Serra do Mar
Pesquisadores estudaram proteínas do veneno da cobra jararacuçu — Foto: Miguel Nema/Parque Estadual Serra do Mar

Medicamento eficiente

O estudo preliminar apresenta um caminho promissor na busca por medicamentos para tratar pacientes contaminados pela Covid-19.

O grande desafio para a criação de um novo fármaco é garantir que ele seja eficiente contra determinada patologia e, ao mesmo tempo, não gere reações adversas para quem for tomá-lo.

Nos ensaios iniciais realizados durante a pesquisa, os resultados foram animadores, segundo Eduardo Maffud Cilli, professor do IQ e um dos autores do trabalho.

Nós encontramos um peptídeo que não é tóxico para as células, mas que inibe a replicação do vírus. Com isso, se o composto virar um remédio no futuro, o organismo ganharia tempo para agir e criar os anticorpos necessários, já que o vírus estaria com sua velocidade de infecção comprometida e não avançaria no organismo, disse. 
Como o peptídeo atua?
Peptídeo que foi sintetizado no IQ e inibe a replicação do SARS-CoV-2 — Foto: Eduardo Cilli
Peptídeo que foi sintetizado no IQ e inibe a replicação do SARS-CoV-2 — Foto: Eduardo Cilli

O peptídeo encontrado na jararacuçu é uma molécula que interage e bloqueia a PLPro, uma das enzimas do novo coronavírus responsáveis por sua multiplicação nas células.

De acordo com o docente do IQ, esse mecanismo de ação é interessante porque todas as variantes do SARS-CoV-2 possuem a PLPro, então a tendência é de que a molécula do réptil mantenha sua eficácia contra diferentes mutações do vírus.

Embora diversas vacinas tenham sido aprovadas recentemente, a imunização completa da população mundial ainda levará tempo, o que, junto com o surgimento de novas variantes, reforça a importância da procura por tratamentos eficazes.

Veneno da serpente

Pesquisadores observaram que a molécula extraída do veneno de cobra inibiu em 75% a capacidade do vírus se multiplicar em células de macaco — Foto: Paulo Chiari/EPTV
Pesquisadores observaram que a molécula extraída do veneno de cobra inibiu em 75% a capacidade do vírus se multiplicar em células de macaco — Foto: Paulo Chiari/EPTV

A ideia de investigar o potencial do veneno da serpente contra o novo coronavírus surgiu quando, recentemente, cientistas do Instituto de Química da Unesp descobriram que o peptídeo da cobra tinha atividade antibacteriana, o que os motivou a realizar novos testes para avaliar se ele também poderia agir em partículas virais.

Inicialmente, os efeitos não foram tão elevados, mas após algumas pequenas modificações na estrutura química da molécula sintetizada no IQ, sua atividade antiviral começou a aumentar até inibir 75% da capacidade do vírus se multiplicar nas células.

Testes

Resumidamente, o ensaio é feito da seguinte forma: células de macaco cultivadas em laboratório recebem o peptídeo e, após uma hora, o vírus é adicionado na cultura.

Passados dois dias, os pesquisadores avaliam os resultados e, por meio de alguns cálculos, descobrem o quanto o vírus deixou de se reproduzir. Isso é possível porque os estudiosos já sabem previamente qual seria a multiplicação do vírus em condições normais, ou seja, se ele estivesse em contato apenas com as células.

Em uma segunda etapa do estudo, na qual os pesquisadores identificaram um dos mecanismos de ação do peptídeo da cobra, o composto foi testado especificamente contra a enzima PLPro, que foi obtida no Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP.

Próximos passos

Nos próximos passos do estudo os pesquisadores irão avaliar a eficiência de diferentes dosagens da molécula — Foto: Paulo Chiari/EPTV
Nos próximos passos do estudo os pesquisadores irão avaliar a eficiência de diferentes dosagens da molécula — Foto: Paulo Chiari/EPTV

Nos próximos passos do estudo os especialistas irão avaliar a eficiência de diferentes dosagens da molécula, bem como se ela pode exercer outras funções na célula, como a de proteção, evitando até mesmo que o vírus a invada.

