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quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Nobel de Química 2020 vai para Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna pelo desenvolvimento do Crispr, método de edição do genoma

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É a primeira vez na história que duas mulheres ganham, juntas, o Nobel de Química.  
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Por Lara Pinheiro, G1  
07/10/2020 06h48 Atualizado há uma hora
Postado em 07 de outubro de 2020 às 09h00m

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Pesquisadoras que estudam edição do genoma levam Nobel de Química
Pesquisadoras que estudam edição do genoma levam Nobel de Química

Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna ganharam o Prêmio Nobel 2020 em Química, anunciou a Academia Real de Ciências da Suécia nesta quarta-feira (7), pelo desenvolvimento do Crispr, método de edição do genoma. É a primeira vez na história que duas mulheres ganham, juntas, o Nobel de Química.

  • Emmanuelle Charpentier, francesa de 51 anos, é diretora do Instituto Max Planck de Biologia de Infecções em Berlim.
  • Jennifer Doudna, americana de 56 anos, é professora da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos.
Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna, vencedoras do Nobel de Química de 2020 — Foto: Montagem/G1
Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna, vencedoras do Nobel de Química de 2020 — Foto: Montagem/G1

Charpentier falou com a imprensa logo após o anúncio do prêmio e respondeu a uma pergunta sobre ela e Doudna serem as primeiras mulheres a levarem, conjuntamente, o Nobel.

"Eu gostaria de passar uma mensagem positiva a meninas que gostariam de seguir o caminho da ciência. Acho que nós mostramos a elas que uma mulher pode ter impacto na ciência que elas estão fazendo. Espero que Jennifer Doudna e eu possamos passar uma mensagem forte às meninas", declarou.

Emmanuelle Charpentier, uma das vencedoras do Nobel de Química de 2020, em coletiva de imprensa nesta quarta (7) em Berlim. — Foto: Tobias Schwarz/AFP
Emmanuelle Charpentier, uma das vencedoras do Nobel de Química de 2020, em coletiva de imprensa nesta quarta (7) em Berlim. — Foto: Tobias Schwarz/AFP

As vencedoras dividirão o valor de 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,3 milhões).

Antes de Charpentier e Doudna, cinco mulheres já haviam ganhado o Nobel em Química: Marie Curie (1911), Irène Joliot-Curie (1935), Dorothy Crowfoot Hodgkin (1964), Ada E. Yonath (2009) e Frances H. Arnold (2018).

Para a geneticista brasileira Mayana Zatz, que usa o Crispr em seu laboratório – o Projeto Genoma da USP – a tecnologia descoberta por Charpentier e Doudna é "fantástica" (veja detalhes de como funciona mais abaixo nesta reportagem).

"É uma ferramenta absolutamente fantástica para estudar doenças genéticas, e que vai ter aplicação terapêutica num futuro muito próximo – já esta tendo, em doencas hematológicas e câncer", afirma a cientista.

Com a vitória das duas cientistas, o Prêmio Nobel já tem três laureadas mulheres neste ano. A primeira foi Andrea Ghez, premiada em física com outros dois cientistas por sua pesquisa sobre buracos negros.

"Está na hora de as mulheres começarem a ganhar", afirma Zatz. "Essa nova geração de mulheres que tiveram a possibilidade de fazer pesquisa nas mesmas condições que os homens vão mostrar para que vieram. Vão mostrar que têm capacidade de fazer pesquisas revolucionárias", diz.

Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna são as ganhadoras do Prêmio Nobel 2020 em Química, anunciou a Academia Real de Ciências da Suécia nesta quarta-feira (7), pelo desenvolvimento do Crispr, método de edição do genoma. — Foto: Nobel
Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna são as ganhadoras do Prêmio Nobel 2020 em Química, anunciou a Academia Real de Ciências da Suécia nesta quarta-feira (7), pelo desenvolvimento do Crispr, método de edição do genoma. — Foto: Nobel

Para a física Márcia Barbosa, diretora da Academia Brasileira de Ciências e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a descoberta das cientistas é "muito bonita", e a premiação simboliza uma vitória para as mulheres.

