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domingo, 14 de março de 2021

Coronavírus: como pacientes 'resistentes' podem ajudar na busca por tratamento para covid-19

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Na esperança de encontrar o calcanhar de Aquiles do Sars-CoV-2, cientistas têm pesquisado o genoma daqueles que, mesmo expostos ao vírus, não chegaram a adoecer ou ficaram assintomáticos.
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TOPO
Por BBC

Postado em 14 de março de 2021 às 11h00m


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O corpo de algumas pessoas reage de forma diferente ao novo coronavírus em comparação com o resto da população — Foto: Getty Images
O corpo de algumas pessoas reage de forma diferente ao novo coronavírus em comparação com o resto da população — Foto: Getty Images

Quando era jovem, Stephen Crohn viu seus amigos morrerem, um após o outro e sem que ele pudesse fazer nada, de um mal que não tinha nome.

Quando seu companheiro, um ginasta chamado Jerry Green, adoeceu gravemente em 1978 com uma doença que hoje conhecemos como Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), Crohn simplesmente concluiu que ele seria o próximo.

Mas, enquanto seu parceiro ia ficando cego e fraco, Crohn permanecia saudável. Ao longo da década seguinte, dezenas de amigos e inclusive outros parceiros teriam um destino semelhante.

Em 1996, o imunologista Bill Paxton, que trabalhava no Aaron Diamond Aids Research Center, em Nova York, estava à procura de homens homossexuais resistentes à infecção, com a intenção de descobrir os motivos por trás dessa resistência.

Quando Paxton tentou infectar os glóbulos brancos de Crohn com HIV, o vírus causador da Aids, em um tubo de ensaio, isso se revelou impossível. A explicação é que Crohn tinha uma mutação genética — que ocorre em apenas 1% da população — que impede o vírus de se prender à superfície dos glóbulos brancos.

Nos dez anos seguintes, os cientistas conseguiram desenvolver um medicamento retroviral, que imita os efeitos dessa mutação no organismo e que transformou os tratamentos da Aids. A droga também se mostrou crucial para ajudar a controlar o vírus em pessoas infectadas.

Crohn morreu em 2013, aos 66 anos, mas sua história deixou um legado que vai muito além do HIV.

Resistência à covid-19

O estudo de pessoas que apresentam níveis incomuns de resistência ou suscetibilidade à covid-19 pode levar a novos tratamentos — Foto: Getty Images
O estudo de pessoas que apresentam níveis incomuns de resistência ou suscetibilidade à covid-19 pode levar a novos tratamentos — Foto: Getty Images

Nas últimas duas décadas, inspirou todo um campo da Medicina, em que os cientistas buscam identificar esses chamados "casos isolados" que, como o de Crohn, são excepcionalmente resistentes ou pouco suscetíveis a uma doença e servem de base para estudos de novos tratamentos.

Como geneticista na Escola de Medicina Icahn, em Nova York, Jason Bobe passou os últimos anos estudando pessoas com traços de resistência incomum a doenças, de problemas cardíacos à doença de Lyme. Assim, quando a primeira onda de covid-19 atingiu o país, seu primeiro instinto foi procurar pessoas resistentes à nova infecção por coronavírus.

"Pensei em Stephen Crohn. Alguém precisava começar a procurar esses casos isolados de (resistência à) covid-19", diz ele.

A ideia de Bobe era tentar encontrar famílias inteiras, nas quais várias gerações haviam sofrido casos graves de covid-19, mas entre as quais havia pelo menos um indivíduo assintomático. "Ter uma família inteira junta torna muito mais fácil entender os fatores genéticos em jogo, e o que está por trás dessa resistência", explica.

No passado, a identificação de grupos familiares que atendessem a essas características levaria anos, mas o mundo digital oferece várias maneiras de chegar a essas pessoas. Desde junho de 2020, Bobe tem trabalhado com administradores de grupos de pacientes com covid-19 e familiares no Facebook, como o Survivor Corp, para tentar identificar candidatos.

Também criou uma plataforma na internet em que qualquer paciente com covid-19 assintomático pode preencher um questionário para participar de um estudo de resistência ao vírus, se atender aos requisitos.

Nos próximos meses, Bobe espera replicar a sequência de genomas de pacientes com sinais de resistência à covid-19, para ver se compartilham de alguma mutação que os estaria ajudando a escapar do vírus. Se tiver sucesso, suas descobertas podem servir de base para a criação de medicamentos antivirais capazes de nos proteger da covid-19 e também de futuras epidemias de coronavírus.