Após o fim desses testes, o objetivo é que a pesquisa avance para a etapa pré-clínica, em que será estudada a eficácia do peptídeo para tratar animais infectados pelo novo coronavírus.

A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Além do professor Cilli, fizeram parte do estudo pelo IQ os cientistas Paulo Sanches, Natália Bitencourt e Norival Santos Filho. O trabalho contou ainda com a participação de pesquisadores do ICB, IFSC, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

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Estudo sul-coreano mostra que casos de delta têm carga viral 300 vezes maior do que cepa original

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A carga mais elevada significa que o vírus se dissemina muito mais facilmente de pessoa para pessoa, aumentando as infecções e hospitalizações.
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TOPO
Por Reuters

Postado em 25 de agosto de 2021 às 13h45m


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Pessoas infectadas com a delta, variante mais transmissível do novo coronavírus, apresentaram carga viral 300 vezes maior se comparado com os indivíduos infectados com a versão original do vírus nos primeiros dias dos sintomas da Covid-19, revelou um estudo da Coreia do Sul.

O valor da carga viral, entretanto, diminui gradualmente com o tempo - chegando a ser 30 vezes maior depois de quatro dias da infecção e pouco mais de 10 vezes após nove dias - se igualando aos níveis vistos em outras variantes depois de 10 dias, informou o Centro de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia (KDCA) nesta terça-feira (24).

Veja 5 pontos sobre a variante delta
Veja 5 pontos sobre a variante delta

A carga mais elevada significa que o vírus se dissemina muito mais facilmente de pessoa para pessoa, aumentando as infecções e hospitalizações, disse Lee Sang-won, uma autoridade do Ministério da Saúde, em uma coletiva de imprensa.

"Mas isto não significa que a Delta é 300 vezes mais infecciosa... achamos que sua taxa de transmissão é 1,6 vez a da variante Alpha, e cerca de duas vezes a da versão original do vírus", disse Lee.

A variante delta do novo coronavírus foi identificada primeiramente na Índia, e a Alpha no Reino Unido.

Para evitar a disseminação da variante delta, agora a linhagem predominante em todo o mundo, a KDCA pediu às pessoas que façam exames imediatamente quando desenvolverem sintomas da Covid-19 e que evitem encontros pessoais.

A proliferação rápida da delta e as taxas baixas de vacinação pegam grande parte da Ásia de guarda baixa, especialmente em mercados emergentes, enquanto as economias da Europa e da América do Norte se reativam.

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terça-feira, 24 de agosto de 2021

Sobre álcool, câncer, enrijecimento das artérias e compulsão

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Três pesquisas diferentes apontam riscos e até um caminho para combater a dependência
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Por Mariza Tavares — Rio de Janeiro

Postado em 24 de agosto de 2021 às 19h00m


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Resolvi reunir três pesquisas que tratam do consumo de álcool numa só coluna. Beber pode ser prazeroso e socialmente aceitável, mas esconde muitos riscos. Durante a pandemia, houve um crescimento de quase 94% nas vendas on-line e é por aí que puxo o fio da meada. Estudo divulgado semana passada afirma que o risco para o surgimento de câncer gastrointestinal está associado com a frequência com que as pessoas ingerem bebidas alcoólicas.

Pesquisadores se debruçaram sobre informações de 11 milhões de sul-coreanos, que se submeteram a exames entre 2009 e 2010 e foram acompanhados até o fim de 2017. O levantamento mostrou que o risco de câncer gastrointestinal estava significativamente associado com a frequência da ingestão de álcool. Na comparação entre níveis similares de consumo de bebida, o risco aumentava se a frequência era maior – ou seja, se a pessoa bebia mais vezes, ainda que o volume fosse menor. Por outro lado, o risco decrescia se a frequência diminuísse mesmo que, nessas ocasiões, a quantidade ingerida fosse maior.