"Elas fizeram uma descoberta muito bonita, que é um processo que consegue fazer edição genética. Muita gente diz que isso não é química, [que] é biologia, mas, no fundo, esse é um processo químico que é uma ferramenta muito interessante não só para a gente entender o comportamento dos nossos genes, mas também como um instrumento de melhoria da vida das pessoas", avalia.

"O Nobel envia convites para as instituições e algumas pessoas que eles selecionam, no mundo, para indicarem para o prêmio. E essas pessoas indicam o que vem à mente. E o que vinha sempre eram nomes de homens. Estamos vendo que, finalmente, as pessoas começam a pensar mas, olhe, tem aquela cientista maravilhosa. E, com isso, os nomes aparecem. E, com o aparecimento de nomes de mulheres, nós estamos vendo acontecer o que tinha que acontecer – que é ter uma representação mais diversa no Nobel", diz Barbosa.

Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna, vencedoras do Nobel de Química de 2020, em foto de 2015 em uma premiação na Espanha,  — Foto: Miguel Riopa / AFP
Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna, vencedoras do Nobel de Química de 2020, em foto de 2015 em uma premiação na Espanha, — Foto: Miguel Riopa / AFP

"Esperamos que isso continue acontecendo e que também tenhamos, daqui a pouco, uma apresentação mais diversa na questão racial. Mas tudo isso é uma construção que precisamos fazer no nosso cotidiano. Ontem [com a vitória de Andrea Ghez] e hoje, para mim, como feminista, é um dia de grande satisfação, porque significa que a nossa luta conseguiu avançar um pouquinho", afirma a diretora da Academia Brasileira de Ciências. 
O que é o Crispr?

O Crispr/Cas9 é uma espécie de "tesoura genética", que permite à ciência mudar parte do código genético de uma célula. Com essa "tesoura", é possível, por exemplo, "cortar" uma parte específica do DNA, fazendo com que a célula produza ou não determinadas proteínas.

Entenda o que é o Crispr
Entenda o que é o Crispr

A pesquisa com a descoberta da ferramenta foi publicada na revista científica "Science", uma das mais importantes do mundo, em junho de 2012.

Usando o Crispr, cientistas podem alterar o DNA de animais, plantas e microrganismos com extrema precisão. A tecnologia "teve um impacto revolucionário nas ciências da vida", segundo o comitê do Prêmio Nobel, e está contribuindo para novas terapias contra o câncer. A ferramenta também pode tornar realidade o sonho de curar doenças hereditárias (veja infográfico).

Entenda o Crispr — Foto: Betta Jaworski/G1
Entenda o Crispr — Foto: Betta Jaworski/G1

Disputa pela patente

A descoberta do Crispr é motivo de uma disputa de patentes nos Estados Unidos entre Charpentier e Doudna e um terceiro cientista, Feng Zhang, do Instituto Broad, filiado a Harvard e ao MIT.

Feng Zhang, do Instituto Broad — Foto: Stan Grazier/Instituto Broad
Feng Zhang, do Instituto Broad — Foto: Stan Grazier/Instituto Broad

Zhang só publicou evidências de que a ferramenta poderia editar o genoma meses depois das cientistas, mas a pesquisa dele mostrava que a técnica podia ser usada em células eucarióticas – as de plantas, animais e de seres humanos –, o que não aparecia no trabalho de Doudna e Charpentier.

Em seu trabalho, publicado antes, elas mostravam que o Crispr podia editar o genoma de células procarióticas, como as de bactérias.

Todos os três cientistas pediram patentes sobre a descoberta – Doudna e Charpentier o fizeram antes, solicitando os direitos sobre o uso geral da tecnologia. Mas o pedido de Zhang, limitado ao uso em células eucarióticas, foi aprovado mais rápido, em 2017.

Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna, vencedoras do Nobel de Química de 2020 em foto de 2015 na Espanha. — Foto: Miguel Riopa / AFP
Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna, vencedoras do Nobel de Química de 2020 em foto de 2015 na Espanha. — Foto: Miguel Riopa / AFP

No último dia 10 de setembro, o Conselho de Julgamento de Patentes e Apelação dos Estados Unidos (PTAB, na sigla em inglês) determinou que o grupo liderado pelo Instituto Broad tem "prioridade" nas patentes já concedidas a ele para usar o sistema original do Crispr em células eucarióticas.

Mas a decisão também deu ao grupo de Doudna e Charpentier uma vantagem na invenção de um componente crítico do Crispr – a molécula que guia a "tesoura" para uma parte específica do DNA. A molécula desenvolvida por elas é a que é usada hoje. Mas a briga legal pelos direitos sobre o Crispr ainda não acabou.

Nesta quarta (7), o comitê do Nobel foi questionado se mais algum nome havia sido considerado para receber o prêmio. Em resposta, o presidente do comitê, Claes Gustafsson, disse que "essa é uma pergunta que nós nunca respondemos". As informações sobre os candidatos ao prêmio são mantidas em segredo por 50 anos.

Nobel 2020

A láurea em Medicina foi a primeira a ser anunciada, na segunda (5), para a descoberta do vírus da hepatite C. O prêmio em Física, divulgado na terça (6), foi para pesquisas sobre buracos negros (veja vídeo abaixo).

Conheça os vencedores do Prêmio Nobel 2020
Conheça os vencedores do Prêmio Nobel 2020

Os prêmios em Literatura e Paz serão entregues também nesta semana; já a láurea em Economia será divulgada na próxima segunda (12). Veja o cronograma:

  • Medicina: segunda-feira, 5 de outubro
  • Física: terça-feira, 6 de outubro
  • Química: quarta-feira, 7 de outubro
  • Literatura: quinta-feira, 8 de outubro
  • Paz: sexta-feira, 9 de outubro
  • Economia: segunda-feira, 12 de outubro
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terça-feira, 6 de outubro de 2020

Mais de 14 milhões de toneladas de plástico podem estar no fundo dos oceanos, aponta estudo

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Estudo mostra que o plástico está em todos os lugares, mesmo nos mais remotos.Equipe coletou, em 2017, amostras de sedimentos do fundo do mar na Grande Baía da Austrália.  
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Por G1  
06/10/2020 16h16 Atualizado há 5 horas
Postado em 06 de outubro de 2020 às 21h25m

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Plástico no fundo do mar perto da ilha de Andros, na Grécia, em foto de julho de 2019 — Foto: Stelios Misinas/Arquivo/ReutersPlástico no fundo do mar perto da ilha de Andros, na Grécia, em foto de julho de 2019 — Foto: Stelios Misinas/Arquivo/Reuters

Um novo estudo da agência científica nacional da Austrália (CSIRO) e publicado na revista "Frontiers in Marine Science" estimou que existam 14,4 milhões de toneladas de microplásticos no fundo do oceano – 30 vezes mais plástico do que na superfície.

A equipe usou um submarino robótico para coletar, em 2017, amostras de sedimentos do fundo do mar em seis locais remotos a cerca de 300 km da costa sul do país, na Grande Baía da Austrália.

Os pesquisadores analisaram 51 amostras e descobriram que cada grama de sedimento continha uma média de 1,26 pedaço de microplástico. Isso é até 25 vezes mais microplásticos do que estudos anteriores em águas profundas, segundo os pesquisadores.

Embalagens plásticas descartadas de forma inadequada também podem gerar o microplástico ao serem fragmentadas pela ação do tempo — Foto: Pixabay/Divulgação
Embalagens plásticas descartadas de forma inadequada também podem gerar o microplástico ao serem fragmentadas pela ação do tempo — Foto: Pixabay/Divulgação

Ao jornal "The Guardian", a coautora da pesquisa Denise Hardesty disse que o estudo mostra que o plástico está em todos os lugares, mesmo nos mais remotos. Isso nos dá uma pausa para pensar sobre o mundo em que vivemos e o impacto de nossos hábitos de consumo.