E já existem algumas pistas. Os pesquisadores identificaram uma associação entre os grupos sanguíneos do tipo O e Rh negativo a um menor risco de doenças graves. Mas, enquanto os cientistas levantam a hipótese de que certos tipos de sangue podem naturalmente ter anticorpos capazes de reconhecer alguns aspectos do vírus, a natureza precisa dessa relação permanece obscura.

Cientista brasileira investiga a questão

Pelageya Poyarkova, de Moscou, completou 100 anos no ano passado — e é uma das poucas pessoas dessa idade que contraiu covid-19 e se recuperou — Foto: Getty Images
Pelageya Poyarkova, de Moscou, completou 100 anos no ano passado — e é uma das poucas pessoas dessa idade que contraiu covid-19 e se recuperou — Foto: Getty Images

Mas Bobe não é o único cientista tentando descobrir o que torna esses casos isolados de resistência à covid-19 únicos. Mayana Zatz, diretora do Centro de Pesquisas do Genoma Humano da Universidade de São Paulo, identificou cem casais em que uma pessoa foi infectada com covid-19, mas seu parceiro, não.

Sua equipe está agora estudando esses indivíduos na tentativa de identificar os marcadores genéticos dessa resistência. "A ideia é tentar descobrir por que algumas pessoas altamente expostas ao vírus não desenvolvem a covid-19 e também não apresentam anticorpos. Descobrimos que, ao que parece, isso é relativamente comum. Recebemos cerca de 1 mil emails de pessoas dizendo que estavam nessa situação", explica.

A cientista também analisou o genoma de 12 pessoas com mais de 100 anos que foram apenas levemente afetadas pelo coronavírus, incluindo uma mulher de 114 anos na cidade de Recife, que segundo os registros de Zatz, é a pessoa mais velha a sobreviver à covid-19.

Embora a doença tenha se mostrado especialmente mortal entre os adultos mais velhos, aqueles que conseguiram resistir à infecção e têm mais de 70 anos podem oferecer pistas de novas maneiras de proteger os mais vulneráveis ​​em futuras pandemias.

Embora os casos de resistência excepcional ao vírus tenham chamado a atenção de alguns geneticistas, outros estão mais interessados nos casos atípicos no outro extremo do espectro: aqueles que foram mais afetados do que a média.

Nos últimos meses, estudos com esses pacientes esclareceram por que o Sars-CoV-2, o vírus que causa a covid-19, pode ser tão mortal.

Muitas das condições inexplicáveis ​​associadas à covid-19 podem estar relacionadas a mutações genéticas — Foto: Getty Images
Muitas das condições inexplicáveis ​​associadas à covid-19 podem estar relacionadas a mutações genéticas — Foto: Getty Images

Interrupção do sistema de alarme do corpo

Em meados do ano passado, Qian Zhang chegou para uma consulta odontológica. No meio da revisão, o dentista que a atendia perguntou: "Como é possível que eu tenha ido parar na UTI por causa da covid-19, enquanto minha irmã foi infectada, mas nem notou que estava infectada?".

Como geneticista que trabalha na Universidade Rockefeller, em Nova York, essa era uma pergunta que Zhang deveria ser capaz de responder com facilidade.

Nos últimos anos, vários cientistas de sua universidade se especializaram em estudar o genoma humano em busca de pistas que respondam por que há pessoas que ficam gravemente doentes com vírus comuns, como da herpes ou da gripe.

"Em todas as doenças infecciosas que analisamos, sempre é possível encontrar casos isolados de pessoas que adoecem gravemente porque apresentam mutações genéticas que as tornam suscetíveis", diz Zhang.

Quando a pandemia de covid-19 começou, ficou logo claro que os adultos mais velhos, sobretudo aqueles com problemas de saúde subjacentes, eram desproporcionalmente mais afetados, em comparação com a média.

No início da pandemia, os médicos começaram a notar padrões entre certos tipos sanguíneos de pacientes e a gravidade da doença — Foto: Getty Images
No início da pandemia, os médicos começaram a notar padrões entre certos tipos sanguíneos de pacientes e a gravidade da doença — Foto: Getty Images

Mas os cientistas da Universidade Rockefeller estavam mais interessados ​​nos casos atípicos de pessoas aparentemente saudáveis ​​na casa dos 30 anos que acabaram na UTI.