Mulheres e homem bebendo: uma frequência maior do consumo de álcool está associada ao risco aumentado de câncer gastrointestinal  — Foto: https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Wine_drinking#/media/File:Small_Danish_Hotels_(11927726423).jpg
Mulheres e homem bebendo: uma frequência maior do consumo de álcool está associada ao risco aumentado de câncer gastrointestinal — Foto: https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Wine_drinking#/media/File:Small_Danish_Hotels_(11927726423).jpg

Ontem, a Sociedade Europeia de Cardiologia fez o alerta: beber durante a adolescência e no início da vida adulta leva ao endurecimento e envelhecimento precoce das artérias, quadro que antecede a doença cardiovascular. O estudo teve 1.655 participantes entre 17 e 24 anos. O consumo de álcool era classificado em níveis que variavam de nunca a alto (mais de cinco drinques numa só ocasião). O de tabaco também foi medido, indo da condição de não fumante e ex-fumante a mais de dez cigarros por dia. Todos foram submetidos a um exame não invasivo chamado velocidade de onda de pulso, que mede o estado de rigidez das artérias – quem quiser saber como funciona, pode conferir aqui. Foi observado um aumento médio de 10.3% no endurecimento das artérias desses jovens associado às duas drogas.

Por último, a descoberta de um mecanismo que está por trás do consumo compulsivo de álcool talvez possa levar a ciência a solucionar o problema: há um pequeno grupo de células nervosas no cérebro que sustentam a motivação para beber mesmo quando há consequências negativas. Essa foi a conclusão de estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Linköping, na Suécia. No laboratório, cobaias aprenderam a pressionar uma alavanca para obter uma pequena dose de álcool. Depois as condições mudaram e, quando os ratinhos acionavam a alavanca, recebiam uma descarga elétrica. A maioria desistiu, mas um terço persistiu na ação, ainda que fosse associada ao desconforto.

Os cientistas usaram um marcador para mapear que células eram ativadas, e elas se concentravam na amígdala cerebral, responsável pelo mecanismo de aprendizado. O passo seguinte foi desligar geneticamente tais células, o que permitiu que os ratinhos dependentes tivessem o comportamento dos demais, que era o de evitar o choque. Publicado na revista científica Science Advances, o trabalho pode ser um primeiro passo para a criação de um medicamento contra a dependência.

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Fotógrafo registra há 50 anos a natureza que o Brasil está destruindo

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Araquém Alcântara considera que enfraquecimento da fiscalização ambiental no país é 'crime de lesa humanidade'. Ele planeja três livros e uma mostra simultânea à COP26.
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TOPO
Por Thais Carrança, BBC

Postado em 24 de agosto de 2021 às 18h10m


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Fotógrafo registra há 50 anos a natureza que o Brasil está destruindo — Foto: Araquém Alcântara
Fotógrafo registra há 50 anos a natureza que o Brasil está destruindo — Foto: Araquém Alcântara

"A fotografia tem um papel importante porque ela é uma crônica. Quando feita com arte e com informação, é a crônica da beleza e do extermínio. Eu venho acompanhando o processo de desertificação desse país. É impressionante."

Em 2021, o fotógrafo Araquém Alcântara completou 70 anos, 50 deles dedicados a preservar em imagens a natureza que o Brasil está destruindo.

Com o que considera um olhar amadurecido para o exercício de paciência e contemplação que é a fotografia de natureza, Araquém volta à Amazônia neste fim de agosto para registrar o que é esperada para a ser a pior temporada de queimadas dos últimos anos, em meio à forte seca que assola o Brasil e ao enfraquecimento da fiscalização ambiental promovido pela gestão Jair Bolsonaro (sem partido).

Ao mesmo tempo, planeja para novembro o lançamento do livro comemorativo dos seus 50 anos de profissão; para o primeiro semestre de 2022, um livro sobre a Amazônia voltado ao público europeu; e ainda sem data, um terceiro livro, sobre a fauna brasileira para escolas.