Originários de fontes diversas como roupas sintéticas, pneus e tintas, esses pedaços minúsculos de plástico têm 5 mm ou menos de diâmetro e são o resultado da quebra de plásticos maiores.

As amostras foram coletadas em março e abril de 2017 em uma faixa de profundidades entre 1.655 metros e 3.062 metros.

OMS divulga estudo sobre impacto dos microplásticos na saúde
OMS divulga estudo sobre impacto dos microplásticos na saúde

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Nobel de Física 2020: O que a ciência já sabe sobre buracos negros?

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Trio que estuda o fenômeno - locais onde a gravidade é tão forte que nem a luz consegue escapar e onde o tempo termina - foi premiado nesta terça-feira (6).  
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Por Lara Pinheiro, G1  
06/10/2020 11h50 Atualizado há 2 horas
Postado em 06 de outubro de 2020 às 14h00m

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Nobel de Física vai para trio de cientistas por descobertas sobre buracos negros
Nobel de Física vai para trio de cientistas por descobertas sobre buracos negros

O Prêmio Nobel de Física 2020, anunciado nesta terça-feira (6), premiou três cientistas com pesquisas sobre buracos negros. Mas o que é um buraco negro? Como é o seu interior? É possível entrar ou viajar no tempo dentro de um deles?

Nesta reportagem, você verá respostas para essas e outras perguntas:

O que é um buraco negro? Como ele surge?

Entenda como foi feita a primeira imagem de um buraco negro
Entenda como foi feita a primeira imagem de um buraco negro

Os buracos negros se formam, em sua maioria, quando uma estrela massiva morre. Ele se torna um lugar no espaço onde a gravidade é tão forte que nada, nem a luz, consegue escapar dela. (Segundo a teoria especial da relatividade de Einstein, nada consegue viajar no espaço mais rapidamente do que a luz). 

Essa gravidade forte ocorre porque há uma grande quantidade de matéria concentrada em um pequeno espaço.

Ilustração do Prêmio Nobel mostra detalhes sobre buracos negros — Foto: Reprodução/The Nobel Prize
Ilustração do Prêmio Nobel mostra detalhes sobre buracos negros — Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Na "borda" do buraco negro (veja imagem), há o que se chama de "horizonte de eventos". Depois desse ponto, a luz não consegue mais escapar da gravidade do buraco negro.

Nessa região, o tempo passa de forma diferente, explica Thiago Gonçalves, astrônomo e professor no Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Para um observador externo, o tempo ficaria congelado – se ele observasse alguém entrando no horizonte de eventos, ele veria essa pessoa congelada. Mas, se uma pessoa entrasse em um buraco negro, ela mesma, ali dentro, veria o tempo passar.

O que há dentro do buraco negro?

Nas palavras da cientista Andrea Gehz – uma das vencedoras do Nobel de Física deste ano – ninguém sabe.

"Não temos nenhuma ideia do que há dentro do buraco negro – eles são o colapso do entendimento das leis da física", declarou Gehz. 
É possível entrar em um buraco negro?

"A princípio, nada impediria a gente de entrar dentro de um buraco negro, só que aí perderíamos a comunicação com quem está fora – porque nada sai do buraco negro, nem a luz", explica a astrofísica Thaisa Storchi Bergmann, "caçadora de buracos negros supermassivos" no centro de galáxias e chefe do grupo de pesquisa em astrofísica do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Jorge Pontual: imagem de buraco negro foi a maior descoberta astronômica de 2019
Jorge Pontual: imagem de buraco negro foi a maior descoberta astronômica de 2019

Existem dois tipos de buracos negros, explica Bergmann, e ambos funcionam sob o mesmo princípio: são uma região de onde nada escapa, nem a luz. O primeiro tipo é o estelar, e o outro, o supermassivo (este último tipo é o que a ciência acredita estar no centro da Via Láctea).