Em abril, eles lançaram um projeto de colaboração internacional chamado Covid Human Genetic Effort em parceria com outras universidades e centros médicos na Bélgica, Taiwan e outros países, com a ideia de estudar a genética desses casos. Assim que o projeto começou, Zhang já tinha um suspeito em vista.

Na década de 1960, os cientistas descobriram que nossas células têm um sistema de alarme interno que alerta o resto do corpo quando ele está sendo atacado por um novo vírus. "Quando um vírus entra na célula, a célula infectada produz proteínas chamadas interferons tipo um, que são liberadas para fora da célula", explica Zhang.

"Todas as células ao redor recebem esse sinal e se dedicam a se preparar para combater aquele vírus. Se a infecção for grave, as células vão produzir interferon suficiente para que chegue à corrente sanguínea e assim todo o corpo saiba que ele está sendo atacado." Mas, às vezes, há falhas genéticas que fazem com que esse sistema não funcione.

Em 2015, os cientistas da Universidade Rockefeller identificaram mutações em jovens saudáveis ​​que desenvolveram casos graves de pneumonia a partir de uma simples gripe. A mutação fazia com que a resposta do interferon não fosse registrada. "Se o alarme for silenciado, o vírus pode se propagar e infectar muito mais rápido", diz Zhang.

Muitas pessoas aparentemente saudáveis ​​foram gravemente afetadas pela covid-19 — Foto: Getty Images
Muitas pessoas aparentemente saudáveis ​​foram gravemente afetadas pela covid-19 — Foto: Getty Images

Vulnerabilidade à covid-19

Aparentemente, isso desempenhou um papel importante em algumas pessoas surpreendentemente vulneráveis à covid-19. Uma série de artigos científicos, publicados em setembro de 2020, comparou 987 dos chamados casos isolados de covid-19 que desenvolveram pneumonia grave, mas tinham menos de 50 anos ou mais de 50 anos sem comorbidades, com pacientes assintomáticos.

Cerca de 3,5% apresentavam uma mutação genética significativa que os impedia de gerar a resposta do interferon tipo um. Outros 10% tinham anticorpos que atuam contra o próprio organismo no sangue, conhecidos como autoanticorpos, que se ligam aos interferons e os "removem" da corrente sanguínea antes que possam alertar o resto do corpo.

De acordo com Ignacio Sanz, especialista em imunologia da Universidade Emory, nos Estados Unidos, isso confirma outras descobertas que sugerem que os autoanticorpos desempenham um papel fundamental nos casos mais graves de covid-19, bloqueando a capacidade do corpo de se defender contra os vírus.

Descobrir as variações genéticas que oferecem a algumas pessoas altos níveis de resistência à covid-19 pode vir a beneficiar aqueles com menos resistência — Foto: Getty Images
Descobrir as variações genéticas que oferecem a algumas pessoas altos níveis de resistência à covid-19 pode vir a beneficiar aqueles com menos resistência — Foto: Getty Images

"Há evidências acumuladas de que um percentual significativo de pacientes com doenças graves produz quantidades e tipos incomuns de autoanticorpos", explica o especialista.

Os cientistas da Universidade Rockefeller agora querem usar essa informação para detectar pessoas que podem ter uma vulnerabilidade invisível à covid-19, além de outros vírus respiratórios, como a gripe.

Zhang explica que qualquer pessoa com uma mutação genética que impeça o bom funcionamento dos interferons pode ser tratada preventivamente, ou até mesmo nos estágios iniciais da infecção. "Desde que fizemos o estudo, tivemos três pacientes em Paris que já sabiam que tinham essas mutações genéticas", explica.

"Após testarem positivo para covid-19, eles receberam uma injeção de interferon, e os três resultados foram muito bons. Nenhuma doença grave."

Eles também estão colaborando com bancos de sangue em todo o mundo para tentar identificar a verdadeira prevalência na população em geral de autoanticorpos que atuam contra o interferon tipo um. Se uma porcentagem significativa for encontrada, pode ser desenvolvido um teste para determinar se uma pessoa apresenta, sem saber, um risco muito maior diante de infecções virais.

"Precisamos descobrir quantas pessoas estão por aí com esses autoanticorpos", diz Zhang. "Porque muitos dos que participaram de nosso estudo pareciam totalmente saudáveis ​​e não haviam tido outros problemas até contrair a covid-19", acrescenta.