Mico-de-cheiro com filhote no Parque Nacional da Serra do Divisor. Acre, 2006 — Foto: Araquém Alcântara
Mico-de-cheiro com filhote no Parque Nacional da Serra do Divisor. Acre, 2006 — Foto: Araquém Alcântara

Também prepara uma mostra do seu trabalho para influenciar os líderes mundiais na tomada de decisões na COP26, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021, prevista para acontecer de 31 de outubro a 12 de novembro em Glasgow, na Escócia.

"Meu trabalho é resistência da memória. Mais de 50% do Cerrado já foi; restam só migalhas, nem 1% das matas de araucárias; e a Amazônia começa a entrar no seu ponto de declínio, no seu ponto de savanização e daqui a pouco não produz mais chuva", diz Araquém à BBC News Brasil.

"O [historiador americano] Warren Dean em determinado momento se pergunta: 'Não deveria esse holocausto produzido pelo homem ser relatado de geração para geração? Não deveria o manual de história aprovado pelo Ministério da Educação começar assim: Crianças, vocês vivem em um deserto, vamos lhes contar agora como foi que vocês foram deserdadas'", afirma o fotógrafo, citando o autor de A Ferro e Fogo, clássico da história ambiental sobre a devastação da Mata Atlântica brasileira.

"É preciso documentar, é preciso mostrar isso, é preciso gritar por mudança já. Ainda bem que, para isso, eu tenho o texto e a foto." 
'Comecei cantando minha aldeia'

Nascido em Florianópolis, em 1951, Araquém estudou em colégio interno, num seminário carmelita de Itu, no interior de São Paulo. A princípio um amante da escrita, se apaixonou pela imagem numa sessão de cinema promovida em Santos pelo agitador cultural francês Maurice Lègeard.

"Eu era meio 'hippão' — ou totalmente 'hippão' —, cabeludão à la Jimi Hendrix. Era um janeiro de 1970, eu tinha 17 anos, nem sabia direito que filme era, e de repente me aconteceu", lembra o fotógrafo.

"O filme se chamava A Ilha Nua, de Kaneto Shindô, e eu vendo aquilo ali fui ficando transido no escuro diante de tanta beleza. Quando acabou o filme, teria uma festa, eu falei à namorada que não iria. 'Eu vou para a praia, preciso pensar'. Na praia do Gonzaga em Santos, tirei o tênis, fui andando pela beirada da água e me veio um insight. No dia seguinte, virei fotógrafo."

Ele conta que começou a fotografar com uma câmera emprestada. "Fui fotografar as putas do cais e os urubus de Santos, tema do meu primeiro ensaio."

Mas foi o apocalipse da Cubatão dos anos 1980 — cidade que ficou conhecida como "Vale da Morte", devido à elevada concentração de poluentes industriais, impossibilitados de se dispersar pelo paredão da Serra do Mar — que despertou Araquém para a questão ambiental.

"Comecei a cantar minha aldeia. E a minha aldeia, a baixada santista, tinha Cubatão, o rico 'Vale da Morte'. Eu comecei ali a entender o que significava sustentabilidade — ou insustentabilidade. Crianças sem cérebro, a destruição em função da ganância", relata, lembrando das mais de 30 crianças nascidas mortas devido a anencefalia causada pela exposição das mães à poluição excessiva.

"Ao tomar uma chuva ácida nas costas, ali eu comecei a ser um precursor da fotografia de natureza e comecei a minha andança, minha Odisseia, que dura até hoje."

Desde então, Araquém passou por veículos diversos da imprensa nacional (os jornais "Cidade de Santos", "O Estado de S. Paulo", "Jornal da Tarde", "O Globo", "Tribuna de Santos", a revista "IstoÉ"), fundou sua própria editora — a Terra Brasil, batizada a partir do livro de mesmo nome, lançado em 1998 e que desde então já vendeu mais de 130 mil cópias, num país onde a tiragem média das obras é de 2,5 mil — publicou 58 livros e ganhou mais de 100 prêmios em todo o mundo.