No estelar, se chegarmos muito perto, "viramos um espaguete" antes mesmo de entrarmos nele. "A força de maré vai te destruir", diz Bergmann.

"Por outro lado, no buraco negro supermassivo, embora a gravidade seja tão forte quanto, o raio de maré que te destrói está dentro dentro do horizonte de eventos – então dá para entrar no buraco negro. E isso aconteceu no filme Interestelar", lembra a astrofísica.

Dá para "viajar no tempo" dentro de um buraco negro?

Bergmann explica que existe uma especulação na ciência de que, se fosse possível juntar dois buracos negros – um numa parte do universo, outro em outra – poderia se formar um túnel entre eles no qual se viajaria com uma velocidade muito maior que a da luz, o que é equivalente a viajar no tempo.

"Os 'buracos de minhoca' são uma solução que aparece na relatividade geral, mas nunca ninguém viu – não existe comprovação observacional deles. E são muito instáveis – ainda não se conhece exatamente todos os limites deles, mas eles abrem por um tempo e logo se fecham", afirma a astrofísica.

"É uma coisa que não é bem conhecida. Mas em princípio é uma especulação – seria uma maneira de viajar num universo tão grande como o nosso: a estrela mais próxima está a 4 anos-luz", diz.

"Seria uma maneira de conseguir viajar no universo a uma distância signiticativa, porque a gente andaria milhões ou centenas de milhões de anos", afirma a cientista.

O que é a singularidade?

É o ponto no centro do buraco negro. Ali, a densidade da matéria é infinita, e a física que a humanidade conhece deixa de ser capaz de explicar tudo o que acontece.

"Esse ponto vai para uma densidade tão alta num ponto tão pequeno, tão coeso, que as equações matemáticas conhecidas não são mais possíveis de descrever os fenômenos que ali acontecem. Isso é a singularidade", explica Eliade Ferreira Lima, astrofísica e professora da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.

"Se não tiver nada empurrando a matéria para fora, essa matéria vai se concentrar cada vez mais, e a singularidade é esse ponto de densidade infinita no centro do buraco negro", explica Thiago Gonçalves, da UFRJ.

O que os vencedores do Nobel descobriram?

Andrea Ghez, Reinhard Genzel e Roger Penrose são os ganhadores do Prêmio Nobel 2020 em Física — Foto: Royal Academy of Sciences (Genzel e Ghez) e Wikimedia Commons (Penrose)
Andrea Ghez, Reinhard Genzel e Roger Penrose são os ganhadores do Prêmio Nobel 2020 em Física — Foto: Royal Academy of Sciences (Genzel e Ghez) e Wikimedia Commons (Penrose)

Duas pesquisas ganharam o Prêmio Nobel deste ano:

A primeira, de Roger Penrose, explicou, usando métodos matemáticos, a existência dos buracos negros a partir da teoria geral da relatividade pensada por Einstein – segundo a qual a presença de massa no espaço curva o espaço-tempo. (A ideia é diferente da de Newton – que explicava a gravidade em função da atração entre os corpos).

O próprio Einstein, inclusive, não acreditava que buracos negros existissem.

Mas em 1965, dez anos depois da morte dele, Penrose mostrou, matematicamente, que buracos negros realmente podiam se formar e os descreveu em detalhes – incluindo o fato de que, em seu centro, eles escondem a singularidade. O trabalho dele ainda é considerado a mais importante contribuição para a teoria geral da relatividade desde Einstein, segundo o comitê do Nobel.

Já Genzel e Ghez mostraram os movimentos de estrelas ao redor do centro da nossa galáxia e calcularam que "ali deveria haver um corpo muito massivo num espaço muito pequeno", explica Gonçalves.

"A única explicação viável era a presença de um buraco negro. Não tinha nenhum outro objeto razoável que pudesse explicar o resultado que eles obtinham com o movimento desse objeto misterioso. A gente não via o objeto, mas via o movimento das estrelas ao redor" diz o astrônomo.

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