Os cientistas estão analisando as reações do corpo à chegada do vírus e sua relação com a genética — Foto: Getty Images
Os cientistas estão analisando as reações do corpo à chegada do vírus e sua relação com a genética — Foto: Getty Images

Suscetibilidade dos genes

Mas os autoanticorpos e mutações que bloqueiam diretamente os interferons do tipo um representam apenas 14% de todos esses casos isolados que foram analisados. Para os 86% restantes, os geneticistas acreditam que a vulnerabilidade decorre de uma série de cadeias de interações genéticas, que os afetam de maneiras diferentes quando o vírus ataca.

"Apenas um pequeno número é seriamente infectado porque tem uma mutação em um único gene principal", diz Alessandra Renieri, professora de genética médica da Universidade de Siena, na Itália. "A maioria dos pacientes segue um modelo mais complexo em que muitos genes cooperam entre si para aumentar a suscetibilidade à covid-19", acrescenta.

Para entender isso, os cientistas da Universidade de Edimburgo, na Escócia, estudaram os genomas de 2,7 mil pacientes encontrados em unidades de terapia intensiva de todo o Reino Unido e os compararam com voluntários saudáveis.

E descobriram que as pessoas mais vulneráveis à covid-19 têm cinco genes — relacionados à resposta ao interferon e suscetibilidade à inflamação pulmonar — que são notoriamente mais ou menos ativos do que os da população em geral.

"Essa combinação significa que o vírus pode se espalhar mais facilmente pelo corpo, e a pessoa tem mais chances de sofrer danos pulmonares como resultado", explica Erola Pairo-Castineira, uma das geneticistas que liderou o estudo.

Pairo-Castineira sugere que esse conhecimento mudará os tipos de tratamentos de primeira linha oferecidos aos pacientes em futuras pandemias. Em particular, o baricitinib, um anti-inflamatório usado para tratar a artrite reumatoide, que foi identificado por algoritmos de inteligência artificial como um tratamento eficaz para covid-19, em fevereiro de 2020.

Ele é conhecido por ser eficaz na supressão da atividade de pelo menos um dos genes que levam à inflamação dos pulmões. Em dezembro, um ensaio clínico mostrou que uma combinação de baricitinib e do antiviral remdesivir reduz o tempo de recuperação de pacientes com covid-19.

Pesquisas buscam novas pistas

A relação do vírus com os tipos sanguíneos também está sendo investigada — Foto: Getty Images
A relação do vírus com os tipos sanguíneos também está sendo investigada — Foto: Getty Images

Os cientistas das universidades de Rockefeller e Edimburgo estão agora buscando conduzir estudos mais amplos com pacientes que se mostraram excepcionalmente suscetíveis à covid-19, para encontrar mais pistas genéticas de por que o vírus pode atacar pessoas aparentemente saudáveis.

Isso também pode explicar por que as pessoas com grupos sanguíneos do tipo A parecem ter um fator de risco mais alto.

O estudo desses casos isolados de covid-19 também fornece perspectivas sobre outros mistérios importantes da pandemia, como por que os homens são consideravelmente mais suscetíveis do que as mulheres. "Esses estudos nos deram várias ideias a esse respeito", diz Renieri. "Eles nos mostraram o quão importante é a resposta do interferon."

"Isso é interessante porque, depois da puberdade, os homens apresentam um aumento na testosterona, e a testosterona pode desregular os genes do interferon tipo um. Portanto, para os homens que já têm um defeito nesses genes, significa que eles podem ser muito mais vulneráveis ​​ao vírus", sugere.

Embora muitas dessas respostas possam chegar tarde demais para fazer uma grande diferença na pandemia atual, entender o que torna as pessoas particularmente resistentes ou vulneráveis ​​salvará muitas vidas em surtos futuros.

Como nos mostraram as epidemias de Sars, H1N1 e ebola dos últimos 20 anos, é inevitável que novos vírus continuem a se espalhar, tornando ainda mais vital o desenvolvimento de novos métodos para identificar aqueles que correm mais risco. E novas maneiras de tratá-los.

Os homens são mais afetados pela covid-19 do que as mulheres — Foto: Getty Images
Os homens são mais afetados pela covid-19 do que as mulheres — Foto: Getty Images

Com isso em mente, o estudo de Zatz de idosos resistentes à covid-19 não se concentra apenas no SARS-CoV-2, mas também em outras infecções respiratórias.

Sua equipe está usando células-tronco para converter amostras de sangue desses pacientes centenários em tecido pulmonar, que eles infectam em laboratório com vários outros vírus para ver se as mutações genéticas também oferecem proteção contra essas infecções.