A velhice e as redes sociais

Araquém vive agora a experiência de envelhecer como um fotógrafo ainda na ativa.

"Agora, o olhar mais amadurecido já hospeda melhor o silêncio, a percepção, eu já simplifico as coisas. A fotografia é um grande exercício de paciência e de contemplação, sobretudo a de natureza. O verdadeiro fotógrafo de natureza perde 99% de suas fotos, mas aquele 1% corrige tudo sob o céu", afirma, de forma grandiloquente.

Bastante ativo nas redes sociais, o fotógrafo teve no início de agosto uma de suas imagens apagadas pelo Instagram. A fotografia mostrava uma jovem indígena do povo Zo'é dando de mamar ao seu filho, ao lado de uma outra jovem indígena com os seios à mostra.

A rede social alegou que a imagem ia "contra as diretrizes da comunidade sobre nudez".

"Acho muito importante para o meu trabalho e o de outros fotógrafos e artistas a divulgação nas redes sociais. Mas não dá para entender a falta de critério, a burrice dos algoritmos", diz.

"O Instagram precisa mudar seus filtros e os artistas precisam se movimentar nesse sentido. O meu grito de repúdio teve esse objetivo", completa. 
Um andarilho na pandemia

Autodefinido como um "fotógrafo andarilho", Araquém decidiu abandonar o isolamento imposto pela pandemia quando, em meados de 2020, o Pantanal começou a queimar de forma sem precedentes.

"Quando o Pantanal começou a ser incinerado eu pensei: 'Eu não posso ficar aqui'. E aí me expus", lembra o artista. "Nessa ida para o Pantanal, no período em que fiquei lá, eu vi a face do horror. Vi que é possível tudo virar cinza e deserto."

Esse ano, Araquém volta a campo para uma nova temporada na Amazônia, que deve se estender do fim de agosto a outubro, auge do período de queimadas na região.

"Estou indo para a Amazônia novamente porque as perspectivas são catastróficas", afirma.

"A seca está muito severa e o enfraquecimento todo da fiscalização sugerem mais um ano de recordes", alerta, lembrando que o maior número de focos de queimadas dos últimos 14 anos foi registrado em junho, mês que ainda não é de temporada de fogo.

"É fundamental uma moratória. É fundamental parar o desmatamento já e a fotografia tem um papel importante nisso."

Rodovia Cuiabá-Santarém. 2017 — Foto: Araquém Alcântara
Rodovia Cuiabá-Santarém. 2017 — Foto: Araquém Alcântara 

As fotografias da viagem de agora devem ser aproveitadas no livro sobre a Amazônia voltado para o mercado europeu, que deverá ser dividido em três partes: A Terra, O Homem e O Desequilíbrio — uma referência aos Sertões de Euclides da Cunha, cuja obra seminal sobre o conflito de Canudos é dividida entre A Terra, O Homem e A Luta.

Primeiro fotógrafo a documentar todos os parques nacionais do Brasil, Araquém avalia que a mudança da política ambiental nacional no período recente é "criminosa".

"É uma coisa catastrófica, um crime de lesa humanidade", afirma. "A questão fundiária na Amazônia precisa ser resolvida e é preciso manter a floresta em pé imediatamente. Os governos ignoram a ganância das quadrilhas de grileiros, em nome de um falso progresso que só enriquece uma minoria."

"Eu sou uma testemunha ocular dessa barbárie, porque fotografo a natureza desse país há meio século. E me parece que o [antropólogo, historiador, sociólogo e escritor] Darcy Ribeiro tinha razão quando ele disse há vinte anos atrás: 'Só o engajamento total da opinião pública mundial pode salvar a Amazônia'. Então meu grito é um grito por atitude, minha fotografia está a serviço da vida."

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Habilidades que melhoram com o envelhecimento

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Pesquisa da Universidade de Georgetown mostra que funções como lidar com novas informações e manter o foco se aperfeiçoam com a idade
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TOPO
Por Mariza Tavares - Rio de Janeiro
Jornalista, mestre em comunicação pela UFRJ e professora da PUC-RIO, Mariza escreve sobre como buscar uma maturidade prazerosa e cheia de vitalidade.

Postado em 24 de agosto de 2021 às 09h15m


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À medida que envelhecemos, espera-se um progressivo declínio em nossas habilidades mentais, mas uma nova pesquisa divulgada pela Universidade de Georgetown traz boas notícias. Artigo publicado no dia 19 na revista científica Nature Human Behaviour aponta que duas funções cerebrais podem, de fato, se aperfeiçoar em adultos mais velhos: lidar com novas informações e manter o foco no que é relevante.

São resultados com consequências importantes sobre a forma como encaramos o envelhecimento. Elementos críticos dessas habilidades melhoram com a idade porque simplesmente praticamos tais aptidões ao longo da vida, disse o pesquisador Michael T. Ullman, professor do departamento de neurociência e diretor do Laboratório da Linguagem e do Cérebro da universidade.
Jogar videogames aprimora a coordenação motora e a memória: o cérebro continua aprendendo ao longo da vida, mas também precisa de estímulos  — Foto: Van\Dulti para Pixabay
Jogar videogames aprimora a coordenação motora e a memória: o cérebro continua aprendendo ao longo da vida, mas também precisa de estímulos — Foto: Van\Dulti para Pixabay

O estudo avaliou 702 pessoas com idades que variavam entre 58 e 98 anos, quando alterações cognitivas começam a ser detectadas, com ênfase em três atributos – em inglês, alerting, orienting, executive inhibition. Detalhando: alerting é a capacidade de entrar em estado de alerta para receber e processar novas informações; orienting envolve mobilizar os recursos mentais levando em conta as coordenadas disponíveis; por último, executive inhibition é o poder de deixar de lado distrações e informações conflitantes para se concentrar no que realmente vale a pena.

Exemplificando, quando se dirige um carro, o estado de atenção é acionado quando nos aproximamos de um cruzamento; o senso de orientação ocorre quando nos damos conta de algo inesperado, como um pedestre que atravessa fora da faixa; e a concentração é o que evita que a gente se distraia com a paisagem. O estudo mostrou que o estado de alerta efetivamente diminui com a idade, mas as outras duas habilidades evoluem. Em abril, escrevi coluna sobre pesquisa do Instituto de Neurociência do Trinity College, em Dublin, que ia na mesma direção: na contramão do noticiário, relatava que os mais velhos conseguem manter o foco no que fazem e são menos afetados pela ansiedade e agitação mental que perturbam os mais jovens.

Para os cientistas, está claro que a plasticidade cerebral, que permite que os neurônios se regenerem anatômica e funcionalmente, formando novas conexões, indica que o cérebro consegue se recuperar e regenerar. Ele continua aprendendo ao longo da vida, mas também precisa de estímulos. Se você está em dúvida sobre como incrementar sua massa cinzenta, aqui vão algumas sugestões:

1) Jogar videogames, que aprimoram coordenação motora, reconhecimento visual, tempo de reação e resolução de problemas – além de ser uma ponte para conviver com a garotada. Valem ainda os jogos de ritmo e dança.

2) Aprender uma nova língua: estudo de 2012 já revelava que a atividade aumenta a neuroplasticidade.

3) Vivências musicais: compor, aprender um instrumento, cantar, todas são atividades que envolvem foco, memória e coordenação.

4) Arte: desenhe, pinte, faça cerâmica! A internet está cheia de tutoriais para ajudar nos primeiros passos.

5) Viajar é sinônimo de expandir o repertório. Você não precisa de passaporte para isso: pode ser uma caminhada numa trilha ou lugar que não conheça; ir a outros cantos da cidade; e até se dedicar a tours virtuais.

6) É claro que está na lista: exercitar-se! Não é bom apenas para melhorar a aptidão física e o sono, protege o cérebro do declínio cognitivo.

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