Se isso acontecer, pode abrir caminho para a produção de drogas antivirais inteiramente novas, da mesma forma que o estudo de Stephen Crohn sobre os glóbulos brancos décadas atrás.

"Nosso objetivo é identificar variantes genéticas que oferecem resistência, não apenas à covid-19, mas também a outros vírus ou condições adversas", diz Zatz. "Se identificarmos variantes de proteção e descobrirmos sua função, podemos abrir novas vias de tratamento."

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sábado, 13 de março de 2021

Na contramão do mundo, brasileiro termina a década mais pobre

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Entre 2011 e 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Brasil recuou 0,2% ao ano, em média. Nesse mesmo período, a riqueza mundial teve crescimento anual de 0,4%, enquanto a dos emergentes avançou 2,5%.
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Por Bianca Lima e Luiz Guilherme Gerbelli, GloboNews e G1

Postado em 13 de março de 2021 às 10h00m


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Na contramão do mundo. brasileiro termina década mais pobre
Na contramão do mundo. brasileiro termina década mais pobre

Na contramão do mundo, a população brasileira ficou mais pobre na última década. Entre 2011 e 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita do país recuou 0,2% ao ano, em média. Nesse mesmo período, a riqueza mundial apresentou um crescimento anual de 0,4%.

Os dados integram um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) com base nos números do Fundo Monetário Internacional (FMI). O desempenho do PIB per capita ao longo da década foi calculado em Paridade do Poder de Compra (PPC) e, portanto, torna possível a comparação entre os países, porque exclui o efeito do câmbio nas moedas locais.

O PIB per capital é a soma de tudo o que país produz dividido pela população e funciona como um importante termômetro para avaliar a riqueza de uma nação. Ele sobe quando a atividade econômica avança num ritmo mais rápido do que o crescimento populacional.

Taxa média anual do crescimento do PIB per capita — Foto: Economia G1
Taxa média anual do crescimento do PIB per capita — Foto: Economia G1

Em 2010, os brasileiros tinham uma renda anual média de US$ 14.931,10. Em 2020, ela caiu para US$ 13.777,44.

O fraco desempenho do Brasil, observado na última década, pode ser explicado por uma combinação bastante perversa. O país enfrentou uma dura recessão entre o fim de 2014 e 2016, registrou uma lenta retomada nos três anos seguintes e viu o PIB despencar 4,1% no ano passado, por causa dos impactos econômicos provocados pela pandemia de coronavírus.

"Esse conjunto de elementos fez com que nós tivéssemos uma nova década perdida", afirma Claudio Considera, pesquisador do Ibre/FGV e um dos autores do levantamento. "Foram três anos de recessão mais um ano da pandemia, que desligou a economia."

PIB encolhe 4,1% em 2020, o maior tombo em 25 anos
PIB encolhe 4,1% em 2020, o maior tombo em 25 anos

Se comparado a países de economia similar, o Brasil fica ainda mais atrás: entre os emergentes, o avanço médio do PIB per capita foi de 2,5% entre 2011 e 2020.

"Entender essa trajetória de comparar o Brasil com os emergentes é entender a crise de meados dos anos de 2010", afirma Rodrigo Soares, professor titular da cátedra Fundação Lemann no Insper.

"Houve uma mistura de dois fatores. Em parte, foi uma herança das políticas equivocadas, adotadas a partir do final dos anos 2000 e que se intensificaram no início dos anos 2010. E isso foi combinado com o choque negativo das commodities, que começou a acontecer no mesmo período", diz.

Na década passada, a situação das contas públicas se agravou, resultando em uma crise fiscal que se arrasta até hoje. O país ainda enfrentou uma turbulência política, que levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Como consequência, em 2015, a economia brasileira perdeu o grau de investimento – uma espécie de selo de bom pagador da dívida pública.

Início lento da década

A nova década que se inicia começa com sinais de fraqueza e, portanto, não deve haver uma melhora expressiva da renda do brasileiro tão cedo. O país lida com várias incertezas, como o agravamento da pandemia de coronavírus e a lenta vacinação, que estão minando as expectativas de um crescimento mais acelerado.

As projeções econômicas para 2021 têm sido reduzidas semana após semana, segundo o relatório Focus, do Banco Central, que colhe a avaliação de uma centena de economistas. Hoje, os analistas estimam que o PIB deve crescer 3,26%. Há um mês, a previsão era de alta de 3,47%.

"De fato, está parecendo que o desempenho do primeiro trimestre será bem fraco em relação ao último trimestre de 2020", afirma Considera. "É possível prever uma dificuldade muito grande para a retomada do crescimento."

Alguns bancos e consultorias já projetam uma recessão técnica neste ano, com quedas seguidas do PIB no primeiro e no segundo trimestres.

Há ainda incertezas em relação à condução da política econômica do governo Jair Bolsonaro – se a agenda liberal prometida na eleição de 2018 vai ser trocada por medidas populistas –, sobretudo depois da intervenção do governo na Petrobras.

Jair Bolsonaro indica novo presidente da Petrobras; entenda o caso
Jair Bolsonaro indica novo presidente da Petrobras; entenda o caso

"Você reconhece esse risco na trajetória do presidente da República, enquanto membro do Congresso e deputado. Houve uma tentativa enorme de vender uma agenda liberal associada ao ministro Paulo Guedes, mas, desde o começo do governo, antes mesmo da pandemia, já tinha ficado claro que a convicção do presidente em relação a essa agenda era muito limitada", observa Soares, do Insper. 
Mercado de trabalho

A dificuldade de enxergar uma melhora na condição de vida do brasileiro também se dá pela fraqueza do quadro de emprego no país.

O mercado de trabalho, sem se recuperar da recessão do período dos anos de 2014 a 2016, foi novamente abatido pela pandemia de coronavírus. Em 2020, a taxa de desemprego do país encerrou em 13,9%, chegando a 13,9 milhões o número de pessoas nessa situação.

Formado em história, Victor Hugo Barbosa Lopes de Salles, de 31 anos, trabalhou três anos num restaurante e foi mandado embora em fevereiro deste ano, entrando para as estatísticas dos milhões de desempregados.

"O restaurante teve que parar durante o início da pandemia. Ele ficou fechado por uns 3 meses e só reabriu com metade das mesas disponíveis para o uso, e a gente começou a fazer entrega para ter uma renda", conta Victor, que hoje vive do seguro-desemprego. "Foi ficando difícil para o restaurante pagar o nosso salário e eles decidiram mandar algumas pessoas embora."

Victor Hugo trabalhava em um restaurante, mas foi demitido na pandemia — Foto: Acervo Pessoal
Victor Hugo trabalhava em um restaurante, mas foi demitido na pandemia — Foto: Acervo Pessoal

Desde que se formou em história, Victor tenta atuar na sua área. Ele já deixou currículos em escolas e prestou concursos públicos. Agora, desempregado, vai tentar ter alguma renda como motorista de aplicativo.

"Não é um emprego que demanda entrevista, é o mais fácil de conseguir", afirma. "Tenho uns amigos que estão procurando emprego e está bem difícil." 
Sem ajuda do Auxílio Emergencial

Além de um mercado de trabalho enfraquecido, a renda do brasileiro enfrenta mais um revés com a redução no valor e na quantidade de parcelas do Auxílio Emergencial. No ano passado, as cinco parcelas de R$ 600 e as quatro de R$ 300 representaram um importe alívio para o bolso do brasileiro em meio à pandemia.

O benefício injetou R$ 300 bilhões na economia e chegou a 68 milhões de pessoas.

Neste ano, a nova rodada do auxílio deve ser bem mais modesta. O governo desenhou o programa com quatro parcelas no valor médio de R$ 250. Os novos pagamentos devem ser liberados entre março e abril.

No ano passado, com o benefício do auxílio, os brasileiros da classe D/E aumentaram os gastos em 14% no segundo trimestre, segundo um levantamento da Kantar.

Já os gastos da classe C chegaram a crescer 13% no terceiro e quatro trimestres.

"O governo injetou uma renda no orçamento das famílias, mas agora elas vão enfrentar um abismo muito grande", afirma o diretor de serviços ao cliente e novos negócios da Kantar, David Fiss. "Com o auxílio, as famílias começaram a acessar marcas mais caras. Só que, agora, a partir do momento em que não há mais o auxílio (no valor de R$ 600), elas vão ter de reequilibrar o bolso", diz.

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sexta-feira, 12 de março de 2021

Pesquisadores criam minicérebros com DNA Neandertal

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Por  Megacurioso
Ciência
há mais de 10 horas
Postado em 12 de março de 2021 às 10h00m


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Uma equipe da University of California, San Diego (UCSD), liderada pela geneticista Alysson Muotri, está usando os genes coletados de amostras de osso de neandertais e células-tronco para recriar, em placas de vidro, tecido cerebral desse ancestral do ser humano.

Os minicérebros não são capazes de pensamento, mas serão úteis para entender a neurologia ancestral. Para gerar tecido cerebral neandertal, Muotri usou células de pele de um indivíduo sem defeitos genéticos relacionados a distúrbios neurológicos, que foram então transformadas em células-tronco. O gene Neandertal escolhido foi um dos 200 que mudaram no H. sapiens – especificamente, o que codifica a proteína NOVA1, ligada ao autismo e à esquizofrenia.

O DNA ancestral foi extraído de ossos de três mulheres neandertais, encontrados na caverna Vindija, na Croácia.O DNA ancestral foi extraído de ossos de três mulheres neandertais, encontrados na caverna Vindija, na Croácia.

As bases neandertais no gene humano foram inseridas nas células-tronco usando-se a tesoura genética CRISPR. Para efeito de comparação, também foram usadas células humanas modernas para criar os organoides (estruturas tridimensionais cuja origem são células-tronco, e que se parecem com um tecido original específico – nesse caso, o tecido cerebral).  

Ao fim de quatro meses, as células-tronco com DNA ancestral se converteram em organoides (chamados de neanderoides por Muotri) até o estágio em que foram detectados sinais elétricos.

Socialização

O resultado final foi redes neurais que se organizam de maneira diferente e em tamanhos idem. "Estamos tentando recriar mentes neandertais. Por que nossos cérebros são tão diferentes de outras espécies, incluindo nossos próprios parentes extintos?", disse Muotri à Science Magazine.

Os neanderoides cresceram com a forma de uma pipoca e os humanroides, redondos. Ao se estruturar, os neurônios modificados migram mais rapidamente dentro do organoide, formam menos conexões sinápticas e criam redes neurais anormais.

À esquerda, células modificadas com gene neandertal e à direita, células cerebrais do homem moderno,

À esquerda, células modificadas com gene neandertal e à direita, células cerebrais do homem moderno,

Nos humanos modernos, essas mudanças estão ligadas a defeitos no desenvolvimento cerebral necessário à socialização", disse ela. Segundo a cientista, similaridades foram encontradas no tecido cerebral de crianças com autismo.

O geneticista evolucionário Svante Pääbo, o primeiro a sequenciar o DNA Neandertal; disse que é muito difícil descobrir quais diferenças genéticas entre nosso ancestral e o homem moderno são "funcionalmente relevantes": "Os organoides representam apenas o estágio inicial do desenvolvimento do cérebro. Eles estão longe de nos dizer como os cérebros adultos funcionam.

https://www.youtube.com/watch?v=5FBxnkzI9HU

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Vendas no varejo caem 0,2% em janeiro

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A queda refletiu os impactos da volta das restrições de atividades com o agravamento da pandemia no país e a interrupção do Auxílio Emergencial em dezembro, segundo o IBGE.
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Por Marta Cavallini, G1

Postado em 12 de março de 2021 às 12h00m


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Vendas nos super e hipermercados recuaram 1,6% em janeiro — Foto: Eduardo Peret/Agência IBGE Notícias
Vendas nos super e hipermercados recuaram 1,6% em janeiro — Foto: Eduardo Peret/Agência IBGE Notícias

As vendas do comércio varejista caíram 0,2% em janeiro na comparação com dezembro, quando a queda foi de 6,2% - maior tombo para um mês de dezembro de toda a série histórica, iniciada em 2000. Foi o terceiro mês seguido de queda.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em relação a janeiro do ano passado, o varejo registrou queda de 0,3%, primeira taxa negativa após sete meses consecutivos de taxas positivas.

A queda refletiu os impactos da volta das restrições de atividades com o agravamento da pandemia no país e a interrupção do Auxílio Emergencial em dezembro, segundo o instituto.

Vendas do varejo mês a mês — Foto: Economia G1
Vendas do varejo mês a mês — Foto: Economia G1

Cristiano dos Santos, gerente da pesquisa, vê um cenário de estabilidade nos dados de janeiro, apesar de a maioria das atividades que compõem o indicador terem apresentado queda.

Com a diminuição do aporte de recursos do Auxílio Emergencial, a partir de outubro, a capacidade de consumo das famílias diminuiu, com impacto direto no comércio, levando os indicadores à estabilidade em novembro (-0,1%), uma queda em dezembro (-6,2%), e, agora, outra estabilidade em janeiro (-0,2%), afirmou Santos.

Em janeiro, na comparação com dezembro, cinco das oito atividades pesquisadas tiveram taxas negativas, com destaque de maiores quedas para Livros, jornais, revistas e papelaria e Tecidos, vestuário e calçados. Veja abaixo:

  • Combustíveis e lubrificantes: -0,1%
  • Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo: -1,6%
  • Tecidos, vestuário e calçados: -8,2%
  • Móveis e eletrodomésticos: -5,9%
  • Artigos farmacêuticos, medicinais, ortopédicos e de perfumaria: 2,6%
  • Livros, jornais, revistas e papelaria: -26,5%
  • Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação: 2,2%
  • Outros artigos de uso pessoal e doméstico: 8,3%

Segundo Santos, a queda na atividade dos supermercados pode ter influência da retirada do Auxílio Emergencial e do aumento da inflação dos alimentos.

Por outro lado, houve alta nos setores de Outros artigos de uso pessoal e doméstico, Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos e Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação.

Comércio varejista ampliado

No comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e de material de construção, o volume de vendas recuou 2,1% em relação a dezembro de 2020 - segundo mês com resultado negativo seguido -, influenciado negativamente por Veículos, motos, partes e peças, que registrou -3,6% e, positivamente, por Material de construção com variação de 0,3%.

Janeiro foi um mês de repique da pandemia, com restrições de funcionamento de estabelecimentos comerciais em alguns estados, que refletiram de maneira mais forte no setor de veículos. Veículos tem o segundo maior peso no comércio, e já vinha de uma queda em dezembro (-3,3%), diz Santos.

Na comparação com janeiro de 2020, o comércio varejista ampliado caiu 2,9%, primeiro resultado negativo após seis meses de variações positivas. O indicador acumulado nos últimos 12 meses sinalizou intensificação na perda de ritmo na passagem de dezembro (-1,4%) para janeiro (-1,9%).

O setor de Material de Construção tem apresentado trajetória de crescimento nos últimos meses. Em relação a janeiro de 2020, o setor registrou o oitavo mês seguido de taxas positivas.

Comparação interanual

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a variação de -0,3% interrompe o crescimento observado desde setembro de 2020, segundo o IBGE.

O setor de Tecidos, vestuário e calçados, com queda de 21,1%, exerceu a maior contribuição, no campo negativo, para o comércio varejista - a atividade registra seu 11º mês consecutivo de taxas negativas, o que coincide com o período em que começaram as restrições de circulação de pessoas e fechamento de lojas físicas por conta de pandemia.

A atividade de Combustíveis e lubrificantes teve decréscimo de 8,2%, contabilizando 11 meses de quedas - o setor também tem sido um dos mais impactados pelas medidas de restrição de circulação, que diminuíram a demanda por combustíveis a partir de março de 2020.

O segmento de Móveis e Eletrodomésticos registrou em janeiro de 2021 o primeiro resultado negativo (-5,4%), após sete meses de taxas positivas.

No caso de Livros, jornais, revistas e papelaria, a queda de 53,1% foi a mais intensa queda desde abril de 2020 (-70,3%) e a 12ª taxa no campo negativo.

Por outro lado, o setor de Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo registrou alta de 1,4% - a atividade apresentou, desde fevereiro de 2020, um único recuo, em novembro de 2020, de 1,8%.

Amazonas tem maior queda

O comércio varejista teve variações negativas em 23 das 27 unidades da Federação em janeiro em relação a dezembro. O pior resultado veio do Amazonas, onde as vendas caíram 29,7%, mais que o triplo de outros estados, na comparação com dezembro de 2020.

Com o agravamento da pandemia em janeiro no estado, foi decretado um lockdown, que fechou todo o comércio novamente, assim como aconteceu em março de 2020. Isso fez os indicadores do comércio do Amazonas caírem bastante no período, explica Cristiano Santos.

Regionalmente, as outras maiores quedas do varejo ficaram com Rondônia (-9,1%), Ceará (-4,9%), Mato Grosso (-4,2%) e Santa Catarina (-4,1%).

Por outro lado, os únicos quatro estados que tiveram aumento nas vendas, em janeiro, foram Minas Gerais (8,3%), Tocantins (3,7%), Acre (1,1%) e Mato Grosso do Sul (0,8%).

No comércio varejista ampliado, a queda foi em 25 das 27 unidades da Federação, com as mais intensas no Amazonas (-33,9%), Rondônia (-5,8%) e Distrito Federal (-4,7%).